Famílias mais endividadas

Pelo segundo mês consecutivo e depois de apresentar queda durante todo o segundo semestre do ano passado, o número de famílias endividadas aumentou em julho. Dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostram que o índice de lares com débitos subiu de 57,3% 57,6%, devido, principalmente, aos elevados juros que ainda sufocam quem compra a prazo ou precisa de um empréstimo.

Segundo a economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), além de as famílias que já tinham dívidas não terem tido condições de reduzi-las, várias pessoas que entraram no mercado de trabalho nos últimos meses acabaram recorrendo a algum tipo de débito. “Apesar da desaceleração na criação de postos de trabalho, o mercado continua aquecido. E quem consegue assinar a carteira fica em situação mais confortável para comprar a prazo, por exemplo”, observou.

Aqueles, porém, que dependem do próprio negócio para sobreviver estão mais sujeitos às turbulências da economia. É o caso do comerciante Paulo Sérgio Valcácio, 43 anos. Dono de uma loja de produtos agropecuários, ele viu as vendas caírem drasticamente. Para complementar o orçamento, acumulou dívidas de quase R$ 22 mil, dos quais R$ 17 mil por meio de um empréstimo pessoal. Para tentar sanar o quadro de dificuldade, ele, a mulher Telma, 42, e os dois filhos, Felipe, 15, e Thaline, 21, decidiram cortar uma série de despesas, sobretudo com o lazer. “Estamos fazendo um esforço danado para não cair de novo no cheque especial”, disse.

Também a família do técnico de informática Jorge Silva Júnior, 37 anos, está no sufoco. Quando ele decidiu inaugurar, com dois amigos, uma loja de manutenção de computadores, o objetivo era agregar qualidade de vida aos pais. Mas o que parecia ser uma boa ideia se transformou em sérios problemas. Melhor: em dívidas de R$ 15 mil com o cartão de crédito. “Com a perda da minha fonte de renda, não consegui mais honrar meus compromissos em dia”, disse. Apesar dos percalços, Jorge afirmou que vai procurar seu banco em uma busca de uma negociação favorável. “Não tenho dinheiro para pagar tudo à vista”, afirmou.

Compromissos

A boa notícia captada pela CNC foi a de que houve um recuo na inadimplência. A parcela de famílias com dívidas em atraso caiu para 21% neste mês, após atingir 23,2% em junho. Essa redução está em linha com as expectativas do Banco Central. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, vem dizendo que o calote dá mostras de que chegou ao limite. O BC conta com a estabilidade da inadimplência para a retomada do consumo.

Na avaliação de Marianne Hanson é a elevação da renda que vem ajudando as famílias a pagarem as contas em dia. “Também contribui muito a renegociação com os bancos, uma vez que os consumidores estão conseguindo se livrar as dívidas antigas e obter créditos em condições mais vantajosas”, disse. A pesquisa da CNC ainda abrange as famílias que declaram não ter condições de honrar os compromissos: índice que caiu de 7,5% em junho para 7,3% em julho.

Os dados da Confederação não se limitam a financiamentos bancários. Consideram cheque pré-datado, cartão de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros.


Fim do euro cada vez mais provável

O Globo

O fim do euro como moeda comum da União Europeia (UE) é cada vez mais provável, na opinião de renomados economistas reunidos ontem no Rio no seminário “O Brasil e o mundo em 2022”. Dani Rodrik, professor de economia política da Universidade de Harvard, afirmou que o fim da divisa é “cada vez mais provável”.

– Espero que o euro não termine, mas parece cada vez mais provável. Se e quando a Grécia sair do euro, as autoridades vão agir rápido para apoiar Espanha e Itália, mas duvido que consigam prevenir futuras saídas – disse Rodrik no evento de comemoração de 60 anos do BNDES, no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico.

Barry Eichengreen, professor de economia e ciência política da Universidade da Califórnia, também avalia que a dissolução do euro é um risco bem provável. Ele diz que a principal solução para evitar isso, sempre adiada pelas autoridades europeias, seria um estímulo monetário conhecido em inglês como quantitative easing (afrouxamento monetário). Isso significaria o Banco Central Europeu (BCE) imprimir euros para comprar títulos públicos de países endividados. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já adotou essa política duas vezes e conseguiu estimular a economia. Para Eichengreen, esse estímulo pode reduzir os insustentáveis juros que Espanha e Itália vêm sendo obrigadas a pagar para se financiar no mercado de títulos públicos, além de melhorar a situação dos países já resgatados diretamente por empréstimos (Grécia, Portugal e Irlanda).

– Existem pelo menos quatro crises diferentes na Europa. A principal solução para juros insustentáveis seria o afrouxamento monetário pelo Banco Central Europeu. Mas alguém teria também de injetar capital nos bancos. Alguém tem de lidar com os problemas de competitividade nas exportações. E alguém tem de restaurar a confiança entre governantes e eleitores – diz Eichengreen.

Rodrik diz considerar provável um fraco crescimento econômico mundial nos próximos anos, mas acredita que países com a economia mais dependente do mercado interno tenham maior chance de prosperar e obter desempenho acima da média. Segundo o professor de Harvard, estariam em melhor situação Brasil, Índia e Coreia do Sul.

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, adiantou que a linha de financiamento de máquinas e equipamentos (Finame) do banco pode mostrar uma “recuperação tênue” dos investimentos em julho. Isso porque, segundo ele, o volume desembolsado para aquisição de bens de capital deve chegar a pelo menos R$ 3,7 bilhões em julho, contra R$ 3,2 bilhões em junho:

– É uma recuperação tênue ainda, na margem, de vendas de máquinas e equipamentos, incluindo caminhões. Pode ser indício da retomada do crescimento no segundo semestre.


Produção industrial volta a cair em junho

O Estado de S. Paulo

A indústria terminou o primeiro semestre em crise e o período já foi considerado perdido para o setor. Após um suspiro de alta em maio, a produção industrial voltou a cair em junho, liderada pelo setor automotivo. Mesmo assim, os estoques permanecem elevados, revelando que a estratégia de crescimento da atividade por meio de estímulos ao consumo dá sinais de esgotamento.

Todos os indicadores de atividade divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram piora. O índice geral de produção passou de 51,6 pontos em maio para 45,5 pontos no mês passado, em uma escala de 0 a 100 pontos em que números abaixo de 50 indicam contração da atividade.

Além disso e do nível dos estoques em 51,5 pontos, também apresentaram piora em junho o uso da capacidade instalada, que atualmente está em 72%, e o índice de emprego, que voltou a cair e agora está em 47,2 pontos.

“A tendência de deterioração se mantém e os dados são coerentes: não há nenhum indicador mostrando melhora”, pontuou o gerente executivo de pesquisa da entidade, Renato Fonseca. “Claramente, a indústria já está em crise”, reforçou o executivo da entidade.

Autos

O setor de veículos foi o que tomou o maior tombo de produção no período, passando de 44,7 pontos para 36,8 pontos, segundo os indicadores divulgados pela CNI. “Apesar do boom de vendas visto com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), os estoques não estão diminuindo”, considerou Fonseca.

O movimento não é específico desse ramo de atividade. Mesmo com a redução generalizada da produção, apenas um terço dos 30 setores avaliados pela CNI conseguiu reduzir o excesso de estoques no último trimestre. No geral, não só a evolução do índice que mede a quantidade de pátios e prateleiras lotadas como também o que calcula o estoque efetivo em relação ao planejado pelos industriais estão acima do desejável.

Decepção. Na avaliação da CNI, apesar do aumento dos gastos públicos, da queda dos juros e da entrada em vigor de medidas do Plano Brasil Maior – a política industrial e de comércio exterior do governo Dilma Rousseff -, não foi constatada a “esperada reação” da atividade nos seis primeiros meses do ano.

Com este quadro, o temor dos empresários com a queda da demanda e o avanço da inadimplência do setor aumentou substancialmente, principalmente para os executivos de companhias de menor porte, que têm menos acesso ao crédito e não podem “se dar ao luxo” de manter cheios seus armazéns.

“Mesmo com a adoção das recentes medidas de estímulo, a demanda ganhou importância no último trimestre”, disse Fonseca, citando a sondagem industrial feita com 1.957 empresas de todo o País entre os dias 2 e 13 de julho.

Já o câmbio, que sempre foi sinônimo de dor de cabeça para os executivos nos últimos anos, saiu do radar das preocupações dos empresários, por causa da alta da cotação do dólar nos últimos meses.


Arrecadação cai em junho e Receita já revê projeções

O Estado de S. Paulo

Após meses sucessivos de recordes, a arrecadação federal perdeu fôlego em junho e teve a primeira queda mensal desde dezembro. O pagamento de impostos e contribuições federais somou R$ 81,1 bilhões, 6,55% a menos que em junho de 2011. O principal fator para esse fraco desempenho, apesar dos pacotes de estímulo lançados pelo governo, é a redução no lucro das empresas, que já estão deixando de pagar Imposto de Renda (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Diante desse novo cenário, a Receita reduziu a previsão de crescimento da arrecadação em 2012 para algo entre 3,5% e 4%. A estimativa anterior era entre 4% e 4,5%. “O viés é de baixa. Mas o crescimento deve ser mais próximo de 4%”, disse a secretária adjunta da Receita, Zayda Manatta.

Desde abril, quando as empresas deixaram de recolher tributos ainda com base nos ganhos de 2011, a arrecadação vem desacelerando como reflexo do baixo desempenho econômico. No primeiro semestre, os contribuintes pagaram R$ 508,5 bilhões em impostos e contribuições federais, apenas 3,66% mais que no mesmo período de 2011.

No entanto, Zayda disse que a expectativa é de recuperação da economia e da arrecadação no segundo semestre, como resultado das medidas de estímulo.

Desconforto. A revelação da secretária de que empresas estão deixando de recolher IRPJ e CSLL indica que a situação não é nada confortável para o governo. E pode piorar se a retomada do crescimento não ocorrer na velocidade esperada. O problema agora é evitar que esse quadro se espalhe, deteriorando a situação fiscal. Em momentos de crise, muitas empresas preferem deixar de pagar os tributos para ganhar folga no caixa.

Segundo Zayda, as empresas estão apresentando o chamado balanço de suspensão ou reduzindo o pagamento mensal dos dois tributos. A legislação permite que o pagamento de IRPJ e CSLL seja calculado com base na estimativa de lucro para o ano. Porém, se elas perceberem que o lucro será menor, podem suspender o pagamento mensal ou reduzir o valor para compensar o que já pagaram a mais. A Receita vai monitorar esse movimento com base nas informações da Declaração de Débitos e Créditos Federais (DCTF) das empresas.

Outro fator que influenciou a desaceleração da arrecadação no primeiro semestre e a redução em junho foi o pagamento das parcelas do Refis da Crise.

Em junho de 2011, quando houve a consolidação dos débitos, a Receita recolheu R$ 6,7 bilhões como antecipação de parcelas ou quitação das dívidas. No mês passado, os débitos do Refis da Crise somaram apenas R$ 1,2 bilhão.

A nova previsão da Receita para 2012 considera também o rebaixamento da estimativa para expansão do PIB este ano de 4,5% para 3% e uma frustração de receitas nos primeiros meses de R$ 22 bilhões. O Fisco projeta recolher R$ 676 bilhões este ano.


Com Espanha na encruzilhada, nem China alivia tensão dos mercados

Valor Econômico

Não há trégua na crise europeia, que toma contornos cada vez mais dramáticos. A Espanha, em foco, encontra-se em uma encruzilhada. O financiamento via mercado está em xeque, já que as taxas de retorno exigidas sobem em todos os pontos da curva, situação que há pouco tempo estava concentrada em vencimentos mais longos, como cinco e dez anos. Esses dois títulos encontram-se agora quase no mesmo nível (7,62% e 7,52%, respectivamente), enquanto a alta nos vencimentos mais curtos (três e seis meses) é até maior proporcionalmente (2,43% e 3,69% no leilão de ontem), o que tira do país a opção de financiar-se no curto prazo a custos mais baixos, uma saída que era aventada por muitos analistas.

A desconfiança, portanto, toma formas mais definidas. Algo precisa ser feito, mas não há resposta fácil, tampouco objetiva para essa questão. O socorro aos bancos de até € 100 bilhões só será efetivo a partir de setembro, quando começam a ser liberadas as tranches ao sistema financeiro.

As medidas de fundo definidas no último Euro Summit, por sua vez, são esperadas apenas para o fim do ano, como o início de uma união bancária. Sem esquecer, claro, que muita água ainda vai passar por baixo da ponte da política, que é onde as decisões tomam forma.

As regiões autônomas da Espanha, 17 no total, dão sinais claros de incapacidade financeira. Depois de Valência e Murcia, especula-se que a Catalunha seja a próxima da fila, uma região do tamanho de Portugal e que tem necessidade de financiamento de € 10 bilhões até o fim de 2013, segundo cálculo do BNP Paribas, e estoque de dívida de € 42 bilhões, em dados do orçamento do Banco da Espanha.

Importante lembrar que o governo espanhol anunciou em 13 de julho o “mecanismo regional de liquidez” de € 18 bilhões às províncias, em parte bancado por recursos da loteria federal (€ 6 bilhões). Apesar das condicionalidades impostas e da participação voluntária das regiões, o tamanho do rombo pode tornar muito difícil a tarefa de restringir o apoio financeiro do governo central espanhol a este montante. A necessidade de financiamento total das províncias é de € 50,48 bilhões, o que pesa sobre o enorme déficit fiscal do país.

Nessa roda viva, os cortes dolorosos no orçamento espanhol não incutem confiança nos agentes e aumentam sobremaneira a tensão social.

O encontro do ministro das Finanças, Luis de Guindos, com o alemão Wolfgang Shaüble em Berlim não deve trazer notícia nova ao mercado, que deverá ficar em modo de espera nos próximos dias.

A volta da Grécia ao radar é um ingrediente a mais nesse mix de preocupações, mas não é cenário básico dos analistas (ao menos por ora) que o Banco Central Europeu (BCE) deixe o país à própria sorte depois de todo o imbróglio eleitoral. À parte, claro, os “eurocéticos”. Mas a avaliação da troica é que dará o tom do destino da Grécia na zona do euro e em que medida o país poderá ou não atender as metas impostas.

Em meio a esse ambiente, as evidências de piora na atividade econômica na região do euro aparecem com ainda mais contundência nos países centrais. A atividade industrial na França e Alemanha caiu novamente em julho, para níveis não vistos desde maio e junho de 2009. Salvo pelo setor de serviços (principalmente o da França, sempre mais pujante), o PMI composto da zona do euro manteve-se estável neste mês no nível de 46,4, completando 11 meses abaixo da linha de 50,0.

A economista Stella Wang, do Nomura na Europa, declarou, em relatório, que a queda no PMI industrial na zona do euro derruba quaisquer esperanças de uma recuperação da economia no curto prazo e contribui para expectativas mais pessimistas do crescimento do PIB na região no terceiro trimestre. A casa espera retração do PIB alemão de 0,5% na margem no terceiro trimestre e queda de 0,3% do PIB francês no mesmo período.

A única boa notícia do dia, o PMI preliminar de julho medido pelo HSBC/Markit da China, ficou no pé da página em meio ao tumulto europeu. O índice da atividade manufatureira subiu de 48,2 para 49,5, permeando a marca de 50,0 e se aproximando do PMI oficial, cujo nível era de 50,2 em junho.

Vale frisar que as medidas de apoio à atividade econômica no país começam a aparecer nos números, como enfatizou em nota o economista-chefe do HSBC na China, Hongbin Qu, embora espere medidas adicionais de estímulo à demanda e ao emprego. De fato, considerando que a taxa de juros continua positiva por conta da queda importante da inflação nas últimas leituras, ao menos cortes nos compulsórios são bastante prováveis nos próximos meses.


Cresce desembolso de linha do BNDES para bens de capital

Valor Econômico

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê que os desembolsos do BNDES Finame, linha voltada para bens de capital, atinjam R$ 3,7 bilhões em julho, acima dos R$ 3,2 bilhões de junho.

Embora o desempenho possa ter sido impulsionado pela sazonalidade, já que esta é a época em que o setor agrícola contrata maquinário para a próxima safra, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, salientou que o crescimento pode ser uma sinalização de possível melhora na atividade industrial e assim impulsionar, indiretamente, uma recuperação no nível de atividade econômica.

“As liberações das linhas Finame começaram a se recuperar nas últimas duas, três semanas, e estão se mantendo. Ainda é cedo para dizer se isso é uma coisa que vai durar meses, mas são os primeiros indícios de que a atividade econômica vai se recuperar”, disse Coutinho, acrescentando ser esta “uma recuperação tênue, na margem”, mas ainda assim uma recuperação”.

Entre os fatores enumerados por Coutinho que levaram a este resultado estão as reduções nas taxas de juros, promovidas por governo e bancos, além de melhora relativa na taxa de câmbio e desonerações na folha de pagamento. Esses pontos, na análise de Coutinho, conferiram maior fôlego à indústria, que agora deve voltar a investir. Ainda que os efeitos sejam parciais, já começariam a influenciar positivamente as vendas de bens de capital.

Ainda segundo o executivo, outra sinalização de retomada na atividade vem dos dados preliminares de operações indiretas do banco. Essas operações, que além das linhas Finame incluem outras duas modalidades como BNDES automático e cartão BNDES, tiveram desembolsos de R$ 5,2 bilhões nas primeiras semanas de julho, acima do apurado em junho, quando registraram montante em torno de R$ 4,8 bilhões. “Pode ser o indício de uma retomada no segundo semestre”, reiterou Coutinho.


Governo dará reajuste linear para servidor

O Globo

A presidente Dilma Rousseff decidiu conceder um reajuste salarial linear para servidores de carreiras básicas do Executivo que estão com os vencimentos mais achatados, além de aumentos diferenciados para militares e carreiras específicas, com base no conceito da meritocracia. O anúncio será feito na primeira quinzena de agosto, após a apresentação de novas medidas de estímulo à economia, mas os índices ainda não foram definidos e os aumentos só vão valer a partir de 2013. Ontem, o governo melhorou a proposta de reajuste para os professores das universidades federais em greve há mais de dois meses, mas ainda não há uma definição sobre o fim da paralisação.

Pela nova proposta, apresentada em reunião no Ministério do Planejamento, os reajustes vão variar de 25% a 40%, em vez de começar com 12%, como na proposta anterior. Os negociadores do governo já avisaram que chegaram no limite. Com a nova proposta, o impacto financeiro, que seria de R$ 3,9 bilhões, passou para R$ 4,2 bilhões. E a concessão do reajuste será antecipada para março, em vez de agosto de 2013.

– O governo chegou ao limite, tanto nos aspectos técnicos, a parte acadêmica, quanto aos valores e os possíveis ajustes na tabela. Se não caminharmos para o acordo vamos ficar numa situação bastante delicada. O governo precisa do acordo, quer o acordo. Hoje, nenhuma categoria do Brasil está conseguindo arrancar acordo – disse o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marco Antônio Oliveira.

Na proposta reformulada, um professor universitário com carga de 40 horas semanais, mestrado e estando no último nível da carreira receberá R$ 5.832,66 (até 2015). Na proposta anterior, chegaria até R$ 5.502,51. Hoje esse professor ganha R$ 4.572,16. Os dois sindicatos que representam os professores estão divididos.

– Nossa avaliação é que o governo não avançou. Defendemos o mesmo percentual de reajuste de um nível para outro e não um percentual maior entre os níveis – afirmou a presidente do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Marinalva Oliveira.

– A proposta é boa, e o governo analisou os 15 itens que priorizamos – observou o presidente da Federação de Sindicatos dos Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), Eduardo Rolim de Oliveira.

Ontem, antes de embarcar para Londres, a presidente teve reuniões com ministros que enfrentam greves de categorias especializadas, como Anvisa, Receita Federal e Polícia Federal. O Planejamento avalia quanto cresceram os rendimentos de cada categoria desde 2003 para definir os índices de reajuste e focar a reposição nos servidores menos favorecidos no período.

Considerando que o aumento linear para as carreiras básicas do Executivo em 2013 seria a reposição da inflação de 2012, ou um pouco mais, esse impacto seria de R$ 7,5 bilhões a R$ 8 bilhões sobre a folha de pagamento do governo deste ano, que é R$ 152,5 bilhões. Isso sem contar os reajustes diferenciados. Muito distante, portanto, do impacto projetado pelo Planejamento caso o governo atendesse todas as reivindicações dos servidores em greve: R$ 92 bilhões.

Para os militares, o reajuste deve ser mais amplo, porque já há uma percepção no governo de que é a carreira mais defasada salarialmente. Dados do Ministério do Planejamento indicam que a despesa média da União com os militares da ativa aumentou bem menos do que com os civis ativos: cresceu 123% entre 2003 e 2012 para os civis e 78% para os militares, contra uma inflação de 52,7% no período.

Além disso, as tensões na caserna, que se acirraram com a criação da Comissão da Verdade, precipitaram a decisão do governo. Foi bem recebida pela presidente Dilma a atuação dos oficiais, que refrearam o movimento rebelde da reserva quando a comissão foi instalada. Ontem, Dilma teve nova reunião com o ministro da Defesa, Celso Amorim, e com os chefes das Forças Armadas.

Para outras categorias, o Planalto insiste no conceito da meritocracia. Uma fonte do governo resume a determinação da presidente:

– Quem tem patente, título e “paper” vai ganhar mais. É uma questão de princípios.