Analistas apoiam redução de superávit primário

A gravidade da crise na Europa começa a flexibilizar a posição de economistas sobre a necessidade de o governo brasileiro manter o superávit primário cheio de R$ 139,8 bilhões neste ano. Especialistas consultados pela Agência Estado avaliam que a crise europeia jogou o mundo numa situação sem precedentes, com efeitos negativos às expectativas globais de consumo.

No Brasil, esse quadro deve fazer o Produto Interno Bruto (PIB) ficar abaixo da alta de 2,7% de 2011. Por isso, seria oportuno que o Poder Executivo reduzisse em 0,5 ponto porcentual a meta de superávit primário, hoje em 3,1% do PIB, para aplicar os recursos exclusivamente no aumento dos investimentos em infraestrutura neste ano.

Segundo o Estado publicou no sábado, a equipe econômica já estuda a possibilidade de reduzir a poupança do Orçamento, para fortalecer o PIB e fazer com que a economia ganhe maior vigor no segundo semestre.

O vice-presidente da Moody”s, Mauro Leos, disse à Agência Estado que, “caso o governo reduza o superávit primário em 0,5 ponto em 2012 para aplicar tais recursos em infraestrutura e melhorar o potencial de crescimento do País, isso poderá ser mais positivo para a perspectiva de rating do Brasil no médio prazo”.

Na avaliação do ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do banco J.Safra, Carlos Kawall, uma redução do superávit primário em 0,5 ponto do PIB neste ano, com a aplicação do valor em projetos de infraestrutura, seria positiva para a economia num horizonte de um a dois anos.

“O nível de atividade do País está fraco, e nossa estimativa de crescimento é de 2,6% neste ano, abaixo do potencial, que está entre 3,5% e 4%”, disse. “Aplicar esses recursos em obras de infraestrutura seria importante”, acrescentou Kawall.

Nas contas do economista da MCM Marcos Fantinatti, 0,5 ponto porcentual do PIB equivale a R$ 22,5 bilhões neste ano, um valor expressivo, sobretudo porque ele estima que os recursos aplicados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) devem atingir R$ 45 bilhões em 2012, depois de terem alcançado R$ 28 bilhões em 2011.

De acordo com o diretor para mercados emergentes na América Latina da Nomura Securities, Tony Volpon, seria “boa” uma redução do superávit primário em 0,5 ponto do PIB neste ano para aumentar investimentos, pois a economia mundial passa por uma grave recidiva da crise iniciada em 2007, a pior desde a Grande Depressão. “Uma decisão como essa seria benéfica para elevar a capacidade de oferta no Brasil. Está esgotado o modelo de expansão da economia baseado no aumento da demanda, iniciado no governo do ex-presidente Lula.”

Na opinião do ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, a redução do superávit primário em 0,5 ponto do PIB só deveria ser adotada pelo governo como última medida, na eventualidade de o mundo mergulhar em nova recessão por causa da deterioração da crise na Europa.

Brasil deve cair para 7a. economia

O Globo

O dólar alto deve fazer o Brasil voltar uma casa no ranking das maiores economias do planeta. Cálculos da agência de classificação de risco Austin Rating, a partir de dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), apontam que o país pode cair da atual sexta posição no mundo para a sétima. É o efeito da valorização da moeda americana – que no ano já subiu mais de 6% – sobre o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e produtos produzidos) do país. Pelo levantamento, o PIB perderia cerca de US$ 100 bilhões com a desvalorização do real, saindo de US$ 2,45 trilhões para US$ 2,34 trilhões.

As novas projeções não mexem com as primeiras cinco posições no ranking, ocupadas por Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França. O Brasil troca de lugar com o Reino Unido, que reassume a sexta posição com o dólar valorizado aqui. O retrato segue mais uma vez inalterado, com Itália, Rússia e Canadá fechando o quadro das dez maiores economias.

– É uma mudança que ocorre somente por causa do câmbio. Não é por causa de perda de fôlego ou freio no crescimento. É uma mudança que tende a ser momentânea e não traz dúvidas sobre, por exemplo, a capacidade de o país honrar seus pagamentos em dólar. O país volta para uma posição que já ocupava antes. Não se trata de uma alteração brusca – disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

O dólar num patamar mais elevado tornou o PIB brasileiro mais real, acrescentou José Eustáquio Vieira, economista do Ipea. Em sua avaliação, os números brasileiros eram “artificiais” em decorrência de um câmbio distorcido.

– O câmbio, sem dúvida, estava muito apreciado. Porém, se o câmbio passar dos R$ 2,10, o país deixa de ter uma taxa de câmbio competitiva para ter uma taxa que prejudica o crescimento econômico.

Professora do Instituto de Economia da Unicamp, Simone Deos diz não ver impacto significativo de um possível rebaixamento do Brasil no ranking dos maiores PIBs mundiais.

– Pode-se até argumentar que isso pode ter alguma influência sobre o comportamento dos agentes econômicos, tanto do governo quanto da iniciativa privada, mas em um momento de instabilidade, como o que o mundo vive, é apenas um efeito estatístico.

Para ela, os possíveis efeitos do câmbio depreciado – aumento dos valores em reais das exportações e redução das importações devido ao custo mais elevado – no PIB só devem aparecer quando a cotação se estabilizar.

– O que estamos vendo é um momento de grande volatilidade – afirma ela, acrescentando que estes efeitos dependeriam de outros fatores, como o nível de atividade da indústria e os preços das commodities .

Efeitos benéficos ainda estão por vir

Na avaliação de Fernando Montero, economista da Convenção Corretora, esse retrato é pouco representativo. Funciona mais, segundo ele, como um marketing político dos países.

– Em 1999, quando o Brasil acabava de sair do câmbio fixo e a Argentina ainda estava na conversibilidade, o PIB argentino ficou quase superior ao brasileiro.

Já o professor Fernando de Holanda, da Fundação Getulio Vargas, diz que comparar os PIBs dos países é uma metodologia inadequada.

– É possível tornar um país rico, apenas apreciando o câmbio. É um indicador inadequado.

Para Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ, os efeitos positivos da alta do dólar não estão sendo sentidos devido ao fraco desempenho da indústria. Já os aumentos dos preços de insumos importados poderão provocar pressão sobre a inflação.

– O Brasil está sofrendo os malefícios da alta do dólar sem desfrutar dos benefícios – avaliou o economista que projeta alta de 2,6% no PIB deste ano. – Os preços dos combustíveis, por exemplo, que afetam os custos de logística, estão sendo subsidiados pelo governo. É uma bomba-relógio que vai estourar.

O economista do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, afirma que já trabalhava com dólar a R$ 1,90, portanto não precisou mudar suas previsões para o PIB – que, segundo ele, deverá crescer 2,7%. Gonçalves diz que os efeitos da alta são potencialmente positivos, mas dependem da evolução da economia chinesa e dos desdobramentos da situação na Europa.


Governo vai revogar arsenal de medidas em caso de colapso global

O Globo

BRASÍLIA. O governo guarda uma carta na manga para incentivar a economia brasileira quando a turbulência internacional se agravar: a revogação das medidas para conter o crédito. Elas foram adotadas a partir de 2010 para frear não apenas a atividade, que crescia além do potencial, mas também a valorização do real frente ao dólar. A estratégia que se discute nos bastidores do governo é reservar esse arsenal para um momento mais crítico, ao primeiro sinal de colapso no front externo.

A equipe econômica trabalha com um “cenário binário”: ou a economia grega abandona o euro ou a chanceler alemã, Angela Merkel, e toda a defesa da austeridade perderão força. Nas duas hipóteses, a expectativa é que o desfecho dessa crise provocará forte impacto também no Brasil. O governo brasileiro trabalha com uma previsão de perdas de até US$ 2 trilhões para economias do mundo com a saída da Grécia da zona do euro.

Se essa ruptura grega for traumática e desorganizada, pode haver um congelamento do crédito no mundo, como aconteceu quando o banco de investimento americano Lehman Brothers quebrou em 2008. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já previu uma “hecatombe” se a Grécia deixar o bloco do euro de uma forma dramática.

De todo o arsenal usado nos últimos dois anos, apenas duas medidas foram revistas: a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de derivativos para os exportadores e a que punia o banco que financiasse veículos e fizesse contratos longos de crédito consignado. Essa última foi revisada parcialmente. Foi mantida a punição para a instituição financeira que fizer empréstimo para compra de automóveis acima de 60 meses.

Estão mantidas outras 14 barreiras à entrada de capitais de curto prazo no país, adotadas quando o governo reclamava que um tsunami de dólares chegava via mercado financeiro no Brasil. Hoje, a situação é bem diferente. Só neste mês, houve uma saída de US$ 5,2 bilhões de aplicações financeiras.

O governo pode ainda retirar o IOF para contratos de swap – que na prática funcionam para a venda de dólares no mercado futuro – e mudar o cálculo da exigência para a posição dos bancos, ou seja, liberar as instituições para vender moeda americana e rever o limite de pagamento antecipado de importação. Além disso, pode derrubar barreiras para a entrada de dólares para empréstimos com prazo inferior a três anos e revogar o IOF para compras no cartão de crédito no exterior.

Medidas do BC no câmbio surtiram efeito desejado

A avaliação até agora é que as intervenções feitas no mercado de câmbio pelo Banco Central (BC) têm surtido o efeito necessário. Outros dados reforçam um cenário ruim pela frente. Na análise de governo, os problemas da Europa, como um mercado de trabalho rígido e ineficiente, reduzem as ferramentas para incentivar a economia.

Outra preocupação vem da Ásia. A China, destacam integrantes da equipe econômica, está mudando o modelo de crescimento, já que a fórmula baseada no investimento se exauriu. E crescerá menos, o que afetará o desempenho da economia.


Fabricantes de caminhões cortam produção e jornada

Valor Econômico

Pressionada pela queda na produção brasileira de caminhões e ônibus neste ano, a fabricante de motores diesel MWM International decidiu reduzir a jornada de trabalho e os salários de 3,9 mil funcionários administrativos e das linhas de produção das unidades de Canoas (RS) e São Paulo. A empresa fechou acordo com os sindicatos dos metalúrgicos das duas cidades para aplicar a medida nos meses de junho, julho e agosto, com o objetivo de evitar a demissão de cerca de 900 trabalhadores.

A empresa fornece motores para a MAN, líder no mercado de caminhões com a marca Volkswagen e que vai diminuir o ritmo. A montadora vai suspender a produção nas próximas duas semanas, quando dará férias coletivas para os funcionários da fábrica de Resende (RJ), conforme informações do sindicato local. Segundo Bartolomeu Citeli, diretor de comunicação do sindicato dos metalúrgicos na região de Volta Redonda, a MAN se reúne hoje com representantes dos trabalhadores para discutir a produção do segundo semestre. A maior preocupação no momento é evitar cortes de funcionários. Nenhum representante da MAN foi encontrado para comentar a informação.

Na esteira das mudanças na tecnologia de motor – a partir de janeiro só podem ser montados caminhões no padrão Euro 5 – que encareceram o preço de veículos pesados em até 15%, as vendas de caminhões caíram 9,2% nos quatro primeiros meses do ano, levando a paradas de produção por montadoras como Volvo, Scania e Mercedes-Benz.

Nos próximos três meses, os funcionários terão redução de 20% na jornada e vão trabalhar de segunda a quinta-feira

Mas a produção caiu muito mais do que as vendas, ficando na casa dos 30%. Como os veículos com tecnologia antiga puderam ser vendidos até o fim de março deste ano, as montadoras anteciparam a produção e reduziram a montagem dos novos modelos.

No caso da MWM, nos próximos três meses os funcionários de Canoas e São Paulo terão redução de 20% na jornada e vão trabalhar apenas de segunda à quinta-feira. Em Canoas, onde a carga horária é de 42 horas semanais, os 1,3 mil empregados receberão salários 15% menores, enquanto em São Paulo, onde a jornada é de 40 horas, o corte nos vencimentos será de 17,5%. Não haverá impacto sobre o pagamento de férias e décimo-terceiro salário.

O acordo prevê estabilidade de 45 dias para os funcionários a partir de primeiro de setembro e a devolução dos valores que deixarão de ser pagos, corrigidos pela variação dos salários, quando a produção de motores voltar a 140 mil unidades por ano. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, Paulo Chitolina, no ano fiscal de novembro de 2010 a outubro de 2011 a MWM fabricou 148 mil propulsores, mas com a retração do mercado a projeção para os 12 meses seguintes caiu para 120 mil.

Conforme Chitolina, a queda da produção foi causada pelo impacto da mudança da tecnologia nos motores diesel a partir de janeiro. O Euro 5 é menos poluentes, mas é mais caro e utiliza combustível com baixo teor de enxofre, não disseminado nos postos de abastecimento, o que ainda causa receio por parte das transportadoras.

A MWM vai antecipar reajuste mínimo de 7,6% para os trabalhadores de Canoas referente à data-base de maio

Nos quatro primeiros meses deste ano, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de caminhões caiu 30,3% ante igual período de 2011, para 42,9 mil, enquanto a de chassis para ônibus recuou 35%, para 8,9 mil unidades.

Procurada pelo Valor, a MWM informou, por intermédio de sua assessoria, que não comentaria o assunto. A empresa tem ainda uma fábrica de cabeçotes em Jesús Maria, na província argentina de Córdoba, mas os 180 funcionários locais não foram atingidos pelo corte de salários e jornada, disse o Sindicato de Mecânicos e Afins do Transporte Automotor (SMATA).

Para Chitolina, apesar do corte temporário dos salários, os funcionários de Canoas conseguiram “avanços” na negociação com a empresa. De acordo com ele, a MWM concordou em antecipar um reajuste mínimo de 7,6% referente à data-base de primeiro de maio, independente das negociações entre os sindicatos dos trabalhadores e das indústrias, e em adotar definitivamente a jornada de 40 horas a partir de setembro, sem redução salarial.

Em São Paulo não houve antecipação de reajuste porque a data-base dos metalúrgicos da região é apenas em novembro, explicou o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Edson Passos. Segundo ele, a unidade paulista já opera em regime de 40 horas semanais e por isso também não haverá alteração na jornada após o período de ajuste na produção.

A Mercedes-Benz anuncia hoje medidas para ajustar a produção em São Bernardo do Campo. Além de adotar a semana curta – com apenas quatro dias úteis -, a montadora de origem alemã já concedeu férias coletivas de dez dias em abril, colocou 480 operários em licença remunerada e parou a produção na semana passada. Scania já realizou quatro paradas entre abril e maio e negocia com o sindicato outras paradas de produção. A Volvo planeja usar o banco de horas de 1,3 mil empregados a partir do fim deste mês.


Estoque cresce pelo 3º mês consecutivo

O Estado de S. Paulo

Cresceu o número de setores superestocados na indústria de abril para maio, o que dificulta a retomada da produção industrial neste trimestre, revela a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). E, ontem, pela primeira vez, o mercado financeiro admitiu crescimento abaixo de 3% para economia brasileira neste ano, aponta pesquisa Focus do Banco Central. De 14 segmentos, 6 estão neste mês superestocados: material de transporte, mobiliário, mecânica, têxtil, vestuário e calçados e minerais não metálicos, aponta a sondagem. Em março e abril, 4 acumulavam produtos. “Após um período de ajuste em janeiro e fevereiro, quando havia só três setores superestocados, o quadro piorou em março e abril. Em maio, a situação de acúmulo de produtos se espalhou para outros segmentos”, afirmou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo. A pesquisa considera setores superestocados aqueles em que o saldo entre o número de empresas com estoques excessivos e insuficientes é igual ou maior do que 10%. O economista ponderou que a situação de acúmulo de produtos hoje não é tão grave quanto na crise de 2008. Em novembro daquele ano, 11 setores tinham encalhe. No entanto, como naquela época, a indústria de material de transporte lidera hoje o ranking dos segmentos com maior número de empresas com produtos além da conta.

Tanto é que, na semana passada, o governo retomou a fórmula usada em 2008 de cortar o imposto sobre os carros para impulsionar as vendas. Campelo ressaltou que a pesquisa acabou três dias após o anúncio do pacote de estímulo ao crédito. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu “paciência” para que as medidas já adotadas possam surtir efeito, segundo afirmou à Reuters. Além da indústria de material de transporte, os segmentos têxtil, de vestuário e calçados e mecânica estão com a produção prevista para três meses abaixo da média histórica, o que sinaliza uma retomada lenta da produção no curto prazo. Apesar de superestocados, o quadro é mais favorável para indústria de móveis e de minerais não metálicos, que inclui os itens usados pela construção civil. É que nesses dois segmentos o indicador de produção prevista para três meses supera a média histórica. Isso sinaliza que o ajuste está em curso e a produção deve ser retomada. O grande volume de estoques é o quesito que mais pesa no desempenho da indústria em geral. Neste mês, 8,8% das 1.259 empresas consultadas informaram ter produtos excessivos, índice que é superior ao de abril (5,2%) e quase o dobro do de maio de 2011 (4,7%). Com base nos resultados, Campelo disse que, no horizonte de três meses, de maio a julho, início do segundo semestre, não há indicações de um “arranque” da indústria. Já para seis meses, há mais otimismo.


Dilma teme que crise na Espanha prejudique investimentos no Brasil

Valor Econômico

A presidente Dilma Rousseff está muito preocupada com o desenrolar da crise na Espanha e teme que o agravamento da situação acabe por comprometer os investimentos das companhias espanholas no Brasil. A Espanha é o terceiro maior investidor no Brasil, com um saldo de US$ 79,5 bilhões, precedida dos Países Baixos (US$ 169,5 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 125,4 bilhões), conforme dados do Banco Central relativos ao censo de 2011.

No primeiro quadrimestre deste ano os investimentos daquele país somaram apenas US$ 739 milhões, uma queda brutal se confrontado com os US$ 4,7 bilhões de investimentos diretos em igual período de 2011. As empresas espanholas têm diversas concessões nas áreas de energia (Iberdrola, controladora da NeoEnergia), telecomunicações (Telefónica) e rodovias (OHL) e o Santander é um dos cinco maiores bancos em atividade no país.

Na segunda-feira Dilma terá um encontro com o rei Juan Carlos, cuja visita ao Brasil será seguida da vinda do primeiro-ministro Mariano Rajoy, para a conferência Rio+20. A presidente deverá externar suas preocupações na conversa com o monarca, com quem almoça no Itamaraty, não só em relação ao futuro dos investimentos das companhias multinacionais espanholas no Brasil, mas também com o que pode ocorrer com as remessas de lucros dessas empresas para suas matrizes, disse um assessor.

O Palácio do Planalto está monitorando a crise na zona do euro diariamente, com base em informações do Banco Central e do Ministério da Fazenda, além dos meios de comunicação e, em especial as dificuldades crescentes da Espanha. Acompanha com atenção, ainda, as notícias de uma suposta operação de compra, por bancos nacionais, do Santander no país.

Ontem as ações do Bankia – terceira maior instituição financeira daquele país em ativos e que deve ser recapitalizada em € 19 bilhões pelo governo espanhol – caíram 13,38%, as do Santander tiveram perda de 3%, e as do Bankinter, de 4,26%.

Na avaliação de assessores da presidente, na medida que a crise europeia se aprofunda, cabe à área econômica do governo brasileiro diminuir seu ativismo e acumular munição para uma futura reação aos fatos. Se a Grécia sair do euro ou se houver problemas mais graves com os bancos espanhóis, por exemplo, o governo sabe que haverá muita tensão nos mercados e que muito provavelmente ocorrerá uma parada abrupta nos fluxos do crédito externo para o país.

O Brasil dispõe de US$ 372,27 bilhões em reservas cambiais para enfrentar a escassez temporária de crédito externo e de R$ 393 bilhões em depósitos compulsórios para irrigar o sistema bancário doméstico, caso necessário.

Em situação extrema poderá, ainda, lançar mão de medidas de relaxamento fiscal, reduzindo a meta de superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. A hipótese de redução da meta, porém, não está sob consideração no momento e o debate sobre essa alternativa não chegou à presidência da República. Em valores absolutos, o governo se comprometeu com um superávit consolidado de todo o setor público de R$ 139,9 bilhões, sem descontar os investimentos de cerca de R$ 40 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se for preciso, basta optar pelo desconto do PAC.

A disposição, porém, é concentrar o foco da reação na redução da taxa básica de juros (Selic).


Analistas já projetam expansão do PIB inferior a 3%

Valor Econômico

Os economistas já não esperam crescimento acima de 3% para a economia brasileira neste ano. O Boletim Focus, do Banco Central (BC), mostra que as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 baixaram de 3,09% na semana passada para 2,99% na apuração desta semana, apesar de todos os esforços do governo para reaquecer a economia.

E as reduções, na avaliação de economistas ouvidos pelo Valor, não devem parar por aí. Uma nova rodada de revisões para baixo é aguardada na próxima semana, após a divulgação, na sexta-feira, dos resultados do PIB do primeiro trimestre. “Muitos economistas estão aguardando os dados do PIB para refazer suas contas”, afirma Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Wealth Management, que estima crescimento de 2,7% no PIB deste ano.

Seus cálculos consideram aumento de 0,4% no PIB do primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses de 2011, mas Fix já trabalha com a possibilidade de um resultado ainda mais fraco. “A alta de apenas 0,15% no IBC-Br no período aponta nesse sentido”, comenta, referindo-se ao Índice de Atividade Econômica do Banco Central, uma prévia do PIB.

Essa mesma linha de raciocínio é adotada por Flávio Combat, da Concórdia Corretora. Ele observa que há indicações de que a política de incentivo ao consumo adotada pelo governo está tendo efeito limitado sobre a economia. “As medidas começaram a ser lançadas no segundo semestre do ano passado. Considerando um período de quatro a cinco meses para que os efeitos comecem a ser percebidos, já deveríamos ver algum reflexo no PIB do primeiro trimestre, o que aparentemente não aconteceu, segundo os dados do IBC-Br.”

Combat, entretanto, ressalta que ao longo dos meses as medidas do governo foram se acumulando, ampliando as dúvidas quanto aos seus efeitos até o fim de 2012. Além disso, ele diz que outra grande fonte de incerteza é o cenário internacional. “Ninguém sabe como será o desenrolar da crise lá fora, nem qual será seu reflexo sobre a economia brasileira.”

A expectativa de menor fôlego na atividade econômica, para Combat, já reflete nas estimativas de inflação. O Boletim Focus mostra que as previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano cederam de 5,21% na semana passada para 5,17% nesta semana. As previsões para o dólar no fim de 2012 subiram de R$ 1,85 na semana passada para R$ 1,90 nesta semana.

“Com a inflação distante do teto da meta [de 6,5%], o governo pode manter o câmbio em um nível um pouco mais elevado para impulsionar a economia”, diz o economista-chefe do BanifInvest, Mauro Schneider. “A fotografia que o Focus nos mostra é a de que o câmbio e a inflação estão em patamares razoáveis. O que preocupa mais é o PIB.”

Schneider afirma que é natural que a expectativa de inflação recue diante da previsão de menor crescimento econômico. Entretanto, ele ressalta que parte importante do comportamento dos preços já está desenhada, sem guardar relação com o desempenho da economia brasileira nos próximos meses. “A redução do IPI sobre carros, por exemplo, deve ajudar a diminuir a inflação neste ano”, exemplifica.

Diante das projeções modestas para o PIB, Schneider não descarta a possibilidade de prorrogação do incentivo fiscal sobre automóveis, que a princípio termina em 31 de agosto. Neste caso, os efeitos da reversão da medida sobre a inflação ficariam para 2013.