122 anos de Gregório Bezerra, “feito de ferro e flor”
Por Roberto Arrais, membro do Comitê Central do PCB
No dia 13 de março de 1900 nasceu Gregório Bezerra, no sítio Mocós, no município de Panelas, agreste pernambucano.
Ele viveu o que grande parte da população trabalhadora viveu e vive: o trabalho infantil, aos 4 anos de idade, ajudando a família na lavoura, criança abandonada nas ruas do Recife, aos 10 anos, carregador de frete, vendedor de jornais, ajudante de pedreiro, sua sonhada profissão. Em 1917 participa da greve geral que ganhou grande parte do país, pela jornada de 8 horas de trabalho e condições de trabalho digno. Na sua participação no movimento grevista ele enfrenta a violência policial e é preso, ainda aos 17 anos de idade, ficando por mais de cinco anos encarcerado na Casa de Detenção do Recife, hoje Casa da Cultura de Pernambuco.
A classe trabalhadora brasileira ainda vive grande parte dessas agruras que mutilam as populações camponesas, quilombolas, indígenas e moradoras das periferias das cidades brasileiras. É o que assistimos nos presídios brasileiros, onde se tem como seus inquilinos cerca de 90% da população negra e pobre das periferias, os quais ficam anos aguardando processos e decisões que dormem nas gavetas do judiciário, em grande parte vinculado aos interesses das elites e das pessoas dos “bens”.
Gregório Bezerra foi eternizado como herói do povo brasileiro, não por seu desejo e vontade, mas foi se transformando pela sua bravura, dedicação incondicional à luta da classe, fidelidade à luta popular, pela resistência nos seus 22 anos de prisão, nos anos de luta clandestina, no exílio, nos seus mais de 50 anos de militância no Partido Comunista Brasileiro, lutando pela revolução socialista.
Gregório continua presente na luta pela reforma agrária, que foi uma de suas principais bandeiras, onde carregava sua raiz camponesa, continua presente na voz do que lutam por habitação, pela igualdade de gênero, que não aceitam qualquer forma de discriminação, seja de raça, de gênero, de etnia, continua presente nos encarcerados e torturados, nos sem terra, sem teto, sem direitos humanos garantidos, e está presente nos que resistem e lutam como as populações indígenas, negras e negros, LGBTs, trabalhadores e trabalhadoras, servidores e servidoras, os/as ambientalistas, que defendem uma sociedade igualitária, sem exploração do homem pelo próprio homem, com sustentabilidade ambiental, justiça social e igualdade econômica.
Gregório é lembrado e homenageado através de logradouros públicos, movimentos, história e através de obras literárias, escritas sobre ele e por ele, como a sua autobiografia, que foi editada inicialmente pela editora Civilização Brasileira em dois volumes e pela Editora Boitempo, que juntou os dois volumes num só e acrescentou fotos e textos sobre ele. Esse livro escrito no exílio, entre 1969 e 1979, é um livro que fala de sua vida e trajetória, com forte emoção pelas duras passagens de sua infância, as prisões, as torturas sofridas, especialmente em 1964, quando foi arrastado e espancado pelas ruas do Bairro da Casa Forte no Recife, pelo exército que tentou enforcá-lo numa das principais praças, concebida pelo paisagista Burle Marx, com o mesmo nome do Bairro, Casa Forte, mas que foi impedido graças à solidariedade e indignação popular e das freiras do Colégio Sagrada Família.
Infelizmente alguns desses logradouros se encontram abandonados, como o da “Ponte Gregório Bezerra” e a “Praça Gregório Bezerra” no bairro da Torre, ambos no Recife, a cidade onde mais tempo viveu sua vida. É preciso cobrar responsabilidade dos gestores públicos nessa política de preservação da memória e dos monumentos e logradouros que os homenageiam, porque isso é história, é exemplo, é cidadania.
Tem outro monumento que concebemos, sonhamos e solicitamos a um dos seus camaradas, o grande arquiteto, dos maiores do mundo, Oscar Niemeyer, que o doou em forma de concepção e que, junto com outro arquiteto seu colaborador e companheiro de escritório, Jair Valera, transformaram em projeto de arquitetura, que é o “Memorial Gregório Bezerra”, para ser construído na sua cidade natal, em Panelas, Pernambuco. Esse Memorial foi concebido no ano do Centenário de nascimento de Gregório, em 2000. A gestão do atual prefeito se comprometeu em retomar esse projeto, para garantir que em sua terra, além da Escola que carrega seu nome, também abrigue a sua memória, sua história e que possa servir de exemplo para as atuais e futuras gerações como exemplo e inspiração.
É importante lembrar-se de Gregório todos os dias, especialmente no mês em que o PCB comemora seu centenário de existência, que tem nele um de seus mais destacados quadros militantes, que enche de orgulho a todos e todas, especialmente a juventude que se organiza e segura firmemente o bastão da luta socialista.
O poeta Ferreira Gullar, autor de um poema em que destacou a trajetória deste herói, denominado de “História de um Valente”, conseguiu sintetizar essa figura extraordinária do movimento de luta dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiras, dizendo: “(…) Valentes, conheci muitos,/ E valentões, muito mais,/ uns só Valente no nome/ uns outros só de cartaz,/ uns valentes pela fome,/ outros, por comer demais,/ sem falar dos que são homem/ só com capangas atrás./ (…) Mas existe nessa terra/ muito homem de valor/ que é bravo sem matar gente/ mas não teme matador,/que gosta de sua gente/e que luta a seu favor,/ como Gregório Bezerra,/ feito de ferro e de flor. (…)”.
(Texto e foto – Roberto Arrais – Jornalista e membro do CC do PCB)