Desemprego recorde no Euro

A taxa de desemprego na Zona do Euro atingiu novo recorde em maio, quando alcançou 11,1% da população ativa, contra 11% em abril, informou ontem a Eurostat. Segundo a agência de estatísticas, 17,56 milhões de pessoas estavam desempregadas nos 17 países da moeda comum em maio, 88 mil a mais do que em abril. Foi o 13º mês seguido em que o desemprego da região superou a marca de dois dígitos. No conjunto dos 27 países da União Europeia (UE), a taxa de desemprego em maio foi de 10,3%, também um recorde, contra 10,2% no mês anterior. Em relação a maio de 2011, o total de desempregados em todo o bloco econômico aumentou em 1,82 milhão.

A Espanha apresentou a pior situação, com desemprego de 24,6% em maio, índice que chega a 52,1% no caso dos jovens de até 25 anos. Em seguida vem a Grécia, com 21,9% de desempregados. Um dos motivos para a piora do indicador espanhol está na retração da atividade industrial, que teve em junho a maior queda em mais de três anos. A atividade industrial alemã também apresentou a maior retração em três anos, indicando que a locomotiva europeia também está em desaceleração.

Membros da diplomacia da UE em Brasília avaliaram ontem que o encontro de cúpula do bloco, na sexta-feira passada, já trouxe resultados positivos e revelou maior coesão dos países membros. Para eles, o agravamento da crise serviu para convencer os governos nacionais a adotarem medidas de sacrifício fiscal e reformas estruturais, como as das áreas trabalhista e previdenciária, que foram adiadas por mais de uma década.

Além disso, representantes de seis países da Zona do Euro acreditam que as medidas anunciadas na reunião poderão reduzir os juros extremamente altos que vêm sendo cobrados na rolagem dos títulos públicos, devido à “irracionalidade” do mercado financeiro. “O euro é irreversível. Ele surgiu de vontade política coletiva e da mesma forma sairá de sua gravíssima crise”, resumiu um diplomata.

Os países da UE já haviam aprovado a recapitalização direta dos bancos espanhóis em troca de duro controle sobre o setor financeiro. No encontro da semana passada, os líderes também concordaram em lançar um pacote de 120 bilhões de euros com o objetivo de estimular o crescimento, com investimentos voltados para a infraestrutura, a inovação e o empreendedorismo. Eles também sinalizaram que os recursos dos fundos de resgate da Zona do Euro poderão ser usados para comprar bônus soberanos, o que já beneficiou Espanha e Itália.

Suspense

No entanto, o aparente consenso da cúpula da UE foi abalado pela Finlândia, que promete barrar o uso do Mecanismo Europeu de Estabilidade na compra direta de dívidas soberanas de países em dificuldades. Ontem, o primeiro-ministro finlandês, Jyrki Katainen, informou que “será preciso unanimidade” para decidir sobre tais compras, o que não será possível devido à oposição da Holanda e de seu país.

Banqueiro renuncia

Um escândalo sobre a manipulação das taxas interbancárias Libor e Euribor — que definem o preço do dinheiro trocado entre as instituições financeiras e influenciam o custo dos empréstimos em geral — levou o presidente do banco britânico Barclays, Marcus Agius, a renunciar ao cargo, ontem. Na quarta-feira passada, o Barclays anunciou que pagaria 290 milhões de libras (US$ 450 milhões) para encerrar as investigações das autoridades britânicas e norte-americanas sobre o caso, prometendo, ainda, fazer uma auditoria rigorosa sobre o episódio. Outros bancos também estão sendo investigados.


EUA: indústria recua

Correio Braziliense

O setor manufatureiro dos Estados Unidos registrou uma contração inesperada em junho pela primeira vez em quase três anos, em meio ao recuo de novas encomendas, de acordo com relatório divulgado ontem pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês). O índice de atividade industrial da entidade caiu para 49,7 pontos, ante 53,5 no mês anterior. O resultado ficou aquém das expectativas de 52 pontos, identificadas em pesquisa da Reuters, e bem abaixo da menor previsão, de 50,5. Essa foi a primeira vez, desde julho de 2009, que o índice caiu abaixo da marca de 50 pontos, o que indica contração da atividade.

A queda nas encomendas indica que o nível de produção continuará fraco nos próximos meses. “Teremos um segundo semestre muito lento”, avaliou o economista sênior do RBC Capital Markets em Nova York, Jacob Oubina. Segundo ele, com a desaceleração do crescimento, há uma boa chance de o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) anunciar mais uma rodada de compra de títulos para impulsionar a economia. A fraqueza do setor industrial foi confirmada pela pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI), do instituto Markit. Em junho, esse índice registrou 52,5 pontos, ante 54 pontos em maio, no pior resultado em 18 meses.


Alemanha quer retomar negociação com Mercosul

Valor Econômico

O governo alemão decidiu retomar agora, em plena crise na zona do euro, um movimento para pressionar a negociação do acordo bilateral de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. O ministro da Economia e Tecnologia da Alemanha, Philipp Rösler, aproveitou ontem a presença da secretária da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Heloisa Menezes, em Frankfurt, para pedir negociações nesse sentido e ainda criticou as medidas protecionistas do Brasil. Heloisa disse que em setembro haverá uma reunião da comissão mista que reúne representantes dos dois países.

A defesa do livre comércio marcou o primeiro dia do 30º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que anualmente reúne representantes da indústria e dos governos dos dois países. “O protecionismo não fomenta a competitividade e nem a inovação”, disse Rösler em seu discurso de apresentação do encontro, em Frankfurt. O tema voltou a surgir em outros discursos do próprio ministro e de dirigentes da indústria alemã ao longo de todo o dia, mas encontrou o lado brasileiro – também formado pela iniciativa privada e governo – receoso de retomar a discussão do livre comércio num momento em que os países da União Europeia encontram dificuldades para comercializar produtos dentro do bloco.

“Não deveríamos perder mais tempo”, disse o presidente da BDI (sigla da federação das indústrias na Alemanha), Hans-Peter Keitel. O grupo usou a força de um segmento já representativo na atividade brasileira. Cerca de 1,2 mil empresas instaladas no Brasil são de origem alemã e, com cerca de 250 mil trabalhadores, elas respondem por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo dados do governo alemão.

O ministro Rösler lembrou que o acordo bilateral entre a União Europeia e os países do Cone Sul vem sendo costurado desde 1999. Heloísa Menezes destacou, por outro lado, que o agora pequeno superávit comercial com a Europa e o déficit com a própria Alemanha são o “maior exemplo de que o Brasil não é um país protecionista”.

Reforçado por governo e empresários, o lado alemão também reclamou das dificuldades nos processos de licitação no Brasil para investimentos de peso, como o caso dos aeroportos. O incômodo dos alemães com a presença argentina, tanto na concorrência dos aeroportos como em problemas nas relações comerciais do Brasil, deu um tom acalorado no debate conduzido pela jornalista do jornal “Die Welt”, Hildegard Stausberg.

A própria jornalista ironizou a presença de uma operadora argentina (Corporaración America) no consórcio que venceu o leilão do aeroporto de Brasília, entre outras intervenções na mesma linha. “Admiro a sua fé”, disse Stausberg quando o presidente do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), Ingo Plöger afirmou que torcia para que o grupo vencedor fosse o melhor. O debate esquentou quando o lado brasileiro lembrou que muito do que já se havia avançado no acordo bilateral foi perdido por conta das restrições da Europa na área agrícola.


Projeção para o PIB deste ano cai mais, para 2,05%

O Globo

Os vários pacotes de medidas anunciados pelo governo para estimular a economia não conseguiram evitar que as previsões para o país continuem despencando. De acordo com a pesquisa Focus, que o Banco Central (BC) faz semanalmente com economistas de bancos e corretoras do país, a projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) caiu de 2,18% para 2,05%, na avaliação divulgada ontem. Essa foi a oitava semana seguida de redução de expectativas – mais pessimistas, mas em linha com a previsão oficial. Na semana passada, o BC revisou a estimativa de crescimento do país de 3,5% para 2,5%, número abaixo do desempenho de 2011, quando o Brasil cresceu 2,7%.

Já a estimativa para o crescimento industrial já está próxima de zero. A aposta dos analistas do mercado financeiro é de que a indústria crescerá só 0,39% neste ano. Na semana passada, a previsão era de 0,5%. Há apenas um mês, os analistas esperavam que o setor se expandisse 1,15% em 2012.

– As medidas mais recentes de estímulo, que passam pela aceleração dos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e prorrogação da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os produtos de linha branca e móveis, não serão suficientes para reanimar as expectativas de crescimento econômico – prevê o economista-chefe da corretora Prosper, Eduardo Velho.

O pessimismo, na avaliação do economista, tem a ver com a percepção do mercado de que o BC pode puxar o freio de mão nos cortes futuros de juros. Esse sentimento, entretanto, ainda não se refletiu nos números. Na pesquisa divulgada ontem, os analistas mantiveram a previsão de mais dois cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). A projeção para a taxa básica (Selic) está em 7,5% ao ano.

Para o ano que vem, projeções de 4,3%

A grande diferença da aposta da semana está no que os economistas esperam para a política monetária no ano que vem. Agora, a estimativa é que o colegiado voltará a subir os juros em doses menores, comparado ao que se esperava na semana passada. Os analistas preveem altas de 0,25 ponto percentual a partir de abril do ano que vem. Antes, a aposta era que o Copom voltaria a subir os juros naquele mês, em parcelas de 0,5 ponto percentual.

A Taxa Selic no menor patamar da História traz uma perspectiva melhor para o ano que vem. A projeção para o crescimento do setor industrial, por exemplo, subiu levemente, de 4,2% para 4,3% em 2013. De acordo com os economistas, as expectativas para o ano que vem seriam ainda melhores, não fosse o desempenho da economia no primeiro semestre. Os números foram piores que o esperado e já contaminaram as previsões até o fim do ano.

– Vimos uma desaceleração geral na economia. O que dá para a gente esperar é que o Natal seja só um pouco melhor e que a economia entre girando bem em 2013 – afirmou o economista da corretora BBM Gabriel Hartung.

Para o professor da Trevisan Alcídes Leite, a saída para levantar o PIB) neste ano seria o governo anunciar um grande pacote de investimentos, já que os atuais não têm animado o empresariado. Segundo ele, a economia não tem respondido aos estímulos dados pelo governo, porque eles são pequenos comparado com o problema: o tamanho da crise internacional.

– O que foi feito é muito pouco para reverter essa situação, mas o governo tem mais espaço para tomar medidas e incentivar o crescimento, já que há uma carência muito grande em áreas como saneamento básico, habitação e transportes – detalhou o economista.

Para a inflação, fizeram um leve ajuste para baixo, e a projeção do IPCA caiu de 4,95% para 4,93% no fim deste ano.


Estrangeiros vão entrar em refinarias

O Globo

Preocupado com o atraso no cronograma de obras das refinarias da Petrobras que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo deu sinal verde para que a estatal acelere a negociação de parcerias com empresas estrangeiras. Essa alternativa, que vinha sendo evitada para preservar a autonomia do país no processamento do petróleo do pré-sal, é vista agora como uma saída para manter os prazos de conclusão e operação desses empreendimentos, após a decisão da Petrobras de reduzir o ritmo de investimentos em refino no seu Plano de Negócios 2012/2016.

Entre as empresas estrangeiras interessadas está a gigante chinesa Sinopec, que atualmente opera no país em consórcios para exploração de campos de petróleo. Outras multinacionais da área de refino já manifestaram interesse em se associar com a Petrobras, mas as parcerias não prosperaram. A exceção é a venezuelana PDVSA, que participa da construção da refinaria Abreu e Lima.

A Petrobras não confirma as negociações, mas, segundo fontes do governo, a opção pelo capital estrangeiro decorre da avaliação de que postergar prazos para refino significa aumentar perigosamente a dependência do país de combustíveis derivados de petróleo importados. Para autoridades da área, sem as quatro refinarias do PAC – Comperj, Abreu e Lima, Premium I e Premium II – essa dependência cresceria tanto que, em 2020, acabaria por colocar em risco a autonomia e o crescimento do país. As importações de derivados de petróleo dispararam nos últimos meses, devido ao aumento do consumo. Em abril, por exemplo, o país atingiu o volume de importação de óleo diesel previsto para dezembro.

De acordo com a própria Petrobras, se não forem construídas as quatro novas unidades de refino constantes do PAC, a estatal seria obrigada a importar, em 2020, 40% dos derivados de petróleo consumidos no Brasil. No caso do diesel, sem as novas refinarias, seria preciso importar, também em 2020, cerca de 1 milhão de barris por dia, frente à importação atual de cerca de 160 mil barris diários, segundo nota da estatal divulgada no dia 28 em seu blog.

China diz ter baixo custo e tecnologia

O consumo de derivados de petróleo no Brasil tem crescido em um ritmo que surpreende a própria estatal. Em março, a estimativa da Petrobras era que, ao fim de 2012, as importações de gasolina chegariam a 80 mil barris diários, o que significa um aumento de um terço em relação ao ano passado e recorde de importação do combustível. Mas o país já atingiu esse nível de compras do exterior até abril.

Depois de anunciado o novo Plano de Negócios até 2016, só Abreu e Lima tem prazo para entrar em operação, em novembro de 2014. Ainda assim, essa data implica atraso de três anos, e o valor final da refinaria está oito vezes acima do inicialmente previsto. Pelo plano da Petrobras, as refinarias Premium, cuja construção ainda nem começou, não ficarão prontas antes de 2017. Para o Comperj, não há prazo para o início da operação da primeira fase.

Com a entrada de estrangeiros nos negócios, seria possível retomar o cronograma de conclusão das obras previsto no PAC ou até antecipá-lo, segundo fontes, com eventual aceleração de desembolsos pelos sócios.

O governo entende que, mantida a participação mínima de 51% da Petrobras nas refinarias, seria preservado o caráter nacional e a estratégia brasileira para o beneficiamento do petróleo do pré-sal. Este é o caso da refinaria Abreu e Lima, que tem a PDVSA como sócia.

A parceria com estrangeiros reduziria as despesas da estatal em um setor que não é tão lucrativo quanto a exploração e produção de óleo bruto. Isso tornaria os investimentos mais realistas, como defendeu na semana passada a presidente da estatal, Maria das Graças Foster.

Charles Tang, presidente da Câmara Brasil-China (CCIBC), afirma que a China tem capacidade para produzir refinarias com tecnologia de ponta e a custos bastante competitivos. Isso, argumentou, credenciaria o país a participar dos empreendimentos.

– Além disso, a China dispõe de verba para financiar essas refinarias. Seria natural que uma empresa como a Sinopec fosse convidada a conversar – afirmou Tang.


Balança comercial tem pior semestre em dez anos

O Estado de S. Paulo

A balança comercial brasileira registrou o menor superávit dos últimos dez anos para meses de junho e para primeiros semestres. O resultado acendeu a luz amarela no governo que já estuda novas medidas para ajudar os exportadores. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) também pode reduzir a meta de exportação do ano, que é de US$ 264 bilhões.

O superávit em junho foi de apenas US$ 807 milhões. De janeiro a junho, o saldo acumulado foi positivo em US$ 7,07 bilhões, uma queda de 45,4% em relação ao mesmo período de 2011. As vendas externas somaram US$ 117,2 bilhões, queda de 0,9% frente aos seis primeiros meses do ano passado. As importações ficaram em US$ 110,1 bilhões, alta de 4,6% e recorde para o período.

“É um ano difícil para o comércio mundial. Havia uma expectativa de que houvesse uma recuperação que não houve”, disse a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. O governo atribuiu o resultado à crise global, que provocou retração da demanda e queda no preço internacional de algumas commodities. “Temos um refluxo da crise cada vez mais forte. Esse é um problema que terá de ser enfrentado no segundo semestre”, disse o secretário executivo do MDIC, Alessandro Teixeira.

Greve. A greve dos auditores fiscais da Receita Federal ajudou na piora dos números em junho. Muitos exportadores estão com dificuldades para embarcar as mercadorias. Em outros casos, o produto é exportado, mas o registro da operação não é feito. Teixeira disse que os números de junho poderiam estar melhores se não fosse pela greve, mas o fato não altera a tendência prevista para o comércio mundial.

“Nós temos uma crise e a nossa expectativa era que melhorasse no segundo semestre, mas, se continuar dessa forma, não vai melhorar”, sentenciou. Ele acrescentou que o comportamento da balança em julho será essencial para definir a manutenção ou não da meta de exportação em 2012. “A situação em junho nos acende a luz amarela. Não dá para dizer com certeza que vai mudar a meta. Precisamos ver o mês de julho.”

Medidas. Teixeira disse que a principal queixa dos exportadores na atual conjuntura é acesso a mercado, em função da baixa demanda global. Ele antecipou que o governo está trabalhando em medidas para ajudar as empresas, mas disse que não poderia antecipá-las porque estão em fase “muito preliminar”.

Para o secretário, é preciso “avançar” na política industrial e continuar adotando instrumentos para defender a indústria da concorrência “espúria” dos importados. Ele lembrou que os países do Mercosul preparam a elevação do Imposto de Importação para 200 produtos. Mas rejeitou que a medida seja protecionista. “Não se pode confundir defesa com proteção.”

As exportações tiveram queda em todas as categorias e para todos os mercados em junho.


Transparência: Estatais se recusam a divulgar salários

Correio Braziliense

As estatais consideradas estratégicas pelo governo e que competem nos mercados financeiro e de energia decidiram não publicar os salários de seus diretores e funcionários na internet. Como a regulamentação da Lei de Acesso à Informação obriga apenas as empresas públicas que não atuam sob concorrência a divulgarem as remunerações de servidores, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras e Eletrobras adotaram a brecha e optaram por não publicar os dados. Nada referente a salários, auxílios, ajudas de custo e jetons será divulgado na internet, ao contrário do que já faz o Executivo com os contracheques individuais de 569 mil pessoas no Portal da Transparência.

Um universo de mais de R$ 34 bilhões e, pelo menos, 260 mil funcionários não estarão dentro das regras de transparência adotadas pela maior parte do funcionalismo. Economistas criticam o que chamam de “caixa-preta” do orçamento público, mas há também quem defenda a não publicação dos contracheques. As empresas com participação de 100% das ações nas mãos da União — ou perto disso —, como os Correios e a Infraero, prometem divulgar a relação dos seus trabalhadores com os respectivos salários até o fim deste mês.

Inicialmente, a Lei de Acesso à Informação, de novembro de 2011, determinava que as empresas públicas teriam de garantir o acesso a informações de interesse particular ou coletivo. Porém, o decreto de regulamentação da exigência, publicado em maio deste ano, trouxe a novidade de que a divulgação de informações dessas empresas, em regime de concorrência, estará submetida às normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), “a fim de assegurar sua competitividade, governança corporativa e, quando houver, os interesses de acionistas minoritários”. Além disso, as estatais ainda ganharam outro reforço técnico. Portaria publicada pelo Ministério do Planejamento garantiu que as empresas públicas que atuam em regime de concorrência, de fato, não são obrigadas a disponibilizar as informações.

Para o economista Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas, as estatais são um capítulo à parte na Lei de Acesso à Informação. “É uma batalha. Elas não estão acostumadas com transparência. Sempre foram no Brasil essa enorme caixa-preta e estão resistindo à lei e saindo de fininho”, afirma. O economista diz que o fato de atuarem no mercado competitivo não pode ser usado como justificativa, pois as informações, segundo ele, não têm nada a ver com caráter competitivo. “O governo tem a maior parte do capital dessas empresas. As informações são banais. As estatais se escondem atrás dessa bandeira da competitividade”, acredita.

Recursos públicos

A opinião é compartilhada pelo economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília. Segundo ele, os valores pagos pelas empresas a seus funcionários “passam pelos cofres públicos”. “A maioria do capital não é do Estado, do conjunto dos cidadãos? Então por que BNDES e Petrobras, por exemplo, que se mantêm à custa de recursos públicos, não podem divulgar? Se é para valer, todo mundo tem que colocar sua cara a tapa”, afirma.

Mas há quem defenda a não publicação dos salários na internet. O ex-superintendente da área de relações com empresas da CVM Fábio Fonseca garante que a divulgação do salário de uma empresa de capital aberto não muda a decisão de um investidor na hora de aplicar o seu dinheiro. “Isso não agrega nada ao mercado. A informação de mercado de companhia aberta é a que leva o investidor a investir, a vender ou a fazer nenhum dos dois. As empresas privadas também não fazem isso. O dado de que um engenheiro da Petrobras ganha R$ 25 mil trabalhando numa refinaria não agrega nada”, diz. Ele lembra que os gastos dos conselhos das estatais são publicados anualmente e que, com eles, é possível saber quanto cada conselheiro ganha.

Quantidade de empregados:

Prometem divulgar:

Correios — 121 mil

Infraero — 14 mil

Não vão divulgar:

Banco do Brasil — 119 mil

Caixa Econômica Federal — 88 mil

Petrobras — 59 mil

Eletrobras — 1,4 mil