Gregos se preparam para saída do euro

Os gregos estão sacando dinheiro e estocando alimentos antes das eleições de domingo, temendo que o resultado leve à saída forçada da Grécia da zona do euro.

Representantes do setor bancário afirmaram que até 800 milhões estão deixando os principais bancos do país diariamente. Enquanto isso, varejistas informaram que – diante da possibilidade de o dracma voltar a circular no país – parte desse dinheiro está sendo usada para compra de massas e produtos enlatados.

Numa tentativa de acalmar a população, o líder do partido Nova Democracia (ND, direita), Antonis Samaras , favorito nas pesquisas de opinião, prometeu ontem renegociar os termos do pacote de socorro concedido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ao país. A afirmação tenta reduzir os argumentos de seu principal adversário, o líder do partido de extrema esquerda Syriza, Alexis Tsipras, que prega o rompimento do acordo, baseado em políticas de austeridade apregoadas pela Alemanha.

As declarações foram feitas por Samaras a quatro dias das eleições legislativas. Para ele, o pleito é uma “oportunidade de a Grécia levar a cabo a renegociação” do plano, assinado pelo ex-primeiro-ministro Lucas Papademos, então apoiado pelo ND. “Creio que nós temos a ganhar com o fato de que a Europa está mudando”, disse ele, referindo-se à crise na Espanha e à troca de comando na França. Para Samaras, os gregos devem eleger um político capaz de renegociar com a União Europeia, e não um radical que pretende romper os acordos em vigor.

Sobre a política de austeridade, ele manifestou disposição de não aceitar mais nenhum corte de salários ou aumento de impostos. “Eu não acredito e não quero nenhuma redução de salário, bem como nenhuma taxa a mais”, disse ele. “Essas reduções de salários que foram implantadas destruíram nosso mercado consumidor.”

Samaras tem uma pequena vantagem sobre Tsipras nas pesquisas de opinião para o pleito de domingo. Caso essa diferença se confirme, o candidato do ND terá o direito de tentar formar um governo, que pode ser de maioria ou de coalizão, provavelmente com o apoio do Partido Socialista (Pasok), tornando-se o novo primeiro-ministro do país.

Em tese, o chefe de governo escolhido no domingo teria a missão de implantar todas as cláusulas do último pacote de socorro concedido pela UE, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo FMI, que prevê a transferência de € 130 bilhões, além do corte de 50% nas dívidas do país com credores privados.

Saída forçada. Entretanto, a posição de Samaras, assim como a de Tsipras, não conta com apoio do presidente da França, François Hollande. Ontem, em entrevista à rede de TV grega Mega Channel, o chefe de Estado afirmou que existe o risco de que alguns países europeus obriguem a Grécia a se desligar da zona do euro caso um candidato que deseje romper os acordos já firmados vença as eleições. “Eu tenho consciência de que os eleitores gregos devem ter plena soberania”, disse ele, advertindo: “Mas eu devo lhes prevenir que, se a impressão for de que os gregos querem se afastar dos compromissos assumidos e abandonar a perspectiva de correção de suas contas, haverá países da zona do euro que vão preferir encerrar a presença da Grécia no grupo”.

Hollande reiterou ainda que deseja a permanência de Atenas na zona do euro, mas ressaltou: “Os gregos devem saber que isso supõe que haja uma relação de confiança”.

Ontem, segundo a agência Reuters, os gregos voltaram aos caixas eletrônicos para realizar saques de dinheiro vivo, preparando-se para a eventual expulsão da zona do euro e para o retorno do dracma – a antiga moeda do país. O sistema financeiro da Grécia perde entre € 500 milhões e € 800 milhões por dia há pelo menos um ano e meio, após o primeiro pacote de socorro ao país. Conforme a agência, entre a terça-feira e ontem o movimento de correntistas aumentou.

Também a federação supermercadista grega registrou aumento das vendas de gêneros alimentícios. O objetivo seria fazer estoque.


Estados poderão ter limite de dívida ampliado

O Globo

O governo federal poderá ampliar os limites de endividamento dos estados, se necessário, para viabilizar novos investimentos. A afirmação é do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que destacou, porém, que todos os governos estaduais têm espaço fiscal para tomar novos empréstimos, o que inclui a linha especial do BNDES de mais de R$ 10 bilhões, que será anunciada amanhã, como antecipou ao GLOBO o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

– Nossa política é criar condições para que os estados continuem com seus investimentos – disse Augustin ontem, após audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

O secretário do Tesouro destacou que os estados têm um papel importante na aceleração dos investimentos:

– Os estados são importantes para (o aumento dos investimentos), têm condições fiscais boas e podem tomar financiamentos. O importante é que possam organizar as ações de investimento. Este ano, voltaremos a discutir os limites e, se necessário, podemos trabalhar com um nível maior.

No fim do ano passado, o governo já havia ampliado os limites de endividamento dos estados em R$ 40 bilhões. A nova linha de crédito do BNDES criada para atender aos estados faz parte das medidas emergenciais tomadas pelo Executivo para garantir este ano um crescimento econômico que seja, pelo menos, do mesmo tamanho do de 2011, quando o PIB cresceu 2,7%.

Augustin diz que ação no câmbio continuará

Ao GLOBO, o ministro Guido Mantega lembrou que o governo federal já havia feito movimento semelhante em 2008 e 2009, no auge da crise internacional e que este tipo de medida tem efeito anticíclico.

Mantega destacou que o Rio pode ser um dos grandes beneficiados com a medida. O secretário de Fazenda do Rio, Renato Villela, afirmou que projetos de investimentos não faltam, destacando as áreas de transportes, mobilidade urbana, infraestrutura, saneamento e comunidades carentes nas áreas metropolitanas da Região Serrana. Segundo ele, o estado está com nível de endividamento baixo e com prazos longos.

– Temos conseguido ampliar a capacidade de endividamento desde 2008 e aumentado os prazos. O Rio é o estado com melhores perspectivas de crescimento para o futuro – disse.

No Congresso, o secretário do Tesouro disse que o governo vai continuar trabalhando para evitar a volatilidade excessiva do câmbio. E que o Tesouro poderá atuar ajustando o volume de compra de dólares para pagamento de dívida externa. Ontem, a moeda americana chegou a recuar 0,58% na mínima do dia, influenciada pela declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao GLOBO de que o governo pode suspender algumas barreiras à entrada de dólares, como o IOF sobre empréstimos feito por bancos e empresas no exterior com prazo inferior a cinco anos. Mas acabou fechando em alta de 0,33%, cotada a R$ 2,072.

Augustin disse que a turbulência no mercado financeiro inspira atenção e precisa ser monitorada no dia a dia. Para ele, intervir no mercado para conter a volatilidade é função do Banco Central (BC), que pode ser auxiliado eventualmente pelo Tesouro.

– Temos uma crise internacional e isso tem diferentes inflexões: dias melhores e outros não, que acabam afetando o câmbio. Trata-se de uma situação internacional que temos que acompanhar dia a dia – afirmou em audiência no Congresso.


Crise reduz em 17% as exportações brasileiras

O Estado de S. Paulo

As exportações brasileiras foram as que mais desaceleraram entre as maiores economias do mundo em 2012. Dados publicados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam que as vendas nacionais caíram 17% em valores entre o último trimestre de 2011 e o primeiro de 2012. Já a retração mundial foi de apenas 2%. A crise na Europa e a desaceleração da China foram os principais motivos.

A OMC já havia alertado que 2012 registraria um freio brusco nas exportações mundiais. Ao final do ano, a expansão não deve ser de mais de 3,7%, bem abaixo da média dos últimos 20 anos. No primeiro trimestre de 2012, a expansão do comércio em valores foi de 5%, em comparação ao mesmo período de 2011.

Em relação ao primeiro trimestre de 2011, as exportações nacionais ainda mostraram expansão de 8%. Mas, considerando a tendência dos últimos meses, a queda chega a ser superior à da China, com 15%, e Rússia, com 8%. As exportações americanas também se contraíram entre trimestres, mas de 1%, taxa similar à da Europa. Os indianos registraram expansão de 14%.

O freio nas exportações brasileiras já havia sido identificado pelo governo. Na Europa, mercados como a Espanha e Itália desabaram, afetando as vendas nacionais. Outro fator que pesou foi a relação com o mercado chinês.

A desaceleração na China já é sentida entre exportadores, principalmente no que se refere ao preço das commodities. Dependente de 80% de seu comércio com a China em apenas três produtos, a variação de preço de minérios e da soja tem um impacto instantâneo na renda.

Se as vendas brasileiras caíram, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,2% no primeiro trimestre também impactou as importações. Entre o fim de 2011 e março de 2012, as compras do Brasil de produtos estrangeiros havia sofrido uma contração de 11%. Só a queda das importações da Rússia, de 19%, foi superior à do Brasil. Na média mundial, as importações caíram 2% no trimestre.

Tensão Espanha-Argentina. A queda no comércio mundial não tem deixado espaço para negociações. Ontem, mais uma disputa foi lançada – desta vez, pela Argentina, contra práticas supostamente desleais da Espanha no comércio de biodiesel. O caso promete esquentar ainda mais a relação já crítica entre Madri e Buenos Aires.

Os espanhóis convenceram a Europa a abrir um caso na OMC contra o protecionismo argentino, justamente depois que a Casa Rosada tomou a decisão de nacionalizar a Repsol.

Ontem, a Argentina contra-atacou e levou a Genebra queixa contra restrições impostas por Madri à entrada de biodiesel. Segundo Buenos Aires, a nova legislação espanhola traria prejuízos de US$ 1 bilhão aos argentinos.


Banco Central atua para reduzir volatilidade da moeda, diz Augustin

Valor Econômico

O governo federal está trabalhando para “diminuir ao máximo a volatilidade” do câmbio, segundo o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que participou ontem de reunião fechada na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Pelo terceiro dia consecutivo, o dólar comercial fechou em alta, com uma valorização de 0,34%, ao ser cotado a R$ 2,072 na quarta-feira.

Ele evitou fazer comentários sobre o atual patamar do câmbio. “A questão do patamar é um assunto que a gente tem que ter muito cuidado ao se posicionar. O câmbio é flutuante. O problema é não sair de certos parâmetros e não haver valorização ou desvalorização excessiva”, disse o secretário. Augustin reforçou que a crise internacional acaba afetando o câmbio. “Trata-se de uma circunstância internacional e o prognóstico é acompanhar o dia a dia. Não tem como previamente saber qual é o movimento (do câmbio) de amanhã”, frisou o secretário.

Segundo o secretário, o único instrumento que pode ser utilizado pelo Tesouro Nacional para auxiliar o Banco Central é a compra antecipada de dólares para pagamento da dívida externa. Neste cenário mais volátil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, em entrevista ao jornal “O Globo”, que medidas de restrição ao capital externo poderão ser revistas. A primeira que poderá ser revogada é a cobrança de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de captações externas com prazos inferiores a cinco anos. Augustin, no entanto, preferiu não comentar o assunto.


Mudança do clima custou quase o PIB brasileiro

O Estado de S. Paulo

A imobilidade do planeta para frear as mudanças climáticas e reduzir os desastres naturais ocorridos entre a Eco-92 e a Rio+20, que começou ontem, custou ao mundo mais de US$ 2 trilhões, o equivalente a quase todo o PIB brasileiro, segundo estudo divulgado ontem pela ONU.

No Brasil, quase 21 milhões de pessoas foram afetadas desde 1992. Os prejuízos seriam mais que suficientes para pagar por todos os estádios da Copa de 2014.

Diante do impasse nas negociações no Rio de Janeiro, a representante especial da ONU para redução de riscos de desastres naturais, Margareta Wahlstrom, alertou que, nos últimos 20 anos, 1,3 milhão de pessoas foram mortas e 4,4 bilhões afetadas, dois terços do planeta.

“Os números contam a história”, alertou. “Espero que a conferência leve em consideração as perdas que o planeta sofreu nos últimos 20 anos, desde a última conferência.”

Para ela, os governos precisam encarar a realidade dos impactos humanos e econômicos desde a Eco-92. “Desde aquele ano, vimos prejuízos econômicos recordes, um número enorme de pessoas mortas e milhares de deslocados, feridos e que perderam suas casas em decorrência de eventos extremos, alimentados pela rápida urbanização, pobreza e degradação ambiental”, indicou ela.

Em termos de desastres, o que afetou um maior número de pessoas no mundo foram as enchentes, atingindo 2,4 bilhões de pessoas. As tempestades deixaram o maior rastro de prejuízo: US$ 720 bilhões em 20 anos.

Impacto humano. Os dados mostram uma realidade ainda mais curiosa. As localidades com mais perdas econômicas não são aquelas situadas onde a população foi mais afetada.

Em termos de impacto humano, o maior número é o da China, com 2,5 bilhões de pessoas afetadas por desastres naturais. A Índia, com 928 milhões de pessoas afetadas, e Bangladesh, com 136 milhões, estão entre os líderes. Nenhum país desenvolvido está entre os dez locais onde a população mais sofreu, o que revela o impacto do investimento.

O Haiti, por conta do terremoto que sofreu, é o local que contou o maior número de mortos, cerca de 230 mil. A Indonésia vem em segundo lugar, com 185 mil, seguida por Mianmar, com 139 mil.

Já os maiores prejuízos econômicos foram registrados justamente nos países ricos. Nos Estados Unidos, as perdas chegaram a US$ 560 bilhões em 20 anos. No Japão, foram outros US$ 402 bilhões. “Esses números de pessoas afetadas e prejuízos são chocantes quando se considera que isso significa oportunidades perdidas, vidas destruídas, perdas de moradia, de escolas e de saúde, além dos prejuízos culturais e das estradas destruídas”, disse.

Proposta. Para a representante da ONU, o mundo precisa ir além. Ela sugere que a conferência do clima estabeleça metas realistas, e com prazos. “Isso garantirá que erradiquemos o desperdício de recursos humanos, sociais e econômicos”, disse. “Temos os meios. Sabemos fazer”, insistiu.

A ONU já aprovou há cinco anos um plano de ação para reduzir o impacto de desastres e preparar ações para prevenir áreas em risco. Mas muitos governos jamais o implementaram. Até o ano passado, o governo brasileiro havia engavetado o plano, agiu apenas quando a região serrana no Rio de Janeiro foi destruída por enchentes e deslizamentos de terra. No total, os custos do desastres no Brasil somaram US$ 6,9 bilhões. Cerca de 20,6 milhões de pessoas foram afetadas por chuvas, secas e deslizamentos. Mais de 3 mil morreram desde 1992.

Nos últimos dez anos, só as enchentes no Brasil custaram nove vezes mais que o investimento feito pelas autoridades para evitar mortes. Esse prejuízo milionário pode ameaçar até mesmo plano de desenvolvimento no País nas próximas décadas.

Um ranking elaborado pela ONU estima que o Brasil é o 13.º país mais vulnerável no que se refere às enchentes no mundo. Por esse ranking, o Brasil é o 18.º país no mundo que mais sofreu prejuízos econômicos a cada ano por causa das chuvas nos últimos dez anos. O País é ainda o primeiro da América Latina. Em termos de deslizamentos, o Brasil é o 14.º mais vulnerável.


Projeto de lei libera compra de terras por estrangeiros

Valor Econômico

Empresas brasileiras controladas por capital estrangeiro podem ser liberadas para adquirir grandes extensões de terras no Brasil, de acordo com relatório aprovado ontem pela Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados.

O texto substitutivo do deputado Marcos Montes (PSD-MG), que derrotou o relatório original de Beto Faro (PT-PA), excluiu as restrições atuais que limitam essas aquisições a um máximo em operações de compra e arrendamento. O parecer, apoiado pela bancada ruralista contra a vontade do governo e do Núcleo Agrário do PT, já havia sido aprovado na subcomissão especial do tema.

Os petistas apresentaram um voto em separado, lido pelo vice-líder do partido na Câmara, Valmir Assunção (BA), em que tentavam reduzir as “facilidades” de aquisição, por estrangeiros, de um percentual mínima de companhias nacionais para obter a condição de empresa brasileira. “Como iremos impedir que uma empresa estrangeira adquira 0,1% do capital de uma empresa nacional e possa sair comprando terras?”, questionou Assunção. Ele criticou, ainda, a indefinição sobre o tempo máximo do arrendamento das terras. “O texto diz que o prazo é indeterminado. Ou seja, pode ser de 300 anos”, disse.

O texto aprovado define que todas as operações já realizadas ou em negociação serão automaticamente regularizadas. O governo e o PT queriam limitar o benefício aos negócios fechados entre 1999 e 2010, período em que o assunto estava regulamentado por dois pareceres contraditórios da Advocacia-Geral da União (AGU).

Hoje, as negociações de terras por estrangeiros e empresas brasileiras controladas por estrangeiros no país sofrem restrições. Um parecer da AGU em vigor restringe as aquisições de imóveis rurais por empresas que tenham 51% ou mais de seu capital votante nas mãos de não brasileiros. Essas aquisições são limitadas a 50 módulos fiscais para pessoas físicas (250 a 5 mil hectares) e a 100 módulos (500 a 10 mil hectares) para empresas estrangeiras, desde que aprovadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

O relatório aprovado ontem estabelece que empresas nacionais, mesmo com maioria de capital estrangeiro, serão consideradas brasileiras. Com isso, até empresas com 99,9% de capital estrangeiro poderão adquirir qualquer extensão de terra, desde que sigam as regras da legislação para empresas 100% nacionais. Mas organizações não governamentais, empresas e fundos soberanos estrangeiros ficam impedidas de adquirir terras no Brasil. “Uma estatal de outro país, convertida em nacional, poderá se apoderar de áreas gigantescas no Brasil. Alienaríamos, para o exterior, o poder decisório sobre o quê, quando e onde produzir”, criticou Valmir Assunção.

A questão dos limites de terras que poderão ser adquiridas não foi incluída no texto final. Assim, não haverá um máximo para as compras por estrangeiros. No relatório derrotado de Beto Faro, havia um limite de 50 módulos (2,5 mil hectares) para estrangeiros, até mesmo para aquelas cujo capital era majoritariamente estrangeiro.

O relatório segue agora para análise das demais comissões da Câmara, que serão designadas pela Mesa Diretora.


Presidente ainda vê espaço para consumo

O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem, em discurso no Rio, que o governo, apesar da crise financeira global, não interromperá os investimentos e continuará a incentivar o consumo como meio de impulsionar a economia. Para ela, ainda há uma margem grande de crescimento econômico e social e, em consequência, do consumo no País.

Na assinatura de contrato de financiamento de R$ 3,6 bilhões do Banco do Brasil ao governo do Estado do Rio, a presidente disse que o País “tinha e tem um consumo reprimido”, pois “milhões e milhões de brasileiros não têm acesso a vários bens de consumo”. “A mim espanta aqueles que dizem que o momento do consumo no Brasil passou. Ora, como pode ter passado se este País tem uma demanda reprimida?”, disse ela, para quem os brasileiros pobres ainda “vão ter acesso (aos bens de consumo)” e formam “um grande mercado consumidor”.

O governo persistirá na estratégia de incentivo ao consumo, já executada quando da crise mundial de 2008, assegurou ela.

“Nós vamos continuar ampliando o consumo da população brasileira, sim. E mais. E mais. Esse mercado é um mercado ainda incipiente do ponto de vista de crédito. (…) Agora, por favor, não nos comparem com aqueles países que estão com desemprego de 54% na faixa jovem. Porque nós não somos um país que não esteja gerando emprego. Nós somos um país que gerou emprego. E tem uma força do seu mercado interno”, afirmou Dilma.

Escolha. No discurso, a presidente sustentou que o governo não usará “uma vírgula do Orçamento da União para enfrentar qualquer percalço” no combate aos efeitos da crise mundial no Brasil, que “é um outro país”. “Este país tem condição de, apoiado nos próprios pés, enfrentar essa crise porque nós trabalhamos ao longo de um período de mais de uma década para criar essas condições”, falou, referindo-se à resistência do Brasil à crise.

A questão dos juros foi abordada por Dilma no discurso de 24 minutos. Segundo ela, “não há razão técnica” para manter os juros altos, pois “o Brasil é um País que sabe controlar a inflação” sem deixar de investir. Ela falou que a “escolha de Sofia” entre ajuste de finanças e crescimento social e econômico “não é correta”, já que o “Brasil só encontrou o rumo quando cresceu, incluiu”.

“Aliás, é bom que se diga: nós somos um dos melhores mercados de varejo do mundo. Por que é que nós somos um dos principais mercados de varejo do mundo? Por conta dessa demanda reprimida, dessa demanda ainda não saciada. (…) Não há razão técnica para manter as taxas de juros que o País veio mantendo ao longo dos anos. Não há (…) porque nós temos hoje uma solidez fiscal que não tínhamos. (…) Mostramos que somos capazes de controlar a inflação por nós mesmos, sem imposição de ninguém”, discursou.

Comemoração. Aliado político do governo Dilma, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB)comemorou, ao lado dela e de 86 dos 92 prefeitos fluminenses, o financiamento do Banco do Brasil, o maior já concedido a um Estado. A presidente ressaltou que o dinheiro é “política de desenvolvimento”, não “um presente” ao governador.

Os recursos somam R$ 3,645 bilhões, para o Programa de Melhoria da Infraestrutura Rodoviária e Urbana e da Mobilidade das Cidades do Estado do Rio de Janeiro (Pró-Cidades).

Dilma disse ainda ficar “perplexa” ao ouvir falar em atraso na produção da Petrobrás por causa das regras de conteúdo local. Setores da indústria do petróleo criticam a estratégia, sob a alegação de que encarecem os produtos e impedem o cumprimento de prazos. “O que está atrasado são as sondas contratadas no exterior”, afirmou.


Dilma prepara impulso para investimentos nos estados

O Estado de S. Paulo

Preocupada com os efeitos da crise financeira, que promete ser longa, a presidente Dilma Rousseff recebe todos os 27 governadores amanhã para anunciar novas medidas. “É uma reunião para mobilizar os Estados e garantir a ampliação do investimento público como ferramenta anticíclica do governo para enfrentar a crise internacional”, disse ao “Estado” o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT).

Ele recebeu um telefonema do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na noite de terça-feira, convidando-o para o encontro. “O ministro não deu detalhes”, contou Déda, acrescentando, porém, que a expectativa é grande. “Se faltar luz na hora da reunião, não vai haver problema, porque o brilho dos olhos dos governadores será suficiente para iluminar a sala”, brincou.

Dilma deverá anunciar uma nova linha de crédito, superior a R$ 10 bilhões, a ser oferecida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar investimentos nos Estados.

Paralelamente, o Banco do Brasil (BB) decidiu entrar no filão de empréstimos aos governadores, tendo assinado ontem seu primeiro contrato, com o Rio de Janeiro, no valor de R$ 3,6 bilhões. Não está descartada a possibilidade de os Estados serem autorizados a tomar novos empréstimos, segundo indicou ontem o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.

Segundo interlocutores, a presidente está inconformada porque a economia não reage, apesar das medidas já anunciadas. Ela acredita que é possível reverter a tendência de baixo crescimento ainda este ano. Daí a ideia de envolver os Estados que, segundo Déda, respondem pela maior fatia do investimento público no País.

No caso do BNDES, trata-se novamente da reciclagem do arsenal anticrise adotado em 2009. Naquele ano, o banco lançou o Programa Emergencial de Financiamento (PEF), para compensar os governadores pela redução nos repasses do Fundo de Participação dos Estados (FPE) em decorrência da queda no nível de atividade econômica. Foram oferecidos, na ocasião, R$ 10 bilhões, dos quais R$ 9,5 bilhões haviam sido contratados até o início deste ano.

Ampliação. Agora, a ambição é aumentar a disponibilidade de recursos. A ideia é chegar à reunião com um volume maior do que R$ 10 bilhões. Os técnicos ainda trabalham nos detalhes.

Já a linha do BB é algo novo, conforme explicou o diretor de governo da instituição, Paulo Ricci, em entrevista publicada na edição de ontem do Estado. O banco vem captando recursos no exterior para oferecer aos governadores, e negocia contratos com mais cinco unidades da Federação. A ideia é estender a conversa a todos os interessados.

Os dois bancos procuram fornecer empréstimos para que os governadores utilizem a autorização que lhes foi concedida pelo governo federal no fim do ano passado, para contratar novos empréstimos de até R$ 39 bilhões. Naquela ocasião, o governo estava preocupado com a queda no investimento. Liberar recursos para os Estados ajudaria a atenuar o problema causado pela lentidão da máquina federal.

Para Marcelo Déda, os R$ 39 bilhões não são suficientes. “É preciso alargar esse valor, refazer as metas fiscais”, defendeu. Ele, que foi autorizado a contratar mais R$ 700 milhões em 2011, já comprometeu todo o limite em operações com o BNDES, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Aquele limite foi do ano passado, mas o ideal é antecipar o espaço fiscal dos anos seguintes.”