Poupança muda e juros real cai a 2,45%, o menor desde o Plano Real
A partir de hoje a remuneração da caderneta de poupança obedecerá a um gatilho: sempre que a taxa básica de juros (Selic) for igual ou menor do que 8,5% ao ano, os novos depósitos da poupança serão corrigidos por 70% da Selic. As aplicações já existentes permanecem com a regra atual de rentabilidade: juros fixos de 0,5% ao mês (6,17% ao ano) mais a variação da Taxa de Referência (TR). A TR, com Selic em 8,5% ao ano, cai para zero. O incentivo fiscal da isenção do Imposto de Renda permanecerá.
Quando a taxa Selic for superior a 8,5% ao ano – hoje ela é de 9% ao ano – a caderneta de poupança volta a ter a rentabilidade usual (juros de 6,17% ao ano mais a TR). Assim, a nova regra só entrará em vigor se o Comitê de Política Monetária (Copom) cortar a taxa Selic para 8,5%, o que poderá ocorrer já na reunião do fim deste mês.
Dessa forma, a regra de remuneração da poupança deixa de ser uma trava para a queda da taxa de juros no país. Os atuais depositantes ficam com uma pequena vantagem em relação aos novos no caso do gatilho ser acionado, o que foi feito para evitar futuras demandas judiciais. Para as novas cadernetas, a remuneração será calculada com base na Selic em vigor no dia do depósito.
A medida, engenhosa, foi anunciada no início da noite pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, após seguidas reuniões da presidente Dilma Rousseff com o Conselho Político, com os dirigentes das centrais sindicais e com um grupo de empresários ao longo de toda a tarde, no Palácio do Planalto. Dilma procurou se cercar de um amplo apoio político para mexer num tema tão delicado para o poupador brasileiro.
Os planos originais do Palácio do Planalto eram um pouco diferentes. Imaginava-se poder alterar a rentabilidade da poupança só após as eleições municipais de outubro. O cenário externo, que voltou a piorar, a demora na reação da atividade econômica doméstica e os sinais da última ata do Copom, de que os juros podem cair mais, justificam a antecipação da medida. Quem alimentava a expectativa de que a economia brasileira cresceria cerca de 1% no primeiro trimestre agora espera crescimento de apenas 0,5%.
Dos parlamentares da base aliada do governo, Dilma teve garantia de apoio à aprovação da medida provisória, publicada em edição extraordinária do Diário Oficial.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), disse que a presidente “garantiu todos os diretos de todos os poupadores”. Aos políticos, Dilma disse: “Não estou aqui para vender facilidades. É um passo que tem que ser dado”, segundo relatou Alves, que concluiu: “A presidente estava muito determinada, convencida e convincente”. Na reunião do Conselho Político, ela se referiu a “três amarras” que precisam ser trabalhadas: a redução dos juros para empresas e consumidores; a valorização cambial; e a diminuição de impostos, prosseguiu o líder do PMDB. Os mesmos problemas que ela ressaltou em discurso da presidente na posse do ministro do Trabalho, Brizola Neto.
Os dirigentes sindicais também deixaram a reunião com declarações de apoio a Dilma. O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), assegurou que as centrais vão sustentar as mudanças propostas. “Achamos que não mexer nas atuais poupanças significa uma coisa positiva”, disse ele. “Somos nós, as centrais, que podemos colocar o povo na rua e, para ela, é importante ter o nosso apoio em uma medida tão sensível como essa”, disse o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.
Os 26 empresários que estiveram com a presidente ontem também aplaudiram a iniciativa do governo de reduzir os juros, pressionar os bancos para reduzirem os spreads e pediram que a “guerra” se estenda para o alongamento do crédito, contou Joesley Batista, da JBS Friboi. “São medidas de bom senso, boas para o Brasil”, disse André Esteves, presidente do banco BTG Pactual.
O ministro Guido Mantega avaliou que os custos do crédito imobiliário tendem a cair na medida que o custo da captação da poupança diminui. Disse, também, que terão que ser feitos “ajustes” na portabilidade e que os técnicos estão estudando isso. Para o ministro, no entanto, a pressão do governo para a queda dos juros é concentrada, principalmente, nas modalidades em que considera o spread bancário (diferença entre a taxa de captação e a cobrada do tomador) elevado. Esse é o caso, segundo ele, do capital giro e crédito consignado.
Os bancos, segundo o Ministério da Fazenda, terão 30 dias para se prepararem para a mudança, tendo que operacionalizar uma segregação das contas dos poupadores entre os depósitos antigos e os que vão obedecer ao gatilho. Quando o investidor for sacar da caderneta de poupança, o banco abaterá automaticamente o saque da conta nova, que renderá menos.
Tecnologia, Desenvolvimento e Ilusões
Adriano Benayon
No momento em que surgem novos avanços na nanotecnologia e na criação de materiais, como o grafeno, é fundamental compreender a interação da tecnologia com o desenvolvimento econômico e social.
Indispensável afastar ilusões, pois não há algo de que se fale tanto e de que se entenda tão pouco como essa interação. Mesmo os que trabalham em inovar com produtos e processos não têm, na maioria, a percepção de como um país se desenvolve através da tecnologia.
Na teoria econômica, ela é vista como progresso técnico e elemento externo à função de produção, na qual entram os fatores: recursos naturais, trabalho e capital (conjunto de máquinas, instrumentos e materiais utilizados na produção).
Alguns autores assinalam o papel da tecnologia como fator organizativo, que determina a composição e a proporção dos fatores de produção.
Os que exercem poder sobre o capital, privado ou público, escolhem a tecnologia a ser adotada. Para isso, baseiam-se, de um lado, no que os técnicos criam e, de outro, nas estratégias de mercado e/ou nos objetivos da política econômica. Os criadores de tecnologias as desenvolvem em função de suas ideias e do que lhes é demandado por parte dos que comandam o capital.
Fator invisível, mas concreto, da produção, a tecnologia decorre do trabalho, pois é gente que a produz: engenheiros, técnicos, artesãos (como nos primeiros séculos da industrialização) ou operários.
Por outro lado, tendo valor – e muito, do ponto de vista do mercado e em termos monetários – a tecnologia é quase sempre apropriada pelos detentores do capital, podendo a mais-valia ser especialmente elevada.
De resto, o ordenamento jurídico da propriedade industrial está no Acordo TRIPS (Trade Related Intellectual Property Rights) da Organização Mundial do Comércio (OMC), aprovado no Brasil, no final de 1994.
Esse acordo protege, muito mais que os direitos dos inventores, as corporações transnacionais. É instrumento da oligarquia para aprofundar o apartheid tecnológico, impedindo a absorção de tecnologia por países e empresas de menor desenvolvimento.
A lesão ao desenvolvimento tecnológico do País foi reforçada com a Lei de Propriedade Industrial, 9.279/1996, enviesada em favor das empresas transnacionais, que controlam os mercados no Brasil.
Essas legislações inserem-se no salto qualitativo do crescimento da concentração do poder sob o império anglo-americano, em seguida ao desmantelamento da União Soviética. Foi assim radicalizada a apropriação da tecnologia pelos concentradores transnacionais do poder econômico.
Se, antes de 1990, já prevalecia o comando do capitalismo – por definição, concentrador – sobre os benefícios e os rendimentos monetários advindos da tecnologia, esta passou, desde então, a ser cada vez mais amplamente expropriada do Estado, dos empresários médios e pequenos, bem como dos técnicos e demais trabalhadores.
Tal como os demais bens suscetíveis de serem públicos, ou de – embora privados – beneficiarem o conjunto da sociedade, a tecnologia vem sendo objeto da privatização concentradora.
E o que isso tem a ver com a desindustrialização do Brasil, com o baixo percentual de empregos de qualidade, com as infra-estruturas econômica e social mal construídas e deterioradas? E com o enorme déficit nas transações correntes com o exterior, o qual não arrefece nem com a redução da demanda, como foi em 2011?
Ora, o Brasil, após agosto de 1954, foi sendo inviabilizado em termos de desenvolvimento econômico e social, ao ter continuadamente subsidiado a ocupação do mercado por empresas transnacionais. Com esse tipo de ocupação, não se desenvolvem tecnologias nacionais, pois raras são as as empresas de capital nacional que subsistem no mercado.
Aí reside um ponto-chave: tecnologia capaz de alavancar o desenvolvimento só cresce dentro de empresas em competição nos mercados. Entretanto, domina, na opinião comum, a falsa concepção de que o Brasil está atrasado tecnologicamente porque investe pouco em educação, ciência, pesquisa básica e tecnologia.
É verdade que investe relativamente pouco. Mas o grave mesmo é que, desse pouco, quase nada resulta em proveito da economia do País. Por que? Porque não há empresas nacionais evoluindo com progressos tecnológicos próprios. Elas simplesmente ficaram sem chance de permanecer no mercado ou de nele entrar, salvo em raros e passageiros nichos, logo apropriados pelos concentradores, principalmente transnacionais.
Poderíamos comparar a tecnologia aos nutrientes e adubos de uma planta, que seria a empresa produtiva. Ora, se a planta não é nossa, de pouco nos serve alimentá-la.
As transnacionais têm seus centros tecnológicos, em geral nas matrizes, e utilizam nas subsidiárias daqui a tecnologia já paga no exterior durante anos de vendas, o que lhes permite custo real zero no Brasil. Não têm, pois, interesse em investir nem em adquirir alguma aqui desenvolvida.
Se alguma lhes interessar, quase nada pagarão por ela, porque, controlando o mercado em sistema de oligopólio, impõem os preços e as condições, na qualidade de únicas compradoras. O que fizeram muito foi adquirir empresas nacionais apertadas pela política econômica, que as oprime em favor das ETNs.
Esta é a síntese da questão, como expus e documentei no meu livro “Globalização versus Desenvolvimento: Não existe país que se tenha desenvolvido, havendo entregado seu mercado a empresas comandadas por capitais estrangeiros.
Portanto, o conceito de “transferência de tecnologia” no Brasil só tem sentido na direção inversa àquela em que costumam falar dele: de brasileiros para as transnacionais dos países ditos desenvolvidos, ao contrário do que acontece(u) nos países realmente em desenvolvimento.
Agradeço ao Prof. Weber de Figueiredo, da UFRJ, por me ter transmitido um exemplo típico da ilusão “desenvolvimentista” fomentada por JK: a eliminação de mais um projeto de indústria nacional, a Romisetta.
Figueiredo assim resumiu informações de Fernando Campanholo sobre esse veículo produzido pela Romi, empresa brasileira de Santa Bárbara do Oeste (SP), de 1956 a 1959:
“O governo JK abriu linha de financiamento subsidiado destinado às multinacionais de automóveis que se estavam instalando no Brasil. A nacional Romi também pleiteou o financiamento, deixando os burocratas embaraçados, pois o financiamento fora pensado apenas para as multinacionais. Mas uma solução engenhosa foi encontrada. O governo baixou uma portaria definindo que automóvel é o veículo que tem dois bancos, o dianteiro e o traseiro! E, assim, a brasileira Romi foi jogada para escanteio, ficando fora do financiamento oficial, falindo a sua linha automotiva.”
A Romisetta era um carro leve, de um só banco. Mas o importante é começar a produzir para o mercado, o primeiro passo para evoluir em tecnologia. Não importa não ser de primeira linha.
O Fusca da VW chegou a mais de 50% do mercado, dominou-o por mais de vinte anos e pouco evoluiu. Fora desenvolvido nos anos 1930, e a VW ganhou o incrível subsídio, dado às multinacionais, em 1954, de registrar como investimento em moeda, o equipamento e tecnologia de produção, então mais do que amortizados. Portanto, custo zero para o capital e a tecnologia. Além disso, com JK, mais subsídios, como o financiamento oficial.
Campanholo conclui: “A fabricação de 3.000 unidades no Brasil no período de 1956 até 1961, principalmente comparados às 22.543 Isettas-BMW fabricadas somente em 1956 pela Alemanha, fica como triste lembrança de quanto nós estamos suscetíveis e passivos aos mandos e desmandos do capital estrangeiro. Até hoje.”
Resultado: as transnacionais, que ficaram com o mercado brasileiro de graça, continuam recebendo subsídios e remetendo centenas de bilhões de dólares para o exterior, a diversos títulos. Isso significa descapitalizar o País.
O Brasil foi programado pelo império anglo-americano para ser uma área de exploração de recursos naturais, em condição semelhante à maioria dos países africanos, submetidos ao mesmo tipo de intervenção. Além disso, em base de lucros provenientes também da indústria, controlada pelas transnacionais.
Foram elementos-chave da estratégia para que esse programa tenha sido realizado a pleno contento das potências imperiais e associadas: 1) a intervenção política e militar diretamente junto aos governos brasileiros; 2) a intervenção do dinheiro e da corrupção nas eleições, no sistema formalmente democrático; 3) o genocídio cultural; 4) o fomento da crença em que a entrada do capital estrangeiro favorece o desenvolvimento, complementa a poupança nacional, e em outras falácias.
Os entreguistas, culminando com os mega-entreguistas Collor e FHC, radicalizaram a aplicação dessa fé bizarra e fatal. Foram muito além da simples abertura ao comércio: fizeram o Estado brasileiro subsidiar os investimentos diretos estrangeiros, de forma inacreditável, e discriminar contra o capital nacional.
O Brasil não deixará de ser um país saqueado e enganado pela conversa fiada, enquanto não se reverter, de modo cabal, tudo isso e a mentalidade subjacente.
Eis algumas consequências para um país que participa do BRICs e pleiteia assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, só para ser enrolado pela potência dominante:
“Dos 25 navios da Marinha de Guerra do Brasil apenas 14 estão em condições de navegar, e dos seus23 aviões apenas um tem condições de levantar voo. Enquanto isso, a Rússia, a Índia e a China são potências nucleares, detentoras de tecnologia militar de altíssimo nível…”
“Não produzimos sequer uma calculadora de bolso, pois falta-nos até fábrica de chips – somos meros montadores de aparelhos eletrônicos.”
* – Adriano Benayon é Doutor em Economia e autor de “Globalização versus Desenvolvimento”
Coutinho pede para empresário investir na África
Valor Econômico
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, pediu ontem que o empresariado nacional se mobilize em prol de investimentos em projetos na África. Durante discurso de encerramento no seminário “Investindo na África: Oportunidades, Desafios e Instrumentos para Cooperação Econômica”, Coutinho afirmou que o continente africano é “repleto de oportunidades” para as companhias brasileiras. “E não são investimentos sem retorno”, disse.
Ele admitiu, porém, que os projetos no continente africano carecem de capital de giro para um desenvolvimento eficiente. “Esse é o grande desafio, o déficit de funding”, disse. Mas sinalizou que o Brasil poderia contribuir para resolver o problema. “Vou conversar com o ministro Guido Mantega a respeito”, afirmou. Coutinho lembrou que a região crescia a taxas de 6% antes da crise global em 2008 e que neste ano deve crescer 5,5%.
Coutinho anunciou que o BNDES aprovou financiamento de R$ 6,5 milhões para estudo técnico de avaliação de viabilidade de produção de biocombustíveis nos países membros da União Econômica e Monetária do Oeste Africano (Uemoa). Os trabalhos serão conduzidos pelo consórcio BAIN-MMSO, formado pela consultoria BAIN Brasil e o escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados. Os recursos serão provenientes do Fundo de Estruturação de Projetos do banco (BNDES-FEP). O financiamento permitirá levantamento de todo o território de Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger e Togo, bem como as condições ambientais, sociais, de mercado, de infraestrutura, de marco regulatório e de estrutura tributária nestes países.
Metas concretas para a Rio+20 dividem países
O Estado de S. Paulo
As negociações do rascunho da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, com encerramento previsto para hoje em Nova York, dividiam ontem os organizadores do evento sobre a conveniência do estabelecimento de metas para os sete principais temas do encontro no Rio, em junho.
Essa divisão envolve tanto diferenças políticas como também opiniões distintas sobre como defender estratégias para o fortalecimento do desenvolvimento sustentável.
De um lado, há os defensores do estabelecimento de metas rígidas para áreas como água, segurança alimentar e energia. Dessa forma, a Rio+20 teria uma importância maior e os resultados seriam mais claros. Ao mesmo tempo, muitos negociadores que participam das discussões na ONU consideram prematuro impor metas na Rio+20, que ocorrerá entre os dias 20 e 22 de junho, optando por objetivos mais gerais em cada uma das áreas.
Para completar, segundo os defensores dessa linha de negociação, as metas dos milênio, que ainda estão distantes de serem cumpridas a apenas três anos do fim do prazo, em 2015, correm o risco de serem ofuscadas pelas do meio ambiente.
Autoridades governamentais não têm falado abertamente porque temem que seus países sejam classificados como obstáculos para a conferência em defesa do meio ambiente.
O risco, de acordo com um dos negociadores ontem em Nova York, era de haver um fracasso da conferência no Rio, que marca também o aniversário de 20 anos da Eco-92. “Quase não houve avanço, mas até amanhã (hoje) pode haver novidades”, disse. São esperados cerca de 50 mil participantes no Rio.
O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukang, tentava manter o otimismo ontem, diante de obstáculos e de tentativas de amenizar o texto o máximo possível. Na sua avaliação, o encontro deveria ao menos “lançar um processo que conduza a metas de desenvolvimento sustentável”.
O chamado rascunho zero do documento contava inicialmente com 6 mil páginas, sendo reduzido para apenas 19 nas negociações em março. Com os adendos colocados pelos governos envolvidos, subiu para 200. Esse documento revisado, segundo os organizadores, encontrou 26 áreas de atuação.
EUA, Japão, Canadá e também algumas nações europeias têm se mostrado reticentes com alguns pontos em negociação, incluindo o estabelecimento de metas. Também há pressões da iniciativa privada. O Brasil se esforça para que a Rio+20 não seja um fracasso como a conferência do clima realizada na Dinamarca em 2009, onde não foram produzidos resultados.
Em Nova York, há reclamações de falta de foco nas negociações. Haverá apenas mais uma rodada no Rio, menos longa, pouco antes do início da conferência.
AL atrai investimentos
Correio Braziliense
A América Latina comemora uma marca histórica de investimento estrangeiro direto (IED) na região — US$ 135 bilhões em 2011 — justamente quando o mundo observa com preocupação o avanço estatizante de Argentina e Bolívia sobre empresas controladas por capital de fora. O montante recorde divulgado ontem em Santiago, no Chile, pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), órgão das Nações Unidas, representa 10% do fluxo mundial no período.
O Brasil liderou o fluxo de recursos no ano passado, com US$ 66,7 bilhões ou 43% do IED total. Em seguida, vem México (US$ 19,44 bilhões), Chile (US$ 17,29 bilhões), Colômbia (US$ 13,23 bilhões), Peru (US$ 7,659 bilhões), Argentina (US$ 7,24 bilhões), Venezuela (US$ 5,30 bilhões) e Uruguai (US$ 2,52 bilhões). Os valores apurados pelos quatro primeiros do ranking foram recordes históricos.
O relatório do organismo ligado às Nações Unidas indica ainda que os valores totais do ano passado devem ser superados este ano, possivelmente superando a máxima histórica, de 2008, quando os ingressos somaram US$ 137 bilhões. Em 2010, América Latina recebeu US$ 120,88 bilhões em IED, contra US$ 81,59 bilhões do ano anterior, auge da crise econômica mundial.
“Apesar da incerteza que ainda reina nos mercados financeiros globais, as economias latino-americanas atraíram significativos volumes de investimento estrangeiro direto em 2011, que devem se manter altos em 2012”, disse Alicia Bárcena, secretária executiva da Cepal, durante a apresentação do levantamento anual.
Segundo ela, 46% dos ingressos do IED se destinaram ao setor de veículos utilitários, refletindo uma maior confiança das multinacionais e das crescentes oportunidades de negócios na região, que cresceu 4,3% ano passado.
Incertezas
Para 2012, a Cepal prevê desaceleração das economias latino-americanas, com expansão média de 3,7%, em meio ao baixo crescimento dos países desenvolvidos e seus reflexos sobre os fluxos de investimento. Seus técnicos avaliam que, caso a crise na Eurozona ganhe dimensões maiores, é possível que a taxa de IED continue em alta, mas limitada por eventuais recuos, sobretudo de europeus. A aposta é que a taxa na América Latina este ano varie de uma queda de 2% a uma alta de 8%.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) negou que a América Latina esteja entrando numa de nacionalizações de empresas. O porta-voz do organismo, Gerry Rice, disse ontem que as recentes expropriações por parte de Argentina e Bolívia de empresas espanholas não mudam o clima de investimento. “Trata-se de uma região muito diversa e não podemos dizer que o que está ocorrendo é uma tendência. De uma maneira geral, seus países se beneficiaram de investimentos externos”, disse.
Em um sinal contrário à segurança dos investimentos externos, o presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou esta semana a expropriação da Transportadora de Eletricidade (TDE), filial do grupo espanhol Red Eléctrica. Duas semanas antes, o governo argentino anunciou o confisco de 51% das ações da petroleira YPF, em poder da também espanhola Repsol. (SR)
Tsunami monetário
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) considera estrategicamente importante para países como o Brasil a adoção de políticas para coibir valorização excessiva da moeda local. Estudo do organismo sobre investimentos diretos revela ser impossível identificar todos os capitais em busca de lucros com juros elevados e que chegam disfarçados de Investimento Estrangeiro Direto (IED). Ness sentido, a Cepal avaliza a crítica do Palácio do Planalto ao chamado “tsunami monetário”. Para o secretário executivo adjunto da Cepal, Antonio Prado, os países precisam ter instrumentos para evitar a apreciação excessiva do câmbio e, assim, defender sua capacidade de exportação e produção.
BCE mantém taxa, não discute cortes e decepciona
Valor Econômico
Como era esperado, o Banco Central Europeu (BCE) manteve sua taxa de juros em 1%. O encontro da autoridade monetária aconteceu em Barcelona, na Espanha, foco das atuais preocupações dos investidores com relação à crise da zona do euro.
Logo após Mario Draghi, presidente do BCE, dizer que a autoridade monetária não discutiu um corte da taxa de juros nesta última reunião, o euro ganhou terreno diante de outras moedas. Depois de uma semana em que indicadores econômicos apontaram para maior desaceleração na zona do euro, cresceu a expectativa de que o banco central poderia deixar a porta aberta para um corte dos juros à frente.
“O fato de o corte não ter sido discutido reduz quaisquer expectativas de afrouxamento por enquanto”, disse Daragh Maher, estrategista de câmbio do HSBC.
Em entrevista coletiva, Draghi disse que é fundamental garantir a sustentabilidade fiscal e o crescimento na zona do euro. “Ao mesmo tempo que o necessário ajuste fiscal está pesando no crescimento econômico de curto prazo, sua implementação bem sucedida vai contribuir para a sustentabilidade das finanças públicas e, consequentemente, para a redução do prêmio de risco soberano.”
Draghi também destacou que, junto com a consolidação fiscal, o crescimento e o potencial de expansão da economia da zona do euro têm de ser impulsionados por reformas estruturais decisivas, ressaltando ser preciso dar condições para a atividade empreendedora, o surgimento de empresas e a criação de empregos.
Sobre o plano de ajuste na zona do euro, o dirigente do BCE acredita que divergências regionais nos eventos econômicos são uma característica prevista, “mas desequilíbrios consideráveis se acumularam na última década em vários países da zona do euro e agora estão em processo de serem corrigidos”.
Para além do curto prazo, Draghi espera que a região da zona do euro siga em recuperação gradual, apoiada pela demanda externa, pelo juro baixo na região e por todas as medidas tomadas para o funcionamento adequado da economia. Mas, como emendou, ainda existem tensões que devem perturbar o percurso de retomada econômica, como os problemas em alguns mercados da dívida soberana europeia e o impacto disso nas condições de crédito bem como o alto desemprego.
“Como dissemos anteriormente, a perspectiva econômica continua sujeita a riscos de baixa, relacionados em particular com uma intensificação das tensões nos mercados de dívida da zona do euro e o potencial contágio para a economia real da região, assim como novos aumentos nos preços das commodities”, disse Draghi.
Ele espera que a inflação na área da moeda comum fique acima de 2% em 2012, basicamente em decorrência de aumentos nos preços de energia e impostos indiretos, mas prevê que arrefeça no começo de 2013, se situando abaixo de 2%.
No âmbito monetário, o presidente do BCE considerou que ainda é necessário tempo para o pleno impacto das medidas heterodoxas e para um efeito positivo no aumento de empréstimos. “Neste contexto, deve ser destacado que a segunda operação de financiamento de longo prazo foi estabelecida apenas em 1º de março de 2012”, sublinhou.
Draghi aproveitou para reforçar que é essencial que os bancos se fortaleçam. “A solidez do balanço dos bancos vai ser um fator chave para facilitar tanto a provisão apropriada de crédito para a economia quanto normalizar os canais de financiamento”, disse.
Eletrobrás investirá R$ 300 mi em projetos no exterior
O Estado de S. Paulo
A Eletrobrás investirá R$ 300 milhões na área internacional em 2012, afirmou o presidente da empresa, José da Costa Carvalho Neto. O montante envolve projetos como a Usina de Tumarín, na Nicarágua, além de uma hidrelétrica e um conjunto de parques eólicos no Uruguai.
No ano passado, o investimento da companhia fora do País foi pouco significativo, afirmou o executivo. O aumento do orçamento internacional neste ano está em linha com a meta de destinar 10% do investimento anual da estatal a projetos no exterior, em especial na América do Sul.
A Eletrobrás investirá R$ 13,3 bilhões em 2012, mas o plano no médio prazo é aportar cerca de R$ 10 bilhões por ano. O ideal, diz Carvalho Neto, é ter cerca de R$ 1 bilhão investido na área internacional.
“Esse porcentual subirá aos poucos, à medida que deslanchar o plano de investimentos”, disse.
Em abril, a Eletrobrás assinou com a estatal uruguaia UTE um acordo para a construção de um conjunto de parques eólicos, cujo custo é estimado entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil o megawatt. Os estudos para a implantação do projeto terminam em 60 dias, informou Carvalho Neto.
A estatal de energia também receberá agora a licença ambiental para instalar uma linha de transmissão que possibilitará um intercâmbio de 500 MW de energia entre Brasil e Uruguai.
Estiagem. O presidente da Eletrobrás descartou a necessidade de o Brasil importar energia da Argentina para suprir o Estado do Rio Grande do Sul, afetado por uma forte estiagem. O executivo afirmou que a integração energética entre Brasil, Uruguai e Argentina continua nos planos do governo, mas garantiu que “não há necessidade de importar (energia) da Argentina no curto prazo”.
O presidente da Eletrobrás participou de um seminário sobre Oportunidades de Investimento na África, promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio.
A Eletrobrás tem uma série de projetos em estudo para o continente africano. Nos planos, estão uma hidrelétrica de 350 MW em Angola e outra de 1.500 MW no norte de Moçambique, em parceria com a local EDM.
Estimado em US$ 6 bilhões, o projeto prevê ainda a construção de linhas de transmissão para levar energia ao mercado moçambicano. O BNDES avalia financiar o investimento.