Moody’s rebaixa classificação de risco de 15 dos maiores bancos do mundo

A agência de classificação de risco Moody”s anunciou ontem o corte das notas de 15 dos maiores bancos do mundo. O movimento faz parte de ampla revisão de notas e pode prejudicar a obtenção de recursos por essas instituições e afetar os mercados financeiros.

Entre os bancos rebaixados estão Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley, Royal Bank of Canada, dos Estados Unidos e do Canadá. A lista dos bancos europeus inclui Royal Bank of Scotland, Barclays, HSBC, Credit Suisse, UBS, BNP Paribas, Credit Agricole, Societé Generale e Deutsche Bank.

Em 15 de fevereiro, a Moody”s anunciou que faria a revisão, dizendo que a classificação desses bancos globais “não captura os desafios crescentes de condições de financiamento mais frágeis, maiores spreads para obter crédito, aumento dos encargos regulatórios e condições de operação mais difíceis”.

“Todos os bancos afetados pelas ações de hoje têm uma exposição significativa à volatilidade e ao risco de perdas desproporcionais inerentes às atividades dos mercados de capitais”, disse, em comunicado, o diretor de Global Banking da Moody”s, Greg Bauer.

Dois bancos americanos que foram duramente atingidos pela crise ficaram com as classificações mais baixas. O Citigroup e o Bank of America estão agora avaliados em apenas dois níveis acima de “lixo” (junk).

O rebaixamento é um duro golpe para o setor bancário, que já está lidando com a crise da dívida soberana europeia, uma economia fraca americana e novas regulamentações.

A revisão de notas pela Moody”s faz parte de um amplo esforço para fazer uma análise mais rigorosa. A crise financeira manchou a reputação das agências de risco. Elas haviam dado notas altas para títulos lastreados em hipotecas que mais tarde sofreram grandes perdas na crise imobiliária.

A ameaça do rebaixamento já rondava os mercados há meses. Ações do Morgan Stanley caíram 25% desde 15 de fevereiro, quando a Moody”s anunciou a possibilidade dos rebaixamentos.

Nos últimos meses, executivos dos bancos, incluindo o CEO do Morgan Stanley, James P. Gorman, reuniram-se com analistas da Moody”s para argumentar que suas empresas não mereciam grandes rebaixamentos.

Os executivos dos bancos pressionaram a Moody”s para reconhecer as medidas importantes tomadas por eles desde a crise financeira, para reforçar seus negócios, incluindo aumentar a margem de segurança contra perdas. O capital do Morgan Stanley, de US $ 62 bilhões no fim de março, era o dobro do que o banco tinha no fim de 2007.

Executivos de grandes bancos vão agora tentar convencer os credores e clientes de grande porte que a Moody”s exagerou.


‘Ruptura na zona do euro é questão de semanas’

Valor Econômico

Um evento de ruptura na zona do euro é praticamente inevitável. Na verdade, é necessário, pois só assim os políticos agirão para evitar o fim do euro. Esse é o cenário base do economista-chefe do banco holandês Rabobank International, um dos maiores daquele país, Jan Lambregts.

Para ele, é “muito provável” a chance de a Espanha precisar de um amplo socorro e 50% de chance de a Grécia sair do euro. Lambregts acredita, inclusive, que a bancarrota espanhola é questão de semanas.

Isso não significa, no entanto, que ele espere o pior. “Acreditamos que a zona do euro vai sobreviver, mas há claramente grandes desafios a serem enfrentados.”

Na verdade, o economista partilha a ideia de que “é preciso piorar muito antes de melhorar”. E um desses dois eventos, que na verdade estão interconectados, precipitaria a adoção de medidas mais drásticas por parte dos governantes europeus, levando a uma maior união fiscal e à criação de um eurobônus (título comum a todos os países). Sem esse evento, diz ele, os governos europeus não cederão.

“A Europa precisa estar no limite, antes de os políticos poderem voltar aos seus países e dizer: “fizemos o melhor acordo que poderia ser feito nessas circunstâncias””, disse, em entrevista ao Valor na quarta-feira.

As medidas corretivas necessárias, no entanto, têm efeitos de longo prazo. No meio da turbulência, “um minuto antes da meia-noite”, como ele diz, uma ação tempestiva também será necessária e esse papel caberá ao Banco Central Europeu (BCE), com a devida autorização dos países.

“Espero que o BCE atue com algum tipo de empréstimo ponte. Poderia, também, anunciar que não tolera, por exemplo, taxas [soberanas de dez anos] acima de 5% ao ano. Quando ele anunciar isso, será crível e ele nem precisará comprar todo o volume.”

O papel mais ativo do BCE é imprescindível também para igualar a perspectiva do euro às outras moedas fortes. “Olhando do ponto de vista do mercado de bônus soberano, países como Estados Unidos, Inglaterra e Japão se mostram mais atrativos, pois seus bancos centrais têm a prerrogativa de imprimir dinheiro, ao contrário do BCE.”

Lambregts brinca dizendo que ainda não estamos no momento “um minuto para meia-noite”. Ainda faltam cinco minutos para a meia-noite, diz ele. Para se chegar lá, momento que pode demorar meses ou semanas, ele vê dois caminhos possíveis.

O primeiro passa pela necessidade de um resgate das economias espanhola e italiana. O outro seria a saída da Grécia da zona do euro, que também levaria imediatamente para a quebra de Espanha e Itália.

No caso grego, mesmo com a possibilidade de renegociação dos acordos fechados entre a União Europeia e a Grécia, após as eleições do fim de semana (que para ele foi apenas um alívio temporário), a administração da dívida grega é insustentável.

“Se realizarmos testes mais conservadores do que os do FMI – que mostraram que a dívida chegará a 120% em 2020 – chegamos a um percentual maior, de 150%. Isso é realmente muito alto. Pra lá de insustentável. E sempre que os negociadores visitam o país, veem que as metas não foram cumpridas.”

No caso espanhol, em meio ao que as autoridades chamam de “assistência financeira” – mas ele prefere chamar de “resgate” – do sistema bancário, ninguém está realmente seguro do tamanho do “buraco”.

“A crise está se acelerando. Acreditamos que em semanas, possivelmente meses, a pressão sobre a Espanha vai requerer um resgate mais amplo, incluindo a dívida soberana. Isso será muito caro. Tão caro que vai consumir todos os fundos de resgate. E deve chegar aos portões de Roma.”

A interconectividade entre os países, e também entre os sistemas financeiros e as dívidas soberanas, está na origem do problema. “A crise é sistêmica porque a união monetária foi feita em cima de links fracos, pela falta de uma união fiscal. Os elos estão se rompendo. O elo fraco agora é a Grécia. Mas o problema não é a Grécia. Poderia ser qualquer país. O problema são os links fracos.”

Lambregts continua. “Eles até tentaram [criar uma união fiscal], mas não conseguiram. Então decidiram, de um jeito bem europeu de ser, seguir em frente com a união monetária e fazer uma reforma para incluir a união fiscal no futuro. É justamente o que está acontecendo agora. Mas ninguém imaginou que seria tão dramático e custoso.”

Ele reconhece que esse tipo de comprometimento levaria a questões de soberania. “Eles vão querer olhar sobre os ombros um do outro.” Ainda assim, é preciso a união para que se olhe para a média dos países, seja em termos de dívida, seja em termos de crescimento, completa o economista. Sem isso, as distorções entre as posições entre a Grécia e a Alemanha, por exemplo, continuarão existindo e pressionando a periferia até que os problemas cheguem ao centro, finaliza.


IBGE indica que serviços criam vagas sem aumento de renda

Valor Econômico

A oferta de empregos cresceu nas regiões metropolitanas em maio e provocou nova redução na taxa de desemprego. Pelos dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram criadas 275 mil novas vagas no mês passado, a maioria no setor de serviços. Com esse resultado, a taxa de desemprego recuou de 6% em abril para 5,8% no mês passado. O aumento da ocupação, contudo, não foi acompanhado por um ganho de renda. O rendimento médio real recuou 0,1% entre abril e maio e as quedas mais expressivas foram justamente nos setores que mais contrataram no mês.

O recuo no desemprego e o aumento forte das contratações (cuja alta foi de 1,2% sobre abril e de 2,5% sobre maio de 2011) não estava no radar dos economistas consultados pelo Valor, que se surpreenderam com a guinada dada pelo indicador. Expansão como a registrada entre abril e maio – 275 mil vagas e alta de 1,2% – não era vista desde junho de 2007. Ao todo, 23 milhões de trabalhadores encontravam-se empregados em maio nas seis regiões analisadas pelo IBGE, o maior contingente de ocupados da série histórica, iniciada em março de 2002.

Para o IBGE, o mercado de trabalho está reagindo e a tendência para os próximos meses é de novas contratações. “Não podemos fazer projeções, mas olhando a série histórica da PME, observamos que a média de desocupação nos próximos meses deve cair”, diz o gerente da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

“Em maio, o mercado de trabalho criou vagas e isso fez com que o nível de ocupação aumentasse. A pesquisa mostra que o mercado de trabalho já começou a contratar, e a geração de emprego é de qualidade, com aumento das vagas com carteira assinada”, ressalta Azeredo. Dos 275 mil postos de trabalho abertos entre abril e maio, apenas 4 mil eram sem carteira assinada, enquanto os demais foram no setor privado com carteira, no setor público ou por conta própria.

O setor de serviços puxou as contratações no período, admitindo profissionais em todos os segmentos. A ocupação em serviços domésticos aumentou 2,6% sobre abril, com a contratação de 40 mil trabalhadores. Nos ramos de educação, saúde e administração pública foram admitidos 100 mil profissionais, elevando a ocupação em 2,7% na mesma comparação. Os serviços prestados para empresas contaram com mais 68 mil trabalhadores e tiveram expansão de 1,9%, ao passo que os demais serviços aumentaram em 89 mil o quadro de empregados, ampliando a ocupação em 2,2%, sempre em relação a abril.

Nesses setores, o aumento de contratações não resultou em ganho de renda. O rendimento médio real caiu 1,4% em serviços de educação, saúde e setor público; 2,7% em outros serviços e 0,9% em serviços domésticos. A exceção foi o segmento que atende ás empresas, onde o rendimento subiu 0,2% sobre abril.

O comércio e a indústria também ampliaram postos de trabalho, em 0,4% e 0,6%, respectivamente. Retração foi observada apenas na construção, que fechou 55 mil vagas e reduziu a ocupação em 2,9% no período.

Economistas se surpreenderam com o vigor mostrado pelo setor de serviços e levantam algumas hipóteses para justificar os números do IBGE. Caio Machado, da LCA Consultores, acredita que o ímpeto do setor pode estar associado ao consumo das famílias. “A renda vem se expandindo com força e o aumento do salário mínimo neste ano foi alto.” O reajuste foi de 14%.

Machado ressalta que o setor de serviços apresenta baixa produtividade, o que resulta em alto número de contratações. Mas, para ele, esse ritmo de geração de vagas não deve ser mantido nos próximos meses. “Como o nível de atividade da economia não está tão robusto, é de se esperar uma desaceleração nas contratações nos serviços. Isso, entretanto, não deve afetar o emprego, porque no segundo semestre a indústria deve voltar a contratar, reagindo aos incentivos dados pelo governo.”

Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, comenta que os indicadores de confiança não apontam para manutenção desse ritmo de contratações no setor de serviços. A Sondagem de Serviços, feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que, desde março, a confiança do setor vem baixando, com arrefecimento tanto nas perspectivas para os próximos meses quanto nas avaliações sobre a situação atual. “Ainda é cedo para julgar o que está acontecendo com o setor de serviços. Pode ser que o dado de maio seja um ponto fora da curva ou o início de uma tendência. Precisamos aguardar mais indicadores para chegar a uma conclusão”, avalia Andrade.

Flávio Serrano, do BES Investimento, lembra que a falta de ociosidade e de mão de obra qualificada tem mantido o mercado de trabalho apertado. Ele ressalta que a economia tem se mostrado bastante heterogênea e, por isso, é possível notar forte expansão nos serviços, enquanto a indústria ainda fraqueja. “Os serviços devem continuar contratando. O risco que corremos é o de a economia demorar muito para reagir e a demanda perder impulso. Nesse caso, o setor poderia parar de contratar e até demitir.”


Novo estímulo do BC dos EUA é esperado para breve

Valor Econômico

A sequência de fracos dados para a economia dos Estados Unidos desanima os investidores e as perspectivas de curto prazo não ganharam força suficiente para acalmar os mercados. Apesar da falta de agressividade por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ter gerado certa decepção, alguns economistas acreditam que o anúncio da operação “Twist” é só o início de um caminho que leva a uma terceira rodada de estímulos, o “quantitative easing” (QE) 3.

Na última quarta-feira, o Fed informou a extensão por mais seis meses de seu programa – a operação Twist -, que consiste na venda de títulos da dívida dos EUA com vencimento de curto prazo e compra de ativos com prazo mais longo, na tentativa de empurrar para baixo os juros no longo prazo e estimular a economia local. O final da operação estava inicialmente previsto para o mês de junho.

Mais uma vez, o presidente do Fed, Ben Bernanke, voltou a afirmar que a instituição está pronta para agir e adotar medidas adicionais quando apropriado. A dúvida de muitos, no entanto, é quanto tempo isso irá levar.

Com uma visão mais pessimista, Michael Hanson, economista do Bank of America Merrill Lynch, acredita que o banco central americano não tem muito tempo para agir, considerando as atuais condições da economia dos EUA. O mercado de trabalho frágil, as questões orçamentárias do país e a possibilidade de contágio da crise da zona do euro seguem como fatores de preocupação e não parecem ter uma solução pronta.

Hanson acredita que o “QE3” deve ser anunciado depois da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que acontece nos dias 31 de julho e 1 de agosto, e já adianta um pacote em torno de US$ 500 bilhões, um pouco abaixo dos US$ 600 bilhões da última operação.

“O mercado de trabalho está muito fraco e o Fed não prevê muita melhora. Há uma série de riscos para os EUA, inclusive a situação da zona do euro. Não se pode desconsiderar defaults dos países do grupo e o sistema bancário da Espanha segue como uma grande preocupação. O fim do jogo e o que causaria uma turbulência generalizada seria a quebra do grupo [monetário europeu]. Apesar de não ser uma possibilidade considerada provável, não é totalmente descartada”, disse.

Segundo o economista-chefe da CM Capital Markets, Darwin Dib, o intuito da operação Twist é tornar a curva de Treasuries – títulos do Tesouro dos EUA – menos inclinada. O Fed compra títulos de médio e longo prazo e se financia vendendo papéis curtos, mas é uma medida paliativa. “Você acha que alguém vai decidir investir, produzir e consumir mais porque a curva dos Treasuries está ficando mais “flat” pela manipulação do Fed? Acredito que não. Medidas como essas costumam afetar no longo prazo apenas as variáveis nominais”.

Dib afirma que a terceira rodada de afrouxamento quantitativo deve entrar em vigor nos próximos dois meses e que o Fed só não fez o anúncio na última reunião do Fomc porque ainda precisa de justificativas convincentes e daquilo que chamou de um motivo nobre. “Os indicadores estão apresentando uma piora bastante expressiva. A situação na Europa continua incerta e a crise não deve dar trégua tão cedo. Se fizermos uma interpretação do discurso do Bernanke, vemos que ele está inclinado para essa decisão.”

A economista do Santander Adriana Dupita não descarta um afrouxamento monetário ainda no terceiro trimestre, mas somente no caso de um agravamento da crise europeia ou se o governo americano não conseguir aprovar o corte de impostos sobre os salários de 160 milhões de trabalhadores. No início desde ano, o congresso dos EUA prorrogou até o fim de 2012 o corte dessas tributações e estendeu os benefícios para os desempregados. “O tempo é curto e se entrarmos no terceiro trimestre sem uma definição, o Fed provavelmente precisará agir. A volta dos impostos pesaria bastante no bolso dos americanos e seria preciso adotar novos estímulos monetários para dinamizar o consumo e aquecer a economia”, diz.

Dupita pondera que não havia justificativas para o Fed ter instituído uma nova rodada de QE3. “Os mercados tendem a ter uma visão imediatista dos dados econômicos. De fato, os últimos indicadores não vieram nada bons, mas, no geral, isso não significa que a economia não esteja se recuperando ou que ela está prestes a entrar em recessão. Nessa fase de expansão moderada é natural que não haja uma uniformidade nos dados. Por isso, o Fed optou por não entrar ainda com o QE3.”

A redução das projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) americano por parte do Fed, na opinião de Hanson, do BofA, deixa claro que a instituição vai agir em breve. “Não existe fuga. As previsões de crescimento são ainda menores que as de janeiro, quando foram recebidas com surpresa. O comunicado mostra que eles estão caminhando a um afrouxamento de forma gradual.”

O Bank of America Merrill Lynch prevê aceleração da economia dos EUA no segundo semestre e estima expansão de 1,9% em 2012. Essa projeção não é alterada desde setembro passado, e a extensão da operação Twist para até o final deste ano, de acordo com Hanson, não é motivo para uma revisão.

Em uma linha um pouco mais animadora, o UBS estima um crescimento de 2,3% do PIB de 2012. O segundo semestre deve mostrar aceleração da atividade, diz Sam Coffin, economista do banco suíço, impulsionada pelo consumo interno, o que fortaleceria a confiança de investidores.

A atual desaceleração que está sendo observada nos EUA, segundo Coffin, não é motivo para ofuscar perspectivas relativamente positivas para o país, o que não torna muito provável, na opinião do economista, o anúncio do QE3.


Em 20 dias, Cade recebe 141 fusões para julgar

Valor Econômico

Em 20 dias, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recebeu 141 fusões e aquisições para julgar. A razão do “boom” de fusões foi a entrada em vigor na nova lei antitruste (nº 12.529), que prevê que esses negócios só vão ser realizados com a autorização prévia do Cade.

A lei entrou em vigor em 29 de maio. Para fugir da autorização prévia, as empresas aproveitaram um prazo adicional, que foi dado pelo órgão antitruste para a notificação de negócios com base na lei antiga (nº 8.884, de 1994). Pela lei antiga, a empresa primeiro realiza a fusão e, depois, notifica para julgamento do Cade.

O prazo para notificar negócios pela lei antiga venceu dia 19. Com isso, entre 29 de maio e 19 de junho, 141 negócios foram encaminhados ao Cade. O número é expressivo, considerando-se que, no ano passado, o órgão antitruste julgou 800 fusões. Ele mostra que as empresas correram para escapar da nova lei. Apenas nos dias 18 e 19, chegaram 54 fusões.

Procurado, o Cade informou que não divulgará a lista dos 141 casos, pois há pedidos de sigilo por parte das empresas. Esses pedidos serão analisados antes da divulgação das empresas envolvidas nas fusões, o que só deve acontecer a partir da semana que vem. O Cade também recebeu duas fusões que foram notificadas para serem julgadas pela nova lei. Essas duas operações só vão ser realizadas após o aval do órgão antitruste.


Brasil e China fecham acordo para criar fundo de US$ 30 bi em moedas locais

Valor Econômico

Brasil e China aproveitaram o encontro de seus governantes ontem, na Rio+20, para fechar acordos bilaterais, com o objetivo de estimular as economias e proteger os países de um possível agravamento da crise internacional.

Entre os protocolos assinados pela presidente Dilma Rousseff e pelo presidente Hu Jintao estão a constituição de fundo de “swap” de US$ 30 bilhões, a compra de jatos Legacy 650, da Embraer, pela China, o que pode render receita adicional de R$ 400 milhões à empresa, e novos investimentos chineses no setor de petróleo e na indústria brasileira de automóveis.

O acordo para a criação do fundo de “swap” em moeda local deve ser assinado em breve. “O governo chinês poderá sacar até o equivalente de R$ 60 bilhões e utilizar em reservas no comércio de seu país. Assim como nós poderemos sacar o equivalente em yuans”, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

“Esse acordo permite que o Brasil saque em yuans da reserva chinesa, e que a China saque em reais da reserva brasileira. Aumenta nossa proteção em caso de agravamento da crise”, disse o ministro. “Digamos que haja um travamento no crédito exterior. Tendo este swap, o nosso comercio continua girando, porque teremos moeda à nossa disposição. “, explicou.

O protocolo é parte inicial do acordo fechado em Los Cabos, no México, há três dias, entre os cinco países que fazem parte dos Brics -além de Brasil e China, África do Sul, Índia e Rússia -, para montar um fundo de swap multilateral. “Quando os cinco países fecharem o acordo, serão US$ 4,5 trilhões em reservas reunidas”, disse Mantega

O presidente da Embraer, Frederico Curado, comemorou a decisão da China de comprar aviões da empresa. “Foi uma vitória de quase dois anos de esforços. Vai ser a primeira fábrica de aeronaves executivas da China.” Segundo o executivo, a expectativa é que sejam vendidos entre 6 e 12 aviões por ano do modelo Legacy 600/650. Cada aeronave custa cerca de US$ 30 milhões. “Estamos falando de US$ 200 milhões a US$ 400 milhões por ano”, estimou Curado.

Os dois países também lançarão satélites de fabricação sino-brasileira. O primeiro, Cyber 3, será lançado em janeiro, e o segundo Cyber 4, daqui a dois anos. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que os países aumentaram o número de estudantes que vão se beneficiar do programa Ciência Sem Fronteiras. “Hoje, temos 50 alunos estudando em universidades chinesas. Esse número subirá para 250 bolsas por ano.”


Unasul tenta evitar destituição de Lugo

Valor Econômico

O Paraguai deve ter na tarde de hoje um novo presidente. Às 16h30 (17h30 em Brasília), conclui-se um julgamento político relâmpago, instalado na noite de ontem pelo Congresso, para decidir a sorte de Fernando Lugo, no cargo desde 2008. Parlamentares de oposição e de sua frágil base aliada de o acusam de não cumprir suas funções na condução de um dos piores conflitos sociais da história recente do país – um enfrentamento entre policiais e camponeses que resultou na morte de 17 pessoas na semana passada.

Lugo disse que não vai renunciar ao cargo. Mas, a julgar pelo seu desempenho no embate pela abertura ou não do processo de impeachment, ontem no Congresso, suas chances de permanecer na Presidência são nulas. Primeiro, a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de abertura do julgamento político do presidente por 73 votos a 1. Horas mais tarde, no Senado, o Lugo foi derrotado pelo placar de 42 a 3.

O julgamento começou já no final da tarde ontem, quando uma comissão de cinco deputados apresentou sua acusação, baseada em cinco pontos, dentre os quais a má condução do massacre da semana passada e o uso de um quartel para um ato político. A defesa terá hoje duas horas para expor suas alegações, a partir do meio-dia. Às 16h30, o plenário do Senado realiza uma sessão extraordinária para decidir o destino do presidente, em votação nominal.

Caso o impeachment seja aprovado, assume o vice-presidente Federico Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), que rompeu com Lugo nos últimos dias, após o massacre.

A provável deposição do presidente ocorre a exatos dez meses da eleição de 21 de abril e representa o fim de um processo de erosão do apoio político a Lugo, que teve em seu ápice com o confronto entre camponeses e policiais que tentavam fazer a reintegração de posse de uma fazenda em Curuguaty, a 400 km de Assunção, que resultou na renúncia do Ministro do Interior, Carlos Filizolla.

O frágil apoio a Lugo erodiu de vez depois que ele nomeou para o cargo o ex-procurador-geral do Estado Rúben Candida Amarilla, ligado ao Partido Colorado, de oposição. Nesta semana, o PLRA anunciou que deixaria a base de apoio de Lugo “Foi um erro terrível, pois desagradou ao PLRA, os movimentos sociais e também a vários setores do Partido Colorado”, disse ao Valor o analista Francisco Caplis, da consultoria First, em Assunção. “Há uma semana, ninguém falava em deposição, mas esse episódio encerrou qualquer apoio político que Lugo poderia ter.”

Segundo Capli, Lugo já vinha costurando com setores do Partido Colorado uma frente para concorrer à Presidência em 2013, iniciativa que rivais dentro da própria legenda já vinham sabotando.

“O massacre e seus desdobramentos geraram o momento certo para a oposição tentar uma espécie de golpe no país”, afirmou Oswaldo Dehon, professor de relações internacionais do Ibmec.

Segundo as fontes, um possível impeachment de Lugo poder ter um desfecho violento. Para Dehon, apesar de desiludidos com Lugo, grande parte dos movimentos sociais devem dar apoio a ele, em caso de impedimento. E, segundo Capli, militantes pró e contra Lugo de várias partes do país se dirigiam a Assunção, para acompanhar o julgamento em frente ao Congresso. “Pode haver enfrentamentos.”

As Forças Armadas, por enquanto, se mantêm neutras. Em um comunicado, disseram que “se mantêm dentro de suas funções específicas, estabelecidas por lei”.


Conferência deixa como resultado um futuro incerto

Valor Econômico

O ar-condicionado ligado à plena carga criava uma atmosfera ártica em diversos cantos do Riocentro – e inacreditavelmente insustentável. Este clima desconfortável e pouco estimulante marcou a Rio+20. A conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável caminhava para um final melancólico ontem, onde ninguém parecia satisfeito e todos pareciam conformados com o futuro incerto que “O Futuro que Queremos”, o principal documento da conferência, projeta para diante.

Agora depende de o comprometimento dos países de levar em frente, por exemplo, uma nova medida econômica que considere componentes ambientais no cálculo do PIB. Até 2015, se tudo der certo, o mundo pode ter objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que tracem metas para energia, água, cidades, oceanos. Pode, também, dar força a um organismo ambiental competente, o Pnuma, que tem 40 anos, mas é tratado pela comunidade internacional como um órgão de segunda categoria no sistema da ONU.

Os governos se comprometeram a tornar concreto um programa de mudança nos padrões de produção e consumo que levou 8 anos para ficar pronto – mas que poderia ter sido aprovado antes da Rio+20, não fosse uma citação, no prólogo, aos Territórios Ocupados, o que fez com que fosse barrado, na Assembleia Geral das Nações Unidas, há alguns meses. Na Rio+20 ele saiu do papel.

“Esta conferência organizou muitos assuntos ambientais e de desenvolvimento que estavam orbitando”, diz um diplomata brasileiro. “Ela abriu processos e é importante”, continua. “Vamos voltar a conversar sobre este resultado em três anos”, desafia.

Um negociador europeu diz que ficou claro, na atuação do Brasil, que “a presidente Dilma quer tirar da pobreza 50 milhões de pessoas, e nós entendemos isso.” Depois, faz um mea culpa: “Não soubemos explicar que a economia verde é o melhor caminho para isso”. A Europa, apoiada pelos EUA, insistiu que a conferência adotasse a ideia da economia verde – conceito controverso, visto com desconfiança pelo mundo em desenvolvimento. Poderia ser mais uma embalagem para vender, caro, produtos e tecnologias que os ricos têm e os pobres não, vocalizavam representantes da Bolívia, Venezuela, Cuba, Nicarágua.

Todos reconhecem que acomodar interesses de 193 países em temas que vão do uso dos recursos naturais à redução gradual do uso de combustíveis fósseis, da mudança nos padrões de consumo a regras para a exploração da biodiversidade em alto mar, não é tarefa fácil. Antes da conferência começar, muitos representantes de governos disseram que do Riocentro não ia sair nada – e agora jogam no colo do Brasil o desapontamento.

“Mas o Brasil atuou como um operador de consensos, não como um líder”, alfinetou o negociador europeu. “Onde esteve a presidente do Brasil nos últimos três meses?” questionou outra negociadora. “Os diplomatas brasileiros são reconhecidamente competentes e vão até o limite. Mas quem define os limites, definiu por baixo”, prosseguiu um observador.

A Rio+20 teve momentos de truculência e constrangimento. Em uma sessão, a negociadora da Suíça manifestou sua oposição a um determinado ponto. Os negociadores brasileiros tinham pressa em fechar o texto. Ela se opunha. “Então será a primeira vez que teremos um texto sem a participação suíça”, disse o brasileiro.

Na última rodada de negociações, em Nova York, um alto executivo da ONU envolvido no processo criticou a falta de liderança do Brasil. A presidente Dilma teria ligado ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon e pedido a demissão do sujeito. Outro episódio nesta linha teria sido a chamada que a presidente teria dado a Ban Ki-moon, que abriu a cúpula com um discurso dizendo que faltou ambição ao texto final, e ontem se mostrou subitamente mais entusiasmado.

O governo brasileiro manifestou claramente sua insatisfação com as críticas que teve que escutar por fechar um texto sem ambição. Muitos diziam que o Brasil se escondeu atrás dos Estados Unidos na questão do Pnuma. Os países africanos queriam fazer uma alteração editorial no texto: mudar o nome do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, para Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Seria uma modificação semântica e simbólica. Os EUA não quiseram conversa: “Se o texto for reaberto, principalmente na questão do Pnuma, abriremos outras questões”, ameaçou o chefe da delegação americana, Todd Stern, na plenária que aprovou o documento.

Em muitos momentos o Brasil se viu diante da opção de a conferência ficar sem um documento final, ou com um documento aguado. Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota declarava qual havia sido a escolha do Brasil, ao dizer que iria se conseguir o texto “possível.”

Uma piada era contada nos corredores do Riocentro nos últimos dias da conferência. “O Brasil queria ter um texto antes da chegada dos chefes de Estado. E ponto”, comenta um negociador. “Foi uma sorte que tenha terminado logo, assim não perdemos mais do que foi acertado em 1992”. Só em alguns anos dará para saber se a Rio+20 ficou só na promessa.