Lucro da Vale cai à metade no semestre

A queda do preço do minério de ferro, a alta das despesas operacionais e o avanço do dólar frente ao real fizeram a Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, registrar um lucro líquido de R$ 5,314 bilhões no segundo trimestre deste ano. O resultado é 48,28% menor em relação ao mesmo período do ano passado e 20,92% a menos ante o primeiro trimestre de 2012. O resultado veio abaixo das expectativas dos analistas de mercado, que projetavam ganhos entre R$ 6,9 bilhões e R$ 7,1 bilhões no período, e o menor resultado desde o primeiro trimestre de 2010, quando registrou ganhos de R$ 2,879 bilhoes.

Em dólar, o lucro líquido da mineradora foi de US$ 2,662 bilhões, queda de 30,4% ante o início de 2012. Em relação ao mesmo período do ano passado, o tombo chega a 58,7%.

Em seu relatório, a mineradora explicou que o avanço de 11% na cotação do dólar, entre março e junho, se refletiu em uma “grande queda” de seus ganhos no período. Como a cotação da moeda americana subiu rapidamente, a companhia teve de ajustar a sua dívida – de US$ 25,518 bilhões e atrelada praticamente 100% ao dólar – para o real. Houve, assim, uma correção, para baixo, de R$ 3,458 bilhões no lucro.

– Quanto maior a cotação do dólar, maior a dívida. Mas é apenas um ajuste contábil, pois a Vale não precisou liquidar os empréstimos. Ou seja, não houve desembolso de caixa. Isso é feito para manter o balanço ajustado em relação às variações de outras moedas – explicou Rafael Weber, analista da Geração Futuro, que esperava lucro líquido de R$ 6,9 bilhões.

Além da dívida, há outras operações financeiras que são ajustadas, como os debêntures (papéis de longo prazo) e transações com derivativos (contratos de pagamentos futuros).

Analistas também destacaram que o lucro menor foi afetado pela queda dos preços de minérios e metais básicos. Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, lembrou que a cotação da tonelada do minério de ferro no mercado internacional caiu de US$ 148, no segundo trimestre de 2011, para cerca de US$ 111. Com isso, a receita da Vale caiu 2,3% no período, para R$ 23,910 bilhões. Já em relação ao primeiro trimestre deste ano, a receita subiu 19% com o avanço do volume de vendas, oriundo do aumento da produção, como em Carajás, no Pará, e da recuperação do preço neste ano.

– A Vale produziu mais, mas a redução do preço do minério derrubou a receita em relação ao ano passado. Houve, contudo, uma melhora no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses, quando a tonelada estava a US$ 109 – afirmou Galdi.

A Vale também está mais dependente do minério de ferro, que respondeu por 53,6% da receita. No início deste ano, o índice era de 52,9%. Por outro lado, a fatia dos metais básicos (como níquel e cobre) caiu de 15,6% para 14,6% no mesmo período. A China continuou como o principal mercado para a mineradora, somando 31,6% dos negócios, maior que os 31,4% em março. A fatia do Brasil caiu de 20,7% para 19%.

Vale pode vender ativos, diz analista

Em relação ao mercado chinês, a Vale se mostra otimista com o seu principal comprador. Em relatório, a mineradora ressalta que a economia da China mostrou sinais de estabilização no segundo trimestre e o início de uma recuperação do investimento. Porém, mostra-se preocupada com a crise internacional. No relatório, a empresa diz que “a recessão na zona do euro deve se prolongar e a dinâmica de crescimento nas economias emergentes, como Brasil, Índia e China, tem se arrefecido”.

Com receita menor em relação a 2011, o Santander, em relatório, mostra-se preocupado com a geração de caixa da companhia. Alex Sciacio, analista do banco, diz que, para sustentar o fluxo de caixa no curto prazo, a venda de ativos pode acontecer mais cedo que o esperado. Para Sciacio, a primeira ação pode ser a venda de 22% na Norsk Hydro, os navios Valemax, além de ativos de petróleo e gás.

Weber, da Geração Futuro, pontua ainda que a empresa sente os reflexos de custos operacionais maiores. As despesas totais subiram de R$ 10,049 bilhões, no primeiro trimestre, para R$ 11,671 bilhões. Foi uma alta de 16,14%. Em relação ao mesmo período do ano passado, quando ficou em R$ 9,057 bilhões, o avanço chegou a 28,86%:

– Os custos aumentaram bastante. Apesar de a indústria estar estagnada, o setor de mineração vive um momento pujante, com muitos projetos. São novas minas e aumento de capacidade por todo o país. Isso encarece as despesas referentes à manutenção de equipamentos, materiais e aluguéis.


Decreto do governo libera para terceiros execução de serviços afetados pela greve

Valor Econômico

Um dia depois de representantes da administração Dilma Rousseff e sindicalistas conversarem sobre uma eventual trégua no movimento grevista que paralisa diversas áreas do Executivo, servidores públicos e autoridades do governo federal deram ontem sinais de que as negociações sobre reajustes salariais correm risco de passar por um processo de radicalização. De um lado, o governo publicou um decreto para não ficar refém dos grevistas e conseguir executar serviços essenciais para a população. E avisou que é dever do gestor público descontar os salários dos faltosos.

No front oposto, servidores da Receita Federal anunciaram que recorrerão à Justiça contra o decreto. Já os servidores do Banco Central informaram que amanhã farão a quarta paralisação deste mês para pedir um reajuste de 23,01%, e ameaçaram deflagrar greve por tempo indeterminado caso o governo não apresente até o dia 31 uma proposta para as 19 categorias do movimento.

O decreto presidencial publicado ontem estabelece que cabe aos ministros de Estado e supervisores de órgãos federais promover convênios com Estados e o Distrito Federal para evitar que atividades essenciais à população sejam paralisadas. Um dos objetivos do Executivo é a liberação de veículos e cargas no comércio exterior. “As medidas adotadas nos termos deste decreto serão encerradas com o término da greve, paralisação ou operação retardamento e a regularização das atividades ou serviços públicos”, prevê o decreto.

Segundo o advogado geral da União, ministro Luís Inácio Adams, o “destravamento” dos portos brasileiros é um dos focos do governo. “A preocupação é garantir que a economia continue a funcionar. O Brasil está em uma situação muito boa, mas está numa situação em que a realidade internacional é incerta. Então, as medidas são necessárias para garantir que o Brasil não sofra com essa realidade”, afirmou Adams ao Valor. “Melhor seria se tivesse a lei de greve específica para o serviço público, mas acho que, no caso concreto, não é um paliativo. O decreto especifica ações para garantir o funcionamento de serviços considerados essenciais para o país.”

Outra fonte do governo avaliou que o decreto abre caminho para a contratação de funcionários temporários para os postos desocupados pelos grevistas. O dispositivo autoriza a substituição de servidores federais por um funcionário semelhante do Estado ou município. Caso o servidor negue a missão, a possibilidade de contratação temporária estaria aberta, disse a fonte. Segundo ela, o “corporativismo” não permitirá que um grande número de auditores estaduais ou municipais assuma o trabalho de um congênere federal.

Em entrevista a jornalistas, Adams afirmou ainda que o corte de ponto de servidores públicos em greve é um debate pacificado na Justiça e entendido como uma obrigação do Estado. “Por conta de uma negociação, você pode no futuro abonar o ponto e compensar as faltas, retornando os pagamentos que foram descontados. Mas isso é uma faculdade do processo de negociação”, explicou o ministro.

Os ministérios foram orientados a alertar os grevistas e fazer com que seus departamentos de recursos humanos tomem as “medidas cabíveis” em caso de falta. Os sindicalistas notaram nos sistemas internos das Pastas que o ponto de alguns dias de julho seriam cortados em agosto, e querem evitar essa medida. Está prevista para hoje uma reunião entre os sindicatos e a Secretaria de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento para negociar a questão.

Para os auditores da Receita Federal, o decreto fere o artigo da Constituição Federal que dá ao Ministério da Fazenda a responsabilidade de fiscalizar e controlar o comércio exterior. O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) decidiu ir à Justiça contra o Decreto nº 7.777, o qual qualificou de “arbitrário” e “inócuo”. Ontem, a entidade ainda não havia decidido se protocolaria um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) ou apresentaria ações ordinárias na primeira instância da Justiça.


Setor vive crise estrutural, longe de acabar

O Estado de S. Paulo

A indústria da cana-de-açúcar vive uma das piores crises da história – para alguns especialistas, mais séria que a da 1989, quando milhares de motoristas ficaram a pé por falta de combustível. Hoje, como os motores flex, não há riscos dessa natureza. Mas nem por isso a situação deixa de ser delicada. Com a crise de 2008, o setor saiu de uma onda de euforia para uma apatia extrema. Endividadas no curto prazo, muitas empresas entraram em processo de recuperação judicial ou foram incorporadas por grandes grupos. Outras continuam até hoje debilitadas, mas tentando se reerguer.

Nesse período, preocupadas em se manter de pé, deixaram de lado o bem mais precioso do setor: a cana-de-açúcar. Sem dinheiro em caixa, as companhias não investiram na renovação dos canaviais, que enfrentaram condições climáticas bastante desfavoráveis. Para piorar o cenário, as cerca de 120 novas unidades abertas a partir de 2005 em várias regiões do País não tiveram o resultado esperado. As variedades de cana plantada não se adaptaram da forma como os investidores planejaram. Resultado: a produtividade desabou, enquanto o consumo de etanol não parava de crescer.

Hoje, o setor vive a crise da falta de cana. Algumas usinas estão com 15%, 20%, 30% da capacidade ociosa porque não tem matéria-prima para produzir, relata o ex-presidente da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, da Consultoria Expressão. “É uma crise muito séria. É estrutural e está longe de acabar. Para renovar um canavial, leva-se 4 ou 5 anos. Estamos chegando ao fundo do poço. Precisamos de uma política de investimento.” Mas é preciso ir além: o governo tem de definir de forma clara qual será o futuro do etanol na matriz energética brasileira.


Menos emprego puxa déficit no INSS

O Globo

A desaceleração dos empregos formais já começa a provocar efeito negativo nas contas da Previdência Social, que fechou o mês passado com déficit de R$ 2,757 bilhões. O valor é 38,1% superior ao registrado em igual período de 2011. Foi a maior alta desde junho de 2010. Em maio, o déficit fora de R$ 2,579 bilhões.

No mês passado, a arrecadação líquida com as contribuições previdenciárias cresceu abaixo do esperado e ficou em R$ 21,631 bilhões, alta de 5,1%, após dois anos consecutivos em que o crescimento mensal das receitas vinha superando a inflação em mais de 8%. Já as despesas com pagamento de benefícios se mantiveram neste patamar e atingiram R$ 24,389 bilhões.

– O crescimento na arrecadação líquida foi bom, mas abaixo do que vinha sendo registrado e inferior às nossas expectativas – disse o secretário de Previdência Social, Leonardo Rolim.

Para ele, a queda no ritmo da arrecadação pode ser um sinal de que a estagnação da economia começou a se refletir no mercado de trabalho. A abertura de novas vagas recuou 25,9% no primeiro semestre do ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Nos primeiros seis meses foram abertos 1.047.914 novos postos, contra 1.414.660 postos abertos no mesmo período do ano passado.

Para Rolim, é preciso esperar os dados do emprego neste mês para verificar se esta é a tendência e, caso se confirme, uma retomada deve ocorrer em outubro.

– De qualquer forma, é preocupante – disse ele.

Até então, as contas do INSS vinham se beneficiando da geração de empregos. No semestre, o déficit da Previdência foi de R$ 20,780 bilhões, mantendo-se praticamente estável em relação aos primeiros seis meses de 2011.

No mês passado, a Previdência pagou 25.540 milhões de benefícios previdenciários (como aposentadorias e pensões). Também foram desembolsados mais 3.939 milhões de benefícios da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) a idosos e deficientes de baixa renda, que não contribuíram para o regime.

Para 2012, o rombo no regime de aposentadoria está projetado em R$ 39,5 bilhões, mas, na avaliação do Ministério, o resultado consolidado ficará um pouco abaixo, cerca de R$ 38 bilhões


Petrobras cobra conta de R$ 2,4 bi da Eletrobras

Valor Econômico

Uma dívida de R$ 2,4 bilhões entre as duas maiores estatais brasileiras pode parar na Justiça. A Petrobras decidiu dar fim ao calote que a BR Distribuidora está recebendo da Amazonas Energia, controlada pela Eletrobras, já que desde 2009 a distribuidora da petroleira não recebe por todo o óleo combustível e diesel consumidos pelas termelétricas que operam no Norte do país. A dívida corresponde a quase duas vezes o lucro da BR no ano passado, que foi de R$ 1,267 bilhão.

Em dólares, o valor da dívida soma US$ 1,18 bilhão, o que permitiria pagar, com sobra, uma das modernas sondas de perfuração em águas ultraprofundas que serão construídas no Brasil ao custo aproximado de US$ 1 bilhão. “Na prática, é uma tentativa de transferir uma ineficiência do setor elétrico para a Petrobras”, afirma um executivo da BR.

A origem do problema, sob o ponto de vista da Eletrobras, é uma divergência de interpretação entre a concessionária de energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com relação às regulamentações da Lei 12.111, de julho de 2009, relacionadas às despesas cobertas pela bilionária Conta de Consumo de Combustíveis (CCC).

“Esse é um problema gerado pela regulamentação de uma legislação que não está conseguindo dar o devido equilíbrio econômico à concessão”, afirma Marcos Aurélio Madureira da Silva, diretor de Distribuição da Eletrobras e presidente de todas as distribuidoras controladas pela estatal de energia.

O diretor da Eletrobras faz questão de frisar que o que chama de déficit não é gerado por inoperância ou por problemas de gestão da Amazonas Energia. “Ele [déficit] está sendo gerado por uma divergência quanto aos critérios de cobertura dos custos de geração do sistema isolado”, afirma, admitindo contudo que a Petrobras não tem nada a ver com o assunto, a não ser o fato de ser também uma estatal.

A Eletrobras já acertou com a BR o parcelamento de uma parte da dívida, no valor de R$ 725 milhões, o que agora terá de ser aprovado pelo conselho de administração. Quanto aos R$ 1,6 bilhão restantes, que ainda não incluem correção, Madureira diz que precisa se entender com a Aneel antes de pagar.

Vendo esgotadas as possibilidades de receber pela via da negociação, a Petrobras resolveu agir. Em uma carta para a Eletrobras, a distribuidora de combustíveis informou que vai passar a exigir garantias da controladora nas vendas de combustível para a Amazonas Energia. “Sem a garantia, só vamos entregar combustível com pagamento prévio”, informou uma fonte qualificada ao Valor.

Durante muitos anos, a Petrobras se transformou em uma espécie de fiadora indireta da estatal de energia, antecipando pagamentos para a BR pelo óleo vendido para geração no Amazonas de modo que a distribuidora não tivesse que carregar esse atraso nos pagamentos em seus balanços. Mas em 2009, depois da Lei 12.111, a situação se agravou e a dívida aumentou. Em maio de 2011, a Petrobras decidiu não mais esconder o problema, deixando de compensar a dívida internamente. Era claro que o rombo era muito grande para suportar e o impacto no caixa da distribuidora foi relevante.

“Esse número é muito significativo para a BR. Sabemos da nossa responsabilidade social e das consequências se pararmos o fornecimento de combustível para a região. Mas não podemos mais ficar de braços atados”, desabafou uma fonte da distribuidora de combustíveis.

O Valor conversou com executivos da Petrobras e da BR sobre o assunto, mas dado o constrangimento que suscita, todos pediram para não terem seus nomes divulgados. Explica-se: as duas estatais estão submetidas ao Ministério de Minas e Energia, sendo que o secretário executivo do MME, Márcio Zimmermann, é membro do conselho de administração de uma e preside o conselho da outra. Em março, o assunto foi levado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente dos conselho de administração da Petrobras e do conselho da distribuidora de combustíveis. Mantega deu sinal verde para a cobrança judicial.

Apontada como estopim, a Lei 12.111 permitiu, por exemplo, que despesas com operação e manutenção de equipamentos também fossem deduzidos da conta de combustíveis. A CCC é um encargo setorial pago por todos os brasileiros na conta de luz para subsidiar a geração de energia no Norte do país, que não está conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de distribuição. As geradoras que operam no chamado Sistema Isolado têm direito a subsídio para pagamento das despesas com a compra de combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica, que custam mais caro.

Em 2012, o orçamento da CCC é de R$ 3,2 bilhões. Em 2011, chegou a R$ 5,85 bilhões e, em 2010, de R$ 4,757 bilhões. Administradora da CCC, a Eletrobras está sob pressão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que vem cobrando mais eficiência na gestão do parque gerador na região. Em 2007 a Aneel multou em R$ 11,9 milhões a Eletrobras por má gestão dos recursos arrecadados pela CCC. Apontada pela Eletrobras como responsável pelo problema, a Aneel não respondeu aos pedidos de entrevista. A assessoria de Zimmermann, no MME, também disse que não iria comentar o assunto.


Cai número de empresas exportadoras

Valor Econômico

O número de empresas brasileiras que exportaram no primeiro semestre deste ano é o mais baixo desde 2005. Nesses oito anos, o auge na quantidade de companhias exportadoras na primeira metade do ano foi em 2007 – antes de estourar a crise econômica mundial. Desde então, esse número registra consecutivas quedas tanto na comparação por semestre como na anual. A maior redução ocorreu em 2009, período de forte efeito da crise no Brasil, quando houve retração de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB).

E esse indicador do comércio exterior brasileiro não dá sinais de recuperação. No primeiro semestre deste ano, 352 empresas que venderam mercadorias no exterior em 2011, deixaram de exportar – uma queda de 2,25%. Por outro lado, o total de importadoras aumentou 20% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2011, percentual que representa 434 novos compradores de mercadorias no exterior. O levantamento foi feito com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Desde 2007, enquanto 1,7 mil empresas desistiram de exportar (na comparação do primeiro semestre de cada ano), um número quase sete vezes maior (11,2 mil empresas) passou a importar mercadorias.

Por depender de uma maior demanda global – o que não é esperado -, a previsão de analistas é que menos companhias brasileiras embarquem mercadorias para o exterior neste ano e também em 2013. Atento a esse movimento, o governo deve lançar em agosto o Plano Nacional de Cultura Exportadora, que já foi anunciado. A ideia é promover ações coordenadas com alguns Estados e com 14 instituições, como Banco do Brasil, bancos de desenvolvimento e Sebrae para dar suporte no mercado externo, principalmente, para pequenas e médias empresas.

“O foco será no setor de manufaturados, mas também inclui companhias da agroindústria”, disse, ao Valor, o diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior (Depla) do Mdic, Roberto Dantas.

De 2007 para cá as mudanças na lista de empresas nacionais exportadoras ocorreram apenas entre as menores companhias. Mesmo com a instabilidade econômica mundial, o número de empresas que venderam mais de US$ 1 milhão para o exterior, no primeiro semestre, permaneceu exatamente o mesmo – 3.253 – no período. As exportadoras menores, por outro lado, caíram de 13,6 mil para 11,9 mil entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2012.

“A pauta de exportação do Brasil está muito concentrada em commodities e pouco em manufaturados. E quem exporta commodities são grandes grupos empresariais”, disse Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ela, o governo deveria reduzir o custo da produção nacional, pois mesmo com o câmbio mais favorável à exportação, as empresas estão com dificuldade de conquistar o mercado externo.

Apesar da redução na quantidade de empresas que vendem, no exterior em seis anos, as exportações cresceram 60% na mesma comparação. No primeiro semestre de 2007, o país exportou US$ 73,2 bilhões. Na primeira metade desse ano, esse valor foi de US$ 117,2 bilhões. “As exportações que aumentam são as de commodities. As [exportações] industriais, que são a parte central das empresas que vendem até US$ 1 milhão ao exterior, devem continuar caindo nos próximos anos”, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Como a redução no número de exportadoras, para ele, deve continuar, “a crise externa agora é apenas mais um elemento na desaceleração das exportações brasileiras”.

Para Vale é importante que o país agregue valor a produtos da agricultura e mineração. Essa seria uma “saída para mudar esse cenário, mas aí esbarramos [nos problemas] de logística e de custo de produção”, afirma.

Para o economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Rodrigo Branco, o empresário deveria buscar a diferenciação do produto para atender mercados específicos, já que ele não vê, no curto prazo, medidas do governo para melhorar a competitividade das pequenas e médias companhias. “O foco agora do governo é realmente auxiliar os grandes grupos industriais a retomar a produção”, destaca o economista.


Procura por emprego voltou a crescer, aponta Dieese

Valor Econômico

Após vários meses de estabilidade, a população economicamente ativa (PEA) voltou a crescer em junho num ritmo mais forte que a ocupação, o que aumentou a taxa de desemprego no mês, de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do Dieese e da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Em junho, a desocupação no conjunto das sete regiões metropolitanas monitoradas ficou em 10,7%, ante 10,6% em maio, e 10,9% em junho do ano passado.

De acordo com a pesquisa, a PEA aumentou em 109 mil pessoas na comparação com maio. No entanto, a ocupação cresceu em 86 mil. A diferença (23 mil) é a quantidade de desempregados a mais no mercado de trabalho nas regiões metropolitanas.

Alexandre Loloian, economista da Fundação Seade, atribuiu o crescimento da PEA à volta de pessoas que seguraram a sua entrada no mercado de trabalho neste ano, seja devido às incertezas quanto aos rumos da economia, seja para se dedicar mais tempo a outras atividades, como aos estudos.

Ana Maria Belavenuto, economista do Dieese, afirma que o comportamento do mercado de trabalho neste ano tem sido semelhante ao que ocorreu em 2011, mas com patamar menor de desemprego. “Se as previsões de crescimento em ritmo mais forte no segundo semestre forem confirmadas, a taxa pode voltar a cair a partir de setembro (movimento observado em 2011)”, disse. Há também o fator sazonal. A taxa de desemprego tende a cair no segundo semestre. A economista ainda observou pontos positivos nos dados mostrados pela pesquisa. “Vemos o avanço da formalidade no mercado, com crescimento do rendimento”.

Embora na comparação de maio com abril o rendimento médio real dos ocupados e dos assalariados tenha caído 0,4% e 0,1%, respectivamente, no confronto com o mesmo período do ano passado, ambos apresentaram alta de 2,5%. Na PED, os dados relativos à renda são sempre referentes ao mês anterior ao da pesquisa de desemprego.