Governo promete ‘choque de investimento’, mas alta é de só 2%

Mesmo com a ordem de dar um “choque de investimentos” e com cobranças duras da presidente Dilma Rousseff, os ministérios encerraram o primeiro semestre deste ano sem conseguir acelerar os empreendimentos sob sua responsabilidade. A execução dos projetos consumiu R$ 18,9 bilhões, valor apenas 2,2% maior do que o registrado em igual período de 2011 e 13,7% abaixo de 2010. Os dados foram levantados pela organização não governamental Contas Abertas.

“A crise nos investimentos públicos tem endereço: Esplanada dos Ministérios, bloco R”, disse o secretário-geral da entidade, Gil Castello Branco. O bloco citado é onde funciona o Ministério dos Transportes, que concentra uma queda de R$ 2,5 bilhões nos investimentos. O mau desempenho anula os aumentos ocorridos em outras áreas, como Saúde e Educação.

Na segunda-feira, o Estado publicou reportagem mostrando que a área de transportes do governo ainda não se recuperou da “faxina” realizada um ano atrás, com a demissão da cúpula da pasta.

O diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, afirmou haver herdado “15 bilhões de problemas”, referindo-se à carteira de contratos do órgão, de R$ 15 bilhões, onde há obras que passaram por até sete revisões de contrato.

E avisou: não são coisas que se resolvem facilmente.

O presidente da Valec, José Eduardo Saboia Castello Branco, tenta anular na Justiça a compra de trilhos ferroviários com sobrepreço de 30% a 40% e negocia com o Tribunal de Contas da União (TCU) uma solução para o fato de a estatal haver contratado, no passado, a construção de 12 fábricas de dormentes quando em tese seria necessário apenas uma, o que traz um prejuízo potencial da ordem de R$ 200 milhões.

De acordo com o levantamento da Contas Abertas, os investimentos da Valec estão, este ano, R$ 167 milhões inferiores aos de igual período de 2011. No Dnit, a queda registrada é de R$ 2,1 bilhões. Dessa forma, o Transportes lidera a queda dos investimentos neste ano, mas o desempenho é ruim também em outras áreas. O Ministério da Integração Nacional, responsável pela integração de bacias no São Francisco, registra queda de R$ 173 milhões nos investimentos. Nas Cidades, a retração é de R$ 128 milhões.

Eleições. É possível ver uma reação nos investimentos do governo em junho, em comparação com os demais meses de 2012. Os empenhos, que correspondem à reserva de uma verba para pagar determinado contrato e constituem a primeira etapa do gasto público, atingiram R$ 7 bilhões, ante R$ 2,3 bilhões do mês anterior. O número sugere que a realização de investimentos vai aumentar nos próximos meses.

Mais do que pelo efeito da ordem de Dilma de dar um “choque” na máquina pública, esse desempenho é explicado pela legislação eleitoral, segundo avaliou Gil Castello Branco.

A regra é que gastos novos só se iniciem até três meses antes do pleito, de forma que o prazo fatal é julho.

Os dados da Contas Abertas são diferentes dos que serão divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional no final deste mês.

O governo inclui os gastos do programa Minha Casa Minha Vida nos investimentos, embora no orçamento federal eles estejam classificados como custeio. A manobra contábil permite ao governo dizer que os investimentos estão em alta este ano, quando na verdade o desempenho é modesto.

No mês passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou os analistas que condenam a inclusão do programa habitacional na conta dos investimentos. “Mas não somos nós que estamos excluindo o Minha Casa Minha Vida do cálculo”, disse Castello Branco. “Usamos a classificação que o próprio governo usa no orçamento, ou seja, o Ministério da Fazenda é que precisa se entender com o Planejamento.”


Indústria quer ampliação de prazo para pagar impostos

O Estado de S. Paulo

A indústria brasileira apresentou ontem aos governos federal e estadual proposta para alongar em 60 dias o prazo de pagamento de alguns impostos, como PIS, Cofins, IPI e ICMS. Segundo estudo da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a medida daria alívio de R$ 139,5 bilhões aos cofres das empresas em forma de capital de giro.

“Hoje o setor produtivo financia em 49 dias os impostos. Ou seja, as empresas pagam os tributos e, em média, recebem do cliente depois desse tempo. Isso é um absurdo”, afirmou ontem o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em evento que contou com a presença do ministro da Fazenda Guido Mantega, do secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Andrea Calabi, e de cerca de 400 empresários.

Hoje, de acordo com dados da Fiesp, as empresas têm um custo financeiro de R$ 7,5 bilhões por causa do descasamento das receitas e do pagamento de impostos. “Para pagar os tributos, muitos precisam de financiamento bancário, que tem juros elevados”, completa o coordenador do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, responsável pelo trabalho “Necessidade de Capital de Giro para Recolhimento de Tributos e seu Custo Financeiro”.

Na avaliação dele, se o problema não for resolvido, a inadimplência da pessoa física vai bater também na indústria, que vive momento de dificuldades, com produção em queda. A proposta da Fiesp prevê um alongamento gradual dos prazos de pagamento dos impostos para não impactar os cofres dos governos. A cada mês haveria o prolongamento de cinco dias no pagamento. Assim, ao final de um ano, as empresas teriam um prazo de 60 dias para pagar os principais impostos.

De acordo com a Fiesp, a medida seria mais simples comparado ao projeto de reforma do sistema tributária. “Prazos mais curtos eram justificáveis e praticados no período de hiperinflação nas décadas de 80 e 90. Hoje não há motivos para a manutenção desses prazos”, destaca o estudo. Para Roriz, a mudança beneficiaria especialmente as micro e pequenas empresas.

Supondo que os R$ 7,5 bilhões de custo financeiro fossem convertidos em projetos de expansão ou melhorias da produção, haveria um incremento de 0,2% na taxa de investimento na economia, hoje em 19,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O estudo com a proposta foi entregue ontem ao ministro Mantega. No caso do governo estadual, a indústria iniciou reuniões para discutir o assunto na semana passada.


Informalidade cai pelo oitavo ano seguido

O Globo

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e o Instituto Brasileiro da Ética Concorrencial (ETCO) informaram ontem que a economia informal brasileira encolheu pelo oitavo ano seguido. Segundo o Índice de Economia Subterrânea (IES), a informalidade em 2011 representou 16,8% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). O IES está quase um ponto percentual do PIB inferior a 2010 (17,7%) e quatro pontos abaixo de 2003 (21,0%).

Em valores absolutos, a informalidade gerou R$ 695,7 bilhões. O valor é inferior ao registrado em 2010 que, em termos corrigidos, chega a R$ 715,2 bilhões, o que comprova que a redução da informalidade foi mais intensa que o crescimento da economia como um todo, justificando a queda mais forte em relação à participação no PIB da economia subterrânea desde o início da pesquisa.

Aumento do acesso a crédito reduziu emprego informal

Para o economista Fernando de Holanda Filho, professor do Ibre/FGV e responsável pela pesquisa, essa forte redução da informalidade é decorrente, principalmente, do aumento do crédito na economia brasileira. Para ter acesso ao sistema financeiro, tanto empregados quanto empresários buscam a formalização:

– Antes, o crédito era muito menos relevante no país, agora ter acesso ao sistema financeiro é uma vantagem direta que leva à formalização – afirmou o economista, lembrando que programas governamentais, como o Microempreendedor Individual e o Supersimples, também contribuem para isso.

Ele afirmou, porém, que o IES pode estar próximo de seu piso institucional. Um dos indicadores disso é a fraca expansão dos empregos formais neste ano, que indicam um saturamento. Pesam ainda as incertezas econômicas, com a expectativa de uma fraca expansão da economia, uma vez que é mais fácil absorver os custos elevados da formalização em um ambiente mais próspero.

Segundo Holanda Filho, é muito difícil fazer uma comparação internacional de informalidade, pois estudos de países avançados afirmam que a economia subterrânea no Brasil varia entre 30% e 40%, enquanto em países avançados, como Estados Unidos e Europa, estão próximos a 10%.

– Mas há muito pouco conhecimento da estrutura econômica da América Latina. No Brasil, por exemplo, parte da economia informal acaba sendo detectada pela formalidade, quando trabalhadores sem carteira de trabalho, por exemplo, compram em supermercados – exemplificou.

Ele acredita, no entanto, que o que é mais efetivo para a formalização é o crescimento econômico com benefícios sociais e desburocratização. E não crê no poder da fiscalização para reduzir a informalidade.

– A informalidade não é uma doença, é apenas um sintoma de uma doença. Se os governos apertarem a fiscalização não vai haver, para grande parte da população, uma formalização, mas sim uma redução de emprego, de produção. Para uma parcela desta economia subterrânea, a informalidade é a única opção em um ambiente de elevada carga tributária, excesso de regulamentação e burocracia – disse.


Mantega defende câmbio desvalorizado e dólar sobe pelo segundo dia seguido

O Estado de S. Paulo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou ontem a mensagem do governo de que vai intervir no mercado para evitar que o dólar caia abaixo de R$ 2. Na terça-feira, o diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, deu entrevista à “Agência Estado”, anunciando que o BC estava pronto a intervir no mercado. Mendes acenou que R$ 2 seria o piso para a cotação do dólar para evitar que os produtos brasileiros fiquem mais caros no mercado internacional e a indústria perca competitividade.

Ao comentar a entrevista, Mantega disse ontem que o governo adotou nos últimos meses medidas para desvalorizar o real em 20%. “Fazemos a política correta, estamos com o câmbio com uma posição que valorize a economia brasileira”, disse.

A reação do mercado foi imediata. Pelo segundo dia seguido, o dólar fechou em alta, desta vez com valorização de 0,79% no mercado à vista, cotado a R$ 2,0310. É o maior nível desde 28 de junho.

Spread

O ministro adotou novamente a postura de colocar contra a parede os banqueiros, cobrando o aumento do crédito e a redução dos spreads bancários (diferença entre as taxas de juros pagas pelos bancos na captação de recursos e a cobrada dos clientes nas operações de empréstimos).

Mantega também não poupou de cobranças os industriais. “É preciso que o setor empresarial desperte seu espírito animal e faça os investimentos, pois quem sai na frente tem vantagens”, disse. “É preciso que haja mais crédito dos bancos, com o spread caindo”, completou, durante o Seminário Econômico Fiesp-Lide, em São Paulo.

No evento, Mantega rebateu críticas feitas pelo presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, que representava os banqueiros, e do presidente da Nestlé, Ivan Zurita, um dos porta-vozes do setor produtivo. Setubal atribuiu a redução do crédito ao aumento da inadimplência e à falta de um mecanismo de recuperação de perdas. Ele disse que só o Itaú Unibanco terá de arcar com uma perda de R$ 18 bilhões por conta de calotes neste ano.

O ministro, por sua vez, disse reconhecer o aumento da inadimplência, mas lembrou que é da natureza dos bancos serem pro-cíclicos (aumentarem o crédito em momentos de prosperidade) quando deveriam ser anticíclicos.

“Não é sair dando crédito adoidado, mas se reduzir o spread a inadimplência vai cair. Quero dizer, doutor Setubal, que o spread bancário no Brasil é muito alto”, cutucou Mantega.

Após o presidente da Nestlé criticar a alta carga tributária e citar que 50% do preço de uma garrafa de água é resultante de tributos, Mantega disse que o setor de alimentos é o mais desonerado de todos, e que o governo se preocupa com o impacto da área na inflação. Em seguida, alfinetou Zurita: “A Nestlé tem no Brasil o segundo maior mercado mundial e significa que deve ter crescido lucrando bastante”.

Logo na abertura do evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, cobrou de Mantega que o governo amplie, “em mais 60 dias”, o prazo de recolhimento de impostos para “dar fôlego”, no curto prazo, ao setor produtivo no momento de crise e de recuo no crédito. Para Mantega, uma coisa é propor uma agenda estratégica num cenário sem crise e a outra é propô-la em momentos de crise.

O ministro lembrou que a crise europeia começou diferente da crise de 2008 nos Estados Unidos, mas que seus efeitos deletérios sobre a economia estão ficando parecidos.


Paraguai retira seu embaixador de Caracas

O Globo

Em mais um desdobramento da crise regional aberta pela destituição de Fernando Lugo, o Paraguai anunciou ontem a retirada de seu embaixador de Caracas e declarou persona non grata o representante venezuelano em Assunção – que, por sua vez, já regressara à Venezuela na semana passada. A decisão, segundo o governo do sucessor de Lugo, Federico Franco, é uma retaliação à suposta ingerência de emissários de Hugo Chávez durante o processo de impeachment .

Franco argumenta que o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, e o embaixador equatoriano, Julio Prado, mantiveram reuniões na tentativa de convencer a alta cúpula militar paraguaia a apoiar Lugo caso ele fosse deposto pelo Congresso. Anteontem, a ministra da Defesa, María Liz García, chegou a divulgar para a imprensa vídeos que comprovariam a existência dos encontros, já negados tanto pelo Equador quanto pela Venezuela.

“Diante das graves evidências de intervenção por parte de funcionários da Venezuela em assuntos internos do Paraguai, o governo paraguaio retira seu embaixador em Caracas e declara persona non grata o embaixador da Venezuela no Paraguai, que, como não se encontra no país, torna-se desnecessário fixar um prazo para sua saída”, diz a chancelaria em comunicado.

Para Lugo, vídeo mostrado como prova é montagem

A retirada do embaixador José F. Javier Arrúe de Pablo foi anunciada pelo próprio Chávez dois dias após o julgamento político, um processo classificado por ele como um golpe de Estado. Já o embaixador paraguaio, Augusto Ocampos Caballero, deverá deixar Caracas imediatamente, segundo a nota.

Naqueles dois dias, Maduro esteve em Assunção em companhia de outros chanceleres da região – inclusive o brasileiro Antonio Patriota -, que abandonaram às pressas a reunião da Rio+20 para tentar achar uma saída para a crise paraguaia. Única evidência do governo Franco sobre o suposto encontro com os militares, as imagens, feitas pelo circuito interno do palácio de governo, foram apresentadas editadas e sem áudio.

Em uma sequência, elas mostram o chanceler venezuelano, o embaixador equatoriano e outros ministros da Unasul. Em outra, líderes das Forças Armadas paraguaias. Em nenhum momento, no entanto, os políticos e os militares aparecem na mesma cena.

Ontem, Lugo qualificou as imagens como uma “montagem tosca”. Segundo ele, o vídeo tenta envolver diplomatas estrangeiros em manobras que nunca aconteceram com o objetivo de desviar a atenção do “golpe parlamentar”.

“Qualquer diplomata que visitar agora o palácio de governo do Paraguai poderá ser alvo de uma exposição desnecessária, mediante a difusão de imagens de suas câmeras de segurança, com um corte cego de tomadas que não demonstram absolutamente nada”, disse o ex-presidente em comunicado.

Além da questão diplomática, Venezuela e Paraguai também enfrentam um imbróglio no campo econômico. Quando comunicou a retirada de seu embaixador de Assunção, Chávez anunciou também que deixaria de exportar diesel para o país. Depois, já admitido como novo membro do Mercosul, o governo venezuelano disse que voltaria atrás.

Ontem, no entanto, a estatal Petropar anunciou a abertura de uma licitação internacional para suprir a falta do diesel venezuelano – que corresponde a 30% do consumo nacional. Na véspera, porém, o próprio presidente da companhia, Sergio Escobar, havia dito que a Venezuela assegurara que não concretizaria a ameaça.

No Uruguai, o presidente José Mujica assumiu ontem toda a responsabilidade pelo apoio dado à entrada da Venezuela no Mercosul, após ser questionado nos últimos dias pela oposição, pelo chanceler Luis Almagro e, de forma mais veemente, por seu vice Danilo Astori.

Em entrevista ao jornal local “La República”, Mujica confirmou que a reunião que selou a adesão do país de Chávez, durante a cúpula do bloco em Mendoza, foi liderada pela presidente Dilma Rousseff, mas negou ter havido falta de consenso.

Muijca: Uruguai não podia vetar Caracas no Mercosul

A adesão venezuelana ganhou contornos de crise interna para o Uruguai quando, na segunda-feira, Almagro disse que a decisão em Mendoza não foi unânime, só foi tomada por pressão direta de Dilma – apoiada pela Argentina – e ainda não era definitiva. Elevando o tom do debate, Astori classificou anteontem a incorporação como a mais grave “ferida institucional” na História do Mercosul.

– O (cálculo) político superava largamente o jurídico – afirmou Muijca. – A Venezuela é mais que um governo, é uma nação irmã exportadora de energia e compradora de energia. O Uruguai não podia vetar. Foi o Parlamento uruguaio que decidiu aprovar sua incorporação.

A entrada plena da Venezuela só se tornou possível graças à suspensão do Paraguai, retaliado pelo impeachment de Lugo. Seu Congresso era o único entre os dos quatro países-membros do Mercosul que ainda não havia dado o aval à ampliação do bloco.


França taxa ricos e grandes empresas em 7,2 bi

O Globo

O governo de François Hollande anunciou ontem, como parte de seus esforços para equilibrar as contas da França, uma série de aumentos de impostos, no total de 7,2 bilhões, mirando nos ricos e nas grandes empresas. A emenda ao Orçamento de 2012 deve ser facilmente aprovada ainda este mês pelo Congresso, onde os socialistas são maioria.

Este ano será cobrado um tributo único sobre famílias com renda líquida anual superior a 1,3 milhão, eliminando um benefício concedido por Nicolas Sarkozy. Essa taxa deve arrecadar de 2,3 bilhões e afetar 300 mil pessoas, calcula o governo. Também haverá uma taxa extraordinária de 1,1 bilhão sobre grandes bancos e empresas de energia detentoras de ações de petróleo.

Hollande, que assumiu em maio, diz que os ricos devem pagar sua parcela enquanto a França luta para levar seu déficit público dos 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) registrados em 2011 para 4,5% este ano e 3% em 2013, apesar da estagnação da economia.

– Estamos em uma situação econômica extremamente difícil – afirmou o ministro de Finanças, Pierre Moscovici. – Em 2012 e 2013, os esforços serão especialmente grandes. As famílias mais ricas e as empresas terão de colaborar.

O governo prometeu que, depois desse esforço extraordinário, vai se concentrar na redução de gastos. A oposição conservadora criticou as medidas e disse que elas não afetarão apenas os ricos: a classe média será prejudicada. Já o Medef, que reúne as grandes empresas do país, criticou a nova taxa de 3% sobre a distribuição de dividendos, afirmando que esta vai reduzir as já estreitas margens de lucro.

A Espanha também deve anunciar em breve mais altas de impostos e corte de gastos. Segundo fontes, o pacote chegaria a 30 bilhões. As medidas incluiriam uma nova taxa sobre a energia, reforma na aposentadoria e cortes de salários e funcionários públicos. Alguns pontos podem ser anunciados na semana que vem.

A Corte Nacional de Madri abriu um processo o Bankia e seu ex-diretor-executivo Rodrigo Rato, que já comandou o Fundo Monetário Internacional (FMI). As acusações, que abrangem ainda outros 32 executivos do banco nacionalizado, incluem dolo, contabilidade falsa e administração fraudulenta.

A zona do euro pode entrar em recessão técnica, com retração no segundo e terceiro trimestres, tendo uma ligeira recuperação no fim do ano. Essa é a avaliação divulgada ontem por três institutos de pesquisa: o francês Insee, o alemão IFO e o italiano Istat. Eles estimam que o PIB da região caia 0,2% no segundo trimestre e 0,1% no terceiro, com leve recuperação de 0,1% nos últimos três meses.


Dilma prepara leilões de estradas e aeroportos

Valor Econômico

A presidente Dilma Rousseff avalia entregar novo lote de estradas federais para a administração do setor privado. Ela recebeu estudos para fazer nova rodada de concessões rodoviárias, que inclui pelo menos quatro trechos considerados estratégicos na malha brasileira: BR-101 (na Bahia), BR-163 (entre Cuiabá e Campo Grande), BR-153 (entre Goiânia e Palmas) e BR-262 (Belo Horizonte-Vitória).

Ao reassumir nesta semana o acompanhamento direto e pessoal das obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a presidente exigiu mudanças nas regras para liberar um novo leilão dos aeroportos, com as concessões do Galeão (RJ) e de Confins (MG). Ela só quer operadoras de grande porte à frente desses terminais e cogita a possibilidade de restringir a licitação às construtoras, deixando a operação para um contrato posterior de prestação de serviços. O objetivo de Dilma é destravar todos os obstáculos à realização de novas licitações, no segundo semestre, para impulsionar os investimentos a partir de 2013.

No setor rodoviário, até agora, a única concessão feita pelo governo Dilma foi o trecho da BR-101 no Espírito Santo. A licitação foi vencida pela Ecorodovias e o contrato deve ser assinado em julho. Outros dois lotes compõem o que o governo chama de terceira etapa de concessões rodoviárias: a BR-116 em Minas Gerais e a BR-040 (Brasília-Juiz de Fora). A presidente cobrou agilidade na publicação dos editais, previstos para setembro e novembro, respectivamente. Os estudos já foram encaminhados para o Tribunal de Contas da União (TCU).

Agora, Dilma iniciou discussões com os ministérios dos Transportes e do Planejamento sobre a quarta etapa de concessões. Desde segunda-feira, após duas semanas em que esteve à frente de assuntos como Rio+20 e Mercosul, a presidente reassumiu o papel de “mãe” do PAC. Chamou vários ministros da área de infraestrutura para despachar, criticou vários estudos apresentados a ela e cobrou mais agilidade no avanço de projetos.

Na avaliação do Palácio do Planalto, o ano de 2012 “está dado”, mas tudo o que se fizer agora terá reflexos na taxa de crescimento da economia em 2013. Dilma vê a necessidade de maiores investimentos em infraestrutura, incluindo a participação do setor privado com novas concessões, para sustentar um ritmo de expansão em torno de 4% – que o governo espera alcançar a partir do quarto trimestre – em 2013.

Nos investimentos públicos, o objetivo é acelerar a execução orçamentária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec. No Dnit, os valores pagos até 22 de junho (incluindo restos a pagar) atingiram R$ 3,4 bilhões e estão 42% abaixo do mesmo período do ano passado. Na Valec, a queda dos investimentos chega a 52,5%, na comparação com 2011.

Além das rodovias, Dilma pretende acelerar as concessões de aeroportos. “O governo não tem nenhuma problema ideológico com isso”, ressalta um auxiliar da presidente. Havia grande expectativa sobre um eventual anúncio das privatizações do Galeão e de Confins, três semanas atrás, na assinatura dos contratos dos aeroportos leiloados em fevereiro. Isso só não ocorreu porque Dilma ainda não aprovou as novas regras propostas pela Secretaria de Aviação Civil.

A presidente não ficou satisfeita com os resultados do primeiro leilão, com a presença de operadoras como a francesa Egis, no consórcio vitorioso em Viracopos (SP), e a argentina Corporación América, no de Brasília.

Na visão de Dilma e de seus auxiliares mais próximos, pelo menos duas mudanças podem blindar as próximas concessões de aeroportos de terminar com o mesmo resultado. Uma delas é aumentar o nível de exigência das operadoras habilitadas para entrar no leilão.

Em fevereiro, elas precisaram demonstrar experiência internacional na movimentação de aeroportos com 5 milhões de passageiros por ano, no mínimo. A Egis, por exemplo, passou raspando: o aeroporto gerido por ela em Larnaka, no Chipre, movimentava 5,5 milhões. Agora, o Palácio do Planalto avalia que esse número pode subir – e muito. Talvez até para algo em torno de 30 milhões de passageiros por ano. Isso permitiria a entrada apenas de pesos-pesados na próxima licitação.

Outra possibilidade é fazer um leilão com a presença apenas de construtoras. Na primeira rodada, elas foram obrigadas a aliar-se às operadoras estrangeiras, que entraram como sócias das futuras concessionárias dos aeroportos. Na próxima rodada, as operadoras poderão entrar depois, como prestadoras de serviços contratadas pelas construtoras. Dilma acha que as regras podem ser aperfeiçoadas e proibiu o ministro Wagner Bittencourt de se pronunciar sobre o tema.

No topo das preocupações da presidente com a agenda de infraestrutura, a situação dos portos e das ferrovias também ocupa lugar privilegiado.