Governo prepara corte da previsão para o PIB do ano

O governo se prepara para cortar fortemente a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano nos cálculos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento que balizam as projeções de arrecadação e ditam o ritmo de gastos federais. Atualmente, a estimativa está em otimistas 4,5%, e ela deverá ser reduzida para algo como 2,7% a 3%.

Ainda assim, será algo superior ao previsto pelo Banco Central, que trabalha com 2,5%, e pelo mercado financeiro, que aposta em 2,01%, com tendência de novas quedas. Os números usados pela Fazenda e Planejamento normalmente são mais altos que os do Banco Central porque eles têm um componente político, servem para sinalizar a intenção do governo.

O ajuste na estimativa de crescimento, considerado inevitável no meio técnico, deverá ser oficializado no próximo dia 20, quando está prevista a divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias referente ao terceiro bimestre de 2012. É com base nesses cálculos que o governo decide se libera mais dinheiro, corta mais despesas ou deixa tudo como o programado.

Com o PIB menor, a projeção de arrecadação com impostos e contribuições para 2012 também deverá encolher. O Estado publicou em sua edição de domingo que a chamada receita administrada, exatamente a composta por impostos e contribuições recolhidos pelo Fisco, já está cerca de R$ 20 bilhões abaixo do previsto, como reflexo da retração econômica.

Para evitar cortes de gastos, que afundariam ainda mais a economia, é possível que o governo recorra a outras fontes de receitas, como dividendos das empresas estatais e a chamada receita não administrada, formada por taxas específicas recolhidas por órgãos públicos, por exemplo. O próprio secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, adiantou que poderia lançar mão dessa estratégia.

“Vão tirar mais coelhos da cartola”, aposta o economista-chefe da corretora Convenção Tullett Prebon, Fernando Montero. Ele acha que isso será necessário porque não faria sentido o governo anunciar restrição a despesas poucos dias após haver anunciado um pacote que aumenta as compras dos ministérios em R$ 6,6 bilhões este ano, como forma de estimular a indústria.

Outra opção diante do cobertor curto seria reduzir a meta de superávit primário (diferença entre receitas e despesas sem considerar pagamento de juros), fixada em R$ 139,8 bilhões este ano, dos quais R$ 97 bilhões devem ser poupados pelo governo federal e R$ 42,8 bilhões por Estados e municípios. Há um grupo dentro do governo pressionando pela redução da meta primária, como forma de abrir mais espaço para ações de estímulo à economia, mas no momento a balança parece pender mais para o outro lado.

Esforço maior. A meta fiscal de R$ 139,8 bilhões representa 3,1% do PIB pelas contas do governo, que pressupõe um crescimento de 4,5%. Como as previsões de expansão do Produto estão em baixa, inclusive dentro do governo, o esforço fiscal ficará maior, quando medido como proporção do PIB.

Nas contas do economista Mansueto Almeida, o governo persegue um resultado de 3,2% do PIB e não de 3,1%, supondo que o crescimento seja de 1,5% este ano.

Montero chega a um resultado parecido. Ele calcula que, antes da mudança de cenário para o crescimento econômico, o governo tentava chegar a um primário de 3% do PIB e agora está em 3,1% do PIB. É a mesma conta feita pelo Banco Central. “Se o ano for realmente ruim, então podemos arredondar para 3,2%.”


Ministra anuncia novas concessões

O Estado de S. Paulo

O governo pretende tirar da gaveta um pacote de novas concessões na área de infraestrutura, depois de meses de discussões sobre como melhorar editais e garantir a participação de grandes empresas nas licitações. Segundo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, um grande anúncio deve ser feito no próximo mês com a lista de obras e projetos que passarão para a iniciativa privada.

Após o lançamento, é necessário cumprir uma série de trâmites burocráticos até que a licitação, de fato, seja feita. A ministra evitou dar detalhes sobre as áreas que serão atendidas e citou de forma genérica que envolvem rodovias, ferrovias, aeroportos e o setor de energia elétrica.

Contratos de licitações antigas, como na área de portos, começam a vencer este ano. O governo, porém, está mais preocupado em garantir novos investimentos, principalmente em um cenário de crise internacional. “Nossa preocupação é continuar com o processo de concessões”, disse Miriam.

Dois dos projetos que devem passar para iniciativa privada já foram antecipados ontem pelo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Segundo ele, as minutas dos editais para a concessão das rodovias BR-116 (trecho da estrada em Minas Gerais) e BR-040 (trecho que liga o Distrito Federal à fronteira de Minas com o Rio de Janeiro) devem ir para consulta pública nas próximas semanas. “Queremos fazer o leilão em novembro para assinarmos os contratos no início de 2013.”

Miriam disse que as estradas terão um papel coadjuvante no processo. “Estamos aumentando a malha ferroviária em mais de 30% e iniciando empreendimentos em hidrovias. Nosso foco é ter ampliação de poucas estradas. Estamos melhorando as estradas, não aumentando.”

Ferrovias. O objetivo principal é deslanchar as licitações de ferrovias, aeroportos e da área de energia elétrica. O resultado do leilão dos aeroportos em fevereiro desagradou à presidente Dilma Rousseff, que queria ver companhias experientes administrando Guarulhos, Campinas e Brasília. Passando por uma reformulação, o edital da segunda rodada de concessão do setor deve exigir mais dos concorrentes que quiserem disputar os aeroportos de Confins (Minas Gerais), Galeão (Rio de Janeiro) e um terceiro, que ainda não foi definido.

No caso de ferrovias, o governo estuda um novo modelo de concessão – chamado de open access (acesso aberto) – que prevê a manutenção da via por uma só empresa, mas seu uso por outros clientes. Esse formato de operação acaba com o “direito de passagem”, um problema vivido hoje pelas empresas.

Energia. O setor de energia elétrica é o mais urgente para o governo, mas a solução definitiva para a redução de custos e o futuro das concessões que vencerão a partir de 2015 esbarra em cálculos técnicos considerados insuficientes pela presidente Dilma.

O objetivo é reduzir o custo do serviço para a indústria e os consumidores. Mas por enquanto o modelo de renovação das concessões e o pacote de desoneração de tributos e encargos das contas de luz ainda não chegaram no desconto desejado.


Desemprego nos polos industriais

Valor Econômico

Em diferentes polos industriais do país, a indústria de transformação demitiu mais do que contratou entre janeiro e maio. Em Manaus, o saldo é de 4,2 mil vagas fechadas. Na região metropolitana de São Paulo, são 6,6 mil empregos a menos e em Sobral, que concentra a indústria calçadista do Ceará, 1,6 mil demissões ocorreram no período, entre outros exemplos espalhados pelo país, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No Brasil como um todo, a indústria de transformação ainda criou 117 mil empregos formais até maio, mas o saldo é bem inferior aos 236 mil novos empregos do começo do ano passado.

O desemprego industrial é pulverizado, marcado pela não reposição da rotatividade inerente ao mercado de trabalho (como aposentadorias, demissão por iniciativa do empregado e desligamento por justa causa) e pelo início de demissões em pequenas e médias empresas, especialmente, segundo informações de dirigentes dos sindicatos que concentram as demissões. Entre as cidades do ABC paulista, a indústria fechou 2,5 mil vagas em São Bernardo e Diadema entre janeiro e maio, enquanto o saldo positivo de Santo André e São Caetano é de 160 empregos.

Para Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as demissões ainda não ocorrem em grande volume porque as grandes empresas do setor, como montadoras e sistemistas, têm fôlego financeiro para administrar a situação de paralisação da produção com férias coletivas e uso do banco de horas dos funcionários.

Por enquanto, são as pequenas fornecedoras de partes e peças que mais sofrem com a retração das encomendas na cadeia automobilística. “Quando a crise se instala, essas empresas não conseguem sustentar o emprego e, em alguns casos, precisam demitir até 10% do seu quadro de funcionários”, diz Nobre. Como são de pequeno porte, as demissões podem variar de 10 a 15 funcionários por empresa.

José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, ressalta que ainda não é uma questão de desemprego em massa, mas empresas que já recorreram a férias coletivas e licença remunerada, por exemplo, estão deixando de repor parte das vagas deixadas em aberto pela rotatividade normal do setor. A indústria de transformação na cidade fechou 1,1 mil postos de trabalho entre janeiro e maio.

Pereira relata que algumas companhias instaladas em Guarulhos já procuraram o sindicato para negociar redução da jornada de trabalho e dos salários e diz que, se o setor não responder aos estímulos já concedidos pelo governo, como redução do IPI para itens da linha branca e veículos, por exemplo, as demissões podem ocorrer em escala maior a partir de agosto.

Em Manaus, onde os desligamentos superaram admissões em 4,2 mil, o problema se concentra na indústria de motos, que também vem realizando cortes. Só na Honda – maior do setor, com quase 80% do mercado – 886 funcionários deixaram a fábrica. Na Yamaha, 423 foram desligados.

As montadoras de motos já começaram a conceder as férias coletivas que estavam programadas para este mês, o que deve ajudar o setor a adequar a produção a um mercado retraído. Na Honda, a maior parte dos funcionários volta hoje, após dez dias de férias. Mas, em duas de suas cinco linhas de produção, a montadora estendeu a parada por mais uma semana.

Para Henrique Nora, presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) no Sul do Estado, as grandes empresas tentaram evitar demissões no fim de 2011, apesar da produção estagnada, mas como o ambiente que se instalou foi de crise, as indústrias começaram a demitir. Em Resende, foram fechadas 360 vagas.

Em Pernambuco, segundo Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), o forte volume de demissões nos cinco primeiros meses do ano ocorreu por fatores sazonais, já que o período entre fevereiro e maio é marcado pela entressafra da cana-de-açúcar. No Estado, foram fechadas 25 mil vagas nos cinco primeiros meses do ano, mas boa parte delas (23,9 mil) ocorreu na indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico.

Segundo Cunha, questões climáticas, como a forte seca na região, devem resultar em uma safra cerca de 20% menor neste ano do que em 2011. Com menos toneladas de cana para colher, o setor deve reduzir as contratações neste ano para 85 mil – no ano passado, foram cerca de 100 mil.

Em Betim, onde está a Fiat e várias empresas de autopeças, o quadro, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, João Alves de Almeida, é de aumento no ritmo da produção desde junho em função dos estímulos do governo para a venda de veículos. Como resultado, operários estão sendo convocados para trabalhar aos sábados ou mais horas ao longo da semana, diz ele. Mesmo assim, mais de 600 empregos foram fechados na cidade até maio.

Em Contagem, outro polo importante da indústria, e Belo Horizonte a situação não é muito diferente, segundo Geraldo Valgas, presidente do sindicato dos metalúrgicos das duas cidades. “No setor de autopeças, estamos fechando mais acordos de PLR este ano do que no ano passado. As empresas começaram a fazer os acordos mais ou menos em maio”, disse. A queixa é que na movimentação de demissões e contratações, a regra passou a ser demitir funcionários com mais experiência e maiores salários por mão de obra mais jovem e mais barata.


China já olha para o setor de serviços, diz confederação

Valor Econômico

Uma das políticas da China para continuar com crescimento elevado e mudar o perfil da economia à medida que ela se aproxima dos níveis dos países desenvolvidos é aumentar a participação do setor de serviços no Produto Interno Bruto (PIB) dos atuais 45% para até 60% nos próximos cinco anos. O planejamento foi revelado em junho pelo primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, na abertura da 1º Feira Internacional de Comércio e Serviços de Pequim. Presente quando o premiê chinês discursou, Luigi Nese, presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), não duvidou do que ouviu.

A mesma entrada agressiva de produtos industriais chineses no mercado brasileiro verificada nos últimos anos deve acontecer no setor de serviços até o fim da década, na perspectiva da confederação, já que uma das condições para a expansão chinesa é o investimento maior em exportação. Em 2009, último ano com dados disponíveis para consulta por país, o montante da troca brasileira de serviços com a China foi quase inexpressivo em relação ao comércio: US$ 463 milhões. Naquele ano, segundo o Banco Central, o Brasil importou do mundo quase US$ 47 bilhões em serviços. Em 2011, a cifra subiu para US$ 76 bilhões.

Esse cenário futuro faz com que os empresários do setor tenham duas opções daqui para frente, na visão da confederação: aproveitar as oportunidades que estão sendo oferecidas para também entrar no mercado asiático e assim ampliar os negócios, ou perder espaço no mercado doméstico em função das dificuldades em competir com o que vem da China.

A presença dos serviços chineses no Brasil de forma mais ostensiva é restrita ao setor bancário, mas vem crescendo. Atualmente, o único banco que opera no país é o Bank of China. Em negociações com o governo desde o ano passado, o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) espera poder atuar até o fim do ano em território brasileiro, assim como o China Construction Bank.

Organizados e ágeis nos negócios, na visão de Nese, os empresários chineses lotaram a palestra feita por ele na feira buscando informações sobre como entrar no Brasil. Por outro lado, os brasileiros ligados ao setor de serviços não se entusiasmaram quando a confederação chamou parte deles para a viagem ao país asiático. “Queríamos ir com uma delegação de 30 pessoas, mas fomos em seis. O brasileiro ainda precisa aprender a fazer negócios na China.”

Com o apoio de órgãos governamentais, a confederação prospectou áreas em que o Brasil tem serviços competitivos, como automação bancária, engenharia e arquitetura e desenvolvimento de sistemas. Até o momento foram assinados três acordos de intenções com instituições chinesas para a troca de experiências, um primeiro passo para o início de relações comerciais. “Para entrar lá você precisa chegar com referência. Aquele que for sozinho vai perder tempo e dinheiro, pois eles só negociam quando confiam”, diz Nesse. Ele acredita que as parcerias são uma oportunidade para os brasileiros participarem daquele mercado.


Produção fraca derruba nível de emprego e reduz salário no setor

Valor Econômico

A queda na produção industrial está acentuando seu efeito sobre o mercado de trabalho. O emprego do setor recuou 0,3% sobre abril, o terceiro mês consecutivo na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na mesma comparação, o custo da folha real de salários caiu fortemente – 2,5% em relação a abril, também a terceira queda na comparação mensal com ajuste sazonal.

Os dados do IBGE mostram que o emprego começa a seguir mais de perto o comportamento negativo da atividade industrial. Enquanto a ocupação acumula queda de 1,1% na comparação com os primeiros cinco meses de 2011, a produção da indústria caiu 3,4%. Nesse período, o setor ainda não sentiu o alívio do custo salarial, pois a folha de pagamentos ficou 3,8% superior ao início de 2011.

O reflexo da produção, que cai desde o ano passado, demorou a chegar ao nível de emprego devido a uma defasagem natural dessa variável em relação à produção, mas também porque os setores seguraram as demissões, considerando os gastos e a dificuldade de contratar e treinar pessoal. Agora, com a produção em queda, empresários veem a necessidade de retomar ganhos de produtividade – ou diminuir as perdas – fazendo ajustes no quadro de funcionários, avaliam economistas.

Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, os empresários passaram a concentrar preocupações na retomada da produtividade uma vez que a produção não dá sinais de uma recuperação vigorosa ainda em 2013. “O emprego vai continuar caindo, até porque houve essa queda da produtividade nos últimos meses. A indústria contratou durante um bom tempo, enquanto a produção diminuía”, diz Silveira. “Os empresários não acreditam mais em uma retomada tão forte no segundo semestre e começaram a ajustar o quadro de funcionários à expectativa de produção futura.”

A produtividade da indústria caiu 0,3% em maio, frente a abril deste ano. Segundo a Pimes, o pessoal ocupado na indústria caiu 0,3% em maio, ante abril, com ajuste sazonal, e o número de horas pagas caiu 0,6% na mesma comparação. Na semana passada, o IBGE divulgou que a produção de maio recuou 0,9% ante abril, também com ajuste sazonal.

A indústria apresenta um quadro “predominantemente negativo” tanto na atividade quanto no emprego, segundo o economista da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo. Para ele, não é possível o emprego industrial se recuperar enquanto não houver retomada no nível de atividade. O obstáculo para esta retomada continua a ser uma série de fatores que não foram equalizados em maio, como o alto nível de estoques, a concorrência acirrada com importados e os níveis elevados de inadimplência e endividamento por parte dos consumidores – o que prejudica a demanda interna.

A continuidade da trajetória de queda no emprego industrial se refletiu também na queda de 2,5% no valor da folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria em maio ante abril, a mais intensa nesta comparação desde dezembro de 2010 (-3,0%).

A recuperação do emprego industrial não virá antes do quarto trimestre, segundo Julio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele explica que a variável emprego reage com defasagem à produção industrial, e uma retomada da atividade só deve ser verificada em julho. “O emprego industrial vai continuar caindo, ou, se crescer, será muito pouco nos próximos quatro meses. Os empresários precisam interpretar que o aumento da produção, quando vier, será sustentável. O setor automotivo já deu algum sinal de melhoria”, diz.

Almeida observa que a queda do emprego poderia ser bem maior não fosse a contrapartida pedida pelo governo para que setores beneficiados por medidas de estímulo não demitam. Ele lembra que falta mão de obra qualificada ainda influi na decisão dos empresários de manter ao menos parte dos empregados. “As empresas se recusavam a demitir, porque tiveram um custo alto para treinar seus funcionários”, explica. Para Silveira, da RC Consultores, os empresários da indústria adiam desde o início do ano suas perspectivas para a retomada do setor.

Caio Machado, da LCA Consultores, aponta para a deficiência de alguns setores mais expostos à concorrência com os importados, como têxtil, calçados e automotivo. Neles, o emprego recua mais fortemente. Na indústria têxtil, o nível de emprego em maio caiu 5,7% na comparação com maio de 2011. Em calçados, recuou 7,1% ante maio do ano passado. Na indústria de fabricação de meios de transporte, a queda foi de 1,9%.


BCE abre as portas a bancos espanhóis

Valor Econômico

O ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, afirmou que os bancos do país vão receber bônus do fundo de resgate europeu, passíveis de serem transformados em dinheiro no Banco Central Europeu (BCE), em meio ao processo de socorro destinado ao setor financeiro.

O “Fondo de Reestructuración Ordenada Bancaria” (FROB) da Espanha vai repassar bônus emitidos pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês) para os bancos, que “poderão usá-los no BCE se precisarem de liquidez”, disse de Guindos a jornalistas após o encontro que teve com ministros das finanças da zona do euro em Bruxelas, no qual foram discutidos detalhes do pacote de socorro bancário.

Como parte do acordo de ajuda de 100 bilhões para a Espanha, um ou mais veículos serão criados para comprar ativos dos bancos a preços “razoáveis”, disse de Guindos. Esses veículos vão emitir bônus que também serão aceitos pelo BCE.

Uma primeira parcela de 30 bilhões do socorro financeiro deverá estar disponível às instituições do país no fim do mês.

De Guindos disse que as condições setoriais para a ajuda financeira incluem uma exigência de capital de máxima qualidade de 9%, que a maioria dos bancos já alcançou. Os detalhes restantes serão revelados no memorando de entendimento que deverá ser assinado em 20 de julho.

No mês passado, a Espanha recuou de declarações anteriores de que seu setor bancário não precisava de ajuda externa. O primeiro-ministro do país, Mariano Rajoy, também desistiu de uma promessa de campanha de que não iria criar um “banco ruim” (“bad bank”) com dinheiro público, como fez a Irlanda para limpar os ativos podres da contabilidade de seus bancos.

De Guindos disse que o processo de recapitalização deverá durar 18 meses. “Os bônus do fundo de resgate vencem em 12,5 anos em média, enquanto que as taxas de juros do pacote de ajuda ainda não são conhecidas, mas deverão ser baixas”, disse ele. Os bancos espanhóis poderão precisar de 62 bilhões para suportar o pior cenário previsto, segundo os resultados dos testes de estresse realizados por consultorias internacionais.

O governo já disse que a necessidade exata de recapitalização ficará clara após uma auditoria cujos resultados deverão ser publicados em 31 de julho, e que o teto de 100 bilhões inclui uma “margem enorme” além do que os bancos precisam.

O memorando de intenções do socorro financeiro, a que a Dow Jones teve acesso, mostrou que o acordo para recapitalização dos bancos espanhóis também imporá perdas aos portadores de ações e dívida subordinada das instituições que receberem ajuda oficial.

“Os bancos que receberem ajuda do Estado vão contribuir com o custo da reestruturação, tanto quanto possível, com recursos próprios”, diz o documento.

O texto afirma que os atuais proprietários de ações de qualquer banco que receber ajuda, assim como os portadores de certos títulos que tenham características em comum com esses papéis, serão os primeiros a terem seus investimentos considerados como perda completa.

“Os bancos e seus acionistas assumirão perdas antes que as medidas de ajuda do Estado sejam concedidas, e vão garantir a absorção das perdas das ações e dos instrumentos híbridos de capital em toda a extensão possível.”

“Após a distribuição das perdas aos acionistas, as autoridades espanholas vão exigir medidas para dividir os encargos dos portadores de capital híbrido e de dívida subordinada nos bancos que receberem capital público”, diz o documento.

O memorando também exige que a Espanha aprove uma nova lei que permita a imposição de perdas aos portadores de dívida subordinada e outros papéis até o fim do terceiro trimestre. Segundo o memorando, as autoridades espanholas adotarão as emendas legislativas necessárias para impor perdas aos portadores de dívida subordinada, caso a exigida partilha dos encargos não seja alcançada de forma voluntária.

Isso poderá ser uma questão politicamente complicada para o governo central da Espanha, uma vez que muitos portadores de dívida subordinada são correntistas comuns que verão seus investimentos desaparecerem, disse um analista de um grande banco de investimentos.

O memorando de entendimento para o resgate do sistema financeiro espanhol impõe ao menos 32 condições e coloca o Banco da Espanha, de fato, sob a tutela do Banco Central Europeu (BCE). Além disso, certas atribuições do Ministério da Economia espanhol serão transferidas para o BC do país.

Em um sinal de como a supervisão do setor bancário da Espanha ficará mais rigorosa como parte do programa de ajuda, o memorando do acordo diz que o país terá de proporcionar à zona do euro e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que vai desempenhar um papel de supervisão no resgate, dados sobre os depósitos em uma base semanal. A Espanha também precisará enviar semanalmente dados sobre as posições de liquidez dos bancos e suas previsões.

Entre outras medidas, a União Europeia impõe uma reforma das chamadas “cajas” (instituições de poupança). O sistema bancário espanhol será dividido em quatro grupos, de acordo com suas necessidades de recapitalização.

A Espanha continuará se esforçando para assegurar que os seus bancos recebam injeção de capital direta do fundo de resgate da União Europeia no futuro, sem o dinheiro ter de passar pelo fundo próprio do país, disse ontem o ministro Guindos.

O diretor do grupo de trabalho responsável pela definição dos detalhes técnicos do plano, Thomas Wieser, explicou que cerca de 40 bancos espanhóis serão submetidos a testes de estresse por uma consultoria independente.


Crédito consignado vira jogo para gente grande

Valor Econômico

A operação fechada ontem entre BMG e Itaú Unibanco é um marco no mercado de crédito consignado. Representa a mudança do modelo de negócios, que passa a ser, definitivamente, coisa para gente grande. O BMG era a principal referência em crédito consignado entre os bancos de menor porte, porque possuía a maior força de venda e também um bom acesso a funding. Se até o BMG teve que se render à realidade do mercado, o que se pode dizer de bancos ainda menores e sem os mesmos predicados?

Quando o governo criou o empréstimo que podia ter as prestações descontadas diretamente na folha de pagamento (o consignado), em 2004, os grandes bancos não demonstraram interesse. Foram os pequenos e médios que desbravaram a novidade e, por muito tempo, dominaram o segmento. Mas com um grau de segurança de pagamento jamais visto em outra modalidade de crédito pessoal no país, em menos de uma década o consignado se impôs. Hoje tem um saldo de R$ 172,3 bilhões (dados de maio) e é uma das principais formas de crédito no país. Os grandes não puderam ficar à margem. Muitos começaram comprando carteiras dos menores, outros partiram diretamente para montar suas próprias operações. O fato é que nos últimos anos as grandes instituições avançaram nesse nicho, aproveitando-se das fragilidades dos menores. Quem saiu na frente foi o Banco do Brasil, que se valeu das inúmeras folhas de pagamento de Estados e municípios que detém para liderar o segmento.

Os bancos pequenos e médios enfrentaram duas grandes dificuldades: a falta de capital para reter em seus balanço todos os empréstimos que conseguiam gerar e o alto custo do funding na comparação com bancos de primeira linha. Os dois fatores incentivaram a prática de cessão (venda) de carteiras aos bancos maiores. Mas a disposição dos grandes em comprar esses ativos minguou conforme cresceu o interesse deles de ganhar esse mercado diretamente. O golpe final veio com a descoberta de fraudes no PanAmericano, no Schahin, no Morada e no Cruzeiro do Sul, que jogou dúvidas quanto à existência dos créditos vendidos.

Uma mudança contábil há muito adiada pelo Banco Central, e finalmente implementada em janeiro deste ano, terminou de inviabilizar a forma de operar dos bancos menores. Antes, quando cediam suas carteiras de crédito, podiam contabilizar as receitas no ato da venda. A partir deste ano, as receitas têm que ser apropriadas ao longo da duração do contrato de empréstimo, que chega a ser de 60 meses. Com a prática anterior, os bancos menores viviam de pedalar uma bicicleta em que originavam créditos e vendiam. Engordavam a receita, o resultado e, por fim, o patrimônio líquido. Tudo isso foi interrompido e culminou com a saída do Cruzeiro do Sul e, agora, do BMG de cena.