Desemprego entre jovens deve aumentar, prevê OIT

Será cada vez mais difícil para o jovem encontrar trabalho nos próximos cinco anos, inclusive no Brasil e na China, com a crise na Europa contagiando as economias emergentes. A estimativa é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que alerta para o risco de a economia mundial beirar a uma recessão já ao fim de 2012.

A entidade admitiu que foi obrigada a rever suas projeções de médio e longo prazos que, originalmente, indicavam melhora na taxa de desemprego de jovens pelo mundo. Hoje, já são 75 milhões nessa situação. “Ninguém está imune à crise da Europa e mesmo os países que tiveram crescimento forte na Ásia e América Latina vão começar a sofrer”, alertou Ekkehard Ernst, chefe de divisão de tendência de emprego.

O risco de uma nova recessão ocorre por causa de três fenômenos ligados aos países ricos: famílias estão concentradas em pagar as dívidas, reduzindo o consumo. Tendo isso em vista, empresas deixaram de investir na expansão da produção. Já os governos estão em um processo de cortes drásticos de orçamentos. O resultado é uma economia que perde força.

O efeito será sentido em todo o mundo, já que as exportações dos emergentes dão claros sinais de perder força. O Brasil abandonou sua meta de exportação para 2012, a China registrou um freio nas vendas e, na Índia, a queda das exportações no último trimestre é de quase 20%.

Para a OIT, esse cenário deve levar a uma pressão sobre o mercado de trabalho. Hoje, a taxa mundial de desemprego é de 6,0% e deve subir para 6,1% em 2013. Entre os jovens até 24 anos, a taxa subirá dos atuais 12,7% para 12,9% em 2017.

No caso brasileiro, a OIT aponta para o risco de uma forte desaceleração na redução do desemprego de jovens registrado nos últimos anos. Em 2009, 18,5% dos jovens estavam desempregados no País. A taxa caiu para 16% em 2010, 14,5% em 2011 e, em maio de 2012, já estava em 14%.


França e Itália apoiam ‘escudo antispread’ do BCE

O Estado de S. Paulo

Setores do governo da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ainda resistem, mas ontem o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, recebeu um suporte de peso em favor da intervenção da autoridade monetária no mercado de dívidas soberanas na Europa. Reunidos em Roma, o presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, anunciaram seu apoio formal ao que chamaram de “escudo antispread”, o programa de compra de dívidas que deve ser lançado amanhã, em Frankfurt.

O encontro entre Hollande e Monti, o terceiro desde maio, quando o francês tomou posse, selou o acordo entre os dois países em favor da adoção de medidas heterodoxas para enfrentar a crise da zona do euro. A dois dias da reunião do comitê de política monetária do BCE, os dois líderes políticos tornaram público o apoio à iniciativa pregada por Mario Draghi. “Há taxas de juros elevadas demais na Europa, em um momento em que os planos de redução da dívida foram implantados em certos países”, afirmou Hollande. “Baixar os juros é o papel de todos os que têm vocação a intervir na zona euro, e em especial do BCE.” Para Hollande, a diferença de taxas de juros – os spreads – entre países da União Europeia “são graves entraves sem nenhum fundamento”, argumentou.

Nos últimos 12 meses, o spread entre juros cobrados por títulos da dívida da Alemanha e da França chegam a ser negativos, enquanto os governos da Espanha e da Itália enfrentam taxas de refinanciamento cada vez maiores.

Enquanto a Alemanha refinancia seus títulos com validade de 10 anos a taxas de 1,3%, a França paga 2,2% de juros. Já a Itália vem arcando com 6,5%, enquanto os yields (retornos) cobrados da Espanha já superam os 7% – um nível considerado insustentável por multiplicar a dívida.

Condições. O princípio do “escudo antispread” foi aprovado pelos chefes de Estado e de governo da União Europeia na reunião de cúpula de 28 e 29 de junho. Pela decisão, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) foi autorizado a adquirir títulos de dívidas soberanas de países em dificuldade. As condições dessa intervenção, entretanto, ainda não foram definidas. Com a provável decisão do BCE de quinta-feira, a autoridade monetária da zona do euro também passará a intervir.

Segundo Mario Monti, a Itália não necessariamente usará o “escudo” para reduzir a pressão sobre sua dívida, mas a opção precisa estar disponível. “É preciso que vários países façam pouco a pouco progressos de política econômica”, disse o premiê, ponderando: “Mas também é preciso que a União Europeia reconheça o esforço, para que os spreads que não têm nenhuma relação com a saúde econômica parem de aumentar”.

Usando uma expressão muito empregada por Merkel, Monti afirmou que os países da zona do euro devem “fazer o dever de casa”. “Mas isso não é suficiente”, ressaltou.

Além de apoiar a eventual decisão do BCE de intervir, França e Itália já começaram a pressão política para que a próxima cúpula da União Europeia, em 18 e 19 de outubro, resulte em novas medidas para aumentar a união bancária e a integração de políticas econômicas e monetárias.

Na cúpula anterior, realizada em junho, Merkel foi considerada a grande derrotada do encontro, quando Hollande, Monti e o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, isolaram a chanceler alemã e impuseram as condições para o acordo multilateral.


Governo prepara medidas para reduzir spread

Valor Econômico

Com o fim do ciclo de cortes da taxa Selic, as atenções dos técnicos oficiais se voltam para o embate do “spread” bancário – a diferença entre as taxas de captação e de aplicação cobradas pelos bancos do tomador final de crédito. Desde a ofensiva da presidente Dilma Rousseff sobre os bancos, no primeiro trimestre do ano, para que reduzissem essa margem na medida que a Selic fosse caindo, os spreads tiveram sensível diminuição. A taxa média cobrada das pessoas físicas no segmento de crédito livre, que era de 35,8% ao ano em fevereiro, caiu para 28,4% ao ano até agosto. No crédito para as empresas, a redução no período foi de 18,8% para 16%.

Abstraindo o tema de uma visão política, o que se nota nas discussões é que não será trivial cortar mais as margens dos bancos. O spread no país carrega os ônus da tributação direta e indireta, da inadimplência, dos custos administrativos e de uma legislação que ainda tem muito a melhorar.

Uma proposta dos bancos que os técnicos do governo acham que deve ser objeto de lei refere-se ao chamado valor incontroverso. Há juízes que suspendem o pagamento tanto do principal quanto dos encargos de uma dívida, quando ela está sob disputa judicial. Ter uma legislação que deixe claro que o principal não está sob controvérsia ajudaria bastante, avaliam.

Outra mudança deverá ser sobre o tratamento contábil do crédito tributário. Para o Banco Central, um crédito com 90 dias de atraso gera provisão. A Receita Federal entende que, para a inadimplência se traduzir em crédito tributário, é preciso mais e inclusive que ele esteja em processo na justiça. Os créditos tributários originados pela inadimplência terão que ser deduzidos do capital quando da implementação das regras de Basileia 3. Receita e BC terão que se entender sobre esses conceitos para alinhar a legislação financeira e tributária, informou o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

De abril para cá os bancos públicos tomaram a dianteira na concessão de crédito com spreads mais modestos e, mais recentemente, a Caixa acelerou esse processo. As primeiras conclusões da área econômica do governo é de que a iniciativa foi benéfica para a redução da inadimplência. Esse modelo, acreditam, deveria ser reproduzido pelos bancos privados.

A regulamentação do cadastro positivo – outra medida sempre citada quando se trata de debater o custo do dinheiro no país – deve sair nos próximos dias. A lei deixou todos os envolvidos no processo responsáveis pelas informações do cadastro. Isso impediu que seu uso fosse implementado como instrumento para reduzir os juros para os bons pagadores de dívidas.

A medida provisória 563 traz um artigo atribuindo a responsabilidade por eventuais erros de informações a quem coleta e organiza o banco de dados e não a quem o utiliza. Um decreto vai normatizar essa responsabilidade.

Várias sugestões feitas pela Federação Brasileira de Bancos, em abril, estão sendo avaliadas. Algumas já foram descartadas, como redução do PIS/Cofins e do Imposto de Renda incidentes sobre as instituições financeiras. Outras não entraram na agenda, mas seriam oportunas. Exemplo: a exigência da Receita de que os bancos calculem e enviem os dados sobre a movimentação financeira de cada um e sobre qual teria sido o recolhimento da CPMF, o imposto do cheque, se ainda existisse.


Bolívia pressiona mineradoras e pode perder investimentos

Valor Econômico

No vilarejo minerador de Colquiri, a impressão é que o mundo globalizado ainda não chegou a esse local de ar rarefeito do platô andino na Bolívia. Essas terras áridas e ricas em estanho, zinco e prata financiaram o império da Espanha e depois alimentaram o nascimento da república boliviana.

Os mineradores nativos, o grupo mais pobre de um dos países mais pobres da América do Sul, estão agora convencidos que é sua vez de dar o troco. “Estamos recuperando o que é nosso, o que sempre deveria ter sido nosso”, diz Severino Estakani, limpando o suor que corre por baixo do capacete.

No fim de junho, o governo revogou a licença de mineração de estanho e zinco da Sinchi Wayra, em Colquiri, depois que cooperativas de mineiros e grupos indígenas brigaram para tomar o controle da mina à força. A Sinchi Wayra é uma subsidiária da Glencore, negociadora de commodities listada na Bolsa de Valores de Londres.

Hoje, soldados do Exército boliviano guardam a entrada do vale em forma de “V” que abriga os casebres de tijolo cru que abastecem a mina. Numa placa recém-pintada está escrito: “Colquiri Mining Company”, com a logomarca da Comibol, o grupo minerador estatal boliviano.

A estatização foi o primeiro de uma série de revezes para mineradores estrangeiras que operam no país andino sem acesso ao mar.

Evo Morales, o primeiro presidente indígena do país, assumiu há seis anos prometendo dar poder à maioria indígena há muito marginalizada, que vem pressionando cada vez mais o governo a assumir um papel maior na administração dos recursos naturais.

Morales deverá ficar sob mais pressão, já que enfrentará eleições em 2014. “Temos a autorização, como governo, para recuperar tudo que já foi nosso e depois privatizado durante o modelo neoliberal do fim dos anos 90”, disse ao “Financial Times” Luiz Arce, ministro das Finanças da Bolívia. “A Glencore sabia o que estava por vir.”

Mas pessoas familiarizadas com as operações bolivianas da empresa afirmam que a ideia de que a Glencore foi alertada antecipadamente que a maré política havia se voltado contra ela é “ridícula”.

A Glencore, que comprou a Sinchi Wayra em 2004, de uma empresa controlada pelo ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, opõe-se à estatização da Colquiri, chamando a atenção para seu investimento de US$ 80 milhões nas operações bolivianas e ao pagamentos de mais de US$ 300 milhões ao governo e à Comibol.

Na Bolívia, porém, a percepção clara é que as privatizações feitas na década de 1990 e início dos anos 2000 foram ruins para o país.

No mês passado, o governo também retirou a licença de Malku Khota, projeto de exploração de prata concedido em 2007 para o grupo canadense South American Silver. “Nos últimos meses, as autoridades bolivianas vêm enfatizando que as estatizações estão relacionadas a ativos que já foram estatais e que os investimentos privados estão protegidos”, disse Greg Johnson, presidente-executivo da empresa, ao “Financial Times”.

Em julho, a indiana Jindal Steel Power saiu da Bolívia após cancelar um contrato de exploração de ferro de US$ 2,1 bilhões, depois de longa batalha com o governo.

Executivos do setor dizem que o governo boliviano está pondo em risco os investimentos no setor e pode perder esses investimentos para países vizinhos, como Chile e Peru, onde o ambiente regulador está melhor estabelecido.

“A Jindal não foi estatizada, como a Sinchi Wayra e a Malku Khota, que enfrentavam explosões de violência de grupos indígenas que queriam que o Estado fizesse parte delas”, diz Bernardo Prado, consultor de mineração de La Paz. “Mas, nos três casos, a posição irredutível do governo não ajudou e agora todas estão nas mãos da Comibol.”

A South American Silver avalia acelerar os seus projetos de mineração de cobre e ouro no Chile. “Há um mundo enorme por aí onde investir”, diz Johnson. “Quando os governos interferem, isso pode ter um efeito duradouro sobre os investimentos em exploração.”

A Bolívia não deverá sentir um impacto imediato da queda dos investimentos estrangeiros, uma vez que os preços em alta vêm garantindo um fluxo de receita forte para o governo nos últimos anos.

A receita de exportação de minérios cresceu 50% no ano passado, para US$ 3,7 bilhões, e já subiu quase cinco vezes desde que Morales assumiu a Presidência em 2006. Hoje, ela representa cerca de 40% das exportações totais da Bolívia.

O governo também está fazendo uma grande revisão do código minerador, buscando elevar suas receitas. Hoje, as mineradoras na Bolívia pagam royalties de 5% a 7%, um imposto sobre valor bruto de 13% e de até 37% sobre os lucros.

Sob o novo código, as empresas deverão fazer sociedade com a Comibol, que ficará com as participação majoritária e 55% dos lucros. Recentemente, a Glencore firmou uma joint venture para a exploração de duas minas de chumbo, zinco e prata, transferindo a participação majoritária para a Comibol e se comprometendo em investir US$ 105 milhões em cinco anos.

Apesar de toda a retórica do governo, as mineradoras bolivianas concordam com a necessidade de investidores estrangeiros. “No momento estamos revendo contratos, para torná-los benéficos para o Estado boliviano, mas podem ficar sossegados que a mineração privada continuará existindo, sem o envolvimento do Estado”, disse Héctor Córdova, presidente da Comibol, referindo-se à maior operação mineradora do país, San Cristóbal.

Esta mina, controlada pela Sumitomo do Japão, produziu mais da metade dos minerais exportados pela Bolívia em 2011, desembolsando cerca de US$ 150 milhões entre impostos e royalties.

De volta ao vilarejo minerador de Colquiri, Estakani, um ex-funcionário da Glencore, diz: “Queremos que os investidores nos ajudem a extrair nossos minerais. Mas apenas se eles nos respeitarem, se eles respeitarem nossas regras e se não levarem todos os lucros com eles”.


Setor privado será consultado sobre acordos com União Europeia e Canadá

Valor Econômico

O governo iniciará, nos próximos dias, consulta ao setor privado sobre o interesse e preocupações das empresas brasileiras em relação à negociação de um acordo de livre comércio com a União Europeia e a abertura de discussões para um acordo comercial com o Canadá. Também encaminhará ao Congresso um projeto de lei para abrir unilateralmente o mercado brasileiro aos 49 países mais pobres do mundo – uma promessa apresentada pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2006.

A retomada de iniciativas no campo das negociações comerciais foi decidida ontem pelos ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), por sugestão do Ministério das Relações Exteriores.

O Itamaraty propôs iniciar a elaboração das chamadas “listas de ofertas”, com os cronogramas de redução de tarifas de importação a serem discutidos com os parceiros do Mercosul para apresentação à União Europeia, no quarto trimestre. Mas os ministros preferiram fazer, antes, uma rodada de conversas com os empresários, para atualizar as propostas e avaliar o interesse na abertura de comércio com os europeus.

Consultas feitas pelo ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, a governos europeus, indicaram interesse na retomada das negociações, que desde 2004 estão restritas a aspectos técnicos. A Argentina, em 2010, anunciou, com a Espanha, o interesse em retomar a discussão, mas, desde então, as dificuldades em seu balanço de pagamentos levaram o país a criar restrições a importações.

Ontem, o presidente da União Europeia, José Manuel Durão Barroso, acusou o “protecionismo” de alguns países do Mercosul de impedir o avanço das negociações de livre comércio, que, segundo afirmou, são do interesse dos 27 países do bloco europeu.

Os canadenses, segundo apurou o Valor, ficaram decepcionados com a decisão de consulta prévia ao setor privado. Havia a expectativa do anúncio de uma decisão brasileira pela abertura das negociações ainda neste ano.

Ontem, a notícia do Valor sobre a abertura de mercado aos países mais pobres levou associações do setor têxtil a contatar o governo para se opor à medida. Patriota disse que o projeto veta produtos em que os países beneficiados detiverem mais de 1% do mercado, como Bangladesh com os têxteis.


Governo tenta votar Código, mas há impasse

O Estado de S. Paulo

Em meio a um impasse entre setores aliados e de oposição, o governo tenta votar hoje no plenário da Câmara a medida provisória do Código Florestal. A votação emperra na estratégia governista, discutida ontem, de votar o texto do projeto como passou na comissão mista, para evitar que a MP perca a validade em 8 de outubro e deixar para a presidente Dilma Rousseff vetar os pontos em que não concorda.

Parte da base e a oposição condicionaram a votação ao compromisso da presidente em não vetar o projeto. “Estamos na situação em que o governo quer votar e insiste em votar. Se tiver maioria, vai tentar amanhã (hoje). Esse é o problema, ele não tem maioria”, constatou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), após reunir os líderes. Ele tenta um acordo com o governo para viabilizar a votação.

Dilma, na semana passada, em bilhete encaminhado às ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente), desautorizou o acordo que permitiu a aprovação do texto na comissão especial e beneficiou médios e grandes imóveis rurais na exigência de recomposição da vegetação desmatada ilegalmente às margens dos rios.

Em reunião entre líderes da base e Ideli Salvatti, pela manhã, os governistas admitiram a dificuldade em aprovar o texto original e concluíram que o melhor seria votar a proposta da comissão e seguir com as negociações no Senado. Depois de todas as etapas, a presidente vetaria alguns pontos e editaria nova MP. Como a legislação proíbe a reedição no mesmo ano de medida semelhante à rejeitada, a MP poderia ser editada em janeiro.

Ideli e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reafirmaram que a posição de Dilma foi manifestada ao sancionar parte do projeto aprovado anteriormente pelo Congresso e editar uma MP para sanear os pontos vetados. “Não podemos deixar de votar. Vai haver tensão (no plenário) e deixaremos claro o que o governo não concorda com esse texto da comissão mista”, disse Chinaglia. “Vamos votar o texto da comissão e, depois, a presidente veta parte dele”, afirmou o líder do PMDB, Henrique Alves (RN).

Na reunião com Maia, a proposta não foi aceita. “O PSD só vota se houver o compromisso de não vetar”, disse o líder do partido, Guilherme Campos (SP). / COLABOROU EDUARDO BRESCIANI

Tentativa de acordo. Comissão mista aprovou na semana passada versão da MP que desagradou à presidente Dilma

Surya Bara, uma fêmea de tigre-de-bengala com uma rara mutação que deixa a espécie branca, passeia com um dos trigêmeos que teve em julho, no zoo de Liberec, na República Checa.


Demanda fraca reduz índice de confiança dos empresários do varejo

Valor Econômico

As sucessivas quedas no patamar de confiança dos empresários do comércio este ano refletem a percepção de um ritmo menor na demanda em 2012 em comparação com anos anteriores. Até o momento, as medidas do governo para estimular o consumo beneficiaram mais as empresas de varejo atingidas diretamente pelas isenções fiscais, e não o comércio como um todo, avalia Silvio Sales, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O índice de Confiança do Comércio (Icom), divulgado pela FGV, registrou queda de 4% no trimestre encerrado em agosto, recuo mais forte do que o apurado no trimestre finalizado em julho (-3,4%). Esse desempenho foi influenciado, segundo Sales, pelo fortalecimento da queda do índice de Situação Atual (ISA), um dos componentes do Icom, que saiu de -2,3% para -4,1% entre o trimestre finalizado em julho e o trimestre encerrado em agosto. “Houve uma piora na percepção do momento atual, entre os empresários”, explica o analista.

Contribuíram para os saldos negativos no Icom e no ISA quedas mais intensas nos Índices de confiança de setores não contemplados diretamente com benefícios fiscais, como em hiper e supermercados (de -1,4% para – 4,4%) e de tecidos e de vestuário (de -1,8% para -4,6%), entre o trimestre finalizado em julho e o trimestre até agosto.

No entanto, no segmento de veículos, que teve isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o indicador de confiança saiu de uma queda de 6,4% para um avanço de 7,1%, no mesmo período. “Podemos ver claramente aqui o efeito das medidas do governo”, avalia Sales.

O desempenho do Icom de agosto antecipa o que deve ser apurado na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de julho, a ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana que vem. O varejo ampliado, que engloba veículos, deve mostrar desempenho muito melhor do que o observado no varejo restrito, que não o inclui setor automotivo.

A expectativa dos comerciantes em relação a uma melhora mais robusta na demanda, que seria provocada pelas medidas de estímulo do governo e pela trajetória de redução de juros básicos, acabou sendo frustrada. Para Sales, isso ocorreu porque as famílias já estavam com patamar de endividamento elevado. Além disso, a instabilidade no cenário internacional também não ajudou.

Embora admita uma tendência de desaceleração na demanda do comércio, que opera a ritmo muito mais fraco do que verificado em anos anteriores, o especialista ressaltou que isso não sinaliza trajetória de recuo no consumo, para os próximos meses. O mercado de trabalho continua operando em patamar elevado, o que sustenta o poder aquisitivo do consumidor, via renda do trabalho. Além disso, explica Sales, o consumo das famílias , em anos anteriores, estava em nível muito elevado e insustentável no longo prazo.

“Ao longo deste ano, a confiança dos empresários do comércio tem sido menor do que há um ano. Isso é alinhado ao ritmo da economia, que continua a crescer, mas em ritmo menor do que no ano passado”, diz o analista do Ibre.

Ele lembrou que, no fim de 2011 e no início de 2012, as projeções para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano oscilavam entre 3,5% a 4%. Atualmente, as estimativas de mercado apostam em alta em tomo de 1,6% para o PIB em 2012.


Alta na indústria é concentrada em setores beneficiados

Valor Econômico

A esperada retomada da indústria neste segundo semestre começou em ritmo lento e concentrada no setor automobilístico. A produção industrial avançou 0,3% em julho, na comparação com junho, feitos os ajustes sazonais, segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF). De acordo com cálculos realizados a pedido do Valor, o resultado de julho seria uma queda se fossem excluídos os setores mais beneficiados pelo governo.

O setor de veículos automotores cresceu 4,9% em relação a junho, feito o ajuste sazonal. Nas contas da MCM Consultores, com esse desempenho, o segmento contribuiu com um aumento de 0,6 ponto percentual do avanço de 0,3% da produção industrial no mês, informa o economista Leandro Padulla. A LCA Consultores estima que sem os resultados de automóveis e linha branca a produção teria caído 0,5% na mesma comparação.

Esse quadro mostra que a maior parte dos demais setores puxou a produção industrial para baixo. Apesar disso, o índice de difusão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o maior desde agosto de 2011. Na passagem de junho para julho, a produção aumentou em 44,5% dos produtos pesquisados, e em 12 dos 27 ramos pesquisados. Os números do IBGE ainda mostram que a produção caiu mais em setores intensivos em exportação, prejudicados pela redução das vendas externas.

O resultado positivo de julho é o segundo consecutivo para a produção industrial. Em junho, o avanço dessazonalizado ante maio foi de 0,2%. Na comparação com julho de 2011, a produção industrial brasileira caiu 2,9% e, no acumulado do ano, a queda é de 3,7%.

“Os automóveis vêm puxando a recuperação. As principais medidas de incentivo à produção foram aplicadas a esse setor”, diz Padulla. Ele acredita que o bom desempenho deve, a partir do próximo mês, ser refletido mais claramente em outros setores, trazendo números mais positivos para a indústria. Em julho, houve pequeno crescimento no setor químico e de borracha, e queda na metalurgia.

Flavio Combat, economista-chefe da corretora Concórdia, questiona a força do impulso dado pelo IPI. “Quando o IPI reduzido para automóveis for retirado, haverá uma reversão da tendência de expansão de vendas. Isso porque a produção e o consumo de bens duráveis vêm roubando uma fatia que cabia aos bens semiduráveis e não duráveis.” A comparação dessazonalizada entre junho e julho mostrou um aumento de 0,8% na produção de bens de consumo duráveis e uma queda de 0,6% na produção de semi e não duráveis. A produção de bens intermediários cresceu 0,5% e a de bens de capital, 1%, na mesma comparação.

Padulla destaca que o resultado de bens de capital indica uma retomada dos investimentos. “Essa é a melhor notícia da pesquisa. O crescimento da produção de bens de capital ajuda a formação bruta de capital fixo, que veio fraca no PIB do segundo trimestre [queda de 0,7% na comparação dessazonalizada com o primeiro trimestre].”

Segundo cálculos de Padulla, o setor de linha branca, que também conta com a redução do IPI, contribuiu com uma queda de 0,06 ponto na produção industrial de julho ante junho, feitos os ajustes sazonais. No IBGE, que não faz ajuste sazonal para esse segmento, a avaliação é diferente. O setor ajudou a segurar o fraco crescimento da produção industrial em julho, diz André Luiz Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE.

A respeito do setor mobiliário, que caiu 3,1% entre junho e julho, na série livre de influências sazonais, o especialista do IBGE destacou que o setor, que integra bens de capital e bens duráveis, teve contribuições diferentes em cada categoria de uso. “O mobiliário teve influência positiva para bens de capital, que são os móveis para escritório. Já nos móveis produzidos para o uso residencial o impacto foi negativo. O mobiliário residencial entra em bens de consumo duráveis e daí vem a queda do setor.”

A queda da produção de alguns setores da indústria de transformação verificada na comparação com julho do ano passado já é reflexo da redução das exportações. Em agosto, houve recuo de 14,4% nos embarques brasileiros em relação a agosto de 2011. A queda do fluxo comercial com a Argentina, devido às políticas protecionistas do governo de Cristina Kirchner, tem pesado nesse resultado, que influencia diretamente as encomendas à indústria brasileira.

Segundo o IBGE, a produção industrial dos setores de alta intensidade exportadora – cujo coeficiente de exportação está acima da média nacional – foi 6,2% menor de janeiro a julho, na comparação com igual período de 2011. A retração é menos intensa entre os setores de baixa intensidade exportadora, nos quais se verifica um recuo de 1,7% da produção nessa mesma comparação.

As exportações de produtos metalúrgicos recuaram 26,9% entre os meses de agosto deste ano e de 2011. Já a produção do setor de metalurgia básica em julho, na comparação com julho de 2011, recuou 4,9%. Outro setor inserido nesse cenário é o de elétricos e eletrônicos, cuja média diária de exportações caiu 4,5% entre agosto de 2012 e igual mês de 2011. A produção de máquinas, aparelhos e materiais elétricos caiu 6,2% na comparação entre os meses de julho de 2012 e de 2011, e a produção de material eletrônico, 20% na mesma comparação.

“A Argentina é um parceiro importante, mas o fluxo comercial com o país caiu 10,7% entre agosto deste ano e agosto de 2011. A produção brasileira do setor de automóveis chegou a sentir essa freada nas exportações e acumulou estoques, mas os incentivos fiscais do governo ajudaram as vendas – e a produção vem retomando. Porém, o recuo no comércio com a Argentina continua impactando negativamente a produção de outros setores”, avalia Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil.


Galeão poderá ser concedido

O Globo

O governo tende a recuar da ideia de adotar um modelo alternativo de parceria com o setor privado nos aeroportos do Galeão, no Rio, e de Confins, em Belo Horizonte, pelo qual a Infraero permaneceria como controladora do negócio. Segundo interlocutores, a presidente Dilma Rousseff está sendo convencida por assessores a adotar o modelo tradicional de concessão, diante da constatação de que, dificilmente, haverá interessados dispostos a investir nos dois aeroportos tendo a Infraero como sócia majoritária.

– Há muitos interessados no setor aeroportuário brasileiro, que cresce e oferece espaço para ser explorado, mas ninguém quer carregar a Infraero – disse uma fonte.

O resultado pouco promissor da missão brasileira ao exterior para sondar interessados na proposta da parceria com a Infraero reforçou a posição do grupo que defende a adoção do modelo tradicional de concessão, adotado em Guarulhos (São Paulo), Viracopos (Campinas) e Brasília.

Segundo uma fonte com acesso aos bastidores dessa discussão, a presidente Dilma ficou frustrada com o resultado do leilão desses aeroportos – que serão administrados por empresas com pouca experiência no setor – e quis buscar um modelo alternativo, que garantisse a entrega de Galeão e Confins a grandes operadores aeroportuários. Assim, foi construída a proposta de parceria entre a Infraero e um sócio estrangeiro com experiência na gestão de mais de 30 milhões de passageiros, mas mantendo a estatal com o controle acionário do negócio.

Ocorre que, até o momento, não apareceram interessados em levar adiante a parceira nesses termos, embora o governo não tenha admitido que a missão à Europa para buscar parceiros, na semana passada, fracassou. Ontem, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, chefe da missão, ao chegar à reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), disse que a viagem foi muito “boa e produtiva” e que há investidores interessados em investir no Brasil, mas não explicou em que condições.

– Há muito interesse em investimento no Brasil – afirmou a ministra.

OPERADORA DE Cingapura entra no radar

As autoridades brasileiras conversaram com quatro empresas europeias: a Fraport, que administra Frankfurt; a Aéroports de Paris (ADP, que opera o Aeroporto Charles de Gaulle); a Schipol (em Amsterdã); e a BAA (Aeroporto de Heathrow, em Londres).

No fim do dia, a Secretaria de Aviação Civil (SAC) divulgou nota sobre a viagem à Europa, mas também não indicou interesse de qualquer investidor no novo modelo de parceria. “Os encontros contribuíram para troca de informações, o que pode contribuir com a concepção de propostas para o setor aeroportuário no Brasil”, diz o texto da SAC. E acrescentou: “A Secretaria de Aviação Civil informa que não há decisão sobre novas concessões de aeroportos no Brasil.” A SAC informou ainda que outras operadoras serão sondadas, entre elas, a Changi, empresa que administra o aeroporto de Cingapura.

Fontes envolvidas diretamente nas discussões destacam que a alternativa de parceria com a Infraero somente teria chance de vingar diante de uma demonstração mais enfática dos operadores estrangeiros, o que não se confirmou até agora. Consultores do mercado que trabalharam no processo de formação dos consórcios com empresas estrangeiras, na disputa dos três já leiloados, afirmam que não há disposição do investidor em injetar capital privado e ficar sob as rédeas da Infraero.


Governo eleva imposto de importação de 100 itens

O Estado de S. Paulo

O governo anunciou ontem a elevação do Imposto de Importação para 100 tipos de produtos. Estão incluídos na lista mercadorias de setores como bens de capital, siderurgia, petroquímica e medicamentos. As alíquotas de importação, que variavam entre 12% e 18%, passaram para 25%.

Com a medida, o governo quer proteger a indústria da concorrência dos importados. A previsão é que as alíquotas entrem em vigor em 26 de setembro.

A alta foi acertada com os sócios do Mercosul e valerá para as compras brasileiras de fora do bloco econômico. Até outubro, a lista deverá ser ampliada para 200 produtos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que o governo vai monitorar o mercado para evitar que as empresas reajustem os preços para aproveitar a alta da tarifa.

Para muitos economistas, porém, a medida pode levar a um aumento de preços e não deve resolver o problema da indústria. “Medidas de elevação de tarifa correspondem, no comércio exterior, ao que são esses paliativos de redução do IPI internamente. Não vão ao fundo do problema”, disse Rubens Ricupero, ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e ex-ministro da Fazenda.

Paulo Rabello de Castro, sócio da RC Consultores, avalia que a medida “é um tiro no pé”. Segundo ele, é cedo para avaliar, mas em alguns setores, com poucos competidores, a demanda tende a aumentar e o reajuste pode ser inevitável. “Quem amplia alíquota de proteção o faz por uma razão externa, portanto a medida deveria valer independentemente do comportamento dos preços.”

Para o economista-chefe da MCM Consultores Associados, Cláudio Adilson, a medida é “casuística, protecionista e retrógrada”. Ele vê na iniciativa mais um elemento de incerteza para investimentos do setor produtivo. “O governo deu um passo atrás em termos de qualidade de política macroeconômica e partiu para o protecionismo.”

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, porém, fez questão de ressaltar que o aumento do imposto não desrespeita as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

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