BC vê recuo no PIB e Dilma minimiza

A agrura da crise internacional fez com que a economia brasileira encolhesse 0,02% em maio, segundo o indicador do Banco Central (BC) que busca antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), chamado de Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado ontem. A presidente Dilma Rousseff, no entanto, buscou minimizar o dado, afirmando que o PIB não deve ser usado para medir o sucesso de uma “grande nação”. O recado foi dado durante discurso voltado para o público jovem na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente:

– Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes, não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são as suas crianças e os seus adolescentes – disse a presidente, aplaudida pelo público.

Dilma afirmou ainda que o Brasil será um país desenvolvido quando for capaz de oferecer educação de qualidade:

– Nós temos de ter um país com jovens, adultos e crianças com grande nível de escolaridade, porque vamos disputar, sim, o que é a economia moderna, que é a economia do conhecimento, aquela que agrega valor, a internet, as tecnologias de informação. Este país vai ser um país desenvolvido quando todas as crianças deste país e seus jovens tiverem acesso à educação de qualidade.

Embora o IBC-Br tenha registrado uma ligeira queda, que representa a estagnação econômica no Brasil, o resultado foi bem recebido pelos analistas. Isso porque a expectativa era de um recuo mais forte. Desde o início do ano, o indicador do BC registrou avanço apenas em abril. Mesmo com o dado melhor do que o esperado em maio, os economistas ainda não revisaram para cima suas previsões de crescimento para este ano. Eles cobram do governo mais medidas para incentivar os empresários. Uma delas é abrir os cofres públicos para investir e fazer girar a economia, uma vez que, em uma avaliação geral, há mais espaço para novos cortes dos juros.

“Pequena queda foi um alívio”

O pessimismo que se instalou desde o início do ano sobre as expectativas para 2012 aumentou anteontem, quando o IBGE divulgou que as vendas do comércio caíram 0,8% em abril. De acordo com o economista-chefe do banco ABC, Luiz Otávio Leal, a expectativa era de queda de 0,6% do IBC-Br em maio.

– Pode parecer paradoxal, mas essa pequena queda da economia foi um alívio – afirmou Leal.

Apesar do desempenho da economia um pouco melhor que o esperado, Leal manteve sua previsão de crescimento de 0,5% no segundo trimestre e de 2% no ano. Os dados do BC, no entanto, ainda estão distantes desses números: o crescimento foi de 1,27% no período de 12 meses findo em maio. O número mostra uma desaceleração, já que o crescimento acumulado até abril foi de 1,55%.

Resultados melhores da economia, entretanto, são esperados daqui para frente, principalmente por causa da indústria, impulsionada pelo setor automotivo. Os índices de junho devem ser mais fortes, na visão dos analistas, mas não significarão uma grande aceleração da economia, já que essa maior movimentação das vendas de automóveis é uma desova de estoques que estavam encalhados, não um aumento da produção.

– Esse foi um dos reflexos das medidas tomadas pelo governo, mas, no geral, o efeito delas tem sido muito pequeno até agora – disse o economista-chefe da corretora PlanerProsper, Eduardo Velho, que aumenta o coro dos economistas que defendem um choque de investimentos públicos para reanimar a economia. – É o momento de o governo investir pesado em várias frentes. Não é sustentável apostar apenas em um setor para reativar a economia.

Ele acredita que o crescimento abaixo do potencial referenda os cortes de juros promovidos pelo BC e ainda amplia o poder de ação da autarquia, que poderá levar a taxa básica de juros (Selic) até 7% ao ano nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Hoje, a Selic está em 8% ao ano.

Ao comentar a frase da presidente Dilma, de que não se pode medir uma nação pelo PIB, o professor de Economia da UnB Roberto Piscitelli afirmou que, de fato, o indicador não é tudo, mas é o principal parâmetro da economia. Para o economista, a maior frustração com o índice divulgado ontem pelo Banco Central está no fato de que a recuperação esperada para o terceiro trimestre não está ocorrendo.

– O último a reconhecer isso, pelo menos oficialmente, é o governo.

Piscitelli destaca os recentes dados de atividade industrial e vendas no varejo, com resultados negativos ou abaixo do esperado.

– São resultados que mostram a falta de perspectiva de planejamento. Há muito tempo defendo que o incentivo ao consumo é incapaz de alavancar o crescimento. É uma política quase de toma-lá-da-cá, só que, no lugar dos políticos, estão alguns poucos setores que acabam se beneficiando. Chegou a hora de priorizar investimentos. Não acho que o governo deva reduzir despesas, mas estimular o aumento do investimento em projetos relevantes.


Investimento vai mal no 1º semestre

Valor Econômico

O cenário externo adverso, a situação delicada de boa parte da indústria e a perspectiva de crescimento mais fraco da demanda afetaram o investimento na primeira metade do ano. De janeiro a junho, foram anunciados 804 projetos de investimento no Brasil, 5,4% a menos que os 840 registrados no mesmo período do ano passado, segundo levantamento do Bradesco. A queda só não foi mais forte por causa de um aumento expressivo no número de anúncios em junho (ver ao lado).

A maior parte dos anúncios do semestre – 57,3% – se concentra nos setores de serviços e comércio, com a indústria respondendo por 38,3% do total – os outros 4,4% são da agroindústria. Nesse quadro negativo, o volume de investimentos estrangeiros para atividades produtivas também perdeu fôlego, ficando em US$ 23,3 bilhões no período de janeiro a maio, 13,7% a menos que nos primeiros cinco meses de 2011.

O investimento foi abalado por um cenário bastante difícil nos últimos meses, com um quadro externo muito delicado, ressalta o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, apontando especialmente a crise no setor industrial. Segundo ele, essa crise na indústria é “absolutamente global e generalizada”, marcada pela sobreoferta de produtos manufaturados. Isso diminui a perspectiva de crescimento do mundo e também do Brasil.

Com a maior ociosidade na indústria – que amarga recuo de 3,4% na produção acumulada de janeiro a maio -, diminui o apetite e a necessidade de se investir na ampliação da capacidade produtiva. Em 2006, 51,6% dos projetos anunciados eram do setor industrial, percentual que recuou para 36,5% em 2011 e ficou nos mencionados 38,3% na primeira metade deste ano, segundo o levantamento do Bradesco.

Segundo Barros, os empresários estão numa fase de recalibrar expectativas, depois de terem “acalentado projeções feitas em um mundo “meio sem crise”, no qual o Brasil parecia quase imune” a qualquer turbulência. Havia companhias acostumadas a ver o faturamento crescer a um ritmo próximo de 20% ao ano, e agora veem um ritmo de expansão abaixo de 10%, exemplifica ele. Dos investimentos anunciados no primeiro semestre, 59,5% se referem a projetos novos, 33% a ampliação e 7,5%, a modernização. Em 2011, a fatia dos projetos novos foi maior, atingindo quase 70%.

Os investimentos estrangeiros diretos tampouco mostram um quadro dos mais favoráveis. O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização (Sobeet), Luís Afonso Lima, estima que o número neste ano ficará em US$ 50 bilhões, valor ainda expressivo, mas 25% inferior aos US$ 66,7 bilhões do ano passado. Para ele, a piora do cenário externo, marcado por baixo crescimento e incerteza em relação ao futuro da zona do euro, tem peso importante para a desaceleração dos investimentos estrangeiros diretos, mas também há um papel relevante relacionado às perspectivas mais fracas para o crescimento do país.

Segundo Lima, dimensão e expansão do mercado são dois fatores cruciais na atração do dinheiro externo para atividades produtivas, e o Brasil hoje parece oferecer menor dinamismo econômico. Além disso, o país também perdeu apelo como plataforma de exportação para a América Latina e para os EUA, diz Lima.

De janeiro a maio, o fluxo para a indústria ficou em US$ 10,3 bilhões, 44% a mais que no mesmo período de 2011, mas mais da metade concentrado em apenas dois setores – US$ 3,306 bilhões em metalurgia e US$ 1,994 bilhão em produtos alimentícios.

Para Lima, dado os problemas de competitividade da indústria de manufaturados, os setores da economia brasileira mais atraentes para o investimento das empresas estrangeiras são os voltados ao mercado interno e os ligados a commodities – ainda que o resultado desses cinco primeiros meses mostre uma queda forte no fluxo de investimentos para serviços, de mais de 50%, para US$ 7,5 bilhões. Em 2011, porém, o fluxo do setor foi engordado pela operação de US$ 5 bilhões no setor de telecomunicações, referente à compra de uma participação na Oi pela Portugal Telecom.

Os analistas também destacam que alguns fatores específicos derrubaram o investimento neste ano. O chefe do departamento econômico do BNDES, Marcelo Nascimento, lembra especialmente a questão dos caminhões, classificados como bens de capital. Em 2011, houve uma antecipação da compra e da fabricação desses bens, porque em 2012 entrou em vigor a norma Euro 5, que exige motores menos poluentes. Isso derrubou com força a produção de caminhões neste ano, o que se reflete no tombo de quase 16% da categoria equipamentos de transporte dos bens de capital, registrado no acumulado de janeiro a maio. “Os equipamentos de transporte têm peso de 16% a 20% na formação bruta de capital fixo, dependendo de como isso é calculado”, afirma ele.

Barros também aponta o impacto negativo sobre o investimento da implantação muito rápida do Euro 5, enumerando outros fatores que contribuíram para o Brasil ter um desempenho pior do que o de outros mercados emergentes neste ano. A crise no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) travou investimentos no setor; o excesso de oferta provocou problemas no setor de construção residencial; a produção e o refino ficaram estagnados na Petrobras; a crise argentina diminuiu as exportações de manufaturados; houve problemas com bancos pequenos e médios; o endividamento do setor sucroalcooleiro reduziu a produção de cana-de-açúcar; e uma seca pesada atingiu o Sul e o Nordeste.

O economista do Bradesco estima que, no segundo trimestre, o investimento deve cair 1,9% em relação ao mesmo período de 2011. Na comparação com o trimestre anterior, deve haver alta de 1%, feito o ajuste sazonal, projeta ele. Barros pondera, contudo, que essa eventual expansão ocorrerá após três trimestres de quedas seguidas, período em que a formação bruta de capital fixo recuou 3%. Para o ano, ele espera um crescimento de 1% para o investimento.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, é mais pessimista, esperando contração de 1,1% do investimento em 2012. Além do cenário externo adverso, Vale acha que, além da piora da crise europeia, um problema que atrapalha os projetos produtivos no Brasil é a falta de reformas que reduzam o custo das empresas.

Segundo ele, os países da América Latina que têm mostrado um melhor desempenho num cenário de crise externa são aqueles que têm mantido “um padrão contínuo de reformas”, como Chile, Colômbia e Peru. “Para o investimento, o sinal que os três países dão é de que a continuidade das reformas fará com que os custos das empresas caiam vez mais. No caso brasileiro, não há nada nesse sentido”, diz ele, criticando a “insistência do governo em pacotes de curto prazo que não resolvem nada”, o que não estimula as companhias a investir.


Setor industrial paulista fecha 7 mil vagas em junho

Valor Econômico

O resultado negativo para o emprego na indústria de transformação em São Paulo em maio, divulgado na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – queda dessazonalizada de 3,2% frente a abril -, não foi revertido em junho, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Após dois meses consecutivos com saldo positivo, o setor diminuiu em 7 mil o estoque de vagas em junho, de acordo com o Índice de Nível de Emprego calculado pela entidade.

Em junho, na comparação com maio sem ajuste sazonal, a variação foi negativa em 0,27%. Tanto em maio como em abril, sempre em relação ao mês anterior sem ajuste, o emprego havia crescido (0,81% e 0,52%, respectivamente).

“Existe a expectativa que o segundo semestre será de recuperação para a atividade geral e industrial, mas ainda estamos buscando indícios dessa recuperação”, diz Paulo Francini, diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp. A projeção é que o número de vagas na indústria de transformação paulista encerre o ano 2,3% menor que em 2011.

No ano, o emprego na indústria acumula alta de 1,2% frente ao primeiro semestre de 2011, com 31 mil vagas a mais. No entanto, o acumulado em 12 meses, ante os 12 meses anteriores, já registra queda de 0,84%.

Na comparação dessazonalizada, o emprego em junho caiu 0,39% ante maio e, na comparação com junho do ano passado, a queda foi de 3,19%, com 86 mil vagas a menos. Os resultados para junho foram os piores para o mês, com exceção de 2009 – ano de crise – desde o início da série em 2006.


Cheques sem fundos disparam

Correio Braziliense

Diante de um quadro de forte aperto orçamentário, muitos brasileiros não estão conseguindo honrar seus compromissos em dia. Com isso, o índice que mede o calote nos cheques atingiu, em junho, o nível mais alto em três anos. Sinal de que os estímulos dados ao consumo pelo governo estão gerando mais dívidas do que vendas. Segundo levantamento divulgado ontem pela Serasa Experian, dos cheques emitidos no mês passado, 2,07% (20 por lote de mil) não tinham dinheiro suficiente em conta-corrente. Foi o pior resultado para o indicador desde junho de 2009, quando os documentos não compensados representaram 2,3% do total. Naquele período, o mundo ainda lutava para superar a mais grave crise econômica desde 1929.

O nível de calote também é recorde quando levado em conta apenas os dados de Brasília. Na capital, de cada mil cheques emitidos em junho, 32 (3,2%) não tinham fundos. Há 11 anos, em 2001, as devoluções representavam 1,5% do total, ou 15 documentos devolvidos para cada mil que chegaram às câmaras de compensação. Não à toa, o comércio está mais reticente em aceitar o cheque como instrumento de pagamento. O índice de calote tem deixado os empresários com prejuízos enormes, sobretudo nos postos de gasolina.

Na avaliação da Serasa, a elevada devolução de cheques é consequência do disseminado endividamento das famílias, que também passaram a ficar inadimplentes no crediário, no cheque especial e, principalmente, no cartão de crédito, cujas taxas chegam a 600% ao ano para aqueles que recorrem aos limites do rotativo. “O aumento dos cheques sem fundos no primeiro semestre mostra que o consumidor se endividou, ampliou seu comprometimento de renda e perdeu o controle também nas compras parceladas com cheques pré-datados”, explicou a empresa responsável pelo levantamento.

Banqueiro pede mais

A redução da taxa básica de juros (Selic) não será suficiente para sustentar um crescimento mais forte da economia. Foi o que garantiu ontem o banqueiro André Esteves, maior acionista e presidente do Banco BTG Pactual. Para ele, o Brasil precisará fazer um ajuste fiscal e reduzir impostos para assegurar um ritmo de expansão condizente com a sua posição de mercado emergente. Segundo ele, juros baixos são um ingrediente importante para ajudar o país a crescer nos próximos10 anos. Isoladamente, porém, não são suficiente para tornar o país competitivo no mercado internacional. “É impossível disputar com países que pagam metade dos impostos que você”, disse Esteves. “Não adianta (o governo) dar incentivos, pois a indústria consome energia, spread bancário. A gente precisa endereçar o problema como um todo, não privilegiar um ou outro setor”, acrescentou.


Desemprego na Grécia atinge novo recorde: 22,5%

O Globo

O desemprego da Grécia atingiu um novo recorde em abril: 22,5%, segundo dados divulgados ontem pelo governo. Isso representa um universo de 1,109 milhão de pessoas desempregadas. Em março, o índice fora de 22%, e em abril de 2011, de 16,2%. O país enfrenta o quinto ano consecutivo de recessão e depende da ajuda financeira da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que impuseram duros cortes orçamentários.

Espera-se que a temporada de verão, atualmente em curso no Hemisfério Norte, traga algum alívio ao desemprego na Grécia, com a chegada dos turistas. Mas, a longo prazo, a tendência é de alta. Entre os jovens, o índice já ultrapassou os 50%.

– Procuramos em toda a parte: de escolas a bares e postos d gasolina, mas não há nada – disse à agência de notícias Reuters a professora Martha Antoniou, cujo filho, de 20 anos, vem procurando emprego sem sucesso.

Enquanto isso, o governo tenta avançar com as reformas. O FMI se queixou ontem de que o país está atrasado com relação a várias medidas exigidas pela troika, formada ainda por UE e Banco Central Europeu (BCE). O ministro de Finanças, Yannis Stournaras, reuniu-se ontem com o gabinete para discutir como reduzir os gastos em 11,5 bilhões nos próximos dois anos. Além disso, fontes do governo confirmaram que Atenas não conseguirá obter 3,2 bilhões este ano com a venda de ativos estatais.

Ministro espanhol assegura que empréstimo será pago

O governo deve usar os dados alarmantes do desemprego para tentar obter concessões sobre as metas exigidas do país. Atenas vai receber uma visita da troika no próximo dia 24.

O desemprego grego se aproxima cada vez mais do patamar espanhol, hoje em 24%. Madri anunciou, na quarta-feira, novas medidas de austeridade, no total de 65 bilhões. O peso destas vai recair fortemente sobre os funcionários públicos, que não terão décimo terceiro este ano e perderão vários pontos facultativos. Ontem, um grupo de policiais e bombeiros protestou contra os cortes em frente ao Parlamento.

O ministro da Economia do país, Luis de Guindos, disse a um jornal alemão que a Espanha assumirá toda a responsabilidade pelos 100 bilhões que a UE emprestará para o saneamento dos bancos. Ele assegurou que não há risco de perdas para os credores e que a necessidade dos bancos é de, no máximo, 62 bilhões.

Guindos disse ainda que a Espanha mudará seu modelo de crescimento, com foco em exportações no lugar de construção, e será uma surpresa positiva nos próximos três anos.


Linha do BNDES para usineiros não decola

O Estado de S. Paulo

Lançado no início de janeiro para ampliar a oferta de etanol no Brasil, o Prorenova, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ainda não decolou. Até 30 de junho, nenhum centavo havia sido liberado para os usineiros. Dos R$ 4 bilhões reservados para plantio e renovação dos canaviais, só R$ 1,4 bilhão estava em carteira, afirma o chefe do Departamento de Biocombustíveis do banco, Carlos Eduardo Cavalcanti.

Desse total, R$ 250 milhões haviam sido aprovados; R$ 200 milhões estavam em análise; R$ 150 milhões enquadrados; e R$ 800 milhões em carta-consulta. Cavalcanti reconhece que os números estão aquém das expectativas iniciais, mas destaca que a partir de maio as operações subiram de forma significativa. “Até então a carteira tinha apenas R$ 500 milhões em pedidos.”

Em janeiro, quando o BNDES lançou o programa, esperava-se que o dinheiro fosse suficiente para ampliar em 1 milhão de hectares a área plantada de cana-de-açúcar e, consequentemente, elevar a produção de etanol. Mas as dificuldades do setor travaram as negociações entre os bancos e as empresas. O dinheiro do BNDES é repassado pelos bancos comerciais, que cobram um prêmio a mais para conceder o financiamento.

Segundo Cavalcanti, com o setor altamente endividado e a deterioração do cenário internacional, as instituições financeiras ficaram mais cautelosas na análise de risco de crédito. As negociações entre empresas e bancos em torno dos spreads ficaram travadas e demoraram mais para serem concluídas, completa o executivo. A taxa de juros do Prorenova é de 8,3% ao ano.

O presidente interino da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, observa que uma somatória de fatores dificultou o acesso das empresas ao programa de financiamento. Um deles foi a indefinição em torno das regras para compra de terra por estrangeiro. Parte das empresas do setor tem capital internacional e não tem conseguido financiamento estatal, afirmou um executivo do setor bancário.

Além disso, o BNDES exige uma série de requisitos ambientais que as empresas precisam cumprir para obter financiamento. Nesse caso, o banco flexibilizou alguns pontos para facilitar o empréstimo, afirmou Pádua. Ele observa ainda que as empresas têm achado o custo da linha de crédito do banco bastante elevado. Diante da queda da taxa Selic, agora em 8% ao ano, alguns empresários estão preferindo outras modalidades de crédito, cujas exigências são menores.

Dívida. Pádua acrescenta ainda que cerca de 30% do setor não tem condições de obter um financiamento bancário por causa dos níveis de endividamento. Estudo feito no primeiro trimestre pelo Itaú BBA mostra que o setor tem cerca de R$ 42 bilhões em dívidas. Quase um terço das empresas tem dificuldade para fazer novos investimentos.

Outras 17% estão alavancadas e precisam de alguma operação estratégica – ou seja, injeção de dinheiro – para continuar funcionando. Nessas empresas, a dívida por tonelada de cana moída é superior a R$ 100. Entre as cinco piores, esse número chega a R$ 144,6. Na prática, isso significaria dizer que, para cada R$ 100 de faturamento, a empresa tem R$ 144 de empréstimos e financiamentos.