Unidade da classe trabalhadora contra o bolsonarismo
Imagem: Assembleia dos agentes comunitários de saúde de São Paulo. Créditos: Simesp
Por Lucas Silva, militante do PCB-SP e membro da Comissão Nacional de Comunicação e Jornalismo da Secretaria Nacional de Agitação e Propaganda do PCB
Nascido das entranhas do processo que gestou o golpe reacionário, entreguista e ultraliberal (que acelerou o processo de neoliberalização do governo Dilma) de 2016, o bolsonarismo volta-se desde o primeiro dia de governo contra os trabalhadores, aos quais os atuais detentores do poder dedicam um ódio todo especial. São desesperadoras as condições de existência de milhões de trabalhadores urbanos e rurais, vítimas diretas e principais da política antipopular e entreguista do governo Bolsonaro. Daí o crescente descontentamento e a profunda revolta existentes entre os trabalhadores contra o governo federal e sua política (mas não só, pois os governadores liberais e cúmplices desse projeto também são mira do ódio popular). Esse descontentamento e essa revolta vêm se exteriorizando, em escala cada vez maior, embora ainda um pouco descoordenada, através das manifestações de rua, greves e explosões espontâneas nas periferias.
As manifestações abertas por um novo ciclo de lutas a partir de maio (com destaque e protagonismo inicial do movimento negro) animaram os setores populares e trouxeram mais pessoas para as ruas, encorajando até setores burgueses opositores ao governo federal a tomarem posições mais ousadas. Esse ciclo, que ainda não se encerrou, foi e é importante para aumentar o desgaste do bolsonarismo, trazer novas pessoas para a luta popular organizada e estabelecer uma base para novos saltos de qualidade no enfrentamento ao genocida (e aos setores burgueses que o colocaram lá).
No dia 07/09 os setores populares e a esquerda classista, que não se abateram e apostaram na luta de massas, conseguiram dar uma resposta a altura das intenções golpistas do presidente, que não conseguiu os resultados esperados (apesar da ampla máquina de mobilização) e foi obrigado a recuar, mediante uma nota oficial. Entretanto, como bem disse o camarada Edmilson Costa: “Bolsonaro dobrou os joelhos para ganhar tempo. O escorpião quando baixa o esporão não perde seu DNA. Sem ilusões, sem baixar a guarda. Preparar a contra ofensiva para derrotar o governo genocida!”. A oposição burguesa não merece nenhum pingo de confiança, e não devemos abaixar a guarda nem a disposição de mobilizar a classe trabalhadora, um minuto sequer.
Junto com a mobilização e organização da classe trabalhadora para os embates contra o bolsonarismo em particular, e o sistema capitalista em geral, também é tarefa dos comunistas apontar as vacilações e hesitações da social-democracia na luta pelo impeachment de Bolsonaro/Mourão, seja nas movimentações de jogar as datas dos atos para longe, seja na subestimação ou boicote das mobilizações nos locais de trabalho e moradia, seja no menosprezo ou na ocultação da luta pelo impeachment. Fazemos isso sem nenhuma ilusão, mas para demonstrar os limites do projeto político da social-democracia (seja a vermelha da estrela, a amarela do sol, a rosa vermelha e branca etc.) e empurrá-la o máximo possível para as lutas, no interesse da classe trabalhadora.
É tempo de aproveitar a moral e o ânimo do dia 07/09 e intensificar a inserção nos mais amplos setores da nossa classe. É preciso operar amplas semanas preparatórias de agitação e propaganda para as manifestações do dia 02/10, bem como a necessidade da construção de uma greve geral, dialogando com as pessoas nas empresas, nos locais de trabalho, nas feiras dos bairros periféricas, nas portas das escolas, terminais de transporte e grandes concentrações de trabalhadores/as, seja nas áreas urbanas e rurais.
Constitui-se uma das tarefas prioritárias dos comunistas, esclarecer, educar e organizar a classe trabalhadora como força de vanguarda na luta pela derrubada do bolsonarismo e do seu programa político e econômico, pois não basta tirar o genocida, é preciso derrubar toda sua estrutura econômica, as pautas das privatizações (Eletrobrás, Correios, e demais estatais), a reforma administrativa (PEC 32), o desmonte dos bancos públicos e da Petrobrás, a PL 1595/19 (tentativa de criar uma polícia política subordinada diretamente à presidência), o teto de gastos, a ultra militarização da segurança pública, promover a demissão de todos os militares empregados pelo governo, bem como a troca de todo alto comando, entre outras pautas do governo federal.
E falamos da importância dessas tarefas, pois a grande contribuição que o proletariado pode e deve dar hoje para a derrota do bolsonarismo e de seu projeto, é unir-se e organizar-se em seus locais de trabalho e moradia, partindo para manifestações de massas cada vez mais vigorosas, na perspectiva de construção da greve geral, em defesa das liberdades democráticas e assumindo assim a vanguarda da luta do povo brasileiro (afinal de contas, setores da pequena-burguesia e da própria burguesia se colocam contra o governo federal), pois o principal interessado e maior beneficiado pela derrota de Bolsonaro/Mourão e seus aliados é o proletariado.
A classe trabalhadora deve ser a força aglutinadora e dirigente da frente única contra o bolsonarismo, e cabe às forças classistas, socialistas e comunistas o fortalecimento das organizações sindicais e populares, para o desencadeamento de poderosos movimentos, que podem até iniciar com reivindicações específicas, mas que façamos a conexão e a ponte com a luta de classes geral. Hoje, com o acirramento da luta e o agravamento da crise capitalista, qualquer movimento reivindicatório de caráter econômico/sindical, lutas por construção de hospitais, asfaltar ruas, saneamento básico, contra o genocídio da população negra, pela legalização do aborto, contra os aumentos abusivos da gasolina e todas as lutas anti-opressões de maneira geral chocam-se em maior ou menor grau com a política burguesa do bolsonarismo.
Reforçamos que, apesar de todas as lutas específicas entrarem em conflito com o bolsonarismo, o proletariado não terá espontaneamente uma compreensão clara, profunda, da correlação existente entre suas difíceis condições de vida e de trabalho e o governo Bolsonaro/Mourão e, em consequência, a imperiosa necessidade de combinar, entrosar, sua luta específica, anti-opressões e econômica com a atividade política mais ampla para derrotar o governo assassino e genocida. Essa compreensão tem que ser levada à classe trabalhadora pela sua vanguarda, pelo Partido, através de uma intensa agitação e propaganda de denúncia política do governo Bolsonaro/Mourão em estreita ligação com a prática da luta diária, fazendo um gancho, agitando e propagando a importância da greve geral como um dos elementos de conexão das lutas específicas com o enfrentamento geral ao bolsonarismo em particular, e a burguesia e o imperialismo de maneira geral. Como Partido comunista compreendemos a necessidade de descer ao nível de compreensão dos amplos setores populares para levá-los à ação e ganhá-los para o programa de construção do poder popular.
Pegando um apoio emprestado do nosso camarada Lênin: “A social-democracia dirige a luta da classe operária não apenas para obter condições vantajosas de venda da força do trabalho, mas para que seja destruído o regime social que obriga os despossuídos a venderem sua força de trabalho aos ricos. A social-democracia representa a classe operária não apenas em sua relação com um grupo determinado de patrões, mas em suas relações com todas as classes da sociedade contemporânea, com o Estado como força política organizada. Compreende-se, portanto, que os social-democratas não só não se podem circunscrever à luta econômica, como não podem sequer admitir que a organização das denúncias econômicas constitua sua atividade predominante. Devemos empenharmo-nos ativamente no trabalho da educação política da classe operária, de desenvolvimento de sua consciência política.” (Que fazer?, pág. 67 – Editorial Vitória, 1955).
Portanto, bora transformar a revolta com os preços da carne, com as conduções lotadas e dificuldades no transporte público, a falta de lazer e aparelhos culturais nas periferias em combustível para a luta, para as ruas e para a greve geral!
Bora construir a unidade da classe trabalhadora contra o Bolsonarismo!
02/10 Vamos às ruas pelo Fora Bolsonaro/Mourão e por Impeachment Já!
(Artigo inspirado pelo jornal Voz Operária, durante o período 1965-1971)