MP diz que venda da Delta é ilegal e imoral, e abre inquérito

O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro pediu abertura de inquérito civil público para apurar possível irregularidades na venda da Delta Construções, investigada por fraudes e alvo da CPI do Cachoeira, ao grupo J&F Holding. Para o procurador regional da República Nívio de Freitas Silva Filho, a participação de 31,4% do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na JBS S.A., principal empresa controleda pela holding, motivo para que o caso seja apurado “com urgência”.

– Caso se concretize esse negócio, por força de sua participação acionária no grupo JBS, o BNDES, em evidente afronta aos princípios da legalidade e moralidade, irá inexoravelmente participar de empresa sobre a qual recaem notícias da prática de graves ilicitudes e que se sujeita a ser declarada inidônea para contratar com o poder público – diz Silva Filho.

Segundo Nivio de Freitas, é necessário garantir que os dirigentes da “Delta não fujam da responsabilidade patrimonial da empresa pelos eventuais danos causados, transferindo-os ao credor”, ou seja, a administração pública, e evitar que o BNDES continue a fazer empréstimos a uma empresa que “sujeita-se a ser declarada inidônea para contratar com o poder público”, como afirma no ofício solicitando a investigação, a que O GLOBO teve acesso. A Delta afirmou que as perguntas deveriam ser endereçadas à J&F, que está assumindo a empresa. A J&F não se pronunciou sobre a investigação.

– Queremos garantir que o BNDES não venha a aportar, por vias transversas, recursos que sejam usados para a compra da Delta – afirma Silva Filho. O procurador que assumir o caso poderá pedir, em caráter liminar, a suspensão da negociação, fazer uma recomendação ao banco para que não sejam realizadas novas operações, bem como pedir a indisponibilidade dos bens dos investigados – explica.

Procurador questiona Delta

A motivação da Delta para abandonar os consórcios responsáveis pelas obras do estádio do Maracanã – que está sendo preparado para receber jogos da Copa de 2014 – e da Transcarioca – corredor exclusivo de ônibus que ligará a Zona Norte à Zona Oeste da capital – também é colocada sob suspeita pelo procurador regional.

– É inusitado que a Delta, atuando de forma completamente atípica, tenha vindo a se retirar do consórcio responsável pelas obras da Transcarioca e do Maracanã, abrindo mão de expressivas receitas, ao passo que construtoras do mesmo porte buscam acumular contratos públicos – afirma ele, que no documento ressalta que a atuação da Delta vinha sendo exatamente oposta, ou seja, de buscar mais contratos, o que aponta para uma decisão tomada fora da diretoria da construtora, por “poderosos elementos exógenos”.

A Delta tinha 30% de participação no consórcio que cuida da reforma do Maracanã, junto com Odebrecht Infraestrutura (49%) e a Andrade Gutierrez (21%). As obras estão orçadas em R$ 859 milhões. Na Transcarioca, a Delta detinha 42% de participação, junto com a Andrade Gutierrez (58%), em contrato no valor de R$ 798,4 milhões.

O procedimento será instaurado no Rio, onde está instalada a sede da Delta, e será levado adiante pela área de Patrimônio – a mesma responsável por suspender no ano passado um outro inquérito civil público para investigar a compra de R$ 3,5 bilhões em debêntures (título emitido por empresas em troca de empréstimos) da JBS pelo BNDES, que acabou sendo arquivado.

O procurador da área, Carlos Alberto Bermond Natal, informou que o arquivamento está sendo avaliado pelo MPF em Brasília.

– A operação realizada pelo BNDES estava de acordo com a Política de Desenvolvimento Produtivo estabelecida pelo Governo Federal, da qual o BNDES é uma das agências estatais coordenadoras, e que a situação financeira da JBS e quando da subscrição pela BNDESPAR não era falimentar como constou da representação – diz o procurador.

A Delta não quis se pronunciar sobre as investigações. A direção da J&F Holding , por sua vez, não quis comentar a apuração. A direção da J&F Holding deve anunciar hoje o nome do novo presidente da Delta Construções. A holding informou que, mesmo com a mudança na direção, a Delta Construções continuará a disputar, em respeito à legislação vigente, licitações públicas.

Depois de caírem 4,53% na terça-feira, quando foi anunciada a compra da Delta, as ações ON da JBS, principal empresa do grupo J&F na holding, fecharam a quinta-feira em alta de 0,56% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), cotadas a R$ 7,14.

 


Crédito cai com arrocho de bancos e menor demanda

Valor Econômico

A economia brasileira não está deslanchando porque um dos canais de transmissão da política monetária, o crédito, está comprometido – está crescendo menos. E é difícil encontrar culpados no atual cenário. De um lado, a renda disponível de uma parcela substantiva da população diminuiu; de outro, os bancos se tornaram mais seletivos. O governo age, mas a mobilização dos bancos públicos não é suficiente para bancar a necessidade de financiamento da economia. É inquestionável, porém, que a pressão ajuda a colocar dinheiro na rua.

Uma mudança de padrão no consumo, especialmente da classe C, vem tendo um impacto importante na evolução do crédito – para o bem e para o mal. O destino da renda dessa massa de brasileiros, antes destinada basicamente a despesas com água, luz, telefone e aluguel, mudou drasticamente nos últimos anos. Parte da renda das famílias passou a ser drenada para bens de consumo considerados intangíveis. É a despesa com telefone celular, internet, TV por assinatura, mensalidade de escolas e faculdades privadas e passagens aéreas. Novos hábitos, novos custos. E o resultado é a redução da capacidade de endividamento.

“O sobre-endividamento das famílias brasileiras não existe. O que existe é uma renda disponível menor, consumida também pela inflação elevada, sobretudo, nos gastos com serviços”, comenta a fonte de um banco privado. O Valor conversou com três executivos da alta cúpula de três bancos, sendo dois deles privados e um público. Um problema de demanda é citado por todos eles para explicar, pelo menos parcialmente, o ritmo mais lento do crescimento do crédito.

Para os bancos, a diminuição da renda dos clientes virou pesadelo. E as instituições começaram a colher frutos amargos dos maciços financiamentos de veículos contratados entre 2009 e 2010, quando o país se defendia do risco de capotar com a crise financeira internacional.

Se até poucos meses atrás os bancos aprovavam sete pedidos de crédito para aquisição de bens de consumo (incluindo automóveis) em cada dez pedidos, agora passaram a aprovar cinco – procedimento que o setor bancário não vê como represamento de recursos, mas como cautela com o aumento do risco e da inadimplência.

O cuidado é consequência da trombada que grandes bancos levaram no financiamento de veículos para pessoas físicas de baixa renda, o que levou os bancos a mudar o perfil das operações. A estrutura de financiamento de automóveis vigente até 2009, de entrada de 20% a 30% do valor total e parcelamento em até 36 meses, passou a ser de financiamento de 100% do bem com prestações diluídas em até 72 meses. Entra aqui o lado da oferta de crédito mais retraída.

O resultado desse posicionamento agressivo de grandes instituições no financiamento de veículos já foi escancarado nos balanços dos bancos, que mostraram a proliferação das provisões para devedores duvidosos, com o consequente encolhimento dos lucros. Executivos de bancos estimam que 50% do aumento da inadimplência vem do segmento de veículos financiados entre 2009 e 2010. Para correr atrás do prejuízo, agências de cobrança relatam que tem prevalecido entre os bancos uma orientação para que as agências deem mais ênfase na renegociação de contratos, no lugar da retomada do veículo, graças a queda no preço dos carros usados.

A maioria dos revendedores de carros está pessimista com a nova política de crédito mais rígida adotada pelos bancos. O Valor conversou com seis revendedores de diferentes capitais e todos afirmaram que os financiamentos de 60 meses estão cada vez mais escassos. A preferência é pelo prazo de 48 meses. A exigência de 20% de entrada – no mínimo – é também terminante.

Mas as famílias estão retomando “devagarzinho” os financiamentos, inclusive de automóveis. “Havia uma distorção no financiamento sem entrada. Agora, as pessoas continuam querendo consumir, mas é preciso um tempo para que elas poupem e, por exemplo, consigam dar a entrada em um carro. Acredito que estamos nesse período de criação de poupança”, diz o presidente de um banco de médio porte com foco em consumo.

Um outro executivo de um grande banco privado alerta para o risco de leituras equivocadas ou exageradas dos sinais emitidos no mercado de crédito. “O desempenho da economia brasileira é sazonalmente mais fraco no primeiro trimestre de cada ano. Mas a economia vai deslanchar no segundo semestre. E também contribui para isso o fato de os bancos, que apanharam com as carteiras de veículos, equacionarem os seus problemas, o que já está acontecendo”, acrescenta a fonte, que ressalta a importância do salto que o crédito deu no Brasil em dez anos.

“O crédito dobrou em proporção do PIB. Se a economia brasileira está sendo 50% financiada por recursos bancários, é razoável esperar que a expansão das carteiras passe a ocorrer em ritmo menor. E isso é saudável não só para o sistema bancário, mas para o país. É um engano imaginar ser possível sustentar um ritmo de expansão de crédito de 20% ou 30% ao ano. O crédito no Brasil está crescendo ao ritmo de 17%, 18% ao ano e isso é muito relevante”, diz o interlocutor, que vê o PIB crescendo mais de 4% neste ano e certamente além desse percentual em 2013.

É pouco provável que quem comprou um carro no ano passado e ainda está pagando a prestação volte a comprar outro neste ano. “Há um esgotamento do ciclo de consumo de bens duráveis no Brasil. Não há dúvida. Por isso também parte do crédito cresce mais lentamente”, diz o vice-presidente de um banco público.

Por outro lado, na ponta das empresas a perspectiva de expansão da atividade no Brasil deve incentivar também a demanda por crédito. Isso não virá, porém, de qualquer empresa. As grandes corporações ou as de médio porte financeiramente robustas têm acessado cada vez menos as linhas de crédito bancário, dando preferência à captação de recursos no mercado de capitais, com emissões de títulos de renda fixa ou emissões externas. Esse segmento está bem resolvido.

A demanda por crédito bancário é titubeante entre as micro, pequenas e médias, principalmente, vinculadas ao setor industrial. E, nesse caso, o problema é de competição do setor, que está enfraquecido, e não falta de crédito. Em contraponto, as micro, pequenas e médias do setor de serviços mantêm interesse firme por linhas bancárias.

O problema que elas têm encontrado é de outra ordem. “Tem sobrado crédito para as boas empresas e faltado para as menores”, diz o presidente de um banco médio que atende empresas. “As pequenas empresas estão sofrendo mais com a alta da mão de obra e a redução da informalidade. Logo, as margens delas estão mais apertadas”, diz o executivo. Ao longo do ano passado, ao sentir uma inadimplência maior entre as companhias menores, diversos bancos de médio porte optaram por direcionar seus desembolsos para empresas maiores. Isso explica o fato de as ações de Banco do Brasil e Caixa, por exemplo, terem foco nas pequenas e médias empresas.

O Banco Central, lembra um executivo de um banco de fomento, também vem forçando os bancos a aumentarem os níveis de provisão para o crédito dado, principalmente entre as médias empresas. Entre ter de separar em seu balanço mais milhões para um crédito de qualidade inferior e não dar o empréstimos, muitos bancos têm optado pela segunda alternativa.

Em meio ao cenário de inadimplência crescente, a estratégia dos bancos também tem sido se refugiar em linhas mais seguras de empréstimos e financiamentos. “Continuaremos privilegiando as linhas de menor risco, que exijam garantias”, diz o vice-presidente de um grande banco privado. É o caso do financiamento imobiliário, que em tempos de juros altos era o “patinho feio” dentro dos bancos. Uma instituição privada de grande porte, por exemplo, prevê que daqui a dois ou três anos, a carteira de crédito imobiliário e de cartão de crédito fiquem do mesmo tamanho. (Leia mais nas páginas C3, C9, C15 e C16)

 


Para mercado, discurso de Tombini sugere corte maior na Selic

Valor Econômico

Mensagens importantes foram transmitidas pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em discurso de abertura do Seminário Anual de Metas para a Inflação, ontem, no Rio. Ele chamou a atenção sobre as várias mudanças produzidas no pós-crise global para os Bancos Centrais, na condução da política monetária, e a avaliação dessa nova fase alertou alguns agentes do mercado. Ressaltou a necessidade de maior transparência na comunicação dos Banco Centrais, para evitar interpretações extremas e mencionou a “grande variância no cenário internacional”, que piorou substancialmente nas últimas semanas.

Trechos do pronunciamento foram interpretados como um sinal de que o Comitê de Política Monetária (Copom), no dia 30, pode deixar de lado a “parcimônia” que está na última ata, e baixar a Selic em mais 0,75 ponto percentual, para 8,25% ao ano.

Tombini disse que a crise deixou clara a necessidade de os Bancos Centrais serem menos herméticos, mais transparentes, na sua comunicação. Alguns BCs, antes mesmo da crise, já haviam migrado para uma comunicação mais explícita sobre a evolução quantitativa projetada de suas taxas básicas de juros. “Não se trata apenas de fortalecer os mecanismos de formação de expectativas dos agentes, mas também de evitar que interpretações com variância excessiva possam afetar o funcionamento dos mercados”, explicou.

O agravamento mais recente das condições da economia global está no centro das preocupações do BC. “Basta observar a rapidez com a qual se modificou nas últimas semanas a perspectiva de crescimento nos EUA, a probabilidade de resolução da crise na zona do euro ou até os dados, por vezes contraditórios, sobre o pouso suave na China”, disse ele.

Diante de grandes incertezas, os Bancos Centrais têm procurado ser mais explícitos em suas comunicações, reiterou o presidente do BC, salientando que essas vêm “acompanhadas com uma repetida mensagem de que esses indicativos sempre estão condicionados ao conjunto de informações disponível a cada momento”. Ocorre que atualmente essas informações estão mais voláteis, o que resulta na necessidade da autoridade monetária ajustar-se com maior frequência aos desdobramentos do cenário existente, ponderou.

“Ou seja, ao benefício de uma maior transparência na comunicação se contrapõem mudanças mais frequentes nas sinalizações. Mas não penso que por conta disso vamos ou devemos retornar ao hermetismo do passado ou a um estilo de comunicação que permanece em generalidades e perde em precisão. Nesse momento de transição, esse “trade-off” apenas tende a acarretar um custo reputacional um pouco maior para os Bancos Centrais.”

Essas declarações levaram agentes do mercado à leitura de que o Copom pode prosseguir no corte maior da Selic, de 0,75 ponto percentual e não 0,5 ponto percentual como induzia a última ata.

A Europa voltou para a beira do abismo; a perda de dinamismo da economia chinesa ameaça o crescimento daquele país e os últimos dados de comércio exterior, com queda pronunciada da taxa de crescimento das exportações e das importações, foram especialmente ruins. Os Estados Unidos não reagem e ontem o presidente do Banco Central da Holanda, Klaas Knot, falou em “década perdida” para a Europa.

Tombini discorreu, também, sobre a complexa relação entre estabilidade de preços e estabilidade financeira e da revisão sobre a caixa de ferramentas dos bancos centrais no debate pós- crise. Disse que o regime de metas para a inflação continua sendo o melhor arcabouço de política monetária, mas que isso não impede aperfeiçoamentos a partir das lições da crise. “Como, por exemplo, incorporando nos modelos macroeconômicos informações sobre o segmento financeiro, inclusive sobre preços de ativos, bem como sobre política fiscal”, completou.

Dos debates surge “um pragmatismo”, dois instrumentos para dois objetivos. A política monetária deve assegurar a estabilidade de preços e as políticas micro e macroprudenciais devem assegurar a estabilidade financeira. “Contudo, não podemos ignorar que suas ações, seus objetivos e seus impactos apresentam fortes interconexões.”

 


Analistas estão pessimistas com Petrobras

Valor Econômico

As expectativas para aos resultados da Petrobras no primeiro trimestre de 2012 não são as melhores. A média das projeções dos analistas indica queda de 27% no lucro líquido, para R$ 7,98 bilhões, e de 10,8% no Ebitda, para R$ 14,36 bilhões. O balanço, que deveria ser divulgado hoje após o fechamento do mercado, foi adiado para terça-feira.

Esse desempenho deve aparecer apesar de aumento de 20,2% previsto para a receita líquida, que deve ficar em torno de R$ 65,26 bilhões, segundo estimativa de cinco corretoras que acompanham a companhia: Credit Suisse, J.P. Morgan, Itaú BBA, Ágora e Deutsche Bank

Entre as projeções usadas como base pelo Valor, a do J.P. Morgan é a mais pessimista. O banco espera uma receita de R$ 65,88 bilhões, Ebitda de R$ 13,3 bilhões e lucro de R$ 6,8 bilhões, que os analistas da instituição admitem estar abaixo do consenso do mercado.

Os analistas Emerson Leite e Andre Sobreira, do Credit Suisse, ressaltaram que o resultado do primeiro trimestre será importante principalmente porque “vai proporcionar um melhor quadro de referência” para o mercado avaliar a capacidade de a Petrobras gerar valor.

“O quarto trimestre [de 2011] foi muito fraco, mas uma série de efeitos não recorrentes (impairment, depreciação de ativos, mudanças na forma de contabilizar os resultados das joint ventures, estoques formados no exterior e, ainda, o efeito cambial sobre os custos) tornou difícil conciliar os números com a performance verdadeira do negócio”, diz o Credit Suisse em relatório.

O banco suíço espera receita de R$ 67 bilhões para a estatal, Ebitda de R$ 14,4 bilhões e lucro líquido de R$ 8,7 bilhões. Os números têm como base a produção estável no primeiro trimestre, apesar de o banco considerar preocupante a queda de 5% na produção de março em relação a fevereiro, e preços internos de derivados ligeiramente maiores no trimestre, refletindo aumentos de 10% e 2% na gasolina e diesel, respectivamente, que só tiveram impacto nos últimos dois meses do ano passado.

O Itaú BBA prevê que a companhia vai registrar um lucro líquido de R$ 7,78 bilhões no primeiro trimestre, 29% abaixo dos R$ 10,98 bilhões registrados no mesmo período de 2011. Como ressaltam os analistas do Itaú BBA, a receita líquida deverá ficar em R$ 65,38 bilhões, 19% acima da registrada no primeiro trimestre de 2011, mas, apesar do aumento do preço do petróleo, igual à do quarto trimestre.

No relatório, os analistas do Itaú BBA destacam que, como consequência dos preços elevados do petróleo, os mesmos fatores que afetaram o resultado do quarto trimestre estão mantidos no primeiros três meses de 2012. Entre os pontos destacados estão pagamentos mais elevados de participações governamentais (royalties e participação especial) e as despesas com importação de petróleo bruto e gasolina. Menores importações de diesel no período, por outro lado, vão compensar em parte os aumentos das despesas.

A projeção do Itaú BBA é que o Ebitda da companhia seja de R$ 14,5 bilhões, 10% abaixo do apurado no mesmo trimestre de 2011 e 6% acima dos R$ 13,66 bilhões do quarto trimestre. O aumento em relação ao último trimestre de 2011 se deve à ausência de itens não recorrentes. “Esperamos este resultado para confirmar a recorrência dos itens que afetaram os resultados no quarto trimestre”, afirmam os analistas do Itaú.

O Credit Suisse ressalta ainda que vão contribuir para o melhor resultado o consumo estável de combustíveis, que permitiu uma queda de 27% nas importações de diesel, e também o aumento de 8,5% no preço do petróleo em relação ao quarto trimestre, que melhora o preço de venda da estatal.

 


Crise global desacelera comércio exterior chinês

O Estado de S. Paulo

O comércio exterior da China cresceu no mês passado bem abaixo do projetado por analistas, o que colocou em evidência a anêmica recuperação global e a fragilidade da demanda da segunda maior economia do mundo. Os dados surpreenderam negativamente os mercados e provocaram queda na maioria das bolsas asiáticas.

Depois de uma expansão de 8,9% em março, as exportações chinesas desaceleraram e tiveram alta de 4,9% em abril, pouco mais da metade dos 8,5% esperados por analistas, segundo levantamentos realizados pelas agências Bloomberg e Reuters.

Na mão contrária, as importações tiveram alta de apenas 0,3%, bem abaixo da previsão de alta de 11% dos especialistas. Em março, a expansão havia sido de 5,3%, sempre em relação a igual período do ano passado.

A fraca demanda chinesa fez com que o superávit comercial do país atingisse US$ 18,4 bilhões em abril, mais de três vezes os US$ 5,4 bilhões do mês anterior. Os analistas esperavam uma cifra de US$ 10,4 bilhões.

Segundo Wang Tao, economista-chefe para a China do banco USB, houve queda nas importações de componentes usados na montagem de produtos destinados à exportação e na de bens de capital, o que sugere enfraquecimento dos investimentos no setor manufatureiro.

Mas, dentro do cenário sombrio, a demanda por commodities se manteve sólida, provavelmente em razão dos investimentos oficiais em casas populares e infraestrutura, avaliou Wang.

As compras de minério de ferro, principal produto de exportação do Brasil, tiveram expansão de 9%, enquanto as importações de cobre aumentaram 43% na comparação com abril de 2011.

As exportações chinesas são afetadas pela recessão na Europa e pelo baixo crescimento nos Estados Unidos, os dois principais mercados do país. Os dados de abril mostram que os países emergentes não tiveram fôlego para compensar a redução na demanda das nações ricas.

No período de janeiro a abril, as exportações chinesas aumentaram 6,9%, para US$ 593,24 bilhões, enquanto as importações tiveram expansão de 5,1% e valor de US$ 573,94 bilhões.

Os dirigentes chineses reduziram a meta oficial de crescimento para 2012 de 7,5% para 7%, número que é visto mais como piso do que como alvo a ser perseguido. Ainda assim, é evidente que a segunda maior economia do mundo caminha para uma desaceleração e deve registrar neste ano crescimento em torno de 8,5%, que seria o mais baixo em uma década.

 


Dilma decide mudar o comando da Previ

O Globo

A presidente Dilma Rousseff decidiu dar um basta à disputa de poder entre a cúpula do Banco do Brasil (BB) e a da Previ, o fundo de pensão dos funcionários da instituição. A saída encontrada foi determinar a demissão do presidente do fundo, Ricardo Flores, e do vice-presidente da área de governo do BB, Ricardo Oliveira. Segundo avaliação do Palácio do Planalto e da equipe econômica, os dois continuaram conspirando nos bastidores do poder, mesmo após determinação de Dilma para encerrar a disputa. O comando da Previ deve ir para um dos vice-presidentes do BB e o cargo de Oliveira deve ser ocupado pelo ex-governador e ex-senador baiano César Borges, do PR, para acalmar a base aliada.

Já o presidente da instituição, Aldemir Bendine, permanecerá no cargo, porque, na avaliação do Palácio do Planalto, seguiu à risca a recomendação da presidente de não colocar mais combustível na disputa com a Previ e está fazendo o dever de casa na batalha do governo para reduzir os juros. Depois de uma enxurrada de notícias negativas que chegaram a ameaçar sua permanência no cargo, Dilma mandou Bendine não dar entrevistas, mesmo as relacionadas à queda dos juros, para preservá-lo.

O mais cotado para assumir a Previ é o vice-presidente de Finanças do BB, Ivan Monteiro. Entretanto, há outros dois nomes na mesa da presidente: Alexandre Abreu, vice-presidente de Varejo, cresceu bastante no conceito de Dilma porque formulou o programa “Bom pra todos”, que reduziu os juros. O outro candidato é Danilo Angst, vice-presidente que cuida da área de crédito e risco.

Presidente quer blindar o banco e evitar desgastes

O poderoso vice-presidente de Atacado, Rogério Caffarelli, apesar de bem articulado no governo, foi descartado por causa das denúncias de favorecimento à filha do ministro da Fazenda, Marina Mantega, no ano passado. Dilma quer blindar o banco em relação a outros escândalos e evitar o desgaste da instituição.

A cadeira de Ricardo Oliveira foi oferecida ao PR, que indicou o ex-governador e ex-senador baiano César Borges. Em fevereiro, o cargo já havia sido oferecido ao partido pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, quando negociava a participação do PR no governo, após a mudança no Ministério dos Transportes. Na época, o partido recusou a oferta.

Os aliados do PR e o PT da Bahia já foram avisados da intenção da presidente Dilma Rousseff de indicar o ex-senador César Borges para assumir o cargo de Ricardo Oliveira no BB. Da Itália, o governador da Bahia, Jaques Wagner, fez questão de ligar para alguns parlamentares e avisar que não tinha restrições ao nome de César Borges. Da última vez que o nome do ex-senador foi incluído na lista para assumir um ministério, atribuiu-se a Wagner a reação à indicação.

Com as alterações no BB e na Previ, a presidente Dilma quer pôr um ponto final na disputa que resultou na demissão do então vice-presidente de Atacado, Negócios Internacionais e Privite Banking, Allan Toledo, em dezembro passado e continuava nos bastidores. Segundo fontes de governo, o presidente do conselho da instituição e secretário-executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, recebeu uma mensagem que narrava detalhes do que estaria acontecendo dentro da instituição. As informações eram de que havia uma guerra de dossiês e espionagem entre os executivos do banco. Para resolver o problema, Dilma decidiu demitir os personagens identificados como protagonistas dos dois lados da disputa.

– Não há nenhum santo nessa história – afirmou um interlocutor da presidente.

No mês passado, o conselho do BB aprovou uma auditoria que sepultou o processo de quebra de sigilo bancário de Allan Toledo. E concluiu que não há provas de qualquer acesso indevido à conta do ex-funcionário. A Polícia Federal investiga o caso. Toledo concluiu que seu sigilo fora quebrado depois da divulgação de dados de sua movimentação bancária. Ele recebeu depósitos que somavam quase R$ 1 milhão da sua mãe adotiva. Segundo a explicação do ex-dirigente, ela teria vendido uma casa ao empresário Wanderley Mantovani, sócio do frigorífico Mafrig, cliente do Banco do Brasil. A operação gerou suspeitas de tráfico de influências.

A investigação para apurar a suposta quebra de sigilo de Toledo foi comandada pelo diretor de Segurança do BB, Marcos Ricardo Lot, ligado ao vice-presidente Ricardo Oliveira. Nos corredores do BB e nos bastidores do Palácio do Planalto, essa proximidade levantou suspeitas sobre o vazamento de informações sigilosas do grupo liderado pelo presidente da Previ, Ricardo Flores, desafeto de Oliveira.

A guerra entre a cúpula do BB e da Previ começou há alguns anos com um acordo entre Bendine e seu então vice-presidente Ricardo Flores. O pacto era para uma troca futura de cargos: Bendine assumiria a presidência da Previ e faria Flores seu sucessor no BB. O vice ganhou projeção em 2009, quando idealizou várias medidas para combater a crise financeira. Como prêmio, Flores ganhou a presidência da Previ e a inimizade de Bendine e de Oliveira.

 


IBGE mostra recuo da indústria

Correio Braziliense

As medidas pontuais de estímulo à produção anunciadas pela presidente Dilma Rousseff no mês passado, como a desoneração da folha de pagamento em setores mais prejudicados pela competição dos importados, ainda estão longe de afastar a crise da indústria brasileira. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou queda na produção industrial, entre fevereiro e março, em cinco das 14 áreas analisadas. Na comparação com março do ano passado, metade das regiões apresentou recuo.

As maiores quedas ocorreram justamente em localidades de destaque no parque fabril. A produção em março, ante o mesmo mês de 2011, caiu 6,2% em São Paulo, 6% em Santa Catarina, 2,4% no Rio de Janeiro, 2,4% no Espírito Santo, 1,4% na Região Nordeste (exceto Bahia, Pernambuco e Ceará), 0,7% em Minas Gerais e 0,7% na Bahia.

Por outro lado, a atividade avançou, na comparação anual, em locais como Goiás (24,7%) e Paraná (15%). Pará (5,5%), Rio Grande do Sul (1,5%), Ceará (1,3%), Amazonas (0,3%) e Pernambuco (0,1%) também apresentaram resultados positivos. Na média nacional, o recuo foi de 2,1%.

“O problema é que as localidades em que os índices caíram têm grande peso. São Paulo representa 40% da produção da indústria nacional. Minas Gerais, mais de 10%. E a Região Nordeste também é muito importante”, afirmou Fernando Abritta, pesquisador responsável pela levantamento. “Alguns estados estão indo bem. Mas, no geral, a indústria está sofrendo”, observou.

Não à toa, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou ontem que o maior desafio do Brasil é atualizar a indústria, com inovações tecnológicas, e trazê-la para o século 21. “Temos uma indústria sólida, poderosa e muito enraizada, cujo desempenho no século passado foi fundamental para colocar o Brasil na posição que tem hoje. Mas essa indústria precisa fazer um grande esforço para se tornar contemporânea e isso não será tarefa fácil”, disse, em seminário no Rio de Janeiro.

Importados

Para Abritta, entre os fatores que ajudam a explicar os resultados negativos estão a concorrência dos produtos importados, principalmente chineses, problema que já era sentido pelas empresas nacionais, mas se agravou com a crise financeira que assola a Europa e os Estados Unidos. “Isso faz com que haja excesso de oferta nas fábricas estrangeiras e elas exportam para o Brasil”, explicou.

Entre fevereiro e março, as quedas acima da média nacional (de -0,5%) foram verificadas na Bahia (-1,3%), em Minas Gerais (-0,7%) e em Santa Catarina (-0,7%). Os outros recuos foram registrados em São Paulo (-0,3) e na Região Nordeste (-0,5%). Por outro lado, os melhores resultados são de Paraná (alta 9,8%), Goiás (6,7%), Amazonas (6,5%), Rio Grande do Sul (2,6%), Rio de Janeiro (2,5%), Ceará (1,9%), Pará (0,9%), Pernambuco (0,4%) e Espírito Santo (0,3%).

Os piores índices na comparação com fevereiro foram registrados nos setores de equipamentos médico-hospitalares; edição e impressão; equipamentos de comunicação; fumo; e refino de petróleo e produção de álcool. Os melhores desempenhos foram nos ramos de veículos automotores; máquinas para escritório e equipamentos de informática; mobiliário; e vestuário e acessórios.

“Temos uma indústria sólida. Mas essa indústria precisa fazer um grande esforço para se tornar contemporânea e isso não será tarefa fácil”, afirma Fernando Pimentel, inistro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

 


As desprotegidas áreas verdes da Rio+20

O Globo

Alvo de sérias críticas quanto a um resultado pouco ousado, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, defendeu ontem que seria “excepcional” se a Rio+20 terminasse com a aprovação de “obrigações” para todos os países, especialmente nas áreas de produção e consumo sustentáveis.

A ministra não especificou quais seriam essas obrigações, mas deixou claro que o padrão de consumo dos países desenvolvidos “não pode ser replicado para todo o planeta”.

Ao participar no Rio do “Sustentável 2012: uma agenda para a Rio+20”, Izabella deixou claro que a maior ousadia do Brasil, como país anfitrião da conferência, será garantir que todos os participantes do encontro se sintam incluídos no debate:

– Não adianta promover o crescimento sem reduzir as desigualdades.

Num discurso alinhado com o do Itamaraty, que já se declarou contrário à transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência, como ocorre com outros órgãos das Nações Unidas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Izabella fez questão de reafirmar a importância do fortalecimento do conceito de desenvolvimento sustentável.

Quanto ao Pnuma virar uma agência, o embaixador André Correa do Lago – um dos negociadores da Rio+20 na ONU e que também esteve ontem no Rio – deixou claro que, apesar do apoio explícito de vários países africanos e mesmo os europeus, a proposta ainda não é um consenso.

– Defendemos o fortalecimento do Pnuma, para torná-lo mais efetivo, transparente, mais forte, mas não podemos isolá-lo numa agência apenas ambiental – ponderou Correa do Lago, lembrando que, nos últimos 20 anos, o Brasil vem defendendo nas conferências internacionais o fortalecimento do conceito de desenvolvimento sustentável. – Não faz sentido isolar novamente o meio ambiente.

Só que, internamente, o governo vem sendo criticado pelo fato de não existir uma liderança política que defenda os princípios do desenvolvimento sustentável. A falta de subsídios para promover a política energética sustentável é outra cobrança que ficou evidente durante o “Sustentável 2012”.

– Uma das grandes dificuldades que se encontra na questão de eficiência energética é que não tem um dono. Quanto às matrizes, seja biomassa, carvão, energia nuclear, os grupos estão organizados para defender cada um deles. No caso de eficiência energética, ninguém é contra. Mas não tem um lobbista, no bom sentido da palavra, daquele que vá realmente lutar pela causa, porque ela não está associada a nenhum setor que vá ter algum ganho. Então este é um papel do governo – disse Suzana Kahn, subsecretária de Economia Verde do Estado do Rio.

Apesar das críticas, o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Rodrigo Rollemberg, disse que o governo está empenhado redução progressiva do uso de combustíveis fósseis no mundo:

– A posição defendida pela delegação brasileira é definir uma meta de redução na utilização de combustíveis fósseis. Isso dará ao Brasil o diferencial de competitividade.

Ainda durante a plenária, o senador informou que, nos próximos dias, apresentará às comissões um projeto de lei para obrigar o repasse de uma parcela do valor da conta de energia elétrica à preservação de áreas de proteção permanente. Rollemberg explica que em 2014 está previsto o término do contrato de concessão de empresas de energia elétrica no país, tanto de geração, como de transmissão e de redistribuição, o que representaria cerca de 20% do setor. Entre elas, está a estatal Furnas. Na composição da tarifa de energia, atualmente uma parte do valor é proveniente de amortização de investimentos físicos realizados. E, segundo o senador, ao final da concessão, eles já teriam sido amortizados, o que permitiria uma redução da tarifa.

– O que estamos definindo é que um pequeno percentual do que seria a redução seja encaminhado ao fundo do pagamento de serviços ambientais, especialmente para áreas de preservação permanente ripárias (mata ciliar de rios), o que vai garantir quantidade e qualidade da água, que é a matéria prima para gerar energia hidrelétrica – defendeu.

Ainda segundo Rollemberg, a Fiesp estimou em R$ 30 bilhões anuais o valor da redução da tarifa, mas não há consenso. Cerca de 3% deste valor poderia ser destinado ao fundo ambiental.

Questionado quanto a um possível esvaziamento da Rio+20, já que alguns líderes, como a chanceler alemã Angela Merkel já avisou que não virá, Correa do Lago disse que não tem condições de saber se haveria alguma possibilidade de a posição da Alemanha mudar, uma vez que os recém eleitos presidentes da França, Francois Hollande, e da Rússia, Vladimir Putin, confirmaram presença.