Investimento cai no PIB e sugere riscos para oferta futura

O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre consolidou, entre analistas, a percepção de que a capacidade do país de crescer no futuro, sem pressões inflacionárias, encolheu e estaria hoje entre 3% e 3,5%. Com o crescimento de 0,4% no PIB do segundo trimestre sobre o primeiro, na série com ajuste sazonal, conforme divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil acumulou crescimento de 1,2% em 12 meses.

Além de pequeno, esse resultado embute queda de 0,3% no investimento (medido pela demanda em máquinas e equipamentos e na construção civil, indicador conhecido como formação bruta de capital fixo), associado a um aumento de 2,5% no consumo das famílias e de 2.2% na demanda do próprio governo, enquanto a oferta interna de bens industriais encolheu 2,9%.

Para economistas, o “caldeirão” composto por queda no investimento, consumo ainda em expansão e um desemprego cadente, reduziu o chamado PIB potencial, indicador que aponta a capacidade do país de atender à demanda sem riscos de oferta.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não concorda com essa visão. Segundo ele, as empresas no Brasil se prepararam para uma expansão da demanda de até 6% ao ano, e por isso hoje têm capacidade ociosa. “Os investimentos vinham ocorrendo, houve desaceleração por causa da crise, mas a retomada é rápida”, disse ao comentar os dados do PIB, na sexta-feira.

Por isso, Mantega discorda da avaliação de que o resultado do PIB aponte riscos de oferta para o futuro, em função dos dados de retração da indústria e de queda do investimento. “Nós temos um problema maior de demanda, em função do crédito, do que de oferta nesse momento”, disse.

Na avaliação de Emerson Marçal, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), o investimento é a questão-chave para que a economia brasileira volte a crescer em média 4% ao ano. Ele acredita que as medidas que o governo já tomou terão impacto na atividade no curto prazo, mas ainda falta uma agenda para garantir crescimento sustentável próximo ao PIB potencial.

“A economia brasileira precisa acertar condições que favoreçam um aumento do investimento produtivo no país. Para isso, falta uma agenda microeconômica mais cautelosa, que considere questões tributárias, que aumentam o custo Brasil, a resolução dos enormes gargalos em infraestrutura, que também atrapalham o crescimento, e a qualificação da mão de obra”, pondera Marçal. A recente queda dos juros ajuda, mas não é suficiente, avalia ele.

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, estima que o PIB potencial está hoje entre 3% e 3,5%, “com boa vontade”. ” O problema do PIB está muito mais do lado da oferta que no da demanda. Tentar resolver isso com aumento do consumo, como tem feito o governo, só provoca inflação, como já temos visto”, diz ele.

Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, a retração de 0,7% na formação bruta de capital fixo, quarto trimestre consecutivo de queda dos investimentos, não surpreendeu, porque a consultoria já projetava resultado negativo para o indicador.

“Se olharmos que o setor industrial também recuou 2,5% no segundo trimestre, fica claro que a economia não tem conseguido criar capacidade de crescimento para o futuro”, afirma Campos Neto, destacando que a taxa de investimento, de 17,9% do PIB, voltou a cair e ficou no menor patamar desde o segundo trimestre de 2009. Para ele, é um sinal negativo, que fragiliza o potencial de crescimento da economia brasileira, calculado em 3,5% pela Tendências.

No primeiro semestre, a participação da indústria de transformação no PIB ficou em apenas 12,8%, menor índice da série histórica do IBGE. Para Silvia Matos, coordenadora do grupo de conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, a indústria está muito fraca e sua falta de competitividade também reduz a capacidade de crescimento do país. “Esse número do PIB mostra problemas estruturais de toda a indústria”, diz ela. “A questão é: passado esse ciclo, qual o nosso potencial de crescimento. Somos capazes de crescer 1% por trimestre? “, questiona ela.

Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) observa que o crescimento de 1,9% nas importações no segundo trimestre, na comparação com o primeiro trimestre, mostra que boa parte da demanda doméstica ainda continua sendo coberta pelas compras externas. Branco lembra que a penetração das importações é estrutural em muitos setores e, por isso, medidas de incentivo à produção, como a desoneração da folha, têm efeitos limitados. Isso significa, diz, que segmentos como vestuário e calçados precisarão se adaptar às novas condições, com redução de linhas de produção, investimento em inovação, agregação de valor e fortalecimento de marcas.

O crescimento das importações, agravado pela queda nas exportações foi o maior responsável pelo crescimento “fraco” do PIB no trimestre, segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. No período, as exportações caíram 3,9% frente ao primeiro trimestre de 2012 e as importações cresceram 1,9%. “Esse vazamento externo tirou 0,7% do PIB”, avalia.

Na sexta-feira, o ministro da Fazenda voltou a afirmar que a economia está se acelerando gradualmente e que o resultado do segundo trimestre, embora longe de ter sido excepcional, mostra um ritmo de expansão mais forte do que no primeiro trimestre, quando o PIB avançou 0,1%, de acordo com dados revisados pelo IBGE. “Felizmente, já estamos no segundo semestre, quando o desempenho da economia será bem melhor”, disse Mantega, ao reafirmar que a economia deve chegar ao último trimestre de 2012 em ritmo de crescimento próximo de 4% ao ano.

O professor da Unicamp e sócio da Edgard Pereira & Associados, Edgard Pereira, é mais cético. Para ele, o país voltou “ao modelo voo de galinha, de administrar a demanda agregada via mecanismos de consumo”. Até o fim do ano, diz, há uma recuperação prevista, que dará impulso para uma alta maior do PIB em 2013. “Para sair desse movimento, é preciso um choque de investimento centrado na infraestrutura”, diz. Em parte, as últimas medidas apontam nessa direção, mas é preciso mais, afirma.


Juro em queda traz cruzada por eficiência nos bancos

Valor Econômico

O recado dos bancos para funcionários e acionistas é claro. Daqui para a frente, as instituições financeiras terão de se esforçar para gerar cada vez mais receita com o menor gasto possível. Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal estão em meio a programas de melhoria da eficiência.

O movimento não é sem causa. A queda da taxa de juro básica da economia vai trazer uma nova realidade para os bancos brasileiros. Segundo analistas e banqueiros ouvidos pelo Valor, os ganhos menores com as taxas de juros cobradas dos clientes vão escancarar eventuais ineficiências das instituições financeiras no Brasil.

Na comparação com seus pares pelo mundo, os bancos brasileiros são hoje menos eficientes, segundo relatório do Goldman Sachs. No Brasil, as despesas operacionais representam 6% dos ativos médios, quase o dobro da média apresentada por instituições nos Estados Unidos e no resto da América Latina (ver gráfico ao lado). Em parte, segundo o Goldman Sachs, esse é um problema causado por custos trabalhistas e tributários mais altos.

Mas não é só isso. Ainda há gordura para queimar, na avaliação do Goldman. “Ao se esforçar consistentemente para melhorar a eficiência e reduzir as despesas, os bancos brasileiros podem neutralizar o impacto das margens financeiras menores”, escreveram os analistas do banco.

A avaliação deles é que, até os projetos de ganho de eficiência estarem concluídos, as instituições financeiras no Brasil ainda verão seu retorno sobre o patrimônio (ROE) cair, um fenômeno que vem sendo observado ao longo deste ano. Depois de 2013, porém, deve voltar a patamares próximos de 20%. Itaú, Banco do Brasil e Santander estão hoje abaixo disso.

Na corrida pela eficiência ninguém fica de fora. O Bradesco anunciou neste mês que pretende alcançar um índice de eficiência de 39% em 2014. Em junho, o indicador estava em 42,4%. Quanto menor esse número, mais eficiente é um banco, já que ele mede a razão entre despesas operacionais e receitas. O Itaú Unibanco quer atingir 41% em 2014 ante os atuais 45%. O Banco do Brasil quer, a partir de 2014, voltar ao patamar de 42%, nível observado em 2011. Hoje está em 43,4%. O Santander, com 41,9%, busca uma redução de dois a três pontos percentuais por ano.

Dona do pior índice entre os maiores bancos do país, de 69,1%, a Caixa Econômica Federal também quer reduzir a distância que tem das demais instituições. Por isso acabou de contratar uma consultoria estrangeira para traçar um plano com o objetivo de tornar o banco mais eficiente.

Em meio à decisão do governo de forçar a redução dos spreads nos empréstimos via bancos públicos, o índice de eficiência da Caixa fechou junho com 3,2 pontos percentuais a mais do que um ano antes. “Há um novo padrão de taxa de juros no país. Por isso é preciso estabelecer um outro modelo de produtividade dos bancos”, diz Marcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa.

Embora a Caixa procure se aproximar dos demais, Percival ressalta que, por ser um banco que dá crédito estudantil, faz o pagamento de programas governamentais e tem a maior carteira de crédito imobiliário do país, a Caixa tende a enfrentar mais dificuldade para obter uma eficiência igual àquela dos seus pares.

Margens menores vão escancarar eventuais ineficiências das instituições financeiras no Brasil

As fórmulas para melhorar a eficiência variam entre os bancos. Mas a regra é apertar os cintos. O Itaú tem deixado claro ao longo dos últimos trimestres que uma das vertentes do seu projeto passa pela redução do quadro de funcionários. Do início de 2011 para junho deste ano, o número de empregados do Itaú caiu 9,85%, para 99 mil. Se uma pessoa sai do banco, a vaga não é preenchida.

A iniciativa do Itaú já tem levado analistas de bancos a considerar que o Bradesco também pode em breve iniciar algum movimento parecido. Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do Bradesco, nega. O banco criou um comitê de eficiência com 20 executivos para discutir estratégias na área.

O executivo explica que dois fatores exigem que o Bradesco tenha mais empregados do que o Itaú. Um deles é que o banco da Cidade de Deus tem 545 agências a mais do que o concorrente. Só no ano passado, o banco abriu mais de mil agências, com o objetivo de engordar suas receitas, vendendo mais produtos e serviços à clientela. Além disso, a estrutura do Bradesco engloba uma seguradora, enquanto o Itaú tem uma participação minoritária na Porto Seguro.

No Banco do Brasil, o projeto também abarca mudanças no quadro de funcionários, deixando cada vez menos gente na área administrativa. “A ideia é liberar mão de obra para as agências, para a linha de frente das vendas”, diz Marco Antônio Mastroeni, diretor de estratégia e organização do Banco do Brasil.

Não é só com a tesoura que os bancos buscam mais eficiência. Quem engordar o denominador do índice de eficiência – ou seja, as receitas – sem mexer na parte de cima da fração também vai se tornar mais eficiente. Por isso a estratégia do Banco do Brasil de colocar mais gente nas agências para vender produtos e serviços. O crédito imobiliário certamente estará no rol de empréstimos que os gerentes mais devem buscar ofertar. “O financiamento da casa própria é um produto que fideliza muito o cliente. Em média, quem tem um crédito imobiliário tem outros nove produtos”, afirma Mastroeni.

Ao abrir mais de mil agências ao longo do ano passado para aumentar as vendas, em um primeiro momento o Bradesco teve de sacrificar a eficiência, aumentando as despesas.

Apesar das mais variadas fórmulas que os bancos estão adotando para se tornar mais eficientes, todos têm como regra comum os investimentos em tecnologia para reduzir custos. O atendimento nos caixas eletrônicos, por exemplo, precisa se tornar mais ágil, com sistemas mais rápidos. Até 2014, Angelotti, diretor do Bradesco, diz, por exemplo, que o tempo que cada pessoa gasta em frente a um caixa cairá 25% por causa de melhorias tecnológicas. O executivo não informa qual o tempo médio hoje. Só neste ano, o banco está investindo R$ 5 bilhões em sistemas.

O Santander está em meio a um projeto para digitalizar todos os documentos que precisam transitar entre agências, escritórios e a sede. “Em um prazo de seis meses, o banco quer eliminar o transporte de papéis como contratos e ofícios legais”, afirma Marcelo Zerbinatti, diretor de organização, tecnologia e processos do Santander.


Em 12 meses, superávit fiscal atinge 2,51% do PIB

Valor Econômico

O superávit primário do setor público alcançou R$ 5,570 bilhões em julho, ante R$ 2,794 bilhões em junho. O governo central registrou no período superávit primário de R$ 3,8 bilhões. O saldo dos governos regionais alcançou R$ 1 bilhão e as empresas estatais tiveram superávit de R$ 730 milhões, segundo dados do Banco Central. Em 12 meses, o superávit primário acumulado atingiu R$ 107,9 bilhões, o equivalente a 2,51% do PIB.

Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o resultado revela “uma evolução favorável das contas públicas”, embora reconheça que, na comparação com julho do ano passado, quando a economia foi de R$ 13,8 bilhões, houve redução “bem expressiva”.

Segundo Maciel, receitas extraordinárias, como recolhimentos em atraso e o Refis da crise, “inflaram” o resultado do ano passado. Além disso, afirmou, as medidas tomadas pelo governo para estimular a economia, como reduções de impostos, também afetaram as receitas deste ano.

Para o técnico do BC, a comparação entre este ano e 2011 não é muito apropriada, porque existem, segundo ele, “configurações” diferentes. “Começamos 2011 com a economia girando alto, para depois entrar em ritmo mais moderado ao longo do ano. Em 2012, começamos com a atividade moderada e vamos evoluindo ao longo do ano.”


Otimista, governo aposta em retomada no 3º trimestre

Valor Econômico

O governo acredita que a expansão do crédito, a melhora da confiança dos empresários, a redução dos juros, a desvalorização do real, as medidas de estímulo à atividade econômica e a recuperação da agricultura vão acelerar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo semestre. Revelando otimismo que não se vê no mercado, Brasília aposta que as “travas” que impediram um crescimento mais rápido no primeiro semestre estão sendo removidas.

A baixa expansão do PIB no segundo trimestre – de apenas 0,4% sobre o trimestre anterior – já era esperada pelas autoridades. O IBC-Br, índice do Banco Central (BC) que tem grande correlação com o PIB apurado pelo IBGE, mostrou crescimento de apenas 0,38% entre abril e junho. Para o governo, agora o PIB vai acelerar.

Uma das “travas” apontadas por fontes oficiais é o endividamento das famílias. Uma das pesquisas utilizadas pela área econômica é a de endividamento e inadimplência do consumidor, conduzida pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Entre agosto e dezembro de 2011, segundo essa pesquisa, o percentual de famílias que informaram não ter condições de pagar suas dívidas caiu de 8,2% para 7,2%. O número de famílias endividadas também diminuiu no período. O problema é que, nos meses seguintes, os indicadores pioraram.

O que anima o governo é que, mais recentemente, os números melhoraram. De acordo com a CNC, em agosto, o percentual de famílias sem condições de honrar suas dívidas caiu para 7,1%. O total de endividadas subiu em relação a julho – de 57,6% para 59,8% -, mas está nos níveis do fim de 2011. Quando comparado ao mesmo mês do ano passado, o número de famílias com contas em atraso recuou, em agosto, de 24,4% para 21,3%.

“A redução dos spreads bancários e a manutenção do emprego [a taxa de desemprego continua na mínima histórica] num quadro em que a queda da produção não afetou o mercado de trabalho, e este sustenta o rendimento das famílias, indicam que o canal de crédito está pronto para sustentar o consumo”, argumenta um assessor.

Os números do crédito em julho, primeiro mês do trimestre em que o governo acredita que começará a retomada, foram fracos – crescimento de 0,7% em relação a junho e de 0,4% se considerado apenas o crédito do setor privado. Banqueiros e técnicos do governo consultados pelo Valor sustentam, todavia, que julho é um mês atípico para o crédito.

No caso das pessoas físicas, trata-se de um mês de férias escolares e sem efemérides, dois fatos que reduzem o movimento de compras. No caso das pessoas jurídicas, julho é um mês considerado morto porque é em agosto e setembro que as empresas começam a formar estoques para o Natal. Nesse período, diz o diretor de um banco, as companhias recorrem mais a capital de giro, por exemplo.

No caso dos agricultores, julho é um mês de quitação de dívidas da safra anterior. As liberações de crédito para a safra seguinte começam em agosto. O governo aposta na recuperação da agricultura como um dos fatores de aceleração do PIB neste e no próximo ano.

No primeiro trimestre, o setor agropecuário, prejudicado pela seca na região Sul, registrou crescimento negativo de 8,5%, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. No segundo trimestre, avançou 1,7%. A perspectiva, daqui em diante, é de aceleração, de acordo com expectativas do próprio mercado, levantadas pelo Boletim Focus, do Banco Central – crescimento de 2,73% no terceiro trimestre, de 2,88% no quarto e de 4,40% entre janeiro e março de 2013, sempre na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.

A equipe econômica aposta, também, que as “travas” que impediram a tomada de crédito pelas empresas na primeira metade do ano estão igualmente sendo removidas. Diferentemente das pessoas físicas, o problema nos primeiros meses do ano não foi de oferta, mas de demanda por empréstimos. Preocupadas com o cenário de turbulência nas economias europeias, as companhias evitaram pegar crédito.

“O estado de confiança das empresas estava abatido”, diz uma fonte oficial. “As empresas levaram um susto com a crise, com a queda do comércio mundial, que vem recuando desde a crise de 2008, crescendo abaixo do PIB mundial e que, no segundo trimestre de 2102, avançou apenas 0,3%”, explica esse assessor, referindo-se a dados do CPB, instituto independente de pesquisa da Holanda.

A crença do governo é a de que o pior momento do pessimismo das empresas brasileiras passou. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), da Fundação Getúlio Vargas, cresceu 1,4% em agosto, se comparado a julho, atingindo o maior nível (104,1 pontos) desde julho do ano passado, embora ainda esteja abaixo da média histórica (105,5 pontos). O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) também cresceu – de 83,7% para 84,0% entre julho e agosto.


Pequena central hidrelétrica se prolifera como fonte de energia

O Globo

A suspensão da construção de mais hidrelétricas na Bacia do Rio Paraguai até que seja feito um estudo integrado dos efeitos no pulso de cheias do Pantanal, determinada pela Justiça Federal a pedido do Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul, chamou a atenção para a proliferação de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) no Brasil e já preocupa o setor elétrico. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que, juntas, representarão 3,8% do mercado total de energia em 2020. Existem hoje no país 51 PCHs em construção e 130 já outorgadas.

A maioria das pequenas usinas é aprovada por órgãos estaduais. Apenas o licenciamento de obras em rios federais, que correm por mais de um estado, é feito pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

– A participação de mercado das PCHs parece pequena, mas, dentro do contexto de oferta de energia, ele é significativo. Além de gerar energia limpa, elas operam a fio d”água, sem reservatório, e não sobrecarregam o sistema de transmissão, por estarem perto do centro de carga – afirma Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel).

A possibilidade de fechar o cerco contra os impactos ambientais das pequenas hidrelétricas piora a situação dos investidores em PCHs, que já estão com dificuldade de ter custos competitivos em relação a outras fontes de energia, como as usinas eólicas, que recebem incentivos fiscais dos estados. Enquanto o valor da energia eólica varia entre R$ 100 e R$ 105 por MW/hora, a energia das PCHs chega ao mercado a R$ 160 por MW/h. Além disso, as PCHs têm fechado contrato com grandes consumidores por, no máximo, dois anos, o que atrapalha também a obtenção de financiamento no BNDES, que, segundo a Abragel, exige contratos de pelo menos dez anos.

– No Brasil, as PCHs e as usinas eólicas são complementares. O regime de ventos faz com que o período de ventos mais fortes coincida com o de seca – diz Jorge Trinkenreich, diretor da PSR, consultoria do setor de energia.

Na avaliação de Trinkenreich, as constantes paralisações de obras de hidrelétricas ainda não afetam o cronograma de expansão da oferta até 2015. Mesmo que grandes usinas, como Belo Monte e Teles Pires, sofressem algum tipo de atraso, ainda haveria a possibilidade de fazer um leilão de energia nova com entrega três anos à frente (A-3), incluindo novos projetos de termelétricas, por exemplo. A PSR já retirou de seu cálculo de oferta futura de energia termelétricas a óleo, cujos investidores enfrentam dificuldades nas obras.

RISCO DE DÉFICIT GIRA ENTRE 3 % E 5%

Luiz Fernando Vianna, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia (Apine), alerta, porém, que as paralisações constantes e mais exigências aumentam o custo das obras e, consequentemente, o preço da energia no mercado.

O cerco em torno das hidrelétricas, segundo Trinkenreich, leva o país a discutir o futuro de sua matriz energética. Como a energia eólica é considerada instável, pois a produção para quando não há ventos, é preciso investir na chamada energia firme, como usinas termelétricas, que causam um impacto ambiental maior quando operadas com gás ou carvão mineral, pois emitem gases que causam o efeito estufa.

Também os investimentos em termelétricas movidas a gás natural estão em banho-maria, já que a Petrobras não garante entrega por 20 anos.

– Mudanças nos cronogramas de execução de usinas não significam possibilidade de racionamento a partir de 2015, mas afetam a qualidade do fornecimento. Temos energia o tempo todo porque há um planejamento prévio de entrega. Se o critério falhar, gera desconforto neste planejamento. O risco de déficit de energia elétrica gira em torno de 3% a 5% – explica Trinkenreich, da PSR. – É preciso ver a PCH como fonte de energia limpa, reduzir o custo das usinas e fazer estudos hidrológicos sérios.


BCE decide se compra títulos de endividados

O Estado de S. Paulo

O mercado financeiro global retoma os negócios na primeira semana de setembro, que marca o fim das férias de verão no Hemisfério Norte, na expectativa em torno da reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), programada para quinta-feira, dia 6.

O foco dos investidores é se o presidente do BCE, Mario Draghi, dará detalhes sobre uma possível compra de títulos da dívida pública de países do euro em dificuldade ou sobre outras medidas de estímulo monetário, como a redução de taxas de juros. A decisão do BCE será o teste para a continuação dos ganhos recentes das bolsas mundiais.

As declarações de Draghi serão determinantes para alimentar ou desestimular o apetite de risco. Ao longo de agosto, com um fraco calendário de eventos, como reuniões de cúpulas de líderes europeus, a falta de notícias negativas abriu espaço para recuperação de ativos de risco, como ações de empresas listadas em bolsas, de moedas de emergentes e de commodities.

A Bolsa de Madri, por exemplo, teve ganho de 16,4% em agosto; a de Frankfurt subiu 5,5%; e a Bovespa avançou 2,78%. O fôlego desses ganhos dependerá de os bancos centrais, em especial o BCE e o Federal Reserve (Fed), anunciarem medidas de intervenção para injetar liquidez na economia mundial.

A reunião de política monetária do BCE vem no rastro do discurso do presidente do Fed, Ben Bernanke, em Jackson Hole, na sexta-feira, 31. No evento, Bernanke deixou as portas abertas para mais estímulos econômicos, mas não deu detalhes sobre uma nova rodada de afrouxamento quantitativo, o QE3.

O suspense foi transferido para a reunião de política monetária do Fed, em 13 de setembro. Nesse ínterim, as expectativas com relação a políticas de injeção de liquidez recaem agora sobre Draghi. Uma nova decepção pode azedar o humor dos investidores, deflagrando um sentimento de aversão ao risco e de correção nos preços dos ativos.

Ceticismo. Analistas de bancos de investimentos estrangeiros mostram ceticismo sobre um eventual anúncio de um programa de compra de dívida soberana pelo BCE na quinta-feira. Há avaliações de que Draghi pode não dar respostas específicas sobre o tema antes do dia 12, quando a Corte Constitucional alemã vota pela aprovação ou não da criação de um fundo de resgate permanente europeu (ESM, na sigla em inglês) e sobre a flexibilidade da atuação desse fundo.

Como há grande expectativa entre os líderes da zona do euro em relação à decisão da Corte alemã, “não acreditamos que o BCE apresentará um plano detalhado (para um programa de compra de dívida) antes do dia 12”, afirmaram economistas do banco ING em nota a clientes. Já o analista sênior do banco Danske Bank, Peter Posing Andersen, acredita que as expectativas do mercado sobre um eventual anúncio de medidas concretas por Draghi vêm diminuindo nos últimos dias.

“O BCE deve esperar pela Corte Constitucional da Alemanha? O ESM ou a EFSF (Linha de Estabilidade Financeira Europeia) teria de comprar títulos antes de o BCE ativar o programa?”, indaga Andersen em relatório a clientes. Para ele, os investidores ficarão bastante decepcionados se Draghi, novamente, não entregar o que vem prometendo, ou seja, “detalhes significativos” de medidas de estímulo.

A credibilidade de Draghi foi minada quando, depois de prometer fazer “o que for necessário” para salvar o euro, o presidente do BCE frustrou os mercados deixando de anunciar medidas concretas na reunião de política monetária de 2 de agosto.

Por outro lado, os estrategistas do banco Barclays, Guillermo Felices, Philippe Gudin e Julian Callow, avaliam não só que é possível que Draghi traga detalhes do programa de compra de bônus, mas também destacam a probabilidade de que ele defenda novas medidas de ajuda a bancos. Com isso, entendem que há uma tendência positiva para a tomada de risco.


BC dos EUA deve esperar emergência para agir

Valor Econômico

Existem momentos em que se deve agir e outros em que se deve manter na defesa. O momento atual é a hora em que o Fed (o BC dos EUA) deve esperar, em vez de inocular nos mercados, nas próximas semanas, mais uma dose de estímulo por meio de uma nova rodada de QE (“quantitative easing”, afrouxamento monetário).

Novas compras de bônus parecem prováveis em breve, após Ben Bernanke ter dito às autoridades do BC americano, em sua reunião anual em Jackson Hole, na sexta, que não descarta outras compras de ativos, caso as condições da economia justifiquem essa iniciativa.

Embora um novo afrouxamento possa assumir outras formas – entre as quais, a prorrogação pelo Fed de sua política de taxa de juros próxima de zero para além do fim de 2014, ou mesmo a redução dos atuais 25 pontos-base que paga sobre as reservas mantidas pelos bancos no Fed -, os investidores desejam, inequivocamente, mais compras de bônus.

O S&P 500 já subiu cerca de 10% em relação a seu piso de junho, num clássico repique baseado na exposição ao risco, que reflete esperanças de que uma ação esteja sendo preparada. Nesse movimento, os investidores ignoram dados negativos e a desaceleração dos lucros corporativos. As commodities, encabeçadas pelo ouro, também subiram bem neste terceiro trimestre ao som do rumor persistente sobre um “QE3”. Investidores, notadamente Bill Gross, da Pimco, puseram suas cartas na mesa, e por bons motivos.

Antes de o comitê de mercado aberto do Fed (o Fomc) concluir sua reunião em 13 de setembro, as autoridades terão tido tempo para analisar os dados de emprego de agosto, a serem divulgados no fim da semana. Os economistas preveem um aumento do nível de emprego de aproximadamente 125 mil novas vagas, nível inferior à média de 151 mil novas vagas vigente até aqui no ano.

Isso alimentará as esperanças do mercado de que finalmente aconteça o QE3. Como apontou a ata da reunião do Fomc de agosto: “Muitos membros avaliaram que provavelmente um novo afrouxamento monetário será promovido dentro de um período razoavelmente curto, a não ser que novas informações apontem para um fortalecimento significativo e sustentável do ritmo da recuperação econômica”.

Com base no tom dos dados da economia desde a última reunião do Fed, é lógico pressupor que o QE3 será lançado em setembro.

Uma reação de política econômica desse tipo, no entanto, é altamente questionável em termos do que poderá conseguir. As rodadas anteriores de afrouxamento quantitativo foram empreendidas quando era manifesta a ameaça de uma recessão e de deflação. Isso não acontece no momento atual.

Por exemplo, um indicador fundamental do mercado de bônus sobre as expectativas de inflação, monitorado pelo Fed, subiu neste terceiro trimestre e está em torno de 2,75%.

Como ponto de referência, as expectativas de inflação de agosto de 2010 e de setembro passado estavam abaixo de 2%, fornecendo motivos justificáveis para o lançamento do QE2 e da “operação Twist” (programa de estímulo dos EUA que consiste em reduzir a fatia da dívida de curto prazo e elevar a parcela de longo prazo).

Com a operação Twist em vigor até o fim do ano, os rendimentos de longo prazo dos títulos do Tesouro continuam muito baixos. Além disso, as recentes baixas históricas dos bônus corporativos sugerem que a política do Fed realizou seu objetivo de tirar os investidores dos títulos do Tesouro e lançá-los nos ativos de maior risco, permitindo que as empresas e os mutuários tomem empréstimos a um nível recorde de baixa.

Há, de fato, sinais estimulantes de que o mercado de imóveis residenciais se estabilizou recentemente, uma vez que os consumidores com posição de crédito sólida refinanciaram ou negociaram novos contratos de crédito imobiliário de 30 anos a uma taxa fixa de menos de 4%.

Deve-se reconhecer que as baixas taxas não ajudaram muitos dos que realmente precisam de um impulso desse tipo, mas mais uma rodada de QE dificilmente alterará essa dinâmica. Embora a apática recuperação dos EUA seja um fator desafiador para alguns membros do Fomc, há fortes motivos para não anunciar o QE3 agora. Apesar dos resmungos sobre os índices obstinadamente altos de desemprego, aproximam-se batalhas potencialmente maiores para as autoridades da área econômica: o risco de um esfacelamento da zona do euro e a queda, de Washington, em seu abismo fiscal.

Com a chegada de setembro, o foco dos investidores permanecerá, com boa dose de agitação, sobre a zona do euro. Será o BCE, e não o Fed, o banco central mais importante nesse momento crítico. Em termos do abismo fiscal das reduções automáticas dos gastos e do combate aos cortes de impostos da era Bush, que talvez empurrem a economia dos EUA para uma recessão no ano que vem, os investidores preveem, de modo geral, que Washington chegará a um acordo depois das eleições de novembro.

Mas há o risco de o processo se arrastar 2013 adentro, influenciando a economia e o grau de confiança contra o pano de fundo da desaceleração da China ou a crise da zona do euro acabar por se deteriorar potencialmente. Para o Fed, é melhor evitar fazer algo de imediato e guardar a munição do QE3 para uma verdadeira emergência.

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