Brasil estuda cortar projetos no Paraguai

Três dias depois do impeachment de Fernando Lugo, o Paraguai acordou ontem com dois governos. Logo cedo, enquanto o presidente Federico Franco fazia juramento e empossava os novos ministros em solenidade no Palácio de López, o ex-mandatário reunia a imprensa para apresentar o Gabinete de restauração democrática, com apoio de antigos colaboradores, numa tentativa de manter um governo paralelo. A iniciativa de Lugo acirrou a disputa política na capital, que tem protestos previstos para amanhã a favor e contra o governo de Franco nas ruas de Assunção, onde o clima tem sido de normalidade. Diante da situação, o novo chanceler, José Félix Estigarribia, classificou a ação do ex-mandatário como piada. Lugo, por sua vez, abandonou o tom diplomático de sexta-feira, quando acatou a decisão do Congresso.

– Vamos potencializar as manifestações pacíficas e divulgar para os demais países tudo o que aconteceu aqui. Fomos submetidos a um julgamento político e não vamos dar esse gosto aos promotores da morte, que provocaram a morte de camponeses e policiais – disse Lugo, intitulando-se presidente do país, antes de lançar uma página na internet para coordenar protestos, chamada paraguayresiste.com. – Quero resistir até reconquistarmos o poder, porque aqui houve um golpe parlamentar. Eu peço às pessoas do interior, aos jovens e a todos os cidadãos que resistam até voltarmos ao cargo.

Ontem, um grupo de sem-terra marchou pelo centro de Assunção até a sede da TV Pública, onde manifestantes estão acampados desde o fim de semana. Um microfone foi instalado na rua para quem quisesse se manifestar sobre a crise, e a maioria dos discursos foi contrária ao novo governo. Alguns eleitores aproveitaram a oportunidade para expressar dons artísticos, tocando violão ou declamando poesias.

A resposta de Franco à criação de um governo paralelo foi imediata. Para Estigarribia, Lugo deveria acatar a “decisão soberana” do Congresso.

– Lugo é um ex-presidente e não tem função administrativa. Isto é piada. Se ele falar como presidente, vai sofrer sanções da lei paraguaia.

Ex-mandatário sofre derrota dupla na Justiça

Aparentemente sem respaldo de movimentos organizados, mas contando com forte apoio internacional, principalmente entre países do Mercosul, Lugo amargou duas derrotas ontem. A Corte Suprema de Justiça do Paraguai rejeitou a ação de inconstitucionalidade apresentada por ele na sexta-feira. A sala constitucional da Corte rejeitou in límine (sem analisar) a ação apresentada pelo ex-presidente para denunciar a suposta violação do direito de defesa no julgamento político.

Ao mesmo tempo, o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral emitiu um comunicado em que reconhece a legitimidade da Presidência de Franco. Lugo, deposto sob acusação de mau desempenho das funções, reclamava do pouco tempo para montar sua defesa diante do Senado e da suposta imparcialidade dos senadores.

Segundo os juízes que emitiram a sentença, a ação de Lugo foi arquivada porque o processo de impeachment é um julgamento político, e não “um processo normal”. Sendo assim, entenderam que a responsabilidade cabe ao Congresso, que já havia declarado Lugo culpado quando a Justiça julgou o recurso do ex-presidente.

Já o Tribunal Eleitoral afirmou que Franco, como vice-presidente eleito de Lugo, está constitucionalmente exercendo seu cargo e por isso deve terminar o mandato em 2013. O tribunal rejeitou a hipótese de antecipar as eleições. Ontem, o presidente uruguaio, José Mujica, engrossou o coro a favor de eleições mais rápidas, para que haja um presidente “eleito pelo povo paraguaio”.

Iniciativas para evitar o isolamento político do Paraguai também estão na pauta do novo governo. Enquanto Brasil, Argentina e Uruguai convocaram seus embaixadores, a Venezuela cortou o abastecimento de petróleo ao país, e o Equador declarou que não reconhecia o governo Franco. Em entrevista após a posse dos novos ministros, Estigarribia pediu mais tempo e disse que não vai aceitar a suspensão do bloco, como se prevê até a nova eleição, em abril de 2013.

– É curioso que países que questionam a brevidade dos prazos no julgamento político (de Lugo), agora nos acionam sem nos dar tempo de defesa – disse, garantindo que manterá esforços junto para manter o Paraguai no bloco.

Os primeiros indícios de afastamento do país do Mercosul foram vistos ontem, quando o premier chinês, Wen Jiabao, participou de uma videoconferência com os presidentes do Brasil, Uruguai e Argentina. O Paraguai ficou de fora, mas não mantém relações diplomáticas com a China. Na imprensa local, há sinais de contrariedade diante da interferência da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). No editorial “Mais católico que o Papa”, o “ABC Color” afirma que alguns chanceleres vieram ao país com o pretexto de acompanhar o processo político, mas pretendiam evitar a destituição de Lugo.

Para o ex-ministro do Interior Carlos Filizola a pressão externa precisa ser mantida para denunciar o que classifica como golpe.

– Os países amigos com quem sempre convivemos sabem que fomos vítimas de um ato antidemocrático e não respeitarão esse governo que está aí.


Graça faz diagnóstico severo da Petrobras

Valor Econômico

Ao detalhar ontem o plano de investimentos de US$ 236,5 bilhões da Petrobras, a presidente da companhia, Graça Foster, apontou que a estatal vinha divulgando metas que sistematicamente descumpria, convivia com falta de planejamento, controles insuficientes e ineficiência operacional. As antigas projeções de produção, consideradas irrealistas pelo mercado e, agora, assumidas pela nova administração, indicou a presidente, contavam com a sorte para serem atingidas.

“Não é possível considerar milagres na hora que tem demanda forte mundialmente e também dentro do Brasil”, disse a presidente da Petrobras ao apresentar todas as metas de produção não cumpridas desde 2003.

Graça Foster, que assumiu a diretoria de Gás e Energia em setembro de 2007, usou seu estilo franco ao responder perguntas de jornalistas e analistas ao apontar o que considerou como ineficiências da empresa. Um analista curioso para saber se as novas metas de produção – que reduzem em até 1 milhão de barris a produção em determinado mês de 2017 – traziam conforto, recebeu a seguinte resposta da presidente: “Aqui, ninguém trabalha com conforto de absolutamente nada. Conforto é uma palavra proibida entre nós. Nós trabalhamos sobre total desconforto. Aqui é desconforto 365 dias por ano para atender a demanda de todos os senhores e senhoras”.

O discurso ouvido ontem indicou que a companhia costumava adquirir antecipadamente equipamentos de projetos ainda não aprovados em todas as fases. Foi o que Graça deu a entender quando se referiu a diversos projetos da empresa, incluindo refinarias. Procurado, o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, secretário de Planejamento da Bahia, disse ao Valor que não ouviu a apresentação de Graça porque estava em uma celebração da independência do Estado e, por isso, não iria comentar.

A nova presidente da Petrobras também fez questão de ressaltar que os atrasos que a companhia enfrenta não são causados apenas pela política de conteúdo local. Mostrou um quadro detalhando as datas de entrega de 14 sondas de perfuração construídas no exterior com conteúdo local zero e que foram entregues com atrasos variando entre 83 dias até 864 dias – caso da Schain Amazônia, equipamento construído na China.

No quesito atrasos, a refinaria do Nordeste, que está sendo construída em Pernambuco, vai ficar pronta só em novembro de 2014, com três anos de atraso e preço US$ 3,7 bilhões acima do planejado (US$ 13,362 bilhões).

Em certo momento da apresentação de ontem, Graça Foster disse que os atrasos não são uma regra geral nos projetos da Petrobras. “Existem fatos, dados e números que mostram que a grande maioria de nossos projetos, projetos importantes, têm sido concluídos a contento. Existem pontos fora da curva”, afirmou a executiva, citando em seguida a refinaria de Pernambuco, da qual a venezuelana PDVSA tem 40% mas está com dificuldades para oferecer garantias ao BNDES.

“Certamente que a história da refinaria Abreu e Lima, em que nós estamos com 55% de realização física, é uma história a ser aprendida, a ser escrita e lida pela companhia, de tal forma que ela não seja repetida”.

Já a refinaria que vai processar 165 mil barris de óleo pesado no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) saiu do orçamento imediato e não faz parte do plano de investimentos de US$ 208,7 bilhões de projetos com todas as fases aprovadas.

Ao mencionar o Comperj, adiado algumas vezes, a última para setembro de 2014, Graça foi dura ao dizer que nenhum diretor da companhia está autorizado a falar sobre novos prazos desse e outros projetos. Segundo a executiva, a nova gestão está fazendo um detalhamento até para saber quanto custam e o que já foi feito. “O físico e o financeiro andam juntos”, ressaltou.

Quanto às refinarias do Maranhão e do Ceará, o diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, disse que estão no plano estratégico de US$ 236,5 bilhões e recebendo recursos compatíveis com a atual fase [do projeto]. “Mas é evidente que têm que ter prazo, custo e rentabilidade”.

A autonomia dos novos diretores é mais restrita agora, como fez questão de ressaltar. “O diretor não tem autorização de, por si, decidir fazer investimentos acima daquilo que está previsto para resolver o problema de desempenho do projeto. Evidentemente estou falando dos grandes projetos da companhia, responsáveis pela produção, responsáveis pelo escoamento do petróleo e gás produzidos”, afirmou Graça.

A Petrobras vai investir US$ 43,7 bilhões no desenvolvimento da produção de petróleo na área da camada pré-sal entre 2012-2016. O valor responde por 49% dos investimentos previstos na área de desenvolvimento da produção da petroleira no período, de US$ 89,9 bilhões. No total, a área vai receber 131,6 bilhões no Brasil até 2016, o equivalente a 60% do investimento da companhia. A área internacional ficará menor. Com investimentos de US$ 10,7 bilhões, tem várias ativos que poderão ser vendidos. E os investimentos que surgirem terão que ser mais rentáveis do que qualquer projeto no Brasil para serem levados adiante.

Também descumprida, a meta de desinvestimento de ativos da Petrobras, agora de US$ 14,8 bilhões, será executada esse ano, como garantiu o diretor financeiro, Almir Barbassa. Ele citou como exemplo o desbloqueio de R$ 4,5 bilhões em recursos usados como garantias para a Petros. ” É tão importante quanto aumentar o preço da gasolina”, afirmou Graça Foster. “É como se fosse um projeto de produção de petróleo ou gás natural”.


Brasil, Argentina e Uruguai iniciam negociações com a China

Valor Econômico

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, e Brasil, Argentina e Uruguai, os três países que estão como membros plenos do Mercosul, anunciaram de modo oficial o interesse em firmar uma declaração conjunta estabelecendo uma “aliança estratégica global” entre o país asiático e o bloco econômico. Wen fez o anúncio em uma teleconferência organizada pela presidente argentina Cristina Kirchner na Casa Rosada, com a participação da brasileira Dilma Rousseff e do uruguaio José Mujica.

Este foi o primeiro evento relativo ao Mercosul sem a participação do Paraguai. O quarto membro do bloco foi suspenso neste domingo em razão da destituição do presidente Fernando Lugo pelo Congresso daquele país. A suspensão paraguaia viabilizou uma postura comum do bloco, já que o país era o único do Mercosul que não reconhece o governo de Pequim como o representante da China. O Paraguai ainda concede este “status” ao governo de Taiwan.

“A China e o Mercosul possuem interesses comuns e amplas perspectivas”, disse Wen, que está encerrando uma visita a Buenos Aires para celebrar os quarenta anos de relação entre os dois países. “Estamos dispostos a coordenar posições comuns nos temas internacionais e a desenvolver ainda mais o nosso intercâmbio. A China quer uma frente comum”, afirmou o dirigente chinês, que deixou claro o objetivo de abrir caminho para um tratado de livre comércio. “Temos que desenvolver os estudos de viabilidade para isso”, disse o premier.

Ao se pronunciar, Dilma evitou tratar dessa possibilidade, centrando sua fala na possibilidade de uma ação conjunta com a China na discussão de iniciativas para fazer frente à crise econômica global. Durante a cúpula Rio+20, encerrada na semana passada, Brasil e China já haviam anunciado um acordo para fortalecimento mútuo de reservas em moeda estrangeira. “É preciso evitar que a crise contamine nossos mercados e provoque consequências que não desejamos. Sabemos que esta é uma crise de mercado e que os Estados Unidos e a União Europeia estão com seus potenciais comprometidos. É estratégico construir um relacionamento produtivo com a China”, disse a presidente.

O Brasil receberá na cúpula do Mercosul em Mendoza, nesta quinta-feira, a presidência pro-tempore do bloco para os próximos seis meses, inicialmente prevista para ser entregue ao Paraguai. A presidente brasileira confirmou que a possibilidade de uma aliança estratégica global com a China “será avaliada” no encontro.

Tanto Mujica quanto Cristina Kirchner mencionaram a possibilidade da aliança com os chineses derivar em ampliação do intercâmbio comercial. “A China é o grande comprador e o grande vendedor de nossa época. E temos que vender mais com maior valor agregado”, afirmou o presidente uruguaio. “A vinculação com a China é uma oportunidade histórica para o Mercosul, para agregar valor para nossa matéria prima, gerando trabalho para a nossa gente”, concluiu a presidente argentina.


Confiança do consumidor recua em junho

Valor Econômico

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 2,8% entre maio e junho de 2012, de 127,1 para 123,5 pontos. Pelo segundo mês consecutivo, houve piora das avaliações sobre o momento atual e diminuição do otimismo dos consumidores em relação aos meses seguintes. Entre maio e junho, o Índice da Situação Atual (ISA) caiu 4,4%, ao passar de 145,5 para 139,1 pontos, revertendo também a tendência da média móvel trimestral. O Índice de Expectativas recuou 1,8%, de 117,0 para 114,9 pontos. Apesar da piora, este último índice mantém-se em alta quando expresso em médias trimestrais.

A satisfação dos consumidores com a situação econômica diminuiu pelo segundo mês consecutivo. Ao passar de 116,7 para 110 pontos, o indicador do quesito recuou 5,7%, ao menor nível desde fevereiro (107,4 pontos). Entre maio e junho, a proporção de consumidores que avaliam a situação como boa diminuiu de 31,5% para 27,7%, e a dos que a julgam ruim aumentou de 14,8% para 17,7%.

Entre os indicadores integrantes do ICC, o que mede a expectativa do consumidor em relação à situação econômica nos seis meses seguintes foi o que mais contribuiu para a queda da confiança em junho. O indicador recuou 5,9%, ao passar de 124,4 para 117,1 pontos.


Relatório do BC deve assumir projeção menor para PIB

Valor Econômico

O Banco Central (BC) deverá usar toda a habilidade disponível para evitar que o governo assista ao seu pior pesadelo nesta semana, quando a instituição divulgar o Relatório Trimestral de Inflação. A ideia de que o fundo do poço para a atividade ficou para trás, em 2011 – quando a economia avançou 2,7% – pode ser formalmente revista.

O Relatório de Inflação – importante instrumento de comunicação da autoridade monetária – refere-se ao segundo trimestre e, para ser fiel ao momento, deverá atualizar a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A indicação do BC, cravada em 3,5% em dezembro, aí permaneceu no relatório de março. Mas é hora de mudar, dado o cenário explícito de fraqueza da atividade.

Essa é a expectativa dos analistas, que reconhecem, contudo, a possibilidade de o BC temperar com algum senso político a sua postura técnica e assim evitar arrastar sua previsão de crescimento ao intervalo medíocre projetado pelo mercado – de 1,5% a 2%. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao considerar “piada” uma revisão de projeção para o PIB feita pelo Credit Suisse, indicou que o governo não quer lidar com uma perspectiva sombria, trabalha com cenário melhor e continuará batalhando por resultado bem mais animador.

Se um novo balizamento para a expansão da economia neste ano é visto como uma pedra no sapato do BC, o mesmo não ocorre com a inflação. Nessa seara os ventos sopram a favor, até porque a atividade é frustrante. O Relatório de Inflação não deve trazer indicações muito diferentes das apresentadas na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), arriscam alguns analistas, que veem a situação propícia para o Banco Central capitalizar o declínio das expectativas com os preços.

No cenário de mercado, explicou o Copom no início de junho, a projeção para a inflação de 2012 diminuiu e se encontra em torno do valor central da meta para a inflação. Para 2013, a projeção se manteve estável no cenário de referência e recuou no de mercado, mas ainda se posiciona, nos dois casos, acima do valor central da meta.

Ontem, a pesquisa Focus confirmou nova melhora nas expectativas. A inflação esperada para este ano caiu pela sexta semana seguida e rompeu o suporte de 5%, para 4,95%. Para 2013, a variação esperada para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou pela segunda semana, para 5,5%. A inflação apontada para os próximos 12 meses também cedeu, confirmando o discurso do BC na ata divulgada no início de junho, em que as expectativas que conspiram a favor da instituição ganharam particular destaque.

“A inversão na tendência da inflação contribuirá para melhorar as expectativas dos agentes econômicos, em especial as dos formadores de preços, sobre a dinâmica da inflação neste e nos próximos trimestres. Adicionalmente, o comitê entende que essa melhora no sentimento tende a ser potencializada pela moderação observada nos últimos trimestres na dinâmica dos preços ao produtor”, afirmou o Copom.

Outro dado que prepara terreno positivo para o Relatório de Inflação de junho é o IGP-M que sai na manhã de quinta-feira. Esse índice pode cair praticamente à metade em um mês, confirmando forte desaceleração dos preços no atacado – agrícola e industrial.


Bancos espanhóis devem mais à Alemanha

O Globo

BRASÍLIA. Mesmo com a nova ajuda de 100 bilhões solicitada pelo governo espanhol para capitalizar as instituições do país, a Espanha ainda vai precisar de novos aportes para garantir solidez ao sistema bancário, o que é motivo de especial preocupação para a Alemanha, principal credor dos bancos da região.

Levantamento feito a pedido do GLOBO pela consultoria Austin Rating mostra que pouco mais de um terço da dívida dos bancos espanhóis está nas mãos de bancos públicos e privados alemães. Quando tomados os chamados Piigs (sigla em inglês para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, considerados os países mais problemáticos), a proporção é semelhante.

– Está certo que novos aportes serão necessários. Os bancos espanhóis continuam sendo acompanhados com lupa pelo mercado financeiro e ainda inspiram cuidados – disse o economista da Austin Felipe Queiroz.

Concentração justifica austeridade alemã

O quadro de fragilidade é uma das explicações para a relutância alemã em fazer novos aportes sem contrapartidas de austeridade muito fortes por parte dos países problemáticos.

A relação da dívida dos países europeus com bancos estrangeiros deve ser levada em conta na reunião da União Europeia (UE) em Bruxelas esta semana. Dos US$ 157,9 bilhões que o sistema bancário espanhol deve a bancos, US$ 134 bilhões são para instituições públicas e privadas europeias. Deste total, US$ 53,1 bilhões são para a Alemanha. Outros US$ 23,4 bilhões são devidos a instituições públicas e privadas francesas. Já os PIIGS têm US$ 121,1 bilhões dos US$ 363,4 bilhões de suas dívidas como débitos junto aos bancos alemães. Os franceses detêm US$ 67,4 bilhões desta dívida.

Crise da dívida europeia terá reflexos no Brasil

O endividamento do setor bancário europeu também tem implicações sobre o Brasil. Para Queiroz, dependendo da intensidade da crise e do tempo que os países levarem para reverter a situação, os bancos podem ter de se desfazer de posições em outros mercados onde tenham bons resultados, como o brasileiro, por exemplo.

De acordo com o levantamento da Austin, a dívida dos bancos alemães está em US$ 394,9 bilhões, enquanto a dos franceses está em US$ 471,5 bilhões. A maior parte de ambas tem como principais credores os bancos europeus: US$ 338 bilhões e US$ 278,4 bilhões, respectivamente. Mas esse endividamento não chega a preocupar, porque os dois países são as principais economias no bloco e têm uma situação econômica mais estável.

– Por mais que França e a própria Alemanha tenham uma dívida bem maior do que a espanhola, estes dois países têm um sistema financeiro mais sólido.

O Reino Unido é, de longe, o país da Europa cujo sistema bancário está mais endividado com bancos estrangeiros. São US$ 727,9 bilhões, dos quais US$ 508,5 bilhões estão nas mãos de instituições públicas e privadas europeias. Entre os europeus, a Alemanha é maior credor do país, com US$ 173,8 bilhões. E fora da Europa, são os bancos americanos que mais detêm créditos com os britânicos.


BIS sugere a emergentes freio na concessão de crédito

Valor Econômico

O diretor-geral do Banco Internacional de Compensações (BIS), Jaime Caruana, sugeriu ontem que os países emergentes com rápido crescimento do crédito acelerem a capitalização dos bancos e moderem o ritmo dos financiamentos para evitar futuras crises.

Em seu informe anual, o banco dos bancos centrais mostrou que o Brasil está na zona de risco: expansão do crédito num ritmo muito mais rápido que o PIB nos últimos três anos, “efervescência” que duplicou os preços de imóveis nas grandes cidades e endividamento na direção de níveis recordes.

Em entrevista a dois jornais brasileiros, Caruana esquivou-se de falar de países específicos. Mas afirmou: “As lições que aprendemos todos na crise, e em crises anteriores, é que o rápido crescimento do crédito tem que ser vigiado com muito cuidado, para não se acumular riscos excessivos mais adiante, quando se materializam num maior custo em termos de menor crescimento”.

A avaliação sobre o sistema financeiro da América Latina “e de outros é de que demonstraram estar melhor preparados do que os países avançados”. Quanto aos desafios, Caruana estima que estão relacionados com os desequilíbrios que podem surgir nessas economias, em parte por seus próprios êxitos. Um deles é o rápido crescimento do crédito. O segundo é como administrar a volatilidade dos fluxos de capitais que entram nessas economias.

Ele notou que as condições financeiras nos países desenvolvidos influem as condições financeiras no resto do mundo, e nos emergentes se transmitem, por exemplo, por meio das taxas de câmbio. “Quando os países desenvolvidos têm baixa taxa de juros e existe política de não permitir a valorização da moeda, isso leva a que as políticas monetárias dos emergentes também sigam uma política relativamente relaxada, e aí se trata que tipo de medida por em marcha.”

Para o diretor-geral do BIS, é conveniente os emergentes fazerem duas coisas para evitar contágios: moderar o crescimento do crédito, “coisa que não é fácil”; e aumentar a resistência do sistema financeiro.

Indagado se na situação de um país com excesso de crédito seria necessário acelerar a implementação do colchão de capital contracíclico, disse: “De forma geral, a resposta é sim. Convém acelerar, na medida em que o crescimento de crédito seja elevado. Mas também há que ver a situação de cada país, não se pode fazer generalizações”.

A capitalização pode vir também de forma que “simplesmente consiga aumentar capital mais rapidamente”. Ele chama a atenção para a importância de quantidade, mas também qualidade do capital dos bancos. Em alguns países desenvolvidos em crise, “a qualidade do capital dos bancos era fraca”.

Ele defende igualmente medidas macroprudenciais como “algum limite entre a equação crédito/valor dos imóveis, que podem mitigar essa situação”.

No caso do colchão contracíclico, para frear riscos com créditos excessivos no mercado, o Brasil começará a implementá-lo em 2014. Como o Valor revelou, levando em conta pesquisas do BIS, conclui-se que a situação brasileira atual exigiria dos bancos capital adicional máximo de 2,5% ponderado pelo risco, por causa do “credit gap” registrado no país, ou seja, a diferença entre a proporção crédito/PIB e sua tendência de longo prazo.

“As muitas reformas feitas em Basileia 3 apontam pela criação de maior colchão de capital que, por uma parte, pode ajudar marginalmente a conter o rápido crescimento do crédito, mas sobretudo ajudará quando surgir um período de baixa do crescimento, e o crédito pode desacelerar bruscamente, como vimos. E nesse caso ter acumulado resistência antes [com os colchões] ajudará a conter o impacto na economia”, afirmou Caruana.

Os emergentes são na prática aconselhados a evitar os erros que afetam hoje duramente os desenvolvidos. “Os bancos se endividaram acima do que seus sistemas de riscos permitiam controlar. Foram excessivamente otimistas. Em geral, padrões de crescimento que foram aceitos estavam baseados em excessiva expansão do crédito”, afirmou.


Calote avança na nova classe média

Correio Braziliense

O alto nível de endividamento das famílias está derrubando o otimismo entre os consumidores e minando o já fraco crescimento da economia. Foi o que constatou a Fundação Getulio Vargas (FGV), ao promover pesquisa com mais de 2 mil domicílios em todo o país. É entre os integrantes da nova classe média, com renda mensal de até R$ 4,8 mil, que se registra o maior pessimismo. Não sem razão: muitos já devem mais da metade do que ganham e enfrentam o maior nível de endividamento em sete anos.

Pelas contas da FGV, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) tombou 2,8% em junho ante o mês anterior. Foi a segunda queda consecutiva, refletindo a dificuldade maior das famílias em manter as contas em dia. Entre os entrevistados com rendimentos mensais de até R$ 2,1 mil, 23,4% devem mais de 51% do salário e 19,1% já recorreram ao calote por total falta de recursos. No grupo com renda entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil, 24,1% estão com mais da metade da renda comprometida com endividamento e 8,8% se tornaram inadimplentes. Entre os que ganham mais de R$ 9,6 mil por mês, apenas 12,5% devem mais de 51% dos salários e 3,6% se dizem incapacitados para quitar as prestações assumidas.

Apesar desse quadro assustador, o governo não para de dar incentivos ao consumo e ao endividamento. A alegação é de que as dívidas das famílias são de curto prazo e há a possibilidade de se renegociar os débitos a juros menores. A coordenadora de sondagens de expectativa do consumidor da FGV, Viviane Seda, não endossa essa visão otimista. Infelizmente, não se pode dizer que essas dívidas se resolverão na curto prazo, disse. A tendência, portanto, é de a inadimplência continuar apontando para cima, inibindo a retomada do crescimento econômico.

Não à toa, vários economistas apontam para alta de, no máximo, 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Os indicadores de confiança da FGV são preocupantes, pois mostram que as medidas recentes do governo para estimular o consumo (como corte do Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI, de veículos) devem não surtir o efeito desejado de acelerar o PIB, afirmou o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro.

O professor de economia do Insper Otto Nogami foi além: Pacotes de estímulos à economia baseados no consumo das famílias estão esgotados. A seu ver, o cenário internacional conturbado e sem perspectivas de melhora deve aumentar a insegurança do consumidor. A tendência é que o pessimismo e a inadimplência continuem crescentes nos próximos meses, apostou.


Chipre é o quinto país do euro a pedir socorro

Valor Econômico

O Chipre pediu socorro financeiro a Bruxelas. O dinheiro se destina tanto para o setor bancário comprometido pela exposição à Grécia quanto para cobrir o déficit público. O pedido torna Chipre o quinto país da zona do euro a pedir ajuda aos fundos de resgate do bloco.

O minúsculo país tem apenas quatro dias para captar pelo menos € 1,8 bilhão – o equivalente a cerca de 10% de seu Produto Interno Bruto (PIB) – para satisfazer as autoridades reguladoras europeias no que se refere à saúde financeira do Banco Popular do Chipre, segundo maior do país. O banco teve os resultados comprometidos por dívidas gregas.

O ministro da Fazenda do Chipre, Vassos Shiarly, disse que o país também tentará obter o volume de dinheiro suficiente para ajudar a cobrir seu déficit público. O valor integral será decidido dentro de algumas semanas. “O montante equivalerá ao necessário para cobrir as exigências de recapitalização e de ordem fiscal”, disse à “Reuters”. “Elas serão fixadas após cuidadosa análise.”

O anúncio permite concluir que o Chipre seguirá Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha ao lançar-se nos braços dos recursos emergenciais de socorro destinados aos 17 países que adotaram o euro.

Com o rápido esvaziamento de seus cofres e disparando rumo a um prazo final inamovível, a ilha sofreu ontem um novo corte na classificação de seu crédito soberano imposto pela Fitch. A nova nota é BB+, e corresponde à faixa de alto risco. Chipre já foi impedido de captar novos recursos nos mercados de capitais, com os rendimentos sobre seus bônus atuais no segmento avançado da casa dos dois dígitos. As autoridades cipriotas disseram que o pedido de socorro não especificou a quantia requerida pelo país a seus parceiros da União Europeia (UE).

A ilha, de apenas 1 milhão de habitantes, tem um setor financeiro desproporcionalmente grande, altamente exposto à Grécia, sua vizinha mais de dez vezes maior com a qual compartilha a língua, a cultura e estreitos laços políticos. Um comunicado do governo afirmava: “A finalidade da assistência solicitada é a contenção dos riscos à economia cipriota, notadamente os gerados pelos efeitos negativos do vazamento sobre seu setor financeiro, devidos à sua grande exposição à economia grega”.

Com um pacote de resgate encarado como quase inevitável, Chipre vem fazendo acrobacias há semanas na tentativa de definir suas opções entre uma operação de socorro concedida pelos fundos de resgate europeus – o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, pelas iniciais em inglês), temporário, e o Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM, pelas iniciais em inglês), permanente – ou um empréstimo bilateral cedido pela Rússia ou pela China.

O presidente de Chipre, Demetris Christofias, único dirigente comunista da UE, vem relutando em aceitar as condições fiscais e regulatórias vinculadas a um salvamento europeu. No fim de semana, viagens de autoridades do governo cipriota à China sugeriram que Chipre ainda acalentava esperanças de receber um empréstimo bilateral de um terceiro país.

O ministro do Comércio, Indústria e Turismo, Neoklis Sylikiotis, foi despachado para a China, onde as negociações se centraram na concessão de um empréstimo ou num investimento chinês no problemático Banco Popular de Chipre. “Tivemos alguns contatos… Pedimos resposta para os próximos dias”, disse Sylikiotis para a emissora estatal horas antes de o governo informar que solicitaria socorro financeiro à UE.

Moscou já concedeu a Chipre € 2,5 bilhões em empréstimo bilateral no ano passado, e tem interesse em manter o país como um centro financeiro “offshore”, com baixas alíquotas de impostos para os empresários russos, que utilizam a ilha como base para reinvestir na Rússia. No entanto, solicitar altas quantias junto a Moscou ou Pequim é uma medida polêmica em Chipre, onde a filiação à UE é motivo de orgulho nacional. A iniciativa poderia ser constrangedora também para Bruxelas, uma vez que Chipre assumirá a presidência rotativa do bloco em julho.