BNDES usa verba do Tesouro para grandes empresas

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está utilizando a maior parte dos recursos subsidiados que recebeu do Tesouro para financiar empresas poderosas como Petrobrás e Vale. Dos R$ 240 bilhões repassados ao banco, 64% foram aplicados em projetos de grandes empresas.

A informação consta de relatório produzido trimestralmente pelo BNDES e entregue ao Congresso. Na versão mais recente, que engloba os recursos recebidos entre janeiro de 2009 e março deste ano, a lista de empresas beneficiadas pelos financiamentos inclui gigantes como Fibria (celulose), Oi (telecomunicações), Ford e Fiat (montadoras).

O dinheiro repassado pelo governo ao BNDES é subsidiado pelo contribuinte porque os juros cobrados pelo banco das empresas são menores que as taxas pagas pelo Tesouro para obter esses recursos no mercado. Levantamento feito pelo governo e enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU) estima o custo do subsídio em quase R$ 23 bilhões apenas no ano passado.

Para o professor do Insper, Sérgio Lazzarini, as grandes empresas tem acesso a outras fontes de financiamento e não vão deixar de investir sem o apoio do BNDES. Ele avalia que esse é um dos motivos pelo qual o banco estatal cresce, mas a taxa de investimento não reage. “É a lógica dos campeões nacionais. A visão de que o Estado é indutor do crescimento e o BNDES é o instrumento”, diz Felipe Salto, economista da Tendências.

Polêmica. Desde que o Tesouro iniciou os repasses ao BNDES para amenizar os efeitos da crise global, o tema gera polêmica. O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, defende que o subsídio é necessário para financiar o investimento, que é uma atividade de risco. “Não é porque grandes empresas recebem recursos, que as pequenas ficam de fora”, diz. Com os repasses do Tesouro, o BNDES apoiou 666.561 projetos -62% desse total provenientes de pequenas e médias empresas.

Para Júlio Sérgio de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), as pequenas e médias empresas se retraem na crise e cabe as grandes sustentar o investimento. “As grandes empresas investem e aumentam a demanda por produtos das pequenas e médias.”

Em nota enviada ao Estado, o BNDES afirma que o comportamento dos desembolsos de recursos provenientes do Tesouro é similar aos dados gerais do banco. Nos desembolsos totais, as grandes empresas também representam 64%. O BNDES sustenta ainda que a participação das micro, pequenas e médias (36%) atingiu a maior proporção relativa da história.

A indústria da transformação recebeu a maioria dos recursos do Tesouro (40,2%), seguida pela infraestrutura (37,2%). A concentração geográfica é grande, com 66,2% dos recursos para Sul e Sudeste.


Governo prepara cortes em incentivos para importação

Valor Econômico

O governo federal está mais rigoroso na inclusão de novos produtos na lista dos ex-tarifários e revisando benefícios já concedidos. A ideia é que pelo menos quatro setores, cujo desenvolvimento de produção nacional foi considerado prioritário pelo Executivo, deixem de ser atendidos com a redução para 2% do Imposto de Importação (II) na compra de produtos não fabricados no país.

Por enquanto, a previsão é de que sejam retirados da lista os reatores para refinaria de petróleo, turbinas para geração de energia, locomotivas de alta potência e linhas de produção da indústria automobilística. No caso dos reatores para refinaria de petróleo, o benefício não será renovado. Os outros, no entanto, deverão ser excluídos gradualmente, conforme o desenvolvimento de produção nacional.

“Não estamos falando de protecionismo, de fechar nossa economia, de barrar as importações. Estamos falando de dar uma condição isonômica, ou de não favorecer um produto importado, quando ele existe no Brasil”, afirmou ao Valor a secretária de Desenvolvimento de Produção do Ministério do Desenvolvimento, Heloísa Menezes.

O regime de ex-tarifário é um mecanismo de estímulo aos investimentos produtivos no país por meio da redução temporária do Imposto de Importação de bens de capital, informática e telecomunicação que não são produzidos no Brasil. Nesse caso, a alíquota de importação é de 2% e com prazo de validade de até dois anos.

No primeiro semestre, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) incluiu 1.248 máquinas e equipamentos importados na lista dos ex-tarifários, o que deve alavancar investimentos de mais de US$ 15 bilhões na indústria, segundo previsão feita pelas empresas. No mesmo período de 2011, foram atendidos 1.263 pedidos da indústria, sendo que a estimativa de investimentos era de US$ 13,95 bilhões.

No ano passado, as importações de máquinas e equipamentos no regime de ex-tarifário somaram US$ 5,6 bilhões, viabilizando investimentos da ordem de US$ 41 bilhões. Em 2010, essas compras totalizaram US$ 4,1 bilhões, alavancando aplicações de US$ 27,1 bilhões da indústria.

A secretária de Desenvolvimento de Produção disse que neste ano foram feitas algumas mudanças na forma de avaliar os pedidos da indústria para importar, com redução tarifária, máquinas e equipamentos que não sejam fabricados no Brasil. Uma das alterações foi a inclusão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na análise do pedido.

Na avaliação de empresários, a demora na análise dos ex-tarifários, assim como a operação Maré Vermelha da Receita Federal e uso de licenças não automáticas, teria como objetivo indireto travar a entrada de produtos estrangeiros no país.

A secretária admitiu que o governo está preocupado com o comportamento das importações, mas essa não é a justificativa para o aumento no período de análise dos pedidos. No primeiro semestre, o saldo comercial teve uma redução de 45,4%, reflexo de uma queda das exportações e aumento das importações em relação ao mesmo período do ano passado.

Com a inclusão 569 itens na lista de ex-tarifários na semana passada, o ritmo de concessões está semelhante ao do mesmo período de 2011. “Toda mudança requer um período de ajuste. Com a entrada do BNDES foi incorporada nova fonte de análise. Isso afetou, num primeiro momento, o processo e o tempo de avaliação. Mas agora já houve ajuste nos prazos. Há dois meses estávamos com estoque elevado”, afirmou. “Estamos sendo cuidadosos na avaliação da existência ou não de produção no Brasil”, disse Heloísa.

Ela destacou que não está sendo mais liberada a redução de tributos para a compra de sistemas integrados. “Aqui tem mais rigor. Não concedemos mais ex-tarifários para sistema integrado para permitir uma avaliação mais justa para o produtor nacional”, disse.


Petrobras põe refinarias à venda nos EUA e no Japão

Valor Econômico

A Petrobras ainda não definiu o critério de venda dos blocos de exploração e produção nos Estados Unidos. Várias áreas da companhia estão trabalhando no assunto. Está sendo preparada uma lista dos blocos exploratórios em fase de desenvolvimento e já em produção naquele país. Também não foram definidas as empresas que serão convidadas a avaliar essas participações. Na sede da companhia, no Rio, o assunto ainda é tratado com sigilo.

“A lista final está em discussão, mas não deve demorar a sair”, explicou uma fonte. A ideia até agora, segundo apurou o Valor, não é sair dos Estados Unidos para simplesmente fazer caixa, mas encontrar parceiros que ajudem a financiar os projetos necessários para desenvolver a produção naquele país e, ao mesmo tempo, financiar o plano estratégico da Petrobras, que prevê investimentos de US$ 236,5 bilhões até 2016.

A princípio, os atuais sócios dos blocos nos EUA onde a estatal tem participação não seriam os melhores, já que tenderiam a querer ser operadores. A preocupação da estatal também será a de procurar parceiros com quem já tenha estabelecido um bom relacionamento.

A Petrobras prevê chegar a dezembro produzindo em torno de 21 mil barris por dia nos Estados Unidos. O maior projeto, e considerado a “menina dos olhos” da companhia no Golfo do México, é o de desenvolvimento da produção nos campos Cascade e Chinook, em águas profundas. A brasileira tem uma participação de 80%, em parceria com a francesa Total. A estatal instalou ali a primeira FPSO desconectável em operação na região. A BW Pioneer fica a uma distância de 250 km da costa da Louisiana e pode ser separada dos equipamentos submarinos para navegar e fugir dos furacões que afetam muito a produção de petróleo na região.

Além de Cascade e Chinook, a Petrobras tem participação acionária em 175 blocos de exploração naquele país, sendo que 164 desses blocos estão em águas profundas. A estatal é operadora (sócio que decide sobre o projeto e investimentos) em 126 dessas áreas. A companhia tem ainda projetos exploratórios gigantes nos Estados Unidos, entre eles Saint Malo (operado pela Chevron), Lucius, Hadrian Sul (com Exxon e Anadarko). E estão em fase de aprovação os projetos Stones (operado pela Shell) e Hadrian Norte (Exxon e Anadarko). Os campos de Tiber (BP) e Logan estão em fase de avaliação.

A área internacional tem previsão de investimentos de US$ 10,7 bilhões entre 2012 e 2016, dos quais US$ 4,7 bilhões foram reservados para projetos em estudo. Para desonerar o caixa da companhia e evitar riscos a Petrobras está buscando associações com empresas no exterior que permitam aumentar a capacidade de financiamento dos projetos.


Desemprego nos EUA ainda não exige ação do Fed

Valor Econômico

A fraqueza do mercado de trabalho americano ainda não é suficiente para disparar uma terceira rodada de “quantitative easing” (QE, na sigla em inglês, afrouxamento monetário baseado na compra de títulos públicos e privados), na avaliação de Ellen Zentner, economista sênior do Nomura Securities em Nova York.

Em junho, 80 mil vagas foram criadas no país, número praticamente estável em relação a maio (77 mil, dado revisado de 69 mil) e abaixo do consenso do mercado (100 mil), mas em linha com a projeção do Nomura. Com isso, a taxa de desemprego ficou estável em 8,2%, com um aumento da população economicamente ativa em 156 mil pessoas (para 155,16 milhões).

Interessante notar a forte desaceleração da criação de vagas entre o primeiro e o segundo trimestres. No primeiro foram 226 mil e, no segundo, 75 mil. À parte questões sazonais e climáticas que influenciaram positivamente o mercado de trabalho no primeiro trimestre, o número de vagas criadas no segundo trimestre foi insuficiente para absorver os novos entrantes, em linha com a visão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) – mais cautelosa a respeito do passo da recuperação.

Que os dados no mercado de trabalho nos EUA são ruins o suficiente para abalar ainda mais as perspectivas de crescimento do país, o mercado não duvida. A questão é saber se os números publicados na sexta-feira pelo Bureau of Labor Statistics (BLS, responsável pelas estatísticas trabalhistas nos Estados Unidos) são preocupantes o bastante para precipitar uma terceira rodada de QE na próxima reunião do Fed, no início de agosto.

“Nós com certeza vimos deterioração no mercado imobiliário, os próprios donos de residências reagiram à fraqueza da atividade e tivemos um fraco crescimento no emprego e na renda. E isso tem segurado uma recuperação mais robusta no consumo e é possível ver isso nos números de confiança do consumidor. Mas a pergunta para os mercados é: o que isso significa para o Fed?”, questiona Ellen.

Para a economista, o cenário definitivamente “inclina” o Fed em direção a mais afrouxamento, mas ainda não há certeza se isso será anunciado na próxima reunião. Em relatório a clientes, o Bank of America Merrill Lynch concorda que o Fed vai esperar mais confirmação de que a criação de vagas está desacelerando “tornando uma decisão [por QE] mais provável em setembro”. Os economistas, autores do relatório, Michelle Meyer, Joshua Dennerlein e Ethan S. Harris, afirmam que a combinação de leve criação de empregos e aumento da renda torna mais difícil justificar mais QE.

A economista do Nomura pondera que o banco central afirmou, em seu último comunicado, que agiria caso não enxergasse uma melhora sustentável no mercado de trabalho. “Certamente não temos visto essa melhora. Nós descemos um degrau na criação de empregos nos últimos três meses, mas eu não tenho certeza se isso será considerado uma deterioração pelo Fed”, avalia Ellen.

Ela não duvida, no entanto, que o Fed iniciará uma nova rodada de QE até o fim do ano, desta vez, por meio da compra de títulos hipotecários. O BofA concorda e coloca três condições necessárias para que o Fed inicie o QE3: “enfraquecimento da economia real, riscos desinflacionários e deterioração das condições financeiras”.

“Os empresários estão menos confiantes sobre as perspectivas econômicas e não somente por causa da Europa, que se tornou um problema constante. A retração da economia global levou a uma desaceleração das indústrias americanas e a um sentimento geral de cautela nos negócios. Isso se refletiu na contratação e no investimento e nós acreditamos que a contratação vai se manter anêmica, pelo menos, nós próximos meses”, analisa.


França e Alemanha unidas pró-euro

O Globo

A amizade entre as duas maiores economias da Europa é a chave para salvar o euro, defenderam ontem o presidente francês François Hollande e a chanceler alemã Angela Merkel em Reims, na França. Os dois se encontraram 50 anos após seus predecessores Charles de Gaulle e Konrad Adenauer assinarem um tratado de reconciliação para enterrar a rivalidade que causou duas guerras mundias. Na véspera do encontro dos ministros de Finanças da zona do euro, o Eurogrupo, em Bruxelas, os dois líderes deixaram de lado, ao menos por um dia, as posições divergentes no embate entre austeridade e crescimento econômico.

– A cada passo da construção europeia, a amizade franco-alemã foi a base – destacou Hollande. – Proponho que abramos uma nova porta para uma amizade ainda mais próxima.

Ontem, o ministro francês das Finanças, Pierre Moscovici, informou que uma nova reunião do Eurogrupo ocorrerá em 20 de julho, para acelerar a aplicação das decisões do grupo.

– A economia europeia e a união monetária, como fundadas 20 anos atrás, provaram ainda não serem fortes o suficiente. Nossa geração tem de tirar as lições certas disso – afirmou Merkel, em Reims.

Um dos temas que os líderes já terão de enfrentar hoje é como direcionar os 100 bilhões do socorro financeiro para bancos espanhóis sem pressionar o déficit público do país.

Segundo fontes comunitárias ouvidas pelo jornal espanhol “El País” , os ministros devem propor que todo o setor bancário tenha um capital de referência (ou core capital, em inglês) de 9% de seus ativos, com o objetivo de contrair o crédito. O Eurogrupo deve também reforçar a supervisão sobre os bancos. Segundo a agência de notícias Bloomberg News, o auxílio deve vir por meio de agência estatal espanhola.

Nesta semana, no entanto, o governo alemão destacou que não seria tomada uma decisão definitiva sobre a ajuda ao setor bancário espanhol sem relatório disponível da troika, grupo formado por Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e UE.


Premiê chinês pede medidas fortes para conter desaceleração econômica

O Estado de S. Paulo

O premiê chinês Wen Jiabao alertou ontem para a “imensa pressão descendente” sofrida pela economia da China, na mais clara expressão de preocupação vista até o momento entre o alto escalão dos líderes do país em relação ao acentuado declínio observado nos últimos meses.

Durante uma viagem de inspeção de fim de semana no centro-leste da China, o premiê atribuiu a desaceleração à fraca demanda no exterior, em especial na Europa, que vive uma severa crise. Wen pediu ao governo que “redefina e ajuste suas políticas de maneira mais agressiva”, usando ferramentas fiscais e monetárias para compensar os efeitos da desaceleração econômica e transmitir confiança à população.

Entre as recentes medidas do governo para combater a desaceleração está o corte na taxa de juros. Foram três no último mês, o último deles na sexta-feira. Analistas, porém, dizem que o corte terá pouco impacto em estimular o crescimento da segunda maior economia do mundo.

“Não acreditamos que o custo de captação seja alto para a expansão dos investimentos, mas sim que o setor privado perdeu totalmente o interesse em investir”, escreveu em nota a clientes Dong Tao, economista-chefe do Credit Suisse para a China. Em sua opinião, o país está em uma “armadilha de liquidez”, na qual injeção de recursos e redução da taxa de juros não serão suficientes para dar vigor à economia.

A economista-chefe do UBS para a China, Wang Tao, disse ao Estado que não concorda com o diagnóstico de “armadilha de liquidez”, mas coincidiu na avaliação de que a redução dos juros não deverá influenciar a atividade econômica de maneira significativa.

“As empresas não querem realizar empréstimos porque elas não acreditam que podem lucrar com a expansão de seus negócios”, observou.

A mesma avaliação é feita por Andrew Sullivan, do banco de investimentos Piper Jaffray. “As empresas não vão investir para exportar porque elas não têm para quem vender”, observou Sullivan. No mercado interno, a concorrência é grande e as margens de lucro, baixas, afirmou.

Wang acredita que a redução nos juros poderá estimular o crédito imobiliário, mas terá pouco impacto sobre a produção industrial. “Diante da fraca demanda e excesso de capacidade, as corporações devem permanecer cautelosas”, escreveu a economista.

Maior exportador do mundo, com uma fatia de 10% das vendas globais, a China sofre as consequências do tsunami que atinge a Europa, principal destino de suas vendas.

Na quinta-feira, o vice-primeiro-ministro Wang Qishan disse que o país terá dificuldades para atingir a meta de expansão de 10% do seu fluxo de comércio em 2012. No ano passado, a soma das exportações e importações chinesas foi de US$ 3,64 trilhões, alta de 22,5% em relação a 2010.

Lu Zhengwei, economista do Societé Generale, lembrou que as exportações líquidas tiveram impacto negativo de 0,8% no resultado do PIB do primeiro trimestre e continuarão a puxar os números para baixo.

Em sua avaliação, o corte dos juros anunciado vai ter impacto positivo na medida em que reduzirá o custo de financiamento das empresas. Lu espera que a economia reaja no segundo semestre, quando deverão estar em andamento projetos de infraestrutura que o governo passou a aprovar em ritmo acelerado a partir de maio.

Na opinião de Wang Tao, do UBS, o governo decidiu cortar os juros em razão de indicadores fracos sobre a economia em junho – os dados sairão esta semana – e da baixa expansão do crédito. Segundo ela, o volume de novos empréstimos em junho foi de 820 bilhões de yuans (US$ 129 bilhões), inferior à expectativa do mercado de até 1 trilhão.

Dong Tao, do Credit Suisse, aponta ainda para o fato de que o anúncio do governo em maio de que iria acelerar projetos de infraestrutura não surtiu o efeito desejado. “Dados iniciais indicam que o estímulo falhou em reanimar a economia.”.