Uruguai quer barrar o capital especulativo
Pela primeira vez em sua história, o Uruguai irá barrar a entrada de capital especulativo no país. A partir de outubro, os bancos que adquirem em nome de não residentes títulos públicos em pesos terão que acompanhar a aplicação de um depósito compulsório de 40%. A medida, anunciada na quarta-feira, provocou uma desvalorização do peso uruguaio de 1,5% no dia seguinte.
O país tornou-se atraente para investidores desde que recebeu grau de investimento das empresas de classificação de crédito em abril deste ano. Do total da dívida pública uruguaia, que corresponde a 49% do PIB, segundo dados do FMI, 79% estão em moeda local e 14% correspondem à compra de títulos públicos por parte de não residentes, de acordo com dados de março do Banco Central do Uruguai. A taxa de juros básica fixada pela instituição está em 8,75%.
A medida valerá apenas para os títulos emitidos pelo Banco Central, que somam US$ 6,1 bilhões, ou cerca de 12% do PIB. Esses papéis em sua maioria são de curto prazo, com 79% desse montante vencendo em menos de um ano. O governo do Uruguai emite papéis predominantemente de médio e longo prazo.
“Essa foi uma medida prudencial. Mais do que o volume, o que nos preocupa é a dinâmica. Identificamos nas últimas semanas uma mudança de tendência, que indicava que a entrada de capital para aplicações de curto prazo poderia ter efeitos prejudiciais. O objetivo é reduzir a volatilidade”, afirmou o vice-ministro de Economia do Uruguai, Luis Porto.
Segundo o comunicado divulgado pelo Banco Central, a emissão de títulos “tem como propósito regular a liquidez no mercado, e não obter financiamento a longo prazo”. A iniciativa, de acordo com o comunicado, deve fazer com que o custo seja repassado aos clientes, ” o que reduzirá substancialmente a rentabilidade de capitais do exterior aplicados a títulos, preservando dessa maneira os mecanismos de política monetária”.
Até 2007, o Uruguai era considerado um paraíso fiscal, pelas regras estritas de sigilo bancário e pela facilidade para a abertura de sociedades com características “off shore”. Em meados da década passada, de acordo com Porto, a aplicação de recursos de não residentes chegou a corresponder a 40% da dívida em títulos públicos. Desde então, o país adotou uma série de reformas para perder essas características.
Neste ano, o Uruguai assinou acordos de cooperação tributária com Brasil e Argentina. O acordo argentino prevê mecanismos para evitar a dupla tributação e estabelece troca de informações. O acerto com o Brasil deverá ter duas etapas. “Já assinamos o termo para o intercâmbio de informações e o fim dos impostos superpostos será discutido mais adiante”, disse o vice-ministro.
” Todo o esforço nos últimos anos esteve direcionado para deixarmos de ser um país para ingressos de capitais na área de serviços e passarmos a ser um destino de investimentos na área produtiva. Mas a diferença da taxa de juros do Uruguai em relação a outros países continuava gerando a entrada de capital volátil”, afirmou Porto.
A economia uruguaia é fortemente influenciada pelo comportamento de Brasil e Argentina. Nos últimos meses, o Brasil passou a ter uma trajetória descendente de juros, diminuindo a rentabilidade dos papéis do país. Na Argentina, as restrições cambiais estão diminuindo o espaço para aplicações em dólares e a alta inflação torna pouco atraentes os investimentos em pesos. Porto não detalhou a origem do capital volátil. “Essa não é uma questão relevante”, desconversou.
Bancos miram conta-salário
Valor Econômico
Mais do que a transferência de crédito, o grande interesse dos bancos está na portabilidade da conta-salário dos trabalhadores. Por isso, as instituições financeiras têm atrelado as melhores ofertas de juros à migração da conta onde a pessoa é paga todo mês. Caixa e Santander, por exemplo, isentam de tarifa quem migrar a conta-salário.
No início deste ano, abriu-se a possibilidade de os 13 milhões de funcionários públicos escolherem onde querem receber o salário. Essa opção já existia para os trabalhadores da iniciativa privada. Os números desse movimento não são públicos, mas os bancos estão se armando para ver quem conquista mais o assalariado.
“A portabilidade de salário é mais importante do que qualquer outra. É ela que vai definir o relacionamento bancário mais forte”, diz Pedro Coutinho, vice-presidente do Santander Brasil.
O banco treinou 500 funcionários só para lidar com questões de portabilidade de contas-salário. Para ganhar um novo trabalhador, vale acessá-lo pelo telemarketing. É um trabalho de formiga, bastante diferente dos leilões de folhas de pagamento de entidades públicas dos quais os bancos estão acostumados a participar, com milhares de funcionários.
O Santander, por exemplo, está empenhado em reconquistar a base de funcionários do Estado de São Paulo. Hoje é uma folha que pertence ao Banco do Brasil, mas que por anos foi do Banespa, banco comprado pelo Santander.
“Hoje ainda não se percebe um rouba monte entre os bancos. Por enquanto, todo mundo só está mostrando que está no jogo”, afirma Coutinho. Procurados pela reportagem, Itaú Unibanco e Bradesco não concederam entrevista.
Unasul apoia Equador
Valor Econômico
A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) apoiou ontem o asilo político concedido pelo Equador ao criador do site Wikileaks, Julian Assange, que está refugiado há dois meses na embaixada equatoriana em Londres. O governo britânico, porém, quer extraditá-lo para a Suécia (onde ele é acusado de abuso sexual) e se recusa a dar um salvo-conduto para que Assange deixe a embaixada sem o risco de ser detido. A Unasul pediu que Equador e Reino Unido cheguem a uma solução para o impasse. Em Londres, Assange fez um pronunciamento ontem buscando se caracterizar como um perseguido pelos EUA. Ele pediu que o presidente Barack Obama pare com a caça às bruxas contra o Wikileaks.
Cresce otimismo nos EUA apesar de retomada instável
Valor Econômico
Os americanos estão ganhando confiança na economia do país, indicou um novo relatório, mas continuam preocupados com as ameaças que poderiam acabar com o progresso modesto alcançado durante três anos de uma recuperação instável.
Uma série de dados encorajadores divulgados nas últimas semanas – que se seguiram a um tímido começo de segundo semestre – aliviaram os temores de uma recessão e, ao mesmo tempo, ressaltaram o ritmo irregular e lento da recuperação.
O índice de confiança do consumidor publicado pela Universidade de Michigan subiu de 72,3, em julho, para 73,6 na leitura preliminar de agosto, o melhor resultado desde maio. O aumento do emprego ganhou força em julho, e as demissões diminuíram depois de um pico no segundo trimestre. As exportações – um fator de peso na recuperação americana até aqui – vêm se mostrando surpreendentemente resistentes apesar da recessão na Europa e da redução do crescimento na Ásia. E os consumidores passaram a gastar mais em quase tudo, de carros a restaurantes.
O crescimento da economia continua caminhando a passos de tartaruga. A produção aumentou um mero 1,5% no segundo trimestre, e a maioria dos economistas espera um desempenho só um pouco melhor no segundo semestre. O perfil ondulante da recuperação se refletiu no relatório da confiança do consumidor, divulgado na sexta-feira, que mostrou que os consumidores estão mais animados com as condições presentes, mas mais pessimistas sobre o futuro.
Os sinais recentes de melhora do cenário poderiam complicar uma decisão que o Federal Reserve está prestes a tomar. As autoridades do banco central dos Estados Unidos vêm há meses manifestando preocupação com o fato de a economia estar crescendo devagar demais para diminuir o desemprego. Elas indicaram no começo do mês que estavam inclinadas a tomar novas medidas para estimular o crescimento.
Mas, com a economia dando sinais de estar ganhando impulso por conta própria, alguns membros do Fed poderiam mudar de ideia, embora os dados provavelmente não tenham melhorado o suficiente, e nem por um tempo longo o bastante, para alterar drasticamente a visão que maioria das autoridades tem do cenário econômico.
Se o Fed resolver esperar, esses dados econômicos melhores podem vir a ser uma faca de dois gumes para investidores que vêm torcendo por uma nova rodada de estímulos do banco central.
Até agora, os mercados financeiros fizeram eco à pequena melhora da economia. O mercado de ações está se aproximando do seu nível mais alto em quatro anos. A média industrial Dow Jones subiu por seis semanas seguidas, a sequência de altas mais longa desde janeiro de 2011. Desde o início de junho, a Dow Jones já subiu 9,7%. O índice ganhou 25,09 pontos na sexta-feira, fechando em 13.275,20.
“Essa disparada que vimos desde junho está ligada à estabilização e a algumas melhoras no quadro econômico”, disse Jim McDonald, estrategista-chefe de investimento da Northern Trust Corp. em Chicago, que administra US$ 704 bilhões em ativos.
Os dados recentes assinalam uma nítida melhora em relação a uns dois meses atrás, quando o crescimento estagnado do emprego e o declínio nos gastos dos consumidores levaram muitos economistas a sugerir que os EUA estavam caindo de volta numa recessão. Alguns economistas argumentaram que isso de fato já aconteceu. Mas, entre os extremos de recessão e expansão, está a dolorosa realidade que vem assolando a recuperação desde o início: a economia dos EUA está presa a um ritmo de crescimento lento e inconstante.
Desde que a recessão acabou, mais de três anos atrás, a economia dos EUA várias vezes pareceu estar a ponto de decolar, apenas para perder força em seguida. Por outro lado, apesar dos repetidos alarmes, ela nunca voltou a parar de vez. Nos últimos três anos, o crescimento e o emprego subiram nos primeiros meses, mas esmoreceram notavelmente em meados do ano.
“O cenário geral é de uma recuperação anêmica”, disse Joshua Shapiro, economista da MFR. “É um processo muito longo de recuperação depois do estouro das bolhas de crédito e ativos, e nós ainda não chegamos ao fim.”
Hank Sybesma experimentou em primeira mão as paradas e arrancadas da recuperação. Sua empresa de eletrônicos e consertos em Michigan, a Sybesma”s Electronics, acostumou-se bastante aos clientes que faziam pedidos e os cancelavam ao constatar que as vendas deles estavam aquém do esperado.
“Temos uma empresa que chega e diz: “Precisamos fazer isso”, e eu penso “Oba!”. E então, de repente, eles voltam com más notícias e o serviço desaparece”, disse Sybesma. “Esse é o lado ruim da economia neste momento: ela está impossível de se prever.”
Um crescimento acelerado vem se mostrando difícil de se materializar em grande parte porque, apesar dos pontos fortes, o motor da economia nunca pôde movimentar todos os seus cilindros. O mercado imobiliário e as novas construções – motores críticos de toda recuperação americana no pós-guerra – permanecem em níveis raquíticos. As empresas vêm aproveitando os juros baixos para investir em novos equipamentos, mas o setor público se mantém acorrentado a orçamentos apertados. Embora os preços continuem baixos e as finanças das famílias comecem a se equilibrar, a combinação de desemprego alto e crescimento lento dos salários diminui a capacidade ou a disposição do consumidor de gastar.
Essa fraqueza ampla e persistente deixou a economia americana mais vulnerável aos choques externos. Há um ano, foram as interrupções na cadeia de suprimento causadas pelo terremoto no Japão e a disparada nos preços no petróleo deflagrada pelas agitações no Oriente Médio. Hoje, as ameaças incluem o lento crescimento no exterior, a possibilidade de que a crise financeira europeia abale os mercados dos EUA e a perspectiva de o Congresso americano não ser capaz de resolver o iminente “abismo fiscal”: os bilhões de dólares em aumento de impostos e cortes de gastos do governo marcados para 2013. ]
Produção industrial dá sinais de fraqueza
Valor Econômico
A queda nas vendas de computadores e celulares no varejo, detectada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não é o único sinal de desaceleração do setor. A produção industrial, considerado outro termômetro, também sugere que o segmento não vive mais a fase de expansão acelerada de outrora.
No primeiro semestre, a produção de máquinas para escritório e equipamentos de informática, categoria que inclui os PCs, registrou queda de 11,8%, segundo o IBGE. No caso dos aparelhos de telecomunicações – sob a qual estão os celulares -, a produção industrial recuou 17,1% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Só em junho, a fabricação de celulares diminuiu 34,3% em relação ao mesmo mês de 2011. O desempenho negativo foi tão expressivo que chegou a influenciar a queda de mais de 4% na produção de bens de consumo duráveis, segundo o IBGE. O instituto não divulga dados mensais sobre a produção de computadores. Em junho, a produção industrial como um todo recuou 5,5% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Um dos principais motivos apontados pela indústria para a redução na produção de celulares foi o nível elevado de estoques remanescentes do fim de 2011. Os fabricantes reforçaram suas operações ao longo do ano passado devido à forte demanda. A procura foi grande, mas não correspondeu ao esforço no chão de fábrica, o que elevou os estoques. A solução, no início deste ano, foi colocar o pé no freio.
A categoria na qual estão os computadores apresenta quedas mensais sucessivas, em termos de produção, desde março do ano passado. Já a produção de equipamentos de comunicação, na qual está incluída a montagem dos celulares, passou a apresentar queda em janeiro deste ano, sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Além da produção industrial, o ritmo de importação de aparelhos celulares também diminuiu. No primeiro semestre, as importações caíram 60,5% em comparação com os primeiros seis meses de 2011. As exportações tiveram queda de 53% frente ao primeiro semestre de 2011, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A importação de itens da categoria equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos caiu 5,1% na primeira metade do ano na comparação com o mesmo período do ano passado. As exportações desses produtos tiveram uma queda ainda mais expressiva, com um recuo de 19% no período.
Espanha parece rumar para o resgate inevitável
Valor Econômico
Depois de duas semanas de silêncio das autoridades da zona do euro, a chanceler Angela Merkel deu um sinal, em uma entrevista no Canadá, de que apoia a monetização das dívidas dos países periféricos – leia-se Espanha e Itália.
Houve certo desapontamento desde a fala do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, em 26 de julho, quando disse com todas as letras que faria o que fosse possível para defender o euro e que o euro é “irreversível”. Na reunião do BCE, em 2 de agosto, não houve novas indicações, nenhuma ação concreta, e o que ficou no ar foi a expectativa de que “nas próximas semanas”, como disse Draghi, algo fosse anunciado.
De fato, o mercado reconsiderou a apreensão e a urgência. Os rendimentos exigidos para o financiamento da dívida espanhola de 10 anos, que bateram em 7,16% no dia da reunião do BCE, recuaram para 6,46%. Na ponta curta da curva (prazo de dois anos), os “yields” (rendimentos) foram de 4,83% para 3,76%.
Contribui também para a menor pressão o cronograma de vencimentos mais leve em agosto e setembro – € 10 bilhões e € 1,5 bilhão, respectivamente. Em outubro, por outro lado, o desafio será rolar os € 33,6 bilhões, entre principal e juros. Já os yields de países centrais como EUA e Alemanha voltaram a subir, deixando para trás os pisos históricos atingidos nos piores dias da crise.
O voto de confiança no BCE vem sendo respaldado pela esperança de que a Alemanha flexibilize sua posição quanto à compra de títulos soberanos dos países do sul, seja via BCE, seja via os fundos de resgate. O imbróglio passa pelo próprio papel do banco central. Ele não pode fazer pelos países aquilo que é tarefa inerente aos governos: equilibrar suas contas fiscais.
Não se sabe se a fala de Merkel se transformará, na prática, em alguma saída mais rápida para a zona do euro, já que os problemas continuam onde sempre estiveram nas últimas semanas. A Grécia continua na berlinda esperando por uma extensão no prazo de enquadramento nas metas da troica, e a Espanha (principalmente) sofrendo com indicadores sociais em níveis desesperadores e uma sangria no sistema financeiro.
Nesse ponto, chama atenção o nível recorde de dependência de crédito dos bancos espanhóis junto ao BCE em julho: foram € 375 bilhões, um número sete vezes maior do que em julho de 2011. A inadimplência no setor financeiro também bateu um nível recorde em junho (último dado), chegando a 9,42% da carteira de crédito (€ 164,4 bilhões), ante 6,7% em julho de 2011 (€ 121,6 bilhões). O pacote já aprovado de até € 100 bilhões para o sistema financeiro continua, portanto, urgente.
De concreto, a espera é pelo pedido formal da Espanha (e talvez da Itália) por ajuda, o que implica condicionalidades, embora, ao que tudo indica, menos draconianas do que as impostas à Grécia, Portugal e Irlanda. Isso porque o país já vem fazendo cortes no orçamento com o objetivo de cumprir as metas de déficit orçamental neste e no próximo ano.
Além do socorro ao sistema financeiro, as regiões autônomas estão em situação financeira delicada. Das 17 regiões, duas já pediram ajuda formal ao governo central – Murcia e Valência -, mas há outras na fila. O governo espanhol, frente a essa realidade, criou o Fundo de Liquidez Autônomo, com aporte de € 18 bilhões para emprestar às regiões sob condicionalidades impostas por Madri.
No fim de julho, o Conselho de Política Fiscal e Financeira estabeleceu limites para o endividamento das regiões autônomas até 2015. O déficit não pode ultrapassar 1,5% do PIB regional em 2012, 0,7% em 2013 e 0,2% em 2014. Em 2015, a previsão é de superávit de 0,2%. Já o limite para a dívida global das 17 regiões é de 15,1% do PIB da Espanha em 2012, 16% em 2013, 15,9% em 2014 e 15,5% em 2015.
Segundo o último boletim estatístico do banco central espanhol, em março de 2012 a dívida global regional representava 13,5% do PIB da Espanha, ou € 145 bilhões – ou seja, está dentro do limite acordado. Entre as 17 regiões, apenas o País Basco ultrapassava seu teto, com excedente de € 97 milhões.
Os tetos para a dívida variam de uma região para outra. Em Valência e Murcia, que já pediram resgate ao governo espanhol, não podem ultrapassar 22,18% e 12,55% de seu PIB, respectivamente. Valência, como se sabe, está no centro do rombo do Bankia, hoje nacionalizado.
Até o fim do ano, contudo, mais oito comunidades autônomas deverão ultrapassar o limite de endividamento. Evidência disso é o cronograma de vencimentos da dívida regional. Em 2012, vencem € 35,6 bilhões das dívidas das 17 regiões, dos quais € 31 bilhões entre março e dezembro. A dívida regional espanhola ao fim do ano, portanto, deverá ser de, no mínimo, € 176 bilhões – a soma entre o retrato da dívida em março e os vencimentos previstos para o resto do ano. Em vista deste cálculo, as regiões autônomas devem encerrar o ano sem cumprir a meta de 15,1% do PIB da Espanha, o que representa € 160,1 bilhões.
Dado o cronograma de vencimentos, nove regiões podem não honrar a meta: Andaluzia, Castilla-La Mancha, Catalunha, La Rioja, Madri, Murcia, Navarra, País Basco e Valência.
Catalunha é a região que, provavelmente, ficará mais longe de cumprir o seu limite de endividamento de € 45,1 bilhões e poderá pedir socorro em breve. Sua dívida no primeiro trimestre do ano somava € 42 bilhões e chegará a € 54,7 bilhões no fim de 2012, com os € 12,7 bilhões vincendos entre março e dezembro.
Valência, que chegou a pedir ajuda formal de € 3,5 bilhões no dia 20 de julho, deverá ultrapassar o nível máximo de dívida em € 4,7 bilhões. Murcia, que solicitou aporte de € 200 milhões a € 300 milhões em 23 de julho, deve mostrar excedente de € 266 milhões.
A situação fiscal da Espanha, portanto, é delicada. Tendo em vista as metas de déficit de 6,3% e 4,5% do PIB para o país para 2012 e 2013, respectivamente, é custoso acreditar que todo o esforço do país individualmente pode ser profícuo. Diante desses números todos, o socorro parece inevitável.
Desaceleração chega a PC e celular
Valor Econômico
Até agora, computadores e celulares pareciam imunes às dificuldades econômicas, com vendas impulsionadas pelo mercado residencial, em especial o consumidor da classe C. Esse cenário, porém, mudou. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as vendas no varejo da categoria que inclui os dois itens – a de equipamentos de escritório, informática e comunicação – caíram 14,6% em junho na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação a maio, a redução foi de 8,9%. Foi o único setor a apresentar retração no levantamento do IBGE.
A redução nos volumes de vendas ocorreu em 7 dos 12 Estados cujos números são detalhados pelo IBGE. Parte desse movimento pode ser atribuído a uma base de comparação bem mais alta, disse ao Valor Reinaldo Pereira, pesquisador do IBGE. Em junho de 2011, as vendas haviam crescido 34,7%.
Esse efeito, no entanto, não é meramente numérico. A indústria sentiu fortemente o impacto da desaceleração. A Positivo Informática, cujo lucro caiu 76% no segundo trimestre, atribuiu a diminuição da demanda ao desaquecimento da economia.
A constatação no mercado de PCs é que o nível de endividamento do consumidor registrado no fim de 2011 fez com que as pessoas adiassem novas compras. De acordo com a empresa de pesquisa GfK, só em dezembro foram vendidos 1,3 milhão de PCs no varejo, um recorde para o mês e um volume alto mesmo para o período de Natal.
De acordo com Alex Ivanov, diretor da área de tecnologia da informação (TI) da GfK, junho é tradicionalmente fraco para o varejo: o que acontece é uma espécie de ressaca por conta das vendas do Dia das Mães, em maio. Em junho deste ano, porém, a consultoria registrou vendas de PCs foram mais fracas que em anos anteriores. O recuo foi de 24% frente à queda de 17,9% de 2011.
No mercado de celulares, um dos motivos da queda, segundo um executivo do setor que prefere não se identificar, foi a decisão das operadoras de reduzir os subsídios nos aparelhos para melhorar seu desempenho financeiro. As teles, de maneira geral, têm apresentado resultados fracos. A Vivo, por exemplo, teve uma redução de 38,2% na receita com aparelhos móveis no primeiro semestre. As vendas caíram de R$ 566 milhões em 2011 para R$ 350 milhões neste ano.
Com menos promoções e incentivos à compra de aparelhos, o consumidor afastou-se das lojas. Além disso, houve um repasse de variação cambial por parte dos fabricantes, o que contribuiu para elevar os preços. Segundo a GfK, a venda de celulares no varejo em junho caiu 3% em número de unidades.
Apesar das dificuldades, analistas do setor observam um cenário mais positivo quando avaliam um prazo mais longo. No acumulado do ano, os dados da GfK não indicam retração no segmento de computadores. As vendas de PCs cresceram 21,5% de janeiro a junho em relação ao mesmo período do ano passado. O desempenho foi impulsionado, principalmente, pelos equipamentos portáteis, cujas vendas cresceram 44% na comparação com os primeiros seis meses de 2011. A mesma tendência é percebida no segmento de celulares, cujas vendas acumuladas no ano mostram uma expansão de 9% em volume, segundo a GfK.
Para algumas varejistas, a queda nas vendas dos dois segmentos não foi relevante. A Viavarejo, que controla as redes Casas Bahia e Pontofrio, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não sentiu “nenhum efeito de queda ou desaceleração de vendas em suas lojas” com relação a equipamentos de informática e celulares.
Executivos e analistas do setor também preveem uma reversão do quadro negativo até o fim do ano. Além da retomada do crescimento econômico, eles esperam que a renovação tecnológica prevista para o quarto trimestre volte a despertar o interesse do consumidor. Entre os atrativos estão o lançamento do Windows 8, o novo sistema operacional da Microsoft, e de novos equipamentos de campeãs de vendas, como a Apple.
“Já vemos um aumento dos pedidos. O dólar está mais alto, mas pelo menos não sofre tanta oscilação. A perspectiva também é de um endividamento mais sob controle por parte do consumidor”, afirmou Marcus Daniel, presidente da fabricante de telefones celulares Alcatel One Touch.
Corte no IPI salva o ano de montadoras
Valor Econômico
O socorro à indústria automobilística anunciado pelo governo no dia 21 de maio está salvando o ano de cinco das doze grandes montadoras instaladas no país. O apoio vindo de Brasília – que incluiu a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e medidas para destravar o crédito – inverteu a tendência negativa apresentada até maio por Fiat, Volkswagen e Ford, além das japonesas Honda e Toyota.
Seja pelo sucesso de novos modelos, seja pelo posicionamento em linhas estimuladas pela desoneração tributária, algumas marcas conseguiram aproveitar melhor do que outras o ciclo de incentivos do governo. Tirando da análise a dupla franco-japonesa Renault / Nissan – que já vinha em rápida expansão desde o início do ano -, Honda e Toyota foram as que mais cresceram após o corte nas alíquotas do IPI.
Além da maturação de lançamentos feitos no início do ano, o desempenho das marcas nipônicas reflete a recuperação dos resultados negativos de 2011, quando a produção foi comprometida pela falta de peças por fornecedores da Ásia, após o tsunami que atingiu o Japão em março do ano passado.
No grupo de elite, formado por Fiat, Volkswagen, General Motors (GM) e Ford – responsáveis por 70% dos carros vendidos no país -, todas conseguiram aumentar os volumes nos últimos dois meses – comparativamente a igual período do ano passado.
A GM, contudo, não acompanhou o ritmo dos concorrentes, perdeu mercado e segue em queda no acumulado do ano, assim como a dupla Peugeot / Citroën, que não consegue se levantar apesar dos estímulos governamentais (veja gráfico).
Envolta numa crise trabalhista em São José dos Campos – onde deixou de produzir recentemente os modelos Corsa, Meriva e Zafira -, a montadora americana conseguiu aumentar as vendas em 11,1% entre junho e julho, mas a participação de mercado acumulada no ano cedeu de 18% para 17,6% de maio – mês de anúncio dos incentivos – a julho.
Na soma dos sete primeiros meses de 2012, as vendas da GM ficaram 1,4% abaixo dos volumes de um ano antes, totalizando 349,7 mil carros de passeio e utilitários leves. Fiat e Volkswagen, na direção oposta, passaram a ter crescimento no ano: de 2,8% e 4,5%, respectivamente. Na Ford, quarta no ranking, a evolução nos sete meses foi mais tímida, de 1,1%.
Aliada a descontos praticados pelas marcas, a redução do IPI – de metade até a totalidade da alíquota, no caso dos carros populares – permitiu o acesso de novos consumidores ao mercado. “Aumentou muito a possibilidade de compra de um automóvel”, diz Roberto Akiyama, gerente comercial da Honda.
Por outro lado, carros importados – de grifes voltadas a públicos abastados, como BMW e Porsche, a modelos mais populares de marcas chinesas como Chery e JAC Motors – seguiram em queda livre. Além dos 30 pontos adicionais de IPI – cobrados desde 16 de dezembro -, marcas sem fábrica no país tiveram competitividade abalada pela recuperação do dólar e amargaram um recuo de 41,4% nas vendas nos dois últimos meses.
Na Hyundai – que, pelas mãos do grupo Caoa, monta o Tucson e o utilitário HR em Anápolis (GO), mas importa a maior parte do que vende no Brasil -, houve queda de quase 20% no período.
Os efeitos foram intensos nos segmentos de maior giro do mercado automotivo: dos modelos compactos de entrada – os mais baratos, como Gol, Uno e Palio – aos sedãs médios, de preços mais altos, como o Corolla, da Toyota, o Civic, da Honda, e o Cruze, lançamento da GM.
Em julho, a Volkswagen comemorou seu melhor mês em 59 anos de história no Brasil, marcando emplacamentos de 78,3 mil carros. Na Toyota, as vendas do Corolla subiram 39,1% sem a cobrança do IPI cheio.
O movimento nas concessionárias segue forte em agosto, na esteira da corrida dos consumidores para aproveitar o que pode ser o último mês de IPI reduzido. Em suas manifestações públicas, o governo garante que os benefícios não serão estendidos. Mas a indústria quer desfrutar por mais tempo dos incentivos e seus dirigentes – incluindo a entidade representativa Anfavea -vêm alertando que sem eles o mercado não conseguirá sustentar o atual ritmo.
Na sexta-feira, a Fenabrave – entidade que abriga as concessionárias de veículos – defendeu a manutenção dos incentivos, além de medidas, como a liberação de compulsórios, para melhorar o crédito no mercado de motocicletas, que recua 8,5% no ano.
Balanço da entidade mostra que as vendas de automóveis e comerciais leves somaram 169,8 mil unidades na primeira metade de dias úteis de agosto, o que configura uma alta de 21,5% em relação ao mesmo período de 2011. Na comparação com a primeira quinzena de julho, as vendas mostraram leve queda de 0,45%. A Fiat liderou as vendas no período, com participação de 24%. Na sequência, aparecem Volkswagen (22%), GM (19,5%) e Ford (7,5%).
Brasil puxa resultado de múltis para baixo
Valor Econômico
O Brasil passou de “salvador” a “vilão” nos resultados de multinacionais que vendem produtos de bens de consumo. O país, que puxava os balanços das empresas para cima nos últimos dois anos, foi alvo das reclamações nesta safra de demonstrações financeiras. Mas analistas ouvidos pelo Valor dizem que a situação vai melhorar neste segundo semestre.
Em alguns casos, o recuo ou a estagnação nas vendas foi tão acentuado – caso da Arcos Dorados (controladora do McDonald”s na América Latina) e da montadora Volvo – que as empresas reduziram suas projeções para o ano.
Kraft, Avon, Fiat, Peugeot e TIM reclamaram do desempenho do Brasil em seus relatórios trimestrais. O Walmart, a maior varejista do mundo, teve prejuízo no Brasil e o comando nos Estados Unidos declarou que estava reduzindo o ritmo de abertura de lojas no mercado brasileiro em 2012. A empresa inaugurou 52 lojas no país no ano passado, e a meta era repetir o número em 2012, mas agora menos de 50 unidades serão inauguradas.
A argentina Arcos Dorados vendeu mais no trimestre, mas o lucro líquido caiu e a empresa reduziu sua estimativa para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado para o ano: de 10% a 12% para 8% a 10%. No relatório do balanço, o Brasil foi apontado como o principal motivo para o ajuste, pois apresentou consumo abaixo do esperado e desvalorização da moeda ante o dólar.
Desde 2010, com o aprofundamento da crise financeira na Europa e nos Estados Unidos, e o aumento do consumo no Brasil, o país se tornou alvo de empresas e investidores estrangeiros. No ano passado, na conferência com analistas sobre o balanço do segundo trimestre, o Brasil foi citado pelo diretor de operações Sergio Alonso como “um excelente exemplo” de liderança e crescimento, abertura de restaurantes e penetração na classe média.
Na época, a receita da divisão brasileira cresceu 27% na comparação anual, e 10,2% no quesito “mesmas lojas”. Alonso justificou esse incremento exatamente pelas condições econômicas do país: aumento do PIB, da renda do cidadão e da queda na taxa de juros.
O segundo trimestre deste ano foi outro para a Arcos Dorados. Mas analistas avaliam que isso é passageiro. “No Brasil, as pessoas estavam bastante endividadas, com parte da renda comprometida”, diz Cauê Pinheiro, analista da corretora SLW. “Foi um trimestre mais fraco, mas não é tendência. Pelo contrário, a tendência é aumentar a refeição fora de casa”, acrescenta. “A gente vê empresas como Brasil Foods e Marfrig destacando o setor de “food service” para como um dos que mais crescem.”
A fabricante americana de alimentos Kraft Foods viu sua receita no país estagnar durante o segundo trimestre, em parte porque as compras de chocolates para a Páscoa foram feitas em fevereiro e março, e entraram nos resultados do primeiro trimestre (a festa caiu na primeira semana de abril em 2012). No semestre, o avanço foi de 5%.
Redução na demanda e impacto cambial fizeram Walmart, Volvo e Arcos Dorados mudar projeções para o ano
Mas as vendas de chiclete (Trident, Bubballoo, entre outros), que não sofrem efeito sazonal, também recuaram no país, disse Irene Rosenfeld, presidente do conselho e CEO da companhia em conferência com analistas.
O Brasil representa menos de 5% do faturamento global da multinacional americana, segundo David Brearton, vice-presidente executivo e CFO da Kraft Foods, na mesma conferência. Mesmo assim, a Kraft acendeu o sinal amarelo para o país.
Questionado por um analista sobre quais mercados poderiam preocupar, Brearton deixou claro que Brasil e Rússia, que também sofreu desaceleração, são os mais significativos entre os emergentes. O recuo nesses países foi compensado pelo aumento em vendas em outros lugares. “Conseguimos compensar o enfraquecimento em mercados como o Brasil registrando crescimento robusto em outras regiões, como Europa Central e Leste Europeu”, disse Irene.
A receita da Procter & Gamble (P&G) recuou 1% no Brasil no quarto trimestre fiscal, encerrado em 30 junho de 2012. Mas o volume de vendas de produtos de cuidados com o cabelo cresceu mais de 20% no Brasil, impulsionado pela marca Head & Shoulders e pelo lançamento da Wella Pro Series. Já a concorrente Unilever informa que a expansão no Brasil foi de “dois dígitos” durante o segundo trimestre.
A situação da americana Avon é um pouco diferente das outras, pois a empresa enfrenta uma situação delicada no país há quatro trimestres. No entanto, a receita entre abril e junho de 2012 teve o maior recuo, de 19%, após uma queda de 4% no primeiro trimestre, “puxada por um declínio no número de revendedoras e por menor demanda, que foi parcialmente afetada pelo aumento na concorrência, assim como por preços não competitivos”, informou a empresa em comunicado sobre o resultado.
A Avon admitiu que a recuperação não virá no curto prazo. Além de enfrentar uma concorrência maior, a empresa precisa ajustar seu nível de serviço, acertar preços e trabalhar seus produtos e reconstruir a imagem no país, abalada por problemas no sistema de distribuição.
A brasileira Natura, por sua vez, aproveitou a fraqueza da concorrente e teve um segundo trimestre bem diferente, com aumento de receita e de lucro.
O setor automotivo também sentiu a economia esfriar. A Volvo reduziu as projeções para a produção no país este ano, de 105 mil para 90 mil caminhões; a também sueca Scania relatou redução das vendas no país em 42% na comparação anual.
A americana General Motors informou que o desaquecimento econômico na América Latina e na Europa ofuscou o bom desempenho da empresa em outros mercados. A francesa Peugeot terminou o semestre com baixa de 0,3% no Brasil.
Por aqui, as 860 mil unidades vendidas pela italiana Fiat entre abril e junho ficaram praticamente em linha com o volume de 2011. A alemã Volkswagen foi a exceção: cresceu 21,5% na América do Sul no primeiro semestre.
No setor de telecomunicações, America Movil (Claro) e Telecom Itália (TIM), tiveram desempenho mais fraco do que no ano passado. Mas o resultado era esperado: “Nossa base [de telefonia no Brasil] está tão alta que era de se esperar um movimento de desaceleração das taxas de crescimento”, diz Jacqueline Lison, analista da Fator Corretora. “É cedo para falar sobre desaceleração, só vimos uma empresa falar disso, que é a TIM.”
Anderson Ramires, sócio da PwC Brasil, concorda. “A Oi passa por reestruturação grande, Vivo e Telefônica terminam sinergias da fusão, a TIM vem ganhando mercado. Foi período [primeiro semestre] que, na média, acabou pela manutenção dos patamares [dos resultados]”, diz, acrescentando que a perspectiva para o setor no segundo semestre é “muito boa”, de grandes investimentos, aumento de rede e redução de tarifas.