Os operários da “Siderúrgica Grega” derrubaram os planos patronais e prosseguem com outras formas de luta
Os operários da “Siderúrgica Grega” que estavam em greve, depois de nove meses (272 dias), novamente entram na fábrica pela porta principal, fazendo uma manifestação, cerrando os punhos e levando um cravo na mão. Executam a decisão de sua vigésima assembléia geral realizada ao meio-dia de sábado, segundo a qual eles entrariam na fábrica para continuar sua luta de outras formas e derrubando os planos do empregador uma vez mais. Manesis já tinha deixado claro que queria conduzir a greve à derrota, desmantelar o sindicato dos trabalhadores e, para isso, contou com o apoio total do governo, que pôs à sua disposição os meios estatais de repressão.
Os operários em greve, juntamente com todos os membros da direção do Sindicato da “Siderúrgica Grega”, chefiados pelo seu presidente, Giorgos Sifonios, passaram pela entrada de forma organizada, sendo os verdadeiros vencedores dessa batalha de greve que durou nove meses. Haviam se antecipado às aspirações de ofensiva patronal, com os meios de repressão estacionados na entrada para permitir a entrada para os trabalhadores um a um, após mostrarem sua identidade e terem aprovação do empregador. Sua determinação obrigou o patrão a retroceder. Com o retrocesso simultâneo dos meios de repressão e das demais forças policiais, os trabalhadores por si só abriram a porta principal e se dirigiram aos seus postos, sob os aplausos e palavras de ordem dos presentes: “Nove meses de greve, essa greve será lembrada para sempre”, “o aço é feito com sangue e suor, os trabalhadores não abaixam a cabeça”, “luta, ruptura, derrubada, os trabalhadores da Siderúrgicamostram o caminho”.
A decisão de parar a greve e continuar a luta por outras formas se fez diante da proposta unânime da direção do sindicato, apresentada pelo seu presidente, Giorgos Sifonios, sendo apoiada pela imensa maioria da assembleia. Na proposta, entre outros pontos, dizia-se o seguinte:
Há 272 dias, diante do dilema imposto por Manesis – de trabalharmos por cinco horas ou serem demitidos 180 operários –, por meio de nossa assembleia, respondemos unanimemente com a greve. Ou seja, fizemos o que devia fazer todo operário com autorrespeito e com respeito pela sua classe. Nenhum de nós, naquele momento, seria capaz de prever que começávamos uma greve que se tornaria uma das lutas mais brilhantes do movimento operário de nosso país e internacionalmente, que se tornaria um ponto de referência. (…) A conclusão é de que nunca aprenderíamos e nunca conquistaríamos se não vencêssemos o medo. Se não tivéssemos entrado na luta unidos e decididos.
Temos um balanço muito bom.
Organizamos 20 assembleias, nas quais coletivamente avaliamos a situação e determinamos nossos passos seguintes. Ao lado da direção do sindicato, constituímos vários comitês que ajudavam na melhor organização, na segurança, na agitação e na solidariedade. Entraram todos os membros de nossas famílias na luta, foram mulheres e filhos. Dirigimos um chamado aberto a toda a classe operária e ao povo trabalhador, para que apoiassem nossa luta. Levantamos um movimento de solidariedade único de todas as partes da Grécia, bem como de vários lugares do estrangeiro.
Organizamos diante da fábrica mais de 50 atos, concentrações, manifestações, shows, apresentações de livros, atos para crianças, para as mulheres… Passamos todos juntos o Natal, a véspera de Natal, o carnaval, a Páscoa, tornamo-nos, através da luta, uma “família”, tal como devem ser os operários. Pela entrada da Siderúrgica, passaram milhares de trabalhadores, de jovens, de aposentados, de estudantes, de universitários, de trabalhadores de todo o mundo. Tornou-se uma escola de educação classista. Levamos nossa luta para fora da porta da Siderúrgica, chegando até o fim do mundo. Conduzimos o chamado dos operários da Siderúrgica a dezenas de fábricas na Ática e em outras cidades. São centenas as manifestações e os atos de solidariedade que tiveram lugar em toda a Grécia e em dezenas de cidades estrangeiras. Provocamos uma série de greves de solidariedade em Triasio (assim se chama a região onde se encontra a fábrica), na Ática, em Volos, para que se organizasse melhor a resistência dos operários em muitos postos de trabalho. Nossa luta se tornou uma fonte de inspiração de luta para os operários, para os jovens, para os estudantes. São centenas de cartas emocionantes por parte dos estudantes primários e secundários, que expressaram sua solidariedade. Escreveram-se poemas, fizeram-se canções e é certo que seguirão sendo escritos ainda mais no futuro. Nossa luta será lida, será contada, será cantada por muitos anos mais.
Nossa greve ofereceu uma experiência rica e conclusões que servirão para as lutas do futuro. Por isso, sua contribuição é muito grande. Alguns se perguntam com boa-fé e outros com má-fé: “o queessa luta resultou?”, “o que os operários ganharam da Siderúrgica, já que suas reivindicações não foram atendidas?”. Nós dizemos que a resposta é simples. Nenhuma grande luta se fez ou se fará tendo garantidas as condições para a vitória, tendo previstos sem erros todos os casos possíveis. Na vida não há lutas assim. Apenas na cabeça dos burocratas, dos medrosos e dos conciliadores.
O resultado da luta não se conta apenas com o que se ganha ou se deixa de ganhar materialmente. Há lutas que oferecem muito mais do que é oferecido materialmente, porque preparam os passos seguintes e as batalhas subsequentes da classe operária como um todo. Ajudam na conscientização geral, para que se rompa com o terrorismo, tornam-se pontos de referência. Tal luta é a luta dos operários da Siderúrgica e como tal deve ser avaliada. Assim avaliaram todos os trabalhadores e, por isso, desde há muito tempo, nos consideram vencedores.
O que conseguimos com nossa luta? Nossa luta colocou em evidência a força e o valor da luta classista, a glória e a força da solidariedade operária. Ela mostrou os méritos e as boas tradições do movimento operário e popular em nosso país. Rompeu-se o medo, a imposição da patronal, golpeou-se a submissão, a insatisfação. Aplicou-se um importante golpe na realidade, na lógica conciliatória do sindicalismo patronal e governamental, na fraude do chamado diálogo social.
Provou-se, de forma muito expressiva, quem são os produtores da riqueza e quem a rouba.
Na porta da Siderúrgica, revelou-se mais expressivamente o conflito de duas classes contraditórias, de dois mundos, de duas civilizações em contradição. De um lado, a classe de Manesis, com seu governo, seu Estado, sua justiça, seus meios de propaganda e sua gente nos sindicatos. De outro lado, os operários da Siderúrgica, com sua classe, com o apoio e a solidariedade do movimento operário classista e de seus aliados.
Nenhum de nossos inimigos, Manesis, o governo, o sindicalismo governamental e patronal, nenhum deles esperava que fôssemos tão fortes. Subestimaram-nos, nos consideravam inferiores, medrosos, submissos – e perderam. Tentaram ainda caluniar o esforço que fizeram milhares de trabalhadores que apoiaram inclusive materialmente a nossa luta, dizendo que “estão nos pagando para fazer greve”. Eles tentaram sabotar as ofertas de solidariedade dos trabalhadores, coletadas a partir dos recursos escassos da classe, para que nós e nossas famílias fôssemos capazes de nos sustentarmos. Eles falharam, porque a nossa luta grandiosa não pode ser manchada. Vencemos todos eles, essa é nossa conclusão. Vencemos porque tínhamos razão, porque estávamos unidos. Eles não conseguiram nos dividir, por mais que tivessem tentado. Porque nós trabalhamos com base no lema “um por todos, todos por um”. Porque nós lutamos e, ao mesmo tempo, protegemos nossa luta.
Provou-se da melhor forma quem são os produtores da riqueza, quem tem a força em suas mãos, que “sem nós, as engrenagens não giram”…
Conseguimos o que, possivelmente, seria considerado inacreditável alguns meses antes. Operários em greve por nove meses para que seus colegas voltem ao trabalho. Demitidos em greve de nove meses para que voltem ao trabalho. Nunca se fez isso antes. Ao final, com tudo isso, o inimigo não conseguiu nos vencer e foi forçado a tirar a máscara da “democracia e do diálogo” e apresentar-se como realmente é, um tirano, um inimigo dos operários. Foi forçado a deixar de lado todos os pretextos para usar sua última arma, os mecanismos de repressão, algo que hoje é mais forte do que nós.
Todo o mecanismo estatal, o governo, os partidos do capital, a justiça classista, os meios de comunicação de massas, as dezenas de ônibus das forças de repressão, as dezenas de carros de polícia e as centenas de agentes secretos se coordenaram para defender seu patrão, Manesis. Para golpear seus inimigos, os operários em greve. Para nos golpear, nós que, há anos, com nosso suor, damos de comer a todos eles.
Manesis em breve trará de volta à mesa as exigências para alterar as horas de trabalho e os salários que são definidos pelo nosso acordo coletivo. Ele as retirou temporariamente devido à greve. O inimigo também sabe disso, sabe que a luta não vai parar com o fim da greve e, por isso, ele também toma suas medidas para nos enfrentar daqui para frente.
Podemos lidar com a nova situação como temos lidado com outras fases difíceis da nossa luta. Unidos, coletivamente sob a direção do Conselho de nosso sindicato. O inimigo agora busca romper isso, a fim de agir livremente no futuro. Tendo em conta a nova situação e a necessidade de continuar lutando de forma organizada e coordenada, a direção do sindicato propõe a suspensão dessa forma de luta.
Voltamos a trabalhar por nossa própria decisão e vontade, de uma forma organizada e coordenada, mantendo a cabeça erguida. Com nosso sindicato fortalecido na luta, continuamos usando diferentes formas de enfrentamento. Vamos continuar lutando para a conquista das nossas exigências. Para que os nossos 40 colegas demitidos sejam recontratados imediatamente e o restante dos nossos colegas sejam recontratados dentro de um tempo razoável. Que não haja nenhuma nova contratação até que nossos colegas demitidos sejam reincorporados. Todos juntos – a direção do sindicato, o comitê das mulheres, a comissão dos colegas demitidos – continuamos lutando, como fizemos até hoje, em torno das questões relativas aos empréstimos de nossos colegas junto aos bancos, às contas das empresas públicas, aos nossos problemas de acesso aos medicamentos, ao serviço de saúde e muito mais. Estamos vigilantes e prontos para reagir direta e combativamente no caso de o patrão exigir mais uma vez uma mudança no horário de trabalho e salários. Usaremos todos os meios a fim de investigar as denúncias que chegaram a ser publicadas sobre a existência de material radioativo. Vamos recorrer a todos os recursos legais para resolver tais assuntos.
Agradecemos do fundo do coração a todos os trabalhadores da Grécia e do exterior por terem apoiado nossa luta por nove meses, tanto material quanto moralmente. Sobretudo agradecemos ao Pameque, ao longo de nossa luta, dia e noite, nos ajudou e continuará a nos ajudar. Apoiou praticamente todas as decisões e iniciativas que tomamos, levou a mensagem dos operários-heróis da Siderúrgica a todos os rincões do país, a todo o mundo. Precisamente por essa sua participação, tem sido caluniado e combatido diariamente pelo inimigo.
Sabemos que a História nos fez vanguarda nessa luta. Mas não estamos voando nas nuvens, pois entendemos que uma pequena fração da classe trabalhadora, como somos, não pode lutar contra todos os aparelhos do Estado e alterar drasticamente a situação caso toda a classe trabalhadora não siga o caminho dos metalúrgicos e se a correlação global de forças não mudar, inclusive no movimento dos trabalhadores.
Caros companheiros:
Nossa luta já é um grande legado. Nossos filhos caminharão com a cabeça erguida, ficarão orgulhosos porque seus pais fizeram seu dever. Porque mantiveram a cabeça erguida, contestaram a humilhação e o terror patronal. Porque não se ajoelharam, lutaram por um futuro melhor para eles e seus filhos. Nossa luta será objeto de discussão e admiração pelas futuras gerações, será uma fonte de inspiração. Voltamos orgulhosos e, no momento, prosseguimos por outros meios a luta pela realização das nossas reivindicações.
Viva a luta heróica dos operários da Siderúrgica!
Viva a classe operária!
Viva a solidariedade operária!
A luta continua até a vitória final!
Na sua declaração, o secretariado executivo do Pame destaca, entre outras coisas, que: “a semente que foi plantada florescerá nas novas lutas que surgirão no período vindouro, pois se aproxima uma nova tormenta de medidas antitrabalho. Cada momento dessa luta de nove meses foi uma lição importante para a classe trabalhadora, que lhe permitiu chegar a conclusões úteis a respeito da luta de classes.
Ela nos ensinou o significado do heroísmo e do sacrifício pessoal! Mostrou a natureza da solidariedade de classe! Iluminou o conteúdo do conflito de várias maneiras! Mostrou a necessidade da luta organizada! Ela revelou o conflito incessante entre o capital e o trabalho assalariado. A luta dos operários da Siderúrgica interrompeu temporariamente as táticas e os planos mais amplos dos empresários. A greve começou no momento em que nas gavetas de várias fábricas já estavam colocadas as ordens para a rotatividade dos empregos, flexibilização dos turnos de trabalho e outras medidas gerais. Provou-se que apenas a linha da luta classista, do conflito com a patronal, com o governo e com os organismos imperialistas pode resultar nesse tipo de luta. A luta dos metalúrgicos desafiou o chamado realismo do sindicalismo governamental e patronal. Nessas condições, pressionou as confederações e as centrais que estavam ao lado da patronal, para que fizessem greves e paralisações. Estamos orgulhosos dos metalúrgicos e daqueles que os apoiaram. O punho erguido por nove meses representa a força das lutas que se avizinham. A Assembléia Geral dos trabalhadores do sindicato considera que chegou o momento certo para concluir essa grande greve.
Aqueles que fingiram ser lutadores e que tentaram impedir a radicalização da consciência dos trabalhadores procuraram durante todo esse tempo encontrar defeitos na greve. Tentaram isolar e caluniar os metalúrgicos e o sindicato dos trabalhadores. Agora eles tentam se apresentar como profetas e críticos. No entanto, as lutas não têm a precisão suficiente para que se saiba o que acontecerá a seguir.
A luta dos metalúrgicos mostrou que, quando a classe trabalhadora decide parar a engrenagem da exploração, esta não gira. Quando o forno permanece frio, todos os Manesis tornam-se nulos. Revelou-se a força interminável que têm os trabalhadores quando acreditam em sua força e decidem entrar em confronto. A própria vida já classificou nossa luta, entre as brilhantes e duras lutas de classes, como mais um tijolo na luta interminável dos trabalhadores frente aos seus exploradores”, conclui a declaração do Pame.
Informação da seção de RRII do KKE