Argentina eleva controle sobre empresas privadas

Governo deu 72 horas para que companhias com alguma participação estatal, incluindo Petrobrás e Banco do Brasil, apresentem seus planos de investimento

O governo argentino vai aumentar o controle sobre as 28 empresas privadas nas quais detém participação acionária, herdada dos antigos fundos de pensão do país estatizados no final de 2008.

As companhias, entre elas a Petrobrás, o Banco Patagonia (controlado pelo Banco do Brasil) e a processadora de alimentos Quickfood (da Brasil Foods), já começaram a ser contatadas pelo vice-ministro de Economia, Axel Kicillof, o novo homem forte do governo de Cristina Kirchner, e sua equipe.

Kicilloff e sua equipe passaram a semana passada em contatos com os presidentes das companhias, que foram avisados que têm prazo de 72 horas para entregar uma série de documentos solicitados.

As empresas terão de enviar ao governo relatórios detalhados de sua situação contábil, nível de produção, custos, comércio exterior, planos de investimentos e endividamento e informações sobre as decisões de diretoria. A solicitação desses dados está prevista no decreto que a presidente editou há cerca de 15 dias, a fim de fixar normas para coordenar a ação dos 50 diretores estatais nestas empresas.

O governo argentino tem participação acionária nas empresas desde a estatização dos fundos de pensão, que passaram para as mãos da Agência Nacional de Seguridade Social (Anses). Na Petrobrás, por exemplo, essa participação é de 9,8%, enquanto na Quickfood é de 5,3% e no Banco Patagonia, de 15,3%.

Novo mecanismo. “Não acreditamos que possa haver algum problema com esse novo mecanismo porque a maioria da diretoria que decide é privada”, disse uma fonte ligada a uma das empresas. Porém, continuou, “a presença mais agressiva do governo e uma maior exigência poderia provocar algum melindre e atrasar novos projetos”.

Segundo a fonte, nos últimos dois anos, quando iniciou o processo de nomeação dos diretores estatais nas empresas, o governo não criou problemas e também não inibiu a atuação dos diretores privados. Agora, “é preciso esperar para ver o que acontece, mas o assunto preocupa”, concluiu a fonte.

A vida das empresas estrangeiras que atuam na Argentina tem sido marcada por algumas turbulências nos últimos anos. Em documento enviado em maio à Securities and Exchange Comission (SEC, a CVM americana), a Petrobrás já expunha essas preocupações, principalmente após a intervenção na petroleira espanhola YPF, que foi reestatizada.

De acordo com o documento, a Petrobrás Argentina considerava que as incertezas que atingiam a indústria do petróleo e a economia do país representavam um risco para as empresas do setor. A Vale também chegou a dizer que iria reavaliar um investimento bilionário em potássio no país vizinho.


PIB da Grécia cai 6,2% no segundo trimestre

O Estado de S. Paulo

Indicador de uma depressão econômica que já dura cinco anos, o Produto Interno Bruto (PIB) da Grécia mergulhou 6,2% em termos anuais no segundo trimestre de 2012. A contração é a segunda consecutiva em 2012, depois do recuo de 6,5% no primeiro período. Até aqui, a previsão era de uma recessão de 4,5% ao longo do ano. Com o buraco mais profundo, cumprir as metas acertadas com a União Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), fica mais difícil e, por isso, um novo plano de austeridade estaria sendo elaborado.

Os dados, anunciados ontem, confirmam as advertências feitas por analistas de mercado, que não confiavam na previsão feita pelo banco central grego e apostavam em uma recessão semelhante à de 2011, de 6,9% do PIB. Justamente por prever um recuo da atividade econômica mais forte do que os prognósticos, a agência de rating Standard & Poor”s havia colocado a nota dos títulos da dívida soberana da Grécia em perspectiva negativa na semana passada.

Conforme levantamento feito pela agência Reuters com experts do mercado, a expectativa para 2012 é de um recuo do PIB de 7,1%, seguido de outro de 2,4% em 2013, causado pela alta do desemprego, pela queda do poder de compra e pela redução dos investimentos. Em junho, semanas após sua eleição, o próprio primeiro-ministro, Antonis Samaras, já advertia para o risco de uma recessão mais grave do que o projetado por Atenas.

Com as novas estatísticas, a hipótese de um novo plano de rigor se torna cada vez mais concreta. Ele teria por objetivo reduzir em € 11,5 bilhões as despesas. Uma das alternativas cogitadas pelos técnicos da Comissão Europeia, do BCE e do FMI é a extinção de 40 mil cargos do funcionalismo público.

Ontem, em mais um indicativo de que a Grécia terá de cortar mais uma vez as próprias contas para atingir os objetivos – sem contar com a renegociação -, o presidente da União Democrata-Cristão (CDU), de Angela Merkel, Michael Fuchs, afirmou que seu partido vetará qualquer nova forma de auxílio a Atenas.


Pacote de infraestrutura espera atrair capital privado de R$ 60 bi em 5 anos

O Estado de S. Paulo

Batizado de Plano Nacional de Logística Integrada, o pacote de medidas que começa a ser anunciado amanhã tem valor total estimado entre R$ 80 bilhões e R$ 90 bilhões, incluindo as obras em portos e aeroportos, mas a intenção do governo é canalizar a maior parte da verba nos primeiros cinco anos.

O volume de recursos não embute, porém, o custo do trem de alta velocidade (TAV), que também está no pacote a ser lançado amanhã por Dilma, em solenidade no Palácio do Planalto, com a participação dos mais importantes empresários do País. O trem-bala vai ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro.

A ideia do governo é fazer concessões para obras em rodovias e ferrovias pelo prazo de 25 anos. Na prática, o plano prevê a concessão de 8 mil quilômetros de rodovias no Centro-Oeste, no Sudeste, no Nordeste e até no Norte – dos quais 6 mil referentes à duplicação -, além da construção de novos trechos. Os serviços serão executados pela iniciativa privada.

O pacote será anunciado em etapas e também estabelece a concessão de pelo menos 8 mil quilômetros de ferrovias. Dois desses trechos já foram definidos: o Ferroanel de São Paulo, ligando Campo Limpo Paulista ao Porto de Santos, e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste. O sistema não seguirá o mesmo modelo planejado para as rodovias e o governo nega que se trate de privatização.

Seguindo a estratégia de “fatiar” as medidas, Dilma pretende anunciar investimentos da iniciativa privada em portos no próximo dia 29 de agosto, em aeroportos no dia 5 de setembro e as desonerações de impostos na tarifa de energia elétrica logo em seguida, no dia 12.

“Pibinho”. Todo o esforço de Dilma é para criar uma agenda positiva que impulsione o crescimento e faça “girar a economia”, termo usado com frequência no Palácio do Planalto. A presidente quer evitar que a previsão pessimista para 2013 se transforme em realidade.

Dilma já disse à equipe econômica que fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir a repetição do “pibinho” de 2,7% do ano passado, embora as expectativas do mercado sejam até menores do que esse índice.

O governo aposta nos investimentos em infraestrutura para interligar toda a malha rodoviária e ferroviária do País e ajudar o escoamento da produção, que enfrenta inúmeros gargalos. Levantamento feito pelo Ministério dos Transportes mostrou que as ferrovias estão totalmente sucateadas e precisam ser reconstruídas.

A intenção da presidente é criar meios disponíveis para que a produção brasileira chegue aos portos. A ênfase não é na arrecadação, mas, sim, em garantir que sejam feitos investimentos nas estradas.

“Essa política de investimentos vai ser expressa tanto por meio de concessão como por outros marcos regulatórios, como as parcerias público-privadas”, disse Dilma, no mês passado, ao comentar as medidas.

A expectativa inicial era de que a presidente primeiro se reunisse com os empresários, hoje, e somente amanhã anunciasse o plano de logística. Com receio de “vazamentos”, porém, ela decidiu fazer a reunião com os empresários e o anúncio no mesmo dia.


Mercados internos ajudarão na crise, diz dirigente chinês

Valor Econômico

O “grande espaço” da demanda interna no Brasil e na China deve fazer parte das soluções para a crise financeira internacional, defendeu o vice-ministro de Relações Exteriores da China, Li Yucheng, depois de encontro de uma hora e meia com o secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores, Ruy Nogueira. “Ao mesmo tempo em que temos de oferecer inteligência e pensamento para resolver a crise financeira, não podemos fazer protecionismo”, defendeu.

Yucheng minimizou os atritos comerciais entre Brasil e China, porém, e previu que o comércio bilateral, hoje em torno de US$ 77 bilhões, estará entre US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões em dez anos. “É natural surgir divergências”, disse, ao relatar que ouviu queixas de especialistas brasileiros contra barreiras ao mercado chinês e de empresas chinesas contra barreiras brasileiras.

“Queremos ajudar as empresas brasileiras a alcançar nosso mercado”, garantiu. O ministro chinês ressalvou que, para aproveitar a abertura chinesa, as empresas do Brasil “precisam melhorar sua competitividade”. Na China, a manutenção da meta de crescimento em 7% será auxiliada pelo processo de urbanização ainda em andamento, somado aos esforços de desenvolvimento científico e tecnológico e de exploração de novas fontes de energia, avalia o ministro.

Ele citou o crescimento chinês no primeiro semestre, de 7,8%, como indicação de que está garantida a meta de crescer 7,5% neste ano, conforme o plano quinquenal do governo. “Está ocorrendo uma mudança gigante na China, no entanto a política geral se mantém inalterada”, disse o ministro, ao relatar a conversa com os diplomatas brasileiros.

Com a desaceleração econômica, a China passou de uma política de crescimento acelerado para um modelo de ajuste da estrutura econômica, com medidas para evitar o aumento da disparidade de renda, o desequilíbrio regional e o consumo excessivo de energia, disse ele. “Não vamos desistir da reforma e da abertura econômicas.”

Para Yucheng, as enormes dívidas no continente europeu foram formadas principalmente devido a sistemas excessivamente generosos de previdência social, criados por motivos eleitorais, que causou o acúmulo progressivo de dívidas. “A Europa conta com uma única moeda, mas não tem uma política fiscal comum, construiu uma grande casa, mas sem telhado”, comparou o dirigente chinês.

“Na época de sol, é confortável; mas, com chuva, sem teto, é terrível.” A Europa, diz ele, teria de fazer uma “cirurgia dolorosa e impossível”, necessitada de cortar gatos e, ao mesmo tempo, criar estímulos para assegurar o pagamento das dívidas. Os europeus têm condições, porém, com coordenação e uso de sua tecnologias avançada, de superar a crise, disse o ministro.


Participação de importado no consumo sobe a 24%

Valor Econômico

A participação de mercadorias importadas no consumo atingiu 24% no segundo trimestre, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que divulgou ontem seu levantamento Coeficientes de Exportação e Importação (CEI). É o maior nível da série histórica da entidade, iniciada em 2003. Nível semelhante havia sido apresentado, pela primeira vez, no quarto trimestre do ano passado, segundo a entidade.

O coeficiente trimestral de importação da indústria geral apresentou alta de 1,2 ponto percentual (pp) na comparação do segundo trimestre com igual período em 2011, e de 1,5 pp ante o primeiro trimestre deste ano. Segundo o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), da entidade, Roberto Giannetti, “o aumento consistente das importações ocorre tanto em bens finais quanto em insumos, enfraquecendo a agregação de valor na indústria”.

O Coeficiente de Importação (CI) para a indústria de transformação apresentou alta de 1,1 pp, passando de 21,5% no segundo trimestre de 2011 para 22,6% no mesmo período deste ano. Já na comparação com os três primeiros meses de 2012, a variação foi positiva em um ponto percentual.

Já a participação das vendas externas na produção total da indústria geral cresceu 1,5 pp, de 19% para 20,5%, na comparação entre o segundo trimestre deste ano e o trimestre anterior. O Coeficiente de Exportação (CE) para a indústria de transformação cresceu 0,7 pp na comparação com o primeiro trimestre, atingindo 17,7% no segundo trimestre.

A retração na produção industrial no segundo trimestre do ano, somada à relativa estabilidade nas exportações de produtos industriais, resultou nesse avanço do CE, informou a Fiesp. Na comparação com igual trimestre de 2011, o CE da indústria geral avançou 0,5 ponto.

Ao analisar apenas os resultados da indústria de transformação no segundo trimestre, a Fiesp divulgou que o CE avançou 1,6 ponto na comparação com o primeiro trimestre deste ano e 0,7 ponto na comparação com o segundo trimestre de 2011.

Entre os 33 setores analisados, 14 apresentaram aumento no coeficiente de exportação na comparação entre o segundo trimestre deste ano e o mesmo período de 2011. Entre abril e junho, o destaque foi o setor de ferro-gusa e ferroligas, cujo CE aumentou 14,6 pp na comparação com o segundo trimestre de 2011, passando de 43,1% para 57,7%.


A maior seca em 50 anos

O Globo

Uma crise de preços de alimentos, como a que o mundo conheceu em 2007 e 2008, pode estar a caminho. Os Estados Unidos, hoje o maior produtor mundial de soja e milho, enfrentam a pior seca em 50 anos. Estima-se que um sexto da safra de milho do país tenha sido destruída no mês de julho mais quente da História. Já a colheita de soja, matéria-prima para ração animal e óleo vegetal, entre outros produtos, seria a menor em cinco anos. Diante do cenário crítico, o G-20, que reúne as vinte maiores economias do mundo, anunciou ontem que pode convocar uma reunião emergencial para tratar do assunto no fim de agosto.

Também o governo americano teve de enfrentar a crise. Em campanha presidencial, o presidente Barack Obama disse ontem que vai lançar mão de um plano de emergência, que inclui, além de compras urgentes de US$ 170 milhões em carne de boi e peixe, o fornecimento de carnes de porco e cordeiro, entre outros produtos, a programas de assistência social. O governo enfrenta, ainda, a polêmica sobre produção de alimentos versus combustível. Na semana passada, a ONU pediu a suspensão imediata da produção de etanol nos Estados Unidos.

Os preços de soja milho e trigo já batem recordes em 2012: teriam aumentado entre 50% e 30% nos EUA desde junho, noticiou o jornal britânico “Financial Times” na semana passada. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), o trigo já é comercializado a preços 19% mais caros no mercado mundial. Na Bolsa de Chicago, o milho futuro chegou a ser comercializado a inéditos US$ 8,43 na última sexta-feira.

Essa alta dos preços provocará impacto ainda maior nos países pobres. Nas nações menos favorecidas, a comida compromete uma parte maior do orçamento familiar. Segundo o site do jornal britânico “The Guardian”, o Banco Mundial já está em alerta para um aumento da fome e da desnutrição no mundo. O fenômeno natural vem num momento em que a demanda por comida cresce, lembrou o jornal. O crescimento populacional e a melhoria das condições de vida nos países emergentes já eram motivo de preocupação antes da seca.

Pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Ultramarino, do Reino Unido, mostrou que o consumo de carne na China quadruplicou desde 1978. Ainda assim, é menor em 30 quilos do que o patamar europeu de consumo, de 80 quilos per capita por ano. São necessários, em média, sete quilos de milho para produzir um quilo de carne.

As magras colheitas vão também atingir em cheio a indústria de alimentos. Gigantes como as empresas Nestlé e Kraft já avisaram que vão repassar o prejuízo aos consumidores,.

Com a seca, a produção de soja do Brasil pode superar, pela primeira vez, a dos Estados Unidos, a projeção para a safra de soja brasileira no período 2012-2013 foi elevada para 81 milhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos EUA. A safra americana, para o mesmo período, deve ficar em 73,26 milhões de toneladas


Empréstimos mais longos devem dar novo gás ao crédito

Valor Econômico

O motorista de táxi Roberto Trombeta sabe de cor o dia em que vence sua última dívida: 24 de julho de 2014. “O carro, o cartão, o cheque especial e a dívida que eu tenho fora do banco, todas terão terminado nesse dia.” A data encerra um ciclo de endividamento que dura mais de três anos na vida do taxista. “Virou bola de neve. No começo eu pagava as dívidas mais altas e deixava de lado as menores. Elas foram crescendo e depois eu não conseguia pagar essas também”, diz. “Aprendi a pagar primeiro as que têm juros mais altos. Estou indo pagar o cartão agora. Depois, a cooperativa de táxi. O que sobrar, vai para o carro.”

O acúmulo de dívidas de Roberto Trombeta mostra a barreira a ser vencida para que o crédito no país volte a ganhar ritmo. A combinação entre operações de juros altos e prazos curtos resultou em um salto no patamar de gasto mensal das famílias com dívidas financeiras, um dos fatores que travam a expansão do crédito neste ano. Mudanças nessa dinâmica serão determinantes para reverter a desaceleração.

Em maio, dado mais recente do Banco Central, as famílias brasileiras gastaram, em média, 21,85% de sua renda mensal líquida com pagamento de prestações de dívida (incluindo juros e principal), ainda próximo da máxima de outubro de 2011, quando chegou a 22,36%. Em janeiro de 2005, quando começa a série histórica, a taxa era de 15,5%. Nos Estados Unidos, uma medida semelhante feita pelo Federal Reserve, o banco central americano, registrou 10,98% no primeiro trimestre.

Os cortes sucessivos na taxa básica de juros e a pressão do governo por menores spreads bancários começam a surtir efeitos nas taxas de juro cobradas dos clientes, o que pode trazer um alívio em breve para o endividamento das famílias. Falta, porém, equacionar o aumento dos prazos. Em economias maduras foi a disseminação do financiamento da casa própria que possibilitou alongamentos. Só que, assim como os demais tipos de concessões, o crédito imobiliário caminha mais devagar neste ano no Brasil.

“Para os próximos anos, enxergamos uma tendência de crescimento maior no crédito imobiliário que em modalidades de crédito de consumo, que crescerão menos”, avalia o vice-presidente de estratégia do Santander Brasil, Juan Hoyos. “Se isso acontecer, o prazo médio das operações no Brasil vai crescer.” Calculado pelo BC, o prazo médio do crédito referencial para taxa de juros fechou junho em pouco mais de um ano e meio.

O executivo interpreta que a queda no desemprego, hoje em níveis historicamente baixos, combinada à expansão da oferta de crédito, abriu espaço para que as famílias brasileiras satisfizessem necessidades de consumo mais imediatas. Por outro lado, a mentalidade herdada de tempos de hiperinflação segurou o endividamento de prazo mais longo, direcionando a expansão para o crédito ao consumo, avalia.

De dez anos para cá, a relação entre crédito e PIB da economia brasileira mais que dobrou, uma das faces visíveis do movimento de bancarização e de aumento da oferta de financiamentos no país. Hoje, o estoque total de crédito do sistema financeiro representa 50,6% do PIB. O crescimento teve ênfase nas operações da pessoa física, em que predomina o crédito pessoal – operação com prazo médio de pouco mais de um ano e meio.

“Gradualmente, o crédito no Brasil caminha para prazos mais longos”, diz Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse. Enquanto o movimento dos prazos é mais lento, Teixeira prevê para meados do ano que vem um efeito positivo da queda dos juros no endividamento das famílias.

Nesse caso, o prazo curto dos financiamentos brasileiros pode agir a favor dos tomadores, já que o giro de contratações é rápido, acelerando a “troca” de empréstimos com juros mais altos por outros de taxas menores. “Em meados do próximo ano, o gasto das famílias com dívida deve voltar a um patamar próximo de 20%, padrão do fim de 2010”, afirma.

A relação entre o valor total das dívidas das famílias com o sistema financeiro e a renda acumulada em 12 meses mostra o potencial de crescimento do crédito, caso os prazos aumentem. Em maio, este indicador estava em 43,4% no Brasil, enquanto medida semelhante dos Estados Unidos superou 100% em 2011. Nos EUA, o prazo médio do crédito é de pouco mais de vinte anos, o que diminui o valor de pagamentos no curto prazo. Logo, as famílias podem assumir mais dívida, mas com menor gasto mensal com parcelas.

Essencial para o aumento dos prazos médios das operações, o crédito imobiliário vem perdendo um pouco do fôlego dos últimos anos. Entre janeiro e junho, o volume de recursos imobiliários emprestados ficou em R$ 37,04 bilhões, praticamente o mesmo daquele registrado em igual período de 2011 (avanço de 0,1%), segundo dados da Abecip, associação de crédito imobiliário. As operações de pessoa jurídica foram as grandes responsáveis pelo crescimento marginal.

“Este é um ano de ajustes para o crédito imobiliário. No ano que vem, a modalidade deve voltar a crescer a taxas mais altas, mas não tanto quanto no passado”, avalia Claudio Borges, diretor de crédito imobiliário do Bradesco. Ele acredita que a proporção entre o saldo de crédito imobiliário e o Produto Interno Bruto dobre nos próximos cinco anos, “se tudo correr bem”. Hoje, essa relação está em 6%.

Também são pouco populares no Brasil produtos que ajudaram a alongar prazos de crédito em outros países. É o caso do refinanciamento imobiliário, em que um imóvel é dado como garantia para financiamentos de 10 a 12 anos. A modalidade hoje responde por parte pequena das operações brasileiras. “O “refis” deve ser entre 1% e 3% das novas operações originadas de crédito imobiliário. Mas acho que vai crescer com velocidade nos próximos anos”, diz Antonio Barbosa, superintendente de crédito imobiliário no HSBC.

Ele enxerga a atratividade do produto na possibilidade de trocar dívidas de curto prazo, com taxas altas, por outras com taxa que pode ser de 1,5% ao mês, em dez anos. “Em um exemplo exagerado, o comprometimento com pagamento de dívidas de uma família pode ir de 30% para 3% com a mudança”, diz.

“Há um estigma da população, em especial de quem acabou de sair do aluguel, em dar a casa como garantia para um empréstimo”, avalia Victor Loyola, vice-presidente de risco do Citi. Além da hipoteca “tradicional”, Loyola cita o crédito estudantil como modalidade que ajuda a aumentar os prazos de dívidas em outros países, mas que quase não é feita aqui.

Sobre o endividamento, o BC calcula que, excluindo o crédito habitacional, o índice se encontre ao redor de 30% da renda anual e venha crescendo de forma “moderada”. A avaliação foi feita pelo diretor de política econômica da autoridade, Carlos Hamilton Araújo, em evento do BC na semana passada. Sobre o comprometimento de renda mensal com prestações, Hamilton disse ver continuidade da tendência de recuo desse indicador.

O próprio crédito imobiliário vem apresentando prazos maiores. A duração média do saldo atual da modalidade fica entre 12 e 13 anos, sendo que as operações mais longas no Brasil vão até 35 anos. Porém, o crédito concedido em 2011 tem prazo médio entre 16 e 17 anos, informa Octávio de Lazari Junior, presidente da Abecip. Ele acredita que esse processo tem relação com aumento do tíquete médio financiado, na medida em que sobem os preços de imóveis.

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