Estatais investiram só 20% do orçamento até junho

Até o fim do primeiro semestre, as empresas estatais conseguiram executar só 19,7% do orçamento de investimento previsto para 2012, excluindo a Petrobras e suas subsidiárias. Mesmo tendo desembolsado R$ 4 bilhões, um valor recorde para o período de janeiro a junho, ficou patente a dificuldade em tirar do papel investimentos já autorizados pelo governo.

A lentidão nos gastos afeta estatais de áreas estratégicas para a infraestrutura e a prestação de serviços, como Infraero, Correios, Dataprev, Eletronuclear, Telebrás e seis companhias docas. Em todas elas, os desembolsos se mantiveram abaixo de 20% do orçamento autorizado para o ano, colocando em xeque a capacidade dessas empresas de investir todo o dinheiro disponível em 2012.

Geralmente, a dificuldade em gastar esbarra em problemas já conhecidos da máquina pública, como a demora nos processos de licitação. Um exemplo disso pode ser visto na Eletronuclear, que tem R$ 2,6 bilhões para investir neste ano, mas só conseguiu aplicar 8,4% dos recursos até junho.

A estatal é responsável pela construção da usina nuclear Angra 3, um projeto de aproximadamente R$ 10 bilhões, com início de suas operações comerciais previsto para dezembro de 2015.

Na semana passada, o cronograma foi modificado, levando essa previsão para julho de 2016 – atraso de sete meses. Tudo por causa da demora em concluir a licitação para contratar os serviços de montagem eletromecânica, a principal concorrência em andamento, que foi objeto de recursos e pedidos de impugnação por empresas que participaram da disputa. Um concorrente que não foi habilitado na fase de pré-qualificação também recorreu ao Tribunal de Contas da União.

O assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, está otimista com a superação dos problemas e trabalha com a perspectiva de que os vencedores da licitação comecem a fazer seus serviços no fim de 2012. “Os principais problemas que levaram ao atraso de Angra 3 estão equacionados e haverá uma aceleração da execução financeira, de forma que, em 2013, as obras terão ritmo sustentado para cumprir o novo cronograma”, afirma Guimarães.

A situação da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) também preocupa. De olho na Copa do Mundo de 2014 e na Olimpíada de 2016, ela ganhou um orçamento de R$ 377 milhões para investir neste ano, mas é campeã em baixo desempenho: executou 0,3% disso no primeiro semestre.

Os dois principais projetos da estatal enfrentam restrições judiciais. A implantação de um píer em Y – o que permitiria a atração de seis navios de passageiros ao mesmo tempo – e o reforço estrutural do Cais da Gamboa estão com as licitações paradas. “O baixo desempenho da CDRJ se justifica pelo fato de as duas principais licitações estarem com pendências judiciais”, informou, em nota, a Secretaria de Portos.

O novo píer era um dos trunfos do governo para amenizar a falta de capacidade hoteleira e aumentar a oferta de leitos turísticos no Rio, durante a realização dos eventos esportivos. Pelas estimativas do setor, a atração de seis navios ajudaria a oferecer até dez mil “leitos flutuantes”, já na Copa de 2014. As obras deveriam ter começado em maio de 2011. Depois, o início foi adiado para fevereiro de 2012, mas nem a licitação foi concluída. Diante do impasse, o cronograma fica totalmente ameaçado, já que se estimava em 34 meses o tempo necessário para construir o píer.

O governo diz que, apesar de todos os obstáculos, há uma nítida evolução no ritmo de investimentos das estatais. Em 2010, a execução foi de R$ 3,143 bilhões nos seis primeiros meses do ano, excetuando os gastos da Petrobras. Os investimentos aumentaram para R$ 3,492 bilhões de janeiro a junho de 2011. Agora, chegaram a exatos R$ 4 bilhões.

A meta oficial é acelerar os investimentos das estatais no segundo semestre e levar o nível de execução do orçamento para 80% a 85% até o fim do ano. Além das barreiras que engessam historicamente a máquina pública, como atrasos nas licitações, técnicos do governo apontam o surgimento de um fato “novo”: muitas empresas têm dificuldade, com as rápidas mudanças no ambiente econômico, de implementar planos de negócios formulados nos últimos meses de 2011.

Conforme lembrou um funcionário do governo que acompanha o assunto, a taxa básica de juros caiu quatro pontos percentuais e o câmbio mudou de patamar, desde janeiro. Por outro lado, o cenário internacional se deteriorou, aumentando a dificuldade de obter empréstimos fora dos bancos públicos. Tudo isso exige ajustes no planejamento, o que pode atrasar a execução.

Na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que executou 15,9% dos recursos para investimentos em 2012, a promessa é acelerar os desembolsos no segundo semestre. Segundo a estatal, “diversas licitações e projetos iniciados no primeiro semestre se concretizarão nos próximos meses”, tornando factível a expectativa de atingir uma execução de “mais de 80%” até o fim do ano. Só na compra de terrenos para a construção de centros de triagem – em São Paulo, no Distrito Federal e na Bahia – a estatal pretende investir R$ 186 milhões, segundo sua assessoria.

Os investimentos da Infraero também demoram a ganhar velocidade. Com pressa para avançar nas obras de ampliação dos aeroportos, a empresa desembolsou 18,4% do previsto para todo o ano. Mesmo assim, ela aplicou R$ 369 milhões entre janeiro e junho, mais do que duplicando o valor executado – R$ 144 milhões – em igual período de 2011. Projetos importantes, com contratos assinados e ordens de serviço expedidas recentemente, tendem a acelerar o ritmo de gastos. É o caso da ampliação do terminal de passageiros de Fortaleza e a construção de uma nova torre de controle em Salvador.

O economista Mansueto de Almeida, do Ipea, não vê com tanto otimismo as chances de aceleração dos investimentos. “Se a execução foi ruim no primeiro semestre, não há tantas razões para melhorar muito no segundo semestre.”

Para todo o ano de 2012, o orçamento das estatais para investir chega a R$ 107 bilhões, dos quais R$ 86,8 bilhões são da Petrobras e suas subsidiárias. As demais empresas têm R$ 20,2 bilhões para gastar em seus projetos. Ambos os valores são recordes.


Cortes de juros e de compulsórios na China estão no foco dos mercados

Valor Econômico

Havia uma expectativa geral de que o pior momento para a economia chinesa neste ano já havia ficado para trás e que a recuperação viria mais claramente no segundo semestre. Pode até ser que esse cenário ainda se concretize, mas, de prático, esse sinal ainda não apareceu.

Diante da série de indicadores divulgados nos últimos dias, analistas consultados já esperam cortes de 25 a 50 pontos base nas taxas de juros, e de até 100 pontos base nos compulsórios nas próximas semanas.

Depois da escorregada do PIB para 7,6% no segundo trimestre, ante 8,1% no primeiro, as projeções do mercado apontavam para uma aceleração no terceiro, resultado das diversas ações tomadas pelo governo chinês desde abril. As quedas de juro, compulsórios e medidas fiscais mostram-se, entretanto, insuficientes para mitigar a desaceleração advinda não apenas do mercado doméstico chinês, mas da crise na Europa.

O comportamento das exportações em julho são bom exemplo disso. As vendas agregadas subiram apenas 1%, de 11,3% em junho e 20,3% em julho do ano passado. Houve um pé no freio considerável nas vendas para a União Europeia, que caíram 16,2% no mês passado, enquanto cresciam 22% há um ano. Para os EUA, ocorreu um leve crescimento de 0,6%, mas irrisório diante da alta de 9,5% no mesmo período em 2011.

Com a baixa demanda europeia e americana, a compra de produtos chineses deslocou-se para a Ásia (maior mercado, com 48,9% de participação), com crescimento de 13% em julho, e para a América Latina, com 22%. Destaque-se que, de um ano para cá, a participação da União Europeia nas exportações chinesas caiu de 20% para 16,6%, enquanto a dos EUA manteve-se estável em 17%.

As importações também cresceram menos do que o esperado, 4,7% no mês passado. Em junho a alta havia sido de 6,3% e, em julho de 2011, de 23%. Em termos de composição por blocos, pouco mudou no último ano, tendo as participações nas compras ficado relativamente estáveis na União Europeia (12,6%), Ásia (57%) e EUA (6,7%). Houve alta na África do Sul (2,7% ante 1,4%) e quedas na América Latina (6,8%, de 7,8%) e Japão (10,7% ante 11,3%).

Do lado da demanda doméstica, outro sinal de fraqueza: os novos empréstimos caíram para 540 bilhões de renminbis no mês passado, de 920 bilhões em junho. A expectativa do mercado era de 700 bilhões. Os empréstimos de médio e longo prazo somaram 92 bilhões de renminbis para as empresas e 110 bilhões para as famílias, ante 163 bilhões e 119 bilhões em junho, respectivamente. Em relação a julho de 2011, o crédito às empresas caiu 12% e o crédito às famílias, 3%.

Já a emissão de títulos privados atingiu 249 bilhões de renminbis em julho, ante 42 bilhões em julho do ano passado, resultado do maior acesso das empresas ao mercado de títulos. Nesse sentido, vale lembrar que as medidas tomadas pelo governo chinês não foram inócuas, pois devem ter evitado uma parada mais abrupta na economia.

Tudo somado, analistas voltados para a Ásia já consideram um terceiro trimestre mais fraco e, portanto, uma taxa de crescimento mais próxima da “meta” do governo, de 7,5% para 2012. As projeções para 2013, ao menos à luz dos últimos dados, tendem também a ser revistas para baixo.

A questão agora é saber como o governo chinês tratará esse equilíbrio frágil entre evitar medidas que possam reacender bolhas, como em 2008/09, e amparar a economia no sentido de fazê-la crescer a taxas mais modestas, porém não recessivas, considerando o tamanho do país.

Como na Europa e nos EUA, o cenário político tende a ter cada vez mais peso nas decisões por mais flexibilizações monetárias e fiscais neste segundo semestre. É um ano de transição de poder na China e o atual governo, chefiado por Wen Jiabao, deixará o cargo em março. Analistas destacam que, na prática, a partir do 18º Congresso do Partido em outubro, as novas configurações políticas estarão mais claras. Isso implica novas estratégias em lidar com o momento econômico atual.


Recuperação em julho é suave, concentrada em veículos

Valor Econômico

Os primeiros indicadores econômicos de julho apontam para uma recuperação ainda suave da atividade, concentrada principalmente no setor automobilístico, não revelando uma retomada mais firme e generalizada. A produção e o licenciamento de veículos tiveram mais um bom desempenho no mês passado, mas é menos favorável o quadro pintado por sondagens importantes, como as da Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC. A confiança dos empresários caiu na indústria e no setor de serviços, segundo a pesquisa da FGV, e a sondagem do HSBC indicou contração da atividade em julho nos dois segmentos.

O economista Robson Pereira, do Bradesco, vê um “cenário relativamente neutro em julho”, com exceção do setor de veículos, que manteve a recuperação iniciada em junho, com as vendas e a produção impulsionadas pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Segundo estimativas do banco, a fabricação de automóveis em julho cresceu 2,8% em relação a junho, feito o ajuste sazonal – nas contas da LCA Consultores, a alta foi de 3,6%.

As vendas foram bem em julho. A média diária de licenciamentos de automóveis e comerciais leves caiu 5,9% em relação a junho, mês em que havia subido 35,9%, segundo os dados com ajuste da LCA. A média diária em julho ficou em 16 mil unidades, abaixo dos 17 mil de junho, mas bem acima dos 12,3 mil de janeiro a maio.

Outra notícia positiva para o setor é o nível de estoques, diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Em julho, os estoques equivaliam a 28 dias de vendas, feito o ajuste sazonal, bem abaixo dos 44 atingidos em maio, o recorde da série iniciada em 2008. Borges também ressalta o aumento da produção de caminhões e ônibus em julho, de 17,6% sobre junho, na série livre de influências sazonais.

Pereira destaca, contudo, que outros indicadores apontam um quadro menos favorável para a atividade em julho. O Índice de Confiança da Indústria da FGV caiu 0,5% em julho, ficando em 102,7 pontos, na série com ajuste sazonal, abaixo da média dos últimos cinco anos, de 105,8 pontos. A piora se deveu principalmente à insatisfação com a situação atual dos negócios.

A confiança no setor de serviços recuou pela quarta vez seguida, caindo 2,1%, atingindo 120,6 pontos, o nível mais baixo desde julho de 2009. No caso desse segmento, a queda se deveu tanto devido à percepção em relação ao momento atual quanto pelas expectativas para os próximos meses. “Esses resultados foram corroborados pelos PMIs [a pesquisa do HSBC], o que causa uma certa preocupação.”

O PMI da indústria ficou em 48,7 pontos, pela quarta vez abaixo de 50 pontos, o que aponta retração da atividade no setor. A produção e os novos pedidos caíram pelo quarto mês seguido, assim como o nível de emprego. A mesma pesquisa para o setor de serviços teve um tombo forte, passando de 53 pontos em junho para 48,9 pontos em julho.

Já o fluxo de veículos pesados nas rodovias em julho ficou estável na comparação com junho, segundo dessazonalização da Tendências Consultoria. A expedição de papelão ondulado caiu 0,7%, no ajuste sazonal do Bradesco, e 1,8% no da Tendências. O número do economista Rafael Bacciotti, da Tendências, fica no meio do caminho – 0,4%. Bacciotti, como Pereira, diz que a recuperação é concentrada no setor de veículos.

Borges vê um quadro um pouco mais favorável para a atividade. Ele diz que o consumo de energia elétrica, expurgada a influência da temperatura, subiu 0,3%, feito o ajuste sazonal, a primeira alta depois de três quedas seguidas. Borges também destaca a evolução recente do M1 – a soma do papel moeda em poder do público e do dinheiro dos depósitos à vista -, um indicador que, segundo ele, mostra correlação elevada com a demanda interna. Em julho, a média diária do M1 aumentou 2,1% acima da inflação em relação a junho, na série com ajuste da LCA.

Embora Pereira seja um pouco mais cauteloso que Borges ao analisar o ritmo da atividade em julho, os dois veem uma retomada em curso. “É natural, em momentos de virada do ciclo econômico, que inicialmente poucos indicadores e setores mostrem expansão. Com o tempo, a difusão do crescimento vai se tornando maior”, diz o economista do Bradesco, uma avaliação não muito diferente da de Borges.

Para Borges, o fato de o crédito ter voltado a fluir, o mercado de trabalho continuar aquecido, o nível de estoques estar mais ajustado e o patamar mais baixo dos juros vão contribuir para a retomada mais forte nos próximos meses. O que joga contra, segundo Borges, é a fraca demanda externa. Europa e Argentina, destino de cerca de 50% das exportações de manufaturados, têm atividade fraca. Ele estima que a produção industrial em julho tenha crescido cerca de 0,5% sobre junho, enquanto Pereira espera alta de 0,3%.

O coordenador de sondagens conjunturais da FGV, Aloisio Campelo, não mostra otimismo com o desempenho da indústria em julho. Para ele, a expectativa do empresariado é de recuperação da atividade na segunda metade do ano, mas parece que a aposta dominante aponta para uma retomada mais forte apenas no quarto trimestre.

“Os estoques estão mais ajustados, mas a demanda continua não vindo.” A fatia das empresas que relatam uma demanda interna forte caiu de 14,7% em junho para 14,5% em julho, enquanto a das que informam procura fraca subiu de 9,6% para 9,9%. Já o percentual das que dizem ter uma demanda externa forte subiu de 4,5% para 10,2% no período, mas as que reclamam de procura externa fraca pulou de 13,1% para 16,4%.

Em julho, ocorreu uma melhora no índice de produção prevista. A fatia de empresas que vem veem uma produção maior nos próximos três meses subiu de 36,6% em junho para 42,5% em julho, ao passo que aumentou de 14% para 17,2% as que preveem um nível menor. Para Campelo, porém, a melhora precisa ser relativizada, já que o avanço não foi acentuado.


Declarações de Netanyahu e boatos de ação militar aumentam tensão com Irã

O Estado de S. Paulo

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse ontem que a maior parte das ameaças à segurança do país se tornam menores diante da possibilidade de o Irã obter armas nucleares. Segundo a mídia israelense, Teerã tem intensificado seus esforços para produzi-las.

Os comentários do primeiro-ministro, feitos após a reunião semanal de gabinete, e as notícias de primeira página Haaretz, crítico de Netanyahu, e no jornal conservador Israel Hayom ocorrem em meio a um debate cada vez mais intenso sobre se Israel deve ou não atacar o Irã em razão de seu programa nuclear. Os jornais Haaretz e Israel Hayom publicaram ontem que o Irã teria feito progressos significativos para o desenvolvimento de armas nucleares, com base em fontes anônimas. O debate desafia os apelos dos EUA por mais tempo para que as sanções contra Teerã deem resultado.


Fontes renováveis devem ter avanço mesmo com pré-sal

Valor Econômico

O perfil da matriz energética brasileira não será alterado nos próximos anos com a exploração progressiva de petróleo do pré-sal, afirmou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, em palestra durante o 13º Encontro Internacional de Energia promovido pela Fiesp. “Estamos caminhando para ser o primeiro país exportador de petróleo com uma matriz limpa, porque temos espaço para crescer em todos os segmentos de produção de energia”, afirmou. De acordo com a EPE, que é ligada ao Ministério das Minas e Energia, as fontes renováveis respondem por 44% da oferta interna e devem aumentar para 46% em 2020.

O estudo da EPE prevê uma expansão na produção de petróleo dos atuais 2,2 milhões de barris/dia para 5,3 milhões em 2020, dos quais 2,8 milhões seriam suficientes para abastecer o mercado interno. “Esse excedente de 2,5 milhões de barris/dia dará ao país oportunidades que vão muito além da mera obtenção de divisas. O petróleo reforçará a posição do Brasil no cenário mundial, favorecendo a negociação de contrapartidas comerciais com outros países. Teremos mais facilidade para incluir cláusulas de transferência de tecnologia na importação de bens de alto valor agregado”, avaliou Tolmasquim.

Ele ressalvou que não há motivo para que essa abundância de petróleo e gás interfira nos planos de expansão das fontes de energia renovável, que dão ao país um diferencial reconhecido no mundo todo. O índice brasileiro de 44% de energia limpa é mais de três vezes maior do que os 13,3% da média mundial e supera em quase seis vezes os 7,6% da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – dados de 2009).

A EPE estima uma evolução da capacidade instalada do Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN) dos atuais 117 GW para 173 GW em 2020, um salto de 41,8%. Na geração dessa eletricidade, as fontes renováveis manteriam a mesma proporção de hoje, de 84%. As grandes hidrelétricas, que respondem por 72% do SIN, teriam sua participação reduzida para 65% dentro de nove anos, diferença que seria compensada pelo aumento no desempenho das usinas eólicas, que passariam do suprimento atual de 1% do sistema elétrico para 8% em 2020. As demais fontes de energia elétrica permaneceriam com os mesmos índices de fornecimento de hoje: 7% para os biocombustíveis e 4% para as pequenas centrais elétricas, no caso das fontes renováveis, e 14% para as termoelétricas e 2% para as usinas nucleares, entre as não renováveis.

O estudo mostra que as hidrelétricas respondem sozinhas por 14,7% da matriz energética brasileira, bem acima da média mundial de 2,3%, mas aquém do potencial hidrelétrico do país, que aproveita um terço dos rios. A maior parte desse potencial não aproveitado fica na Amazônia.

“Acho que a construção de usinas na Amazônia são importantes para o país e devemos lutar por elas. Mas não podemos ignorar que as resistências por parte dos ambientalistas serão cada vez maiores”, afirmou Tolmasquim. Já o presidente do Conselho de Infraestrutura da Fiesp, Rodolpho Tourinho, mediador do encontro, observou que as classes produtoras precisam ser mais firmes e unidas no apoio às usinas na Amazônia, para neutralizar as críticas.

“Estive recentemente em Belo Monte e não vi nenhuma restrição à usina por parte das comunidades locais. Ao contrário, todos lá estão muito satisfeitos com a obra, com o que ela já representa em empregos e em desenvolvimento para a região. Acho que devemos deixar claro o nosso apoio a esse e outros projetos”, declarou.

Se a construção de novas hidrelétricas exigem compensações cada vez mais custosas, a exploração da energia eólica vive um momento diferente. Desde que passou a ser disponibilizada em leilões, poucos anos atrás, a eletricidade gerada pela força dos ventos vem crescendo exponencialmente no país, tornando-se mais competitiva. A produção anual passou de 237 MW em 2006 para 414 MW em 2008, 1.040 MW em 2010, 1.471 MW em 2011 e deve mais que dobrar este ano, segundo a EPE, alcançando 3.135 MW. Com isso, o preço do MW/hora despencou de R$ 306 em 2005 para R$ 169 em 2009, R$ 135 em 2010 e R$ 103 em 2011.

Além de limpa, a energia eólica é complementar à hídrica, pois os ventos aumentam nos meses em que chove menos, de maio a novembro. “A Dinamarca vende energia eólica para a Noruega à noite e compra dela energia hídrica de dia. E o Brasil produz as duas coisas”, disse Tolmasquim.

Outra que faz dobradinha com a hidroeletricidade é a biomassa, produzida de maio a novembro, quando acontece o corte e a moagem da cana. O documento da EPE prevê um salto na produção de etanol, passando dos atuais 27,6 bilhões de litros para 63,1 bilhões de litros em 2020. Com isso, a queima de bagaço, que hoje produz 8,5 GW, passaria a gerar 16,4 GW, com crescimento proporcional do excedente energético exportado para o SIN dos atuais 5 GW para 9,6 GW.

A EPE faz um ensaio também com a energia solar. Como o preço de geração dessa energia ainda é alto no país – embora tenha caído pela metade nos últimos dez anos -, o estudo faz simulações de como ela pode se tornar competitiva. Com um custo médio de R$ 602 o MW/h, a energia solar só é competitiva na área de atuação de dez concessionárias brasileiras, que abastecem 15% do consumo residencial. Com uma redução nos juros do financiamento, o custo cairia para R$ 585 e seria viável para 17 concessionárias, que abastecem 21% das residências. Com isenção fiscal, o preço iria para R$ 549, viável para 28 concessionárias, que fornecem 29% do consumo residencial. Com incentivo de Imposto de Renda, o custo seria de R$ 465, viável para 52 concessionárias, que respondem por 69% do mercado residencial. Com todos esses incentivos, o custo desabaria para R$ 409, viável para 60 concessionárias, que abrangem 98% do consumo residencial nacional.


Crise leva empresas a adiar investimentos de US$ 95 bilhões

O Estado de S. Paulo

Número se refere apenas a projetos suspensos ou postergados nos últimos dois meses; só na Petrobrás, essa cifra é de quase US$ 70 bi

Nos últimos dois meses, pelo menos US$ 95 bilhões em investimentos no Brasil foram suspensos ou tiveram seus cronogramas de entrada em operação postergados. A lista inclui companhias como Anglo American, Vale, Braskem, JAC Motors e, principalmente, a Petrobrás.

Apenas a estatal do petróleo revisou projetos orçados em quase US$ 70 bilhões. A siderurgia também foi muito afetada por essa pisada no freio. O setor trabalhava com um plano de investimentos de US$ 17,4 bilhões até 2017, adiado sem previsão de retomada.

Além dos projetos que estão na geladeira, outros empreendimentos dados como certos agora enfrentam muita dificuldade para sair do papel. É o caso da construção de fábricas ainda em estudo por Volkswagen, Volvo, BMW e Land Rover, no Rio. Juntos, esse projetos estão orçados em cerca de US$ 4 bilhões.

A interrupção reflete a cautela das companhias diante da desaceleração da economia brasileira e da crise na Europa e nos Estados Unidos, que reduz a demanda externa por seus produtos. “Nesse contexto, é natural as empresas adiarem investimentos para privilegiar a geração de caixa”, diz o professor de economia da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda. Ele calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) acumulado de julho de 2011 a junho de 2012 esteja próximo de zero, o que significa estagnação.

Lacerda classifica o quadro como um “efeito cautela” de grandes grupos, que não veem urgência em ampliar sua capacidade de produção. O lado positivo, diz, é que não houve projetos cancelados. O problema é que o adiamento de planos por empresas âncoras do País gera uma reação em cadeia. “Quando uma Vale ou uma Petrobrás adiam ou reduzem investimentos, isso se multiplica. Há um efeito manada entre fornecedores e concorrentes”, acredita.

Desafio. O presidente da Vale, Murilo Ferreira, não esconde a preocupação com o atual momento “desafiador”. Durante a divulgação do último balanço financeiro da mineradora, Ferreira revelou que decidiu reavaliar semanalmente o orçamento de todos os projetos de expansão e que a nova postura já vai nortear a elaboração do plano estratégico da companhia para 2013.

Para o economista e presidente da Inter B Consultoria, Claudio Frischtak, o aumento da capacidade ociosa da indústria nos últimos meses levantou uma “bandeira vermelha” para o investimento. As companhias, ressalta, só levam adiante projetos de expansão quando há uma perspectiva positiva de crescimento do mercado, o que não se vislumbra atualmente. “O mercado jogou um balde de água fria. Ainda tem investimentos avançando, mas não no mesmo ritmo, não captando os mesmos recursos.”

Para Fernando Puga, chefe do departamento de análise econômica do BNDES, essa série de adiamentos reflete a expressiva oscilação do cenário mundial e a dificuldade de se chegar a uma solução para a crise europeia. Embora o BNDES acredite que o investimento vá crescer acima do PIB nos próximos meses, o fraco desempenho do início do ano impedirá uma recuperação frente a 2011. No ano passado, a taxa de investimento do País foi de 19,3%, já abaixo do nível pré-crise (19,1% em 2008).

“Na melhor das hipóteses, vamos manter constante a taxa de investimento em 2012, mas o cenário mais provável é de uma ligeira queda. O primeiro trimestre vai fazer o investimento no ano andar de lado”, diz Puga.

Os desembolsos do BNDES de janeiro a maio cresceram apenas 1% frente ao mesmo período de 2011, estacionando em R$ 43,8 bilhões. Mas o economista destaca que houve alta nas consultas (27%) e enquadramentos (13%), o que sinaliza a disposição para investimentos futuros.

Apesar dos adiamentos acenderem o sinal amarelo, a visão de especialistas ouvidos pela Agência Estado é de que a retomada começará entre o fim de 2012 e o início de 2013. A despeito da queda de 5,5% da produção industrial e da desconfiança do empresariado quanto à eficácia do Plano Brasil Maior, a aposta é que a queda da taxa Selic e as medidas de estímulo, como a desoneração da folha de pagamentos e redução do IPI para automóveis, façam efeito a partir do segundo semestre.

Freio. “É um freio de arrumação, mas é limitado. As empresas não podem deixar de investir diante da concorrência”, diz Lacerda. A perspectiva é que a recuperação chegue primeiro aos setores puxados pelo consumo doméstico, como serviços, linha branca e automotivo. Mas o maior impulso deve vir da infraestrutura. Há grande expectativa em torno do anúncio do chamado “PAC das Concessões” até o fim do mês. O setor público deverá preparar o terreno para investimentos privados, clareando a regulação, preparando a modelagem e financiando via BNDES.

No caso das produtoras de commodities, o rearranjo deve ser mais longo, já que elas têm sua demanda e cotação afetadas diretamente pela deterioração do cenário externo. Diante de um excedente de mais de 500 milhões de toneladas de aço no mundo e consumo do produto estagnado no mercado interno, o Instituto Aço Brasil (IABr) diz que os US$ 17,4 bilhões em investimentos em expansão e novas capacidades previstos até 2017 estão congelados.

As siderúrgicas brasileiras operam com apenas 68% de sua capacidade instalada, bem abaixo da média histórica, de mais de 80%.

Na área petroquímica, a Braskem mantém o plano de investir cerca de R$ 1,7 bilhão este ano, mas admite que o agravamento da crise pode adiar a nova fábrica de polipropileno prevista para ser erguida na Bahia.


Consumo de bens de capital em leve alta

Valor Econômico

Após um início de ano marcado por uma brusca queda do investimento em máquinas e equipamentos, o consumo aparente de bens de capital teve alguma recuperação no segundo trimestre. Os economistas consultados pelo Valor divergem em relação à magnitude desse aumento, mas consideram que a produção nacional (descontada a exportação) somada à importação desses itens deixou forte variação negativa no primeiro trimestre para voltar a crescer entre abril e junho, sempre na comparação com os três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes sazonais. As contas, contudo, variam de uma fraquíssima alta de 0,1% até já expressivos 5,7% de recuperação no segundo trimestre frente ao primeiro.

Analistas advertem que essa retomada é decorrente de uma normalização após o tombo no primeiro trimestre, já que crescimento mais intenso dos investimentos só deve ser visto nos últimos três meses do ano.

Pelos cálculos de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, a absorção doméstica desses itens avançou 5,7% no segundo trimestre sobre o primeiro, na série com ajuste sazonal, após queda de 10% no trimestre anterior, em função da mudança de padrão na emissão de poluentes por caminhões desde janeiro. Essa alta recente junto com uma pequena recuperação nas vendas de veículos pesados e ao aumento – também dessazonalizado pela LCA – de 6% nas importações entre o primeiro e o segundo trimestres, faz Borges projetar alta próxima de 1% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida do que se investe em máquinas e em construção civil dentro do Produto Interno Bruto (PIB) no período.

Os cálculos de Fernando Rocha, sócio e economista da gestora de recursos JGP, mostram uma alta mais moderada, embora ainda forte. Puxada principalmente pelo aumento de 3,6% da produção de bens de capital no período, a demanda interna por esses itens avançou 3% no segundo trimestre, sempre em relação ao primeiro, com ajuste. Ainda assim, afirma Rocha, como o desempenho da construção civil – que é contabilizada como investimento no PIB – foi mais fraco, a formação de capital fixo ainda deve recuar algo como 0,5% no segundo trimestre, após queda de 1,8% nos primeiros três meses do ano passado.

Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda do investimento no PIB ainda será forte entre abril e junho, de 3,5%, acentuando as perdas em relação ao recuo de 2,1% observados nos três primeiros meses do ano, na mesma base de comparação. Para Rocha, o segundo trimestre marcará o ponto mais baixo da série e daí em diante haverá recuperação. No fim do ano, estima, o investimento deve crescer 1,7% sobre o quarto trimestre do ano passado.

Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, faz avaliação semelhante. Para ele, o investimento deve ter crescido entre 0,5% e 1% entre abril e junho. “O quadro ainda é de fraqueza dos investimentos e só deve haver recuperação consistente no quarto trimestre, após a atividade econômica dar sinais mais evidentes de retomada”, afirma. De acordo com os cálculos do Itaú Unibanco, a demanda doméstica por bens de capital cresceu 0,1% no segundo trimestre, após queda de 7,5% nos primeiros três meses do ano.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, tem prognóstico menos otimista e, em sua visão, o investimento deve continuar decepcionando no segundo semestre, um dos principais fatores que explicam sua projeção de apenas 1,5% para o PIB em 2012.

A MB estima que, na passagem do primeiro para o segundo trimestre, em uma comparação dessazonalizada, a demanda interna por bens de capital cresceu 0,3%, após forte recuo de 8,4% no período anterior. Para Vale, o dado, apesar de ter deixado o patamar negativo, é sinal de um trimestre com investimento ainda parado.

Apesar da pequena retomada no segundo trimestre, nos primeiros seis meses do ano a demanda doméstica por bens de capital encolheu 10,2% sobre o mesmo período de 2011, maior tombo nessa base de comparação desde 2007, segundo os cálculos da MB, com exceção de 2009, ano em que a crise atingiu em cheio a demanda por bens de capital e a absorção doméstica desses itens caiu 20,5% no acumulado de janeiro a junho em relação à primeira metade de 2008.

No primeiro semestre deste ano, período em que a produção total da indústria encolheu 3,8% em relação à primeira metade de 2011, o segmento de bens de capital foi o destaque negativo, com produção 12,5% menor. A importação de bens de capital, por sua vez, seguiu crescendo, embora em ritmo bem menor que o observado em outros anos. A alta, em volume, foi de 3,7% na primeira metade do ano frente igual período do ano passado, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), variação vista sem entusiasmo por Rodrigo Branco, economista da entidade. Em 2011, as compras externas de máquinas haviam crescido 26,8% nessa comparação, após alta de 24,3% na primeira metade de 2010.

Vale observa que o resultado negativo no primeiro semestre não se deve somente à entrada em vigor das novas normas de emissão de poluentes para caminhões, que antecipou a fabricação de veículos pesados no ano passado e a paralisou no início do ano. O ramo equipamentos de transporte, onde estão os caminhões, registrou recuo de 16,8% nos primeiros seis meses do ano, mas também houve queda na produção de bens de capital para a construção civil (menos 14,2%), para fins industriais (menos 1,7%) e para fins industriais seriados (menos 2,8%).

“Ninguém sabe o que vai acontecer com a Europa, há o risco de um colapso da economia mundial e o investidor fica travado”, diz, acrescentando que a indústria não deve deslanchar na segunda metade do ano, mesmo com a expectativa de novas medidas para dinamizar o setor.

Já Aurélio Bicalho, do Itaú, considera que ao longo do terceiro trimestre a economia deve mostrar reação, com ajuste de estoques na indústria, aumento da produção e melhora da confiança dos empresários. Com base nesses fatores, afirma, o investimento também deve reagir, mas a resposta ficará concentrada nos últimos três meses do ano.

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