Nível de gasto do brasileiro com dívida bancária preocupa o FMI
Apesar dos avanços do Brasil nas áreas de regulação e supervisão bancária, o Fundo Monetário Internacional ainda vê riscos decorrentes da expansão acelerada do crédito nos últimos anos e enxerga indícios de tensões em algumas classes de ativos, especialmente nos empréstimos às famílias e no setor imobiliário, que poderiam, no ambiente de queda dos juros, levar à formação de bolhas.
De acordo com dados citados pelo FMI, o endividamento do brasileiro não está entre os mais altos, hoje na casa dos 30% de toda a renda disponível. Entretanto, o nível de comprometimento da renda com os serviços da dívida, ou seja, com o pagamento das parcelas mensais, está entre os maiores do continente americano.
Por aqui, 23% da renda mensal das famílias é gasta com o pagamento de juros e a amortização da dívida, enquanto no México, na Colômbia e no Peru essa relação está ao redor ou abaixo de 10% (ver gráfico).
Até mesmo nos Estados Unidos, onde o endividamento total corresponde a 100% da renda disponível, a relação dos gastos mensais com as prestações toma apenas 10% da renda dos americanos a cada mês, ou seja, menos da metade dos brasileiros.
Em outras palavras, o brasileiro tem baixo endividamento, mas mesmo assim compromete uma expressiva parcela de seus ganhos mensais com suas dívidas. Por conta disso, qualquer queda na renda ou piora do emprego, em uma conjuntura mais difícil, poderia ser explosiva para as famílias, como alerta o Fundo.
“Apesar de parecer sustentável por enquanto, com os altos níveis de emprego e renda, as famílias podem se mostrar altamente endividadas em um cenário de desaquecimento econômico”, diz o Fundo. “Além disso, a tendência atual do crédito e da inadimplência sugere que alguns segmentos de dívida podem já estar sob pressão.”
O que explica a diferença entre os números do Brasil e do restante dos países são as taxas de juros elevadas, quase três vezes maiores do que em países como México e Chile, e os prazos dos empréstimos, bem mais curtos que os demais – nesse caso como consequência do baixo volume de financiamento imobiliário na comparação internacional.
E não é apenas o endividamento que preocupa o FMI. “Há indícios de crescente tensão em alguns setores e classes de ativos, com destaque para o endividamento das famílias e o rápido aumento dos preços dos imóveis nas principais regiões, como São Paulo e Rio de Janeiro.”
A avaliação está no mais recente relatório elaborado dentro do Programa de Avaliação do Setor Financeiro, executado pelo FMI em conjunto com o Banco Mundial em 25 países emergentes. O documento, que reconhece avanços do sistema financeiro do país e elogia a fiscalização do Banco Central, destaca que os ativos do setor financeiro mais do que dobraram ao longo da última década e as autoridades precisam estar atentas os riscos externos e internos.
O FMI pondera que as “incertezas são mitigadas pela supervisão bancária robusta e pelos elevados níveis de proteção em termos de capital e liquidez nos bancos, mas é preciso manter a vigilância, aperfeiçoar os dados e estar pronto para intervir e controlar essas fontes de aquecimento se necessário.”
O documento vai além ao afirmar que até uma bolha de ativos poderia ser causada por um aquecimento acima do usual em um cenário de queda dos juros. “À medida que os juros no Brasil continuam a cair e se aproximar de níveis internacionais, a procura cada vez maior dos investidores internos por rendimentos mais altos pode levar a uma subestimação do preço do risco e à formação de bolhas de preços de ativos”, avalia o Fundo, apesar de ressaltar que o risco sistêmico é pequeno hoje.
O Banco Internacional de Compensações já havia alertado sobre os riscos do crescimento acelerado do crédito no país em seu informe anual, de junho.
Com relação às ameaças externas, o FMI avalia que assim como o restante da economia brasileira, o sistema financeiro está exposto “aos efeitos da volatilidade dos mercados internacionais”, sobretudo pelas variações nos preços das commodities e pela mobilidade do capital estrangeiro.
“Um novo conjunto de riscos pode ser vislumbrado no horizonte, o que exigirá um monitoramento cuidadoso daqui em diante”, diz o diretor assistente do departamento de mercados monetários e de capitais do FMI, Dimitri Demekas, em nota.
Para ele, a expansão acelerada do crédito nos últimos anos apoiou o crescimento da economia interna e o aumento da inclusão financeira, mas essa expansão também pode gerar vulnerabilidades. “Existe o risco de que o sistema financeiro se torne vítima de seu próprio sucesso no país”, diz Demekas, que chefiou a equipe encarregada da avaliação, realizada entre os dias 6 e 21 de março.
Ainda de acordo com o FMI, para afastar o sistema financeiro do atual equilíbrio entre taxas de juros elevadas e prazos médios curtos e ainda atender ao objetivo de crescimento econômico de longo prazo, serão necessárias uma “condução cuidadosa” e amplas reformas. “Em vez de olhar para trás, o sistema deve ser fortalecido para poder suportar uma variada gama de possíveis choques no futuro”, diz Demekas. Entre as medidas, está a necessidade de uma regulamentação sobre centrais de avaliação de crédito, o fortalecimento do mecanismo do Banco Central para concessão de financiamento emergencial aos bancos no caso de crise no sistema financeiro e o reforço da proteção jurídica de todos os supervisores do setor.
O Fundo lembra que a reforma da governança do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) já foi implementada, mas é preciso tornar mais rigorosos os critérios para concessão de ajuda aos bancos e garantir uma fonte de recursos segura e em nível suficiente no caso de uma crise.
Nessa mesma linha, o FMI recomenda que se fortaleça a comissão encarregada do monitoramento de riscos sistêmicos e da preparação contra crises e que se inclua nessa comissão o FGC.
O FMI vê avanços no sistema bancário brasileiro, incluindo um quadro de gestão de crise que ajudou a proteger o sistema financeiro contra o impacto da crise mundial em 2008. O fundo avalia ainda que o Brasil melhorou a fiscalização de seu sistema financeiro. “[A fiscalização] é profunda e complexa, se baseia no risco e apresenta um elevado grau de conformidade com as normas internacionais.”
Além de apoiar o sistema contra futuros choques, diz o Fundo, o principal desafio nos próximos anos será aumentar a contribuição do setor financeiro para o crescimento do Brasil no longo prazo. Nesse contexto, o FMI alerta que será preciso tomar medidas para “reformar o crédito imobiliário e modificar o papel dos bancos estatais, sobretudo do BNDES”.
Renda sobe nos EUA, mas gasto fica estagnado
Valor Econômico
Os americanos estão ganhando mais dinheiro – porém economizando-o em vez de gastá-lo, esfriando as esperanças de uma recuperação econômica puxada pelo consumo.
A taxa de poupança pessoal, ou seja, a poupança como porcentagem da renda disponível, saltou de 3,2% em novembro e 4% em maio para 4,4% em junho, informou ontem o governo, com os consumidores guardando dinheiro para se proteger contra a economia fraca, em vez de gastar e aproveitar as taxas de empréstimos que estão entre as mais baixas já registradas.
Os gastos em todas as categorias, de viagens de férias até roupas, ficaram praticamente inalterados em junho, com uma redução inferior a 0,1%, depois de caírem 0,1% em maio, apesar de que a renda disponível dos americanos, ou seja, a renda após os impostos, subiu 0,4%, o maior aumento desde março. Os gastos do consumidor são o maior motor da economia americana, respondendo por quase dois terços da demanda.
O fato de que os americanos estão poupando mais é uma faca de dois gumes para a economia. No longo prazo, a poupança ajuda as pessoas a ter uma proteção contra futuros contratempos financeiros e acumular riqueza que pode estimular o consumo no futuro. A poupança também os protege contra altas no preço da gasolina e dos alimentos. Mas economizar tostões suga a vida da economia americana, que depende fortemente dos gastos do consumidor e enfrenta perspectivas sombrias, agora que outros geradores de crescimento, como a indústria, perdem impulso.
“É uma boa notícia para o futuro, mas pouco ajuda a economia dos Estados Unidos”, disse Eugenio Alemán, economista sênior da Wells Fargo Securities. “As pessoas estão guardando dinheiro para continuar formando uma reserva para o caso de que a economia e sua situação pessoal piorem.”
Outros sinais de cautela do consumidor provavelmente serão frustrantes para as autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, que já fez várias tentativas de avivar a economia por meio de medidas não convencionais, reduzindo os juros de longo prazo para estimular os gastos e investimentos. As autoridades do Fed estão se reunindo esta semana para discutir o cenário econômico e seus próximos passos, em meio a expectativas crescentes de que talvez anunciem outras medidas para estimular a economia.
No início do ano, os economistas tinham esperanças de que as melhoras no mercado de trabalho, taxas de juros de referência menores e a queda do preço da gasolina poderiam levar o público a gastar mais. Se a demanda para bens e serviços crescesse, as empresas precisariam contratar mais, criando um ciclo positivo onde os gastos puxariam as contratações. Mas há poucos sinais de que isso esteja acontecendo. O crescimento econômico dos EUA caiu para uma taxa anual de 1,5% no segundo trimestre, inferior aos 2% do primeiro trimestre e aos 4,1% do quarto trimestre de 2011. Um grande empecilho foi o crescimento mais lento nos gastos do consumidor, que caíram de 2,4% no primeiro trimestre para 1,5% no segundo.
Há sinais de que o público poderia recuperar parte do seu apetite pelos gastos. O crescimento dos gastos pessoais no segundo trimestre, embora fraco, foi mais forte do que no mesmo período do ano passado, quando subiu apenas 1%. Embora o mercado de trabalho não esteja melhorando, também não está piorando como ocorria há alguns meses. E o mercado imobiliário dá sinais de estar saindo do fundo do poço.
Ontem, o índice S&P/Case-Shiller mostrou que os preços dessazonalizados dos imóveis residenciais subiram 0,9% em maio, continuando as recentes melhorias. Quando esses preços sobem, os americanos tendem a se sentir mais ricos e ficar mais dispostos a gastar.
O Conference Board, um grupo de pesquisa privado, informou ontem que seu índice de confiança do consumidor subiu ligeiramente em julho, para 65,9, após quatro meses de queda, possivelmente um sinal de que o pessimismo dos consumidores em relação à economia parou de cair. Mesmo assim, a confiança continua em níveis historicamente baixos, e os consumidores estão, na verdade, ainda mais preocupados com sua situação atual, mostrou a pesquisa.
“Embora a opinião pública sobre a economia possa ter se estabilizado [isso se não houver maior deterioração econômica], é prematuro especular sobre uma recuperação”, disseram economistas do Royal Bank of Scotland Group PLC em um relatório de análise.
Desemprego bate novo recorde no euro
Valor Econômico
O desemprego bateu novo recorde nos 17 países da zona do euro, e a inflação continuou inalterada em 2,4% em junho, indicando que o consumo continuará frágil na região combalida pela crise da dívida soberana.
Já no Japão, a taxa de desemprego caiu ligeiramente, para 4,3%, com criação de novos postos de trabalho no setor manufatureiro e na construção. Nos próximos trimestres, a situação do mercado de trabalho na economia japonesa tende a melhorar principalmente em razão da diminuição da população ativa, com aposentadoria da geração do boom de bebês do pós-guerra mundial. Comparada com o ano passado, a contração é de 0,5%, segundo o banco francês BNP Paribas.
Na Europa, as pressões crescem para o Banco Central Europeu (BCE) agir mais decisivamente contra a crise da dívida soberana e frear a deterioração da economia, em sua reunião desta quinta-feira.
O número de desempregados na zona do euro atinge agora 17,8 milhões de pessoas, número equivalente à população conjunta da Áustria e de Portugal.
A taxa subiu para 11,2% da população ativa, comparado a 10,2% em junho do ano passado. Em um ano, dois milhões de pessoas engordaram a fila dos sem- trabalho na união monetária.
Sem surpresa, as economias da periferia têm o pior desempenho. As taxas de desemprego subiram para 24,8% na Espanha, 22,5% na Grécia, 15,4% em Portugal e 14,8% na Irlanda.
Mas há também claros sinais de fragilidade em economias centrais. A taxa subiu na França para 10,2% em julho. E embora estatística comparável mostre que na Alemanha houve queda de 5,5% para 5,4%, dados nacionais apontam na verdade para o quarto mês consecutivo de alta do desemprego na maior economia do continente.
Pesquisas sinalizam diminuição das contratações, e o desemprego continuará aumentando. A renda das famílias europeias tende a sofrer baixa real e afetar mais o consumo já fraco.
Em junho, a taxa de inflação permaneceu em 2,4% anualizada, ligeiramente acima do objetivo de 2%, por causa de alta do preço do petróleo. Mas o aprofundamento da recessão e a capacidade não utilizada tendem a empurrar a inflação para baixo, podendo ficar em 0,7% no ano que vem, nos cálculos de alguns analistas.
Por sua vez, com as perspectivas econômicas continuando a se deteriorar, vários governos da união monetária terão dificuldades para cumprir os planos de ajuste fiscal. Os últimos dados mostram que a maioria dos governos dos 17 países do euro acumula déficits maiores no primeiro trimestre do que no mesmo período do ano passado.
A Irlanda foi o único país da periferia do euro a reduzir seu déficit. Grécia e Itália tiveram o pior desemprego. O governo grego continua enfrentando coleta de impostos menor do que a esperada.
Na Espanha, o governo revisou para o alto seu déficit, apesar de recentes medidas fiscais adicionais. Portugal, por sua vez, fez progressos no aperto das contas.
Atividade industrial de SP tem 5º trimestre de queda
Valor Econômico
A atividade na indústria de transformação paulista fechou o quinto trimestre consecutivo em queda, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ontem, a entidade divulgou o Índice de Nível de Atividade (INA) de junho, que registrou alta de 0,7% na comparação dessazonalizada ante maio. Essa é a primeira expansão mensal da atividade da indústria paulista, com ajuste, desde fevereiro, quando se elevou 1,3%.
Segundo Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos, a Fiesp revisará para baixo a previsão de queda de 2% da atividade industrial em São Paulo em 2012, ante 2011. Ele explica que, para atingir esse resultado, seria necessário crescer 1,8% ao mês seguidamente até o fim do ano, o que é improvável, na sua avaliação. A previsão da Fiesp para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2012 é de 1,8%, o que também deve ser revisado no próximo mês.
Em 2012, a indústria de transformação paulista acumula queda de 6,4% em relação ao primeiro semestre do ano passado. No acumulado em 12 meses encerrados em junho, a atividade da indústria paulista teve contração de 3,8%. Também em junho, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) subiu para 80,6%, com ajuste sazonal, ante 80,4% em maio. Em junho do ano passado, o Nuci estava em 82,2%, com ajuste.
A pesquisa Sensor, que mede as expectativas da indústria paulista para o mês corrente, mostrou que o humor está melhor na indústria em relação a julho. O índice geral passou de 48,4 pontos para 49,6. Números abaixo de 50 pontos indicam pessimismo, mas, segundo Francini, o resultado de julho já pode ser considerado no campo positivo. No entanto, houve uma piora na percepção dos estoques, que registrou 43,2 pontos em julho – o que indica estoques acima do ideal. Em junho, o grupo tinha registrado 47,0 pontos.
Resultado do 2º semestre terá de ser maior que o do 1º
Valor Econômico
O dado relevante do resultado fiscal divulgado pelo Banco Central (BC) é a desaceleração do superávit primário, por causa da frustração da receita em relação ao inicialmente programado e da manutenção de um ritmo forte de aumento dos gastos públicos. De janeiro a junho, o superávit primário de todo o setor público atingiu o equivalente a 3,06% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo BC para o período, ou seja, ficou abaixo da meta de 3,1%. O governo federal até que ficou acima de sua meta, mas não conseguiu compensar o fraco desempenho de Estados e municípios. Assim, o superávit primário do segundo semestre terá que ser maior do que o do primeiro para que a meta cheia seja cumprida, sem o desconto dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O normal é que ocorra justamente o contrário. Tradicionalmente, o governo procura poupar mais nos primeiros seis meses do ano, porque sabe que existe maior concentração de pagamentos no segundo semestre. É uma espécie de “gordura” do Tesouro Nacional, feita por meio da administração das despesas na boca do caixa.
Em 2011 o superávit primário do setor público de janeiro a junho ficou em 3,9% do PIB. Nos meses seguintes foi caindo e fechou o ano em 3,11%. Naquele ano, o governo federal conseguiu compensar a frustração do resultado de Estados e municípios, que pouparam 0,85% do PIB, ante meta de 0,95%.
Para ter um desempenho fiscal melhor no segundo semestre o governo federal, Estados e municípios precisam de um melhorar as receitas, o que só acontecerá com a aceleração da economia. A alternativa seria reduzir gastos e poupar mais, o que não deve ocorrer.
Brasil é 72º em ranking de inclusão digital
Valor Econômico
O Brasil é o 72º país no ranking mundial de inclusão digital. Com uma taxa de inclusão de 51,2%, o país está acima da média mundial de 49,1%, aferida em 156 países.
O levantamento foi divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas a partir de dados do Instituto Gallup, que aferem o índice ITIC de inclusão digital. O ITIC mede o acesso de pessoas com 15 anos ou mais à telefonia móvel e à telefona fixa, além do computador residencial e ao acesso à internet em casa.
A Suécia, com ITIC de 95,8%, lidera o ranking, seguida pela Islândia (95,5%) e Cingapura (95,5%). Os piores países do ranking estão na África: são a República Centro Africana (5,5%) e o Burundi (5,8%).
Para o economista do Centro de Políticas Sociais (CPS/FGV) Marcelo Neri, que coordenou a pesquisa, “o celular é a plataforma que puxa a inclusão digital no Brasil”. Sem contabilizar o acesso à telefonia móvel, o ITIC brasileiro cairia para 39,3%.
No país, as desigualdades também são grandes. Os municípios com melhor desempenho são aqueles onde a população possui maior renda e nível escolar. A lista é liderada por São Caetano do Sul (SP), com ITIC de 82,6%, seguida por Santos, com 78,1%, e Florianópolis, com 77%. As três têm índices semelhantes aos dos países considerados os mais inclusivos do mundo.
No outro extremo, os municípios de Fernando Falcão, no Maranhão (3,7%); Chaves, no Pará (3,78%); e Uiramutã, em Roraima (4,5%) assemelham-se às nações africanas de pior desempenho.
A mesma lógica se aplica aos bairros das metrópoles brasileiras. Moema, em São Paulo, é o distrito com maior índice de inclusão digital (93%). No ranking global, o bairro ficaria na quinta melhor posição, entre a Nova Zelândia e a Holanda. No Rio de Janeiro, a Lagoa é o distrito com maior índice de inclusão (88,9%).
Nos centros urbanos brasileiros, mesmo as favelas apresentam taxa de inclusão digital acima da média mundial de 49,1%. O complexo da Maré, com ITIC de 55,9%, Jacarezinho (54,4%) e Complexo do Alemão (50,8%), todos no Rio, também estão acima da média brasileira, de 51,2%.
Para Neri, o bom desempenho das favelas está baseado na propagação do uso dos telefones celulares. Por ser um dispositivo mais barato e tecnologicamente acessível, “o celular é a tecnologia que está onde os pobres estão, seja na África ou no Norte e Nordeste [do Brasil]”, disse o economista. O aumento da telefonia móvel na última década acompanha o crescimento da classe C, afirmou Neri. “O celular é o símbolo da nova classe média”. Para o economista, o aparelho é a plataforma ideal para a inclusão digital das classes mais pobres.
Entre 2001 e 2009, o acesso dos brasileiros à telefonia móvel cresceu 165%, passando de 30% para 81,5% dos domicílios, segundo dados da Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) do IBGE. O salto se contrapõe ao recuo de 14% da telefonia fixa nas residências no mesmo período.
Atualmente 87% dos domicílios brasileiros têm cobertura de telefonia móvel, enquanto os computadores com internet estão em apenas 40% dos lares do país. Na média mundial, esses números são respectivamente de 79,9% e 36,2%.