Os Comunistas e o Dia Nacional do Samba

imagemEdison Carneiro redigiu a Carta do Samba, que instituiu o 2 de dezembro como Dia Nacional do Samba

Heitor Cesar Oliveira

Entre o final de novembro (28) e início de dezembro (02) de 1962 ocorreria o I Congresso Nacional do Samba. O evento foi organizado pela Confederação Brasileira das Escolas de Samba, pela Associação Brasileira das Escolas de Samba, pela Campanha em Defesa do Folclore Brasileiro, pelo Conselho Nacional de Cultura e pela Ordem dos Músicos do Brasil.

A presidência do Congresso coube ao pesquisador e escritor Edison Carneiro, considerado um dos maiores etnólogos brasileiros. Edison Carneiro, desde os anos 1930, era militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro – e, desde sua juventude e época de estudo, na Bahia, havia se colocado não apenas como um estudioso, mas também como um defensor da cultura popular e nacional, com destaque na defesa, preservação e divulgação da cultura negra e popular.

Além de presidir o I Congresso Nacional do Samba, Edison Carneiro também foi o responsável pela redação da Carta produzida pelo encontro, a Carta do Samba. A carta apresentava a proposta de instituir o dia 2 de dezembro como o Dia do Samba, uma data para ser marcada não apenas por festejos e celebrações, mas fundamentalmente pela defesa e divulgação da cultura popular e sua preservação como um dos grandes patrimônios do nosso povo trabalhador.

O projeto de lei que institui o Dia do Samba foi apresentado e aprovado no plenário da Assembleia Legislativa, contudo, o projeto seria ainda vetado pelo então governador do Estado da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, o mesmo que colaborou com o golpe militar de abril de 1964. Posteriormente, o veto do governador seria derrubado pelo plenário, e o dia 2 de dezembro passaria a ser oficialmente o Dia do Samba. Tanto aqui no Rio, como em Salvador e, posteriormente, em diversas cidades e Estados. Os projetos de lei tanto do Rio como de Salvador tiveram a Carta do Samba como documento base ou como inspirador de seus textos.

No ano seguinte, em 1963, ocorreria o II Congresso Nacional do Samba, novamente no Estado da Guanabara. E mais uma vez, em seu texto final, fala da Carta do Samba e da data de 2 de Dezembro como Dia do Samba.

Diz o texto do boletim de encerramento do II Congresso Nacional do Samba:

“Nas escolas de samba da Guanabara e nos redutos principais do samba, nessa data, o samba será festejado com o repicar de tamborins, com o ‘roncar’ das cuícas e com uma alvorada de 21 batidas no ‘surdo’. O tão esperado Dia do Samba também será comemorado pelas emissoras de rádio que apresentarão programas com gravações de nossa consagrada música popular”.

Coincidentemente, a data de 2 de dezembro, defendida na Carta do Samba como a data a ser celebrada como o Dia do Samba, seria, em 1972, a data da morte de Edison Carneiro, um dos grandes defensores do dia.
Portanto, no dia 2 de dezembro, festejamos o Samba e saudamos a memória do bravo camarada Edison Carneiro.

Heitor Cesar Oliveira é fundador do Bloco Revolucionário Comuna que Pariu e membro do Comitê Central do PCB