Sentimento antibrasileiro é tema central das eleições no Paraguai
O Brasil e os brasileiros estão no centro do debate da eleição presidencial do Paraguai, marcada para 21 de abril. O pleito deve marcar o fim das suspensões do país do Mercosul e da Unasul, adotadas em junho, logo após a destituição do então presidente Fernando Lugo pelo Congresso paraguaio. As sanções não tiveram impacto econômico, mas fizeram com que todos os países da América do Sul retirassem seu embaixador de Assunção.
É grande o ressentimento contra o Brasil tanto entre apoiadores quanto entre críticos do impeachment de Lugo.
A presidente brasileira Dilma Rousseff e a argentina Cristina Kirchner coordenaram as punições contra o país e o ingresso simultâneo da Venezuela no bloco, o que provocou reações contra os governos de Brasil e Argentina na elite política e empresarial paraguaia.
“A defesa da soberania deixou de ser uma bandeira dos setores de esquerda para estar no discurso de todos que apoiaram a destituição. Quem ficou do lado de Lugo virou “legionário””, afirmou a cientista política Susana Aldana, da ONG “Decidamos”, um observatório eleitoral.
“Legionário” no Paraguai é uma referência aos caudilhos que apoiaram Brasil e Argentina na guerra entre 1865 e 1870, que derrubou o governo de Solano López e destruiu a estrutura produtiva do país. Os opositores de López organizaram tropas de voluntários que lutaram sob as ordens do inimigo.
O conflito contra a comunidade brasileira de sojicultores foi um dos motores para a queda de Lugo em junho. Há cerca de 250 mil brasileiros vivendo no Paraguai, que conta com 6,6 milhões de habitantes. A maioria está na área rural, que concentra 40% da população. Os “brasiguaios” buscam revogar uma lei regulamentada por Lugo, que impede a posse de terra por estrangeiros em uma faixa de até 50 quilômetros da fronteira.
O candidato do partido do atual presidente Federico Franco, o senador Efraín Alegre, do Partido Liberal, ameaça com a retirada do Paraguai do bloco caso a admissão da Venezuela como membro pleno não seja revista. “Não vamos aceitar fatos consumados. O ingresso da Venezuela desrespeitou marcos institucionais “, disse ao Valor. Há duas semanas, o Senado paraguaio rejeitou a entrada da Venezuela no bloco. O Partido Liberal se absteve, porque preferia colocar o tema em votação apenas depois da eleição presidencial venezuelana no próximo dia 7.
O tom não é o mesmo em relação ao problema dos sojicultores brasileiros. Alegre admite rever a legislação fundiária que coloca em cheque produtores oriundos do Brasil. A lei de Lugo garante a propriedade adquirida até 2006, mas o alto índice de grilagem de terras no país torna controversa a titularidade de diversas propriedades.
“Houve muita invasão de terra por parte de apoiadores do antigo governo em função disso. Quem já se instalou deve ser respeitado e ter toda proteção”, disse o candidato.
Os brasileiros estão no centro da produção de soja do país, que colheu em 2011 uma safra de 7,6 milhões de toneladas.
O cacife do agronegócio crescerá no próximo ano, com a previsão de que a alta dos preços da commodity se mantenha. De acordo com o ex-ministro da Fazenda no governo Lugo, Dionisio Borda, o Paraguai deve crescer 9% em 2013. No ano passado, se expandiu 3,8%. Neste ano, a previsão é de queda de 1,5%. Os produtos primários representam 89% das exportações paraguaias.
Embora correligionários, Alegre e Franco não são aliados. Em minoria em seu próprio partido, o novo presidente paraguaio cedeu o Ministério da Defesa para a sigla comandada pelo general Lino Oviedo, que foi afastado do Exército depois de tentar um golpe militar contra o então presidente Juan Carlos Wasmosy em 1996.
Oviedo deve se candidatar novamente à Presidência e é o mais radical na linha ultranacionalista. A iniciativa mais recente de seu partido no Congresso foi propor a retirada de recursos de saúde e educação para o rearmamento das Forças Armadas, sob a alegação que o país pode sofrer um ataque militar da Bolívia. Seu alcance eleitoral, contudo, é limitado. “Eleitoralmente, ele sempre se apresenta como candidato e nunca faz alianças. O que busca é preservar sua fatia de poder no Congresso”, opinou o analista político Lucas Arce, da consultoria econômica Cadep.
Com a base governista dividida, aumenta a chance de volta ao poder do Partido Colorado, que governou o país por 70 anos, sequência interrompida em 2008 com a vitória de Lugo. O partido vai realizar em dezembro eleições internas para escolher o candidato e o favorito é o empresário Horacio Cartes, da região de Pedro Juan Caballero, fronteiriça com o Brasil. Cartes tem uma fábrica de cigarros, outra de bebidas, o Banco Amambay e o clube de futebol Libertad.
O empresário é bombardeado pelos adversários internos com denúncias que afetam diretamente a sua imagem no exterior, envolvendo-o em narcotráfico, lavagem de dinheiro e contrabando para o Brasil. Usa um espaço generoso das entrevistas que concede e de sua propaganda política para tentar demonstrar sua inocência. Procura adotar o mais moderado discurso entre os principais candidatos. “O Paraguai de maneira alguma deve sair do Mercosul. Precisamos restabelecer as relações com os vizinhos”, disse em um evento no mês passado.
O quadro de candidatos ainda deve se completar com um representante das correntes de esquerda. O candidato mais provável é o ex-apresentador de televisão Mario Ferreyro. “É um nome com popularidade, mas sem vinculação com os movimentos sociais. Não está claro se Lugo vai apoiá-lo ou se concentrar em sua própria campanha para o Senado”, afirmou o analista político Alfredo Boccia, ligado ao ex-presidente.
Crédito bancário dispara na China e deve puxar expansão
Valor Econômico
Os empréstimos bancários na China atingiram em agosto o maior valor já registrado para este mês na série histórica, ficando bem acima das projeções de analistas. Isso sinaliza a disposição do governo de reverter uma desaceleração que ameaça a segunda maior economia do planeta. Nesse mesmo sentido, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, sugeriu em discurso ontem que o país dispõe de mais instrumentos fiscais e monetários para estimular o crescimento.
Em reação às notícias, as ações de empresas chinesas negociadas em Nova York subiram. O Índice Bloomberg de Ações China-EUA teve uma alta de 1,7%, atingindo o maior nível em duas semanas.
Segundo o Banco do Povo da China (o banco central do país), os novos empréstimos no mês passado atingiram a marca de 703,9 bilhões de yuans (aproximadamente US$ 111 bilhões). O volume é superior à previsão da mediana de 32 analistas consultados pela agência de notícias Bloomberg, de 600 bilhões de yuans, e aos 540 bilhões de yuans registrados em julho.
A expansão na concessão de empréstimos ocorre na sequência de cortes nas taxas de juros em junho e julho, da aprovação governamental para projetos de construção de metrô e estradas e de um alerta do Ministério do Trabalho de que a freada da economia está começando a afetar a demanda por mão de obra. Nos últimos dois dias foram divulgados números apontando queda nas importações em agosto e desaceleração na produção industrial, reforçando os pedidos por mais ações de estímulo.
“Os dados [de empréstimos bancários] sugerem que a China está conseguindo ampliar o financiamento necessário para implementar medidas de estímulo”, avaliou Dariusz Kowalczyk, economista-sênior do Crédit Agricole em Hong Kong. “Isso prenuncia uma recuperação mais nítida do ritmo de crescimento” no quarto trimestre, acrescentou.
Ao discursar no evento Fórum Econômico Mundial, em Tianjin, o primeiro-ministro Wen Jiabao disse que o governo tem plena confiança de que cumprirá as metas econômicas estabelecidas para este ano e indicou que, além das medidas já adotadas até aqui, ainda há mais munição no arsenal.
“Seja monetária ou fiscal, ainda temos ampla força”, afirmou Wen. O governo tem 100 bilhões de yuans num fundo de estabilização fiscal e “[os usará] de maneira apropriada como política preventiva e de ajuste fino para impulsionar crescimento econômico estável”, disse o premiê.
Segundo Wen, a China mantém uma política fiscal pró-ativa, uma política monetária prudente, vem aperfeiçoando medidas para estabilizar as exportações e implementou uma série de ações para fortalecer a demanda doméstica.
As autoridades em Pequim estão lutando para impedir que a taxa de expansão da economia chinesa caia abaixo da meta de 7,5% estabelecida em março – a qual já seria a mais fraca deste 1990.
Bibi, o amigo de Romney
O Estado de S. Paulo
A amizade entre Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e o republicano Mitt Romney dura 36 anos.
Eles se conheceram em 1976, quando foram contratados como conselheiros empresariais pelo Boston Consulting Group. Trabalhavam no mesmo andar, compartilhavam almoços e construíram uma rede comum de amigos e aliados conservadores, segundo o New York Times.
Em março, Netanyahu telefonou para Romney para falar sobre Irã. “Apesar das nossas histórias distintas (Romney veio de uma rica família mórmon de Michigan e Netanyahu, da classe média israelense), acho que empregamos métodos similares para analisar problemas e chegar a conclusões”, teria dito o israelense a um colaborador, segundo o jornal.
Valor da produção bate recorde no Brasil
Valor Econômico
O Valor Bruto da Produção (VBP) das 20 principais lavouras do país deverá alcançar o recorde de R$ 227,7 bilhões em 2012, segundo estimativa divulgada ontem pelo Ministério da Agricultura. Em relação à projeção de agosto, o novo número é quase 3% maior. Na comparação com 2011, o aumento é de 0,8%. Ainda que modesta, esta é a primeira alta na comparação com o ano passado, quando o VBP foi o maior da série histórica até agora (R$ 226 bilhões, já com os valores deflacionados pelo IGP-DI da FGV de agosto).
A correção na estimativa do ministério foi determinada pelas disparadas de soja e milho, grãos que no primeiro semestre pressionaram o VBP para baixo em razão da quebra da safra no Sul, em decorrência da estiagem provocada pelo La Niña. Esse fator colaborou para sustentar as cotações internacionais e domésticas de ambos nos primeiros meses deste ano, mas os saltos rumo a níveis históricos aconteceram a partir do fim do primeiro semestre, quando a produção americana deste ciclo 2012/13 começou a ser prejudicada também por uma severa seca.
Para a soja, carro-chefe do campo brasileiro, o ministério passou a prever VBP de R$ 66,6 bilhões em 2012, 7,2% mais que o estimado em agosto e 16,4% acima de 2011. No caso do milho, a projeção foi corrigida para R$ 33,7 bilhões, com aumentos de 6,2% e 28,4%, respectivamente. Mesmo assim, o milho deverá perder para a cana, cujo VBP que passou a ser projetado em R$ 39,6 bilhões, praticamente o mesmo patamar da estimativa de agosto e valor 4,9% inferior ao calculado para 2011. Somados, os VBPs de soja, cana e milho deverão atingir quase R$ 140 bilhões, ou 61,4% do total projetado. Em 2011, a fatia do trio foi de 55,3%.
Protestos na Grécia
Correio Braziliense
Atenas — Professores universitários e outras categorias fizeram ontem uma série de protestos na capital grega contra as medidas de austeridade adotadas pelo governo em troca de ajuda financeira internacional. Enquanto os docentes se reuniam em frente ao Parlamento, sindicalistas formaram uma corrente humana para bloquear a entrada do Ministério do Trabalho, forçando um atraso nas negociações entre funcionários da pasta e credores estrangeiros.
As conversas com inspetores da “troika” — representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) — tiveram início apenas duas horas depois da hora marcada, quando os manifestantes deixaram o local. Dezenas de membros do sindicado afiliado aos comunistas PAME gritavam slogans antiausteridade e portavam cartazes que diziam “Troika, FMI, BCE – Saiam daqui!” do lado de fora da entrada principal do ministério.
As manifestações têm como alvo imediato uma nova rodada de aperto de cintos exigida pelos credores para evitar a falência do país. Os dois maiores sindicatos planejam uma greve geral este mês, enquanto professores, funcionários fiscais e trabalhadores de turismo estão entre os grupos que programam paralisações esta semana. O governo do primeiro-ministro Antonis Samaras pretende cortar quase 12 bilhões de euros em gastos ao longo dos próximos dois anos.
Para empresários, tarifa menor fará indústria mais competitiva
O Globo
O pacote de redução das tarifas de energia foi, em geral, bem recebido pelos empresários devido ao impacto econômico que terá no parque industrial nacional. Para Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, a medida foi um gigantesco avanço, uma vez que o governo Dilma havia acenado com uma redução média de apenas 10% das tarifas e a redução anunciada chega a 28% para alguns segmentos da indústria.
– Algumas indústrias que pagam mais pela energia, como a de alumínio, estavam ameaçando ir para o Paraguai – disse Gouvêa Vieira.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a queda de 28% na tarifa de energia reduzirá em até 4% o custo fixo de produção da indústria brasileira e dará um impulso para que as empresas voltem a investir.
– A medida aumenta a competitividade da indústria e estimula o investimento, porque reduz preços e faz com que o empresário tenha mais confiança em produzir e gerar emprego no Brasil. Teremos um produto mais competitivo no mercado nacional e internacional – disse o presidente da CNI, Robson Andrade.
Já a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), embora também tenha comemorado as medidas, fez ressalvas. O diretor de infraestrutura, Carlos Cavalcanti, disse que a entidade estuda recorrer à Justiça diante da decisão do governo de renovar os contratos em vigor, em vez de deixá-los terminar para que as concessões fossem leiloadas e disputadas por todos os operadores do país. Cavalcanti chamou a medida de casuística, pois tem “endereço e CNPJ” específicos como alvo.
– Certamente, a redução das tarifas seria ainda maior em função da disputa – afirmou o diretor.
Para Franklin Feder, presidente da Alcoa, que havia ameaçado fechar a fábrica no Brasil, a medida ajuda a segurar a produtividade no país.
eliminando incertezas
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Câmara de Gestão do governo, destacou que a medida do governo dará competitividade a novos investimentos:
– Em muitos projetos eletrointensivos, como alumínio, indústria petroquímica e setor eletrosiderúrgico, onde a energia realmente pesa muito, vai ser um elemento definidor. Ter energia competitiva é um fator definidor de investimentos – afirmou Jorge Gerdau.
Já a Associação Brasileira das Indústrias de base (Abdib) anunciou, por meio de nota, que a redução das tarifas se traduzirá em mais competitividade e reforçará tanto a segurança jurídica quanto a estabilidade regulatória para as empresas do setor elétrico.
Para Paulo Godoy, presidente da entidade, a decisão de renovar as concessões de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica próximas do prazo de vencimento – agora anunciada oficialmente – reforça o modelo regulatório setorial e elimina algumas incertezas que pairavam sobre o mercado brasileiro.
– As empresas com ativos nessas condições terão como se planejar e tomar decisões de longo prazo – disse o presidente da Abdib.
FMI quer dinheiro de emergentes
Correio Braziliense
Em troca de recursos, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional oferece mais poso nas decisões
Preocupada com a crise e receosa de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) perca influência, a diretora-gerente da entidade, Christine Lagarde, começou uma campanha em busca de recursos. O objetivo é atrair os emergentes, nações que estão em melhor situação que algumas das mais importantes economias do mundo. A executiva quer dar mais voz a esses países em troca de novos aportes de capital, mas para isso precisa ampliar a quota deles no fundo. Caso consiga essa mudança, irá duplicar o tamanho do FMI, que chegará a US$ 767 bilhões. A decisão, porém, depende da vontade dos Estados Unidos, dono de 16,7% da quotas e do poder de veto.
Em comunicado divulgado ontem, Lagarde pediu urgência na “reforma das cotas” para que possa dar mais peso às economias emergentes. “Faço um chamado urgente aos Estados-membros que ainda não o fizeram para que tomem rapidamente as medidas necessárias”, declarou. A executiva, no documento, ainda celebrou os progressos feitos até o momento, com a adesão da maioria dos integrantes do fundo: 102 deles, donos de 65,9% dos votos, assinaram o acordo. O problema, porém, é que as regras do FMI determinam que essa mudança ocorra apenas quando se conseguir a anuência de 113 dos 118 participantes, o equivalente a 85% do direito a voto no conselho diretivo.
Além de convencer mais 11 países a ampliar os poderes dos emergentes, Lagarde precisa fazer com que os Estados Unidos não exerçam o veto, uma decisão que cabe ao Congresso norte-americano. Analistas ponderam, no entanto, que dificilmente esse pleito será analisado pelos parlamentares a tempo, já que a data-limite para a mudança é a reunião do FMI de Tóquio, no Japão, entre 12 e 14 de outubro. Com as eleições presidenciais dos EUA no início de novembro, os dois partidos que dominam o Congresso e a política do país estarão mobilizados até lá para eleger seus candidatos: Barack Obama pelos Democratas e Mitt Romney pelos Republicanos.
A urgência de Lagarde se explica principalmente pela crise do euro, que tem demandado mais recursos do que o fundo e o Banco Central Europeu dispõem. No início de outubro, o FMI e outros credores da Grécia terão de decidir mais uma vez como e se continuam apoiando o país. A expectativa é de um acordo, sobretudo porque os gregos têm cooperado e acatado as determinações impostas pelos credores. A situação econômica da região, no entanto, é considerada delicada, e os especialistas não descartam uma saída da Grécia do euro ainda este ano. Se o país abandonasse o bloco, outros países seriam contaminados e dificilmente o FMI teria condições de ajudar com os recursos que possui hoje.
Em meio à crise, cresce separatismo na Espanha
O Estado de S. Paulo
A crise dá novo impulso ao separatismo na Espanha. Ontem, uma das maiores manifestações pela independência da Catalunha desde os anos 70 paralisou a cidade de Barcelona. Para historiadores, a pior crise no país desde a volta da democracia reabriu velhas feridas, escancarando a divisão entre o norte mais rico e o governo central. Mas eles alertam que políticos estariam manipulando sentimentos populares para encontrar um responsável pela recessão.
A marcha ocorre todos os anos, no que seria o dia nacional catalão, conhecido como Diada. Mas, neste ano, o evento foi marcado por uma multidão que, segundo os organizadores, não se via desde 1977, quando a Catalunha lutava por autonomia nos anos que se seguiram à morte do general Franco.
Segundo a polícia, 1,5 milhão de pessoas participaram da passeata. Para os organizadores, foram 2 milhões, numa cidade de 5 milhões de habitantes. Pela primeira vez em mais de 30 anos, uma pesquisa revelou que mais de 50% dos catalães acham que é o momento de convocar um referendo sobre a independência da região, que tem economia equivalente à de Portugal. Num dos prédios públicos, um cartaz anunciava em inglês: “Catalunha, o próximo país da Europa”.
Mais que uma onda sentimental, porém, as feridas espanholas são abertas por questões bastante objetivas. Com uma segunda recessão e 24% da população desempregada, a região, que representa 20% do PIB nacional, diz que envia a Madri em impostos 12 bilhões mais do que recebe.
O presidente da Catalunha, Artur Mas, abriu os protestos com uma advertência: se o governo de Mariano Rajoy não aceitar o novo pacto fiscal, “o caminho da independência estará aberto”. Segundo ele, “a Catalunha produz recursos suficientes para viver melhor do que estamos”.
Mas quer renegociar o acordo que estabelece o valor anual que a região deve enviar a Madri, alegando que esse seria o motivo da crise na região. Para seus opositores, o que ele apenas tenta fazer é jogar a população catalã contra Madri e usar a independência como cortina de fumaça para uma crise que é local.
Na segunda-feira, o conservador Rajoy declarou que Madri não vai rever o acordo fiscal e fez questão de lembrar que a Catalunha está quebrada. De fato, a região foi a primeira a pedir um resgate de Madri, de 5,7 bilhões. Rajoy e Mas se reúnem no dia 20 para debater o assunto.
“Isso tudo é parte de um jogo politico que sempre existiu. A diferença é que a crise transformou a relação de poder entre os grupos”, alerta Antonio Barroso, analista do Eurasia Group. “A situação econômica está criando uma nova onda de nacionalismo”, diz Carlos Barrera, professor da Universidade Navarra. “Mas está sendo usada por grupos políticos para avançar suas agendas e tentar justificar a crise para os eleitores.”
BCs enfrentam período de dúvidas e difíceis decisões
Robin Harding e Chris Giles – Financial Times
Estes são tempos desconfortáveis para presidentes de bancos centrais. No passado, os monstros sagrados da profissão, que reuniram-se neste mês, em Jackson Hole, Wyoming, já chegaram a ser os supremos senhores do universo. Agora eles estão perturbados pela dúvida.
Quatro anos após o pior momento da crise financeira, o desemprego permanece elevado em todo o mundo desenvolvido e a economia mundial está perdendo força. Pairam, ameaçadores, grandes riscos irradiados da zona do euro e da política fiscal americana.
Após a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de combater especulações sobre uma ruptura da zona do euro propondo-se a comprar títulos de curto prazo dos governos de países periféricos europeus, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) deverá, nesta semana, decidir sobre a melhor forma de ajudar uma economia que seu presidente descreveu como “longe de satisfatória”.
Mas, quanto mais os banqueiros centrais aprofundam suas análises de soluções para os problemas das economias desenvolvidas, mais ficam preocupados alguns economistas.
“Eu estou um pouco – talvez mais do que um pouco – preocupado com o futuro das decisões dos bancos centrais”, disse James Bullard, presidente do Federal Reserve Bank de Saint Louis, em entrevista ao “Financial Times” em Jackson Hole. “Nós sempre achamos que haveria luz no fim do túnel e que haveria oportunidade para uma normalização, mas não é o que está realmente acontecendo até agora.”
“O que me preocupa é essa politização [que temos visto]”, disse Bullard. As pressões dos políticos muitas vezes são no sentido de que os bancos centrais ajam mais.
A maior preocupação visível em Jackson Hole era sobre se esses burocratas, posicionados no coração de cada economia madura, ainda detêm o poder de influenciar a demanda, agora que as taxas de juros não podem cair muito mais. À espreita, por trás de muitos debates, há a indagação: se as políticas dos bancos centrais são tão eficazes, por que a economia mundial não está crescendo mais rápido?
Para obter uma resposta, muitos recorrem às ideias de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, que descreveram como recuperações pós-crises financeiras tendem a ser lentas e dolorosas, em seu livro “This Time is Different” (“Desta vez é diferente”).
No entanto, todo o ativismo dos bancos centrais nos últimos quatro anos baseia-se na crença em que, embora esta crise possa ser semelhante às do passado, deve, necessariamente, haver um coquetel de políticas que desta vez tornarão a recuperação diferente.
Todavia, essa fé está sendo questionada.
“Devo confessar que quando o livro foi publicado eu estava um pouco cético sobre se isso iria acontecer nos EUA, mas eles [os autores] estavam certos e eu estava errado”, disse Alan Blinder, professor de economia em Princeton e ex-vice-presidente do Fed, do púlpito em Jackson Hole. “Nós não nos desviamos muito do padrão de uma recessão [do tipo descrito por] Reinhart-Rogoff.”
Existem algumas razões possíveis pelas quais repetidas rodadas de comunicados e de flexibilização quantitativa pelos bancos centrais – como é conhecida a política de compra de ativos de mais longa maturação, num esforço para reduzir as taxas de juros de longo prazo -, não produziram uma recuperação vigorosa.
Uma das razões é que algo estrutural mudou, e isso está contendo o crescimento. Falando no plenário em Wyoming, Donald Kohn, outro ex-vice-presidente do Fed e hoje na Brookings Institution, levantou a possibilidade de “algo mais profundo estar acontecendo”, talvez relacionado ao comportamento da poupança ou da modificada distribuição de renda entre o capital e o trabalho.
Outra razão é que as ferramentas funcionam, mesmo que as condições atuais neutralizem seu efeito. Se houver novos ventos contrários, então a resposta será usá-los de forma mais agressiva. Essa é a visão predominante entre os presidentes de BCs.
“Uma leitura equilibrada das evidências dá sustentação à conclusão de que as compras de títulos pelo BC proporcionaram substancial suporte à recuperação econômica, ao mesmo tempo em que amenizaram os riscos deflacionários”, disse Ben Bernanke, presidente do Fed, em seus comentários em Jackson Hole.
Uma terceira possibilidade é, talvez, a mais alarmante para um presidente de um banco central, como Bernanke, que aposta sua reputação em sucessivas rodadas de afrouxamento quantitativo: elas simplesmente não funcionam.
Em sua apresentação em Jackson Hole, Michael Woodford, professor na Universidade Columbia, apresentou evidências de que até onde as compras de ativos produziram uma redução nos juros de longo prazo nos EUA, seu efeito foi indireto. As pessoas encararam as compras como um sinal de que os juros de curto prazo permanecerão mais baixos por mais tempo, argumentou ele.
Grandes riscos irradiados da zona do euro e da política fiscal americana pairam ameaçadores
Esse estudo deu aos presidentes de BCs reunidos algum material para reflexão, mas terá pouca influência em suas escolhas políticas imediatas.
Após a divulgação de que em agosto foram criados 96 mil empregos, abaixo das estimativas e menos do que o suficiente para afastar a “grave preocupação” de Bernanke quanto a uma estagnação do mercado de trabalho, o Fed tem três opções a considerar, ao realizar a sua reunião de dois dias, nesta semana.
O Fed poderia comprar mais ativos, em outra rodada de alívio quantitativo (o chamado “QE”). O BC poderia estender sua previsão de juros baixos para além da data atualmente prevista: final de 2014. Ou poderia cortar os 25 pontos-básicos de juros que paga aos bancos sobre suas reservas em excesso.
Bernanke passou a maior parte de seu discurso falando sobre os prós e contras de mais compras de ativos, e o QE3 continua sendo a principal opção do Fed para um estímulo substancial. Uma ideia que conquistou bastante terreno na Comissão Federal de Mercado Aberto (o Fomc) é promover ações sem contornos definidos: comprar uma quantidade qualquer por mês ou realizar reuniões sem meta definida.
A dificuldade está em como definir um objetivo. Membros mais agressivos da Comissão de Mercado Aberto querem liberdade para decidir parar de comprar ativos em qualquer reunião. Os moderados querem um comprometimento no sentido de continuar comprando até que uma (determinada) condição de melhoria da economia seja cumprida. Eles querem que essa condição, muito provavelmente em palavras e não em números, subentenda um QE3 substancial, a menos que a economia se recupere.
Um problema semelhante se aplica à alternativa de estender a previsão, pelo Fed, de juros baixos até 2015. Os moderados não gostariam que isso fosse interpretado simplesmente como uma previsão de que a economia continuará fraca. Em vez disso, eles gostariam de sinalizar uma mudança no comportamento do Fed, e que o BC pretende manter os juros baixos, mesmo à medida que a economia se recupere.
O que o Fed fará dependerá de se a comissão conseguirá chegar a um consenso sobre tal condição (sinalizadora) de uma melhoria da economia. Se não conseguir, então será mais provável uma compra, pura e simples, de uma bolada de ativos.
A última opção, baixar os juros sobre as reservas, tornou-se um pouco mais provável, já que o BCE reduziu a zero os juros com que remunera os depósitos no “overnight” sem causar um apocalipse no sistema financeiro. Mas poucos técnicos no Fed julgam que isso faria muita diferença, e alguns continuam a ver riscos modestos. Certamente, essa opção é improvável, exceto associada a outras ações.
Mas não é apenas o Fed que está às voltas com difíceis questões de política. O BCE está diante de uma ameaça de desintegração da moeda única e de um processo político internacional dolorosamente lento.
Sua mais recente resposta foi a promessa de compra de títulos dos países europeus que aceitaram as condições potencialmente abrangentes de um programa de consolidação fiscal e de reformas econômicas – potencialmente em quantidades ilimitadas. Comprando títulos apenas de curta maturação, o BCE vê isso como uma operação de política monetária visando trazer as taxas de juros de curto prazo de volta a uma harmonia em toda a zona do euro. O banco central quer eliminar o prêmio de risco de desvalorização dos títulos soberanos de alguns países.
Os manuais de economia não estão fornecendo as respostas [para superar a crise]
Mas a operação acordada – puras transações monetárias – é extremamente polêmica, e o Bundesbank, o ultraconservador BC alemão, a vê “como equivalente a financiar governos imprimindo dinheiro”. Além disso, o BCE vê o perigo de que, se as coisas derem errado, as compras potencialmente ilimitadas de títulos “possam, em última instância, redistribuir riscos consideráveis entre os contribuintes do fisco em vários países” da zona do euro.
No Reino Unido, o Banco da Inglaterra (BoE, em inglês) abandonou a compra de títulos do governo na esperança de reduzir os juros de longo prazo para tentar intervir mais diretamente no sentido de reduzir os custos de financiamento das famílias e das empresas.
Assim como o Fed, o BC britânico insiste em que o QE está funcionando. Mas o BoE está botando muita fé na ideia de que, ao disponibilizar financiamento barato aos bancos sob a condição de que eles intensifiquem os empréstimos à economia real, isso impulsionará a demanda.
Mas há outras sugestões em discussão, algumas chegando bastante perto de uma linha arbitrária que os banqueiros centrais temem pisar: a linha divisória entre política monetária e política fiscal.
Alguns consideram útil um pré-engajamento em estímulos de política até que esta funcione. Woodford defende um comprometimento no sentido de manter os juros baixos por um período que seja vinculado ao desempenho da economia. Ao manter os juros baixos, apesar de um crescimento da inflação um pouco acima de uma meta como os 2% estipulados pelo Fed, um banco central poderia compensar o período em que a taxa de juros ideal teria sido inferior a zero.
E um número crescente de vozes, muitas vezes não aquelas muito próximas dos círculos que definem a política do BC, mas que, reservadamente, incluem alguns que pertencem ao clube, sugere que os bancos centrais poderiam tornar-se ainda mais radicais. Os BCs estão sendo exortados a comprar ativos que não sejam títulos do governo, rompendo com um tabu segundo o qual eles não devem aceitar riscos de crédito em seus balanços patrimoniais.
Embora nada disso seja palatável, é melhor do que as ideias realmente radicais que podem ganhar ímpeto se o mal-estar econômico persistir, como a infame opção de “lançar dinheiro de helicópteros”. Um banco central pode simplesmente lançar um crédito nas contas bancárias dos cidadãos de um país, aumentando diretamente a renda durante um período e incentivando-os a gastar.
Uma variante dessa proposta é financiar temporariamente os gastos do governo, permitindo que este corte impostos durante um período. Esse financiamento monetário do governo é proibido por lei, na Europa, pela boa razão de que, quando foi experimentada, a impressão pura e simples de dinheiro terminou em hiperinflação. Uma economia não tem como disponibilizar bens e serviços suficientes equivalentes a todo o dinheiro recém-criado ao nível de preços vigentes – e a inflação se instala.
Conservadores por natureza, nenhum banqueiro central quer considerar ideias que são tabus há décadas. Mas algumas dessas ideias estão começando a ser aventadas.
Os manuais de economia não estão fornecendo as respostas. Quando isso acontece, opções mais radicais vêm à tona.
Os bancos centrais empenharam-se arduamente para vender a ideia de metas de inflação. Adotando uma “meta final para o Produto Interno Bruto nominal”, uma ideia que vem ganhando corpo em círculos acadêmicos, seria ainda mais difícil de explicar.
Mesmo assim, isso pode ser a melhor solução possível para o problema de que as taxas de juros não podem ser negativas.
Essa política, defendida recentemente por Michael Woodford, na Universidade Columbia, significaria duas mudanças para os bancos centrais.
Primeiro, o banco central assumiria como meta o aumento dos gastos em dinheiro na economia – o PIB nominal inclui o crescimento real mais a inflação -, em vez de considerar apenas preços.
Mas, em segundo lugar, e o que é mais importante, o BC assumiria como meta um nível em constante crescimento para o PIB nominal, em vez de apenas a taxa atual de crescimento.
Isso é crucial, porque vincularia à inflação futura a condições do passado. Se o crescimento nominal do PIB for muito baixo, o banco central teria de permitir que uma inflação mais alta o levasse de volta ao caminho para a meta.
Se um banco central, como o Fed, tivesse adotado como meta um caminho para o PIB nominal nos últimos anos, os mercados automaticamente assumiriam taxas de juros nulas durante alguns anos, já que existe uma grande disparidade a ser eliminada. Se o banco central prometesse gerar suficiente inflação para retornar, eventualmente, à trajetória que conduz à meta, as pessoas não teriam nenhuma razão para evitar gastar – e suas expectativas para o futuro contornariam o problema de que as taxas não podem cair abaixo de zero hoje. Woodford e economistas como Paul Krugman e Christina Romer defendem a política precisamente por essa razão.
Os bancos centrais preocupam-se com comunicação. Uma meta para o PIB nominal praticamente assegura que os BCs teriam, por vezes, de assumir uma meta de inflação superior a 2%, e eles temem que haveria um custo para sua credibilidade.
Eles também se perguntam como cumprirão sua promessa de maior inflação em tempos, como o atual, quando o único instrumento de política imediato é a flexibilização quantitativa.
Pode ser particularmente difícil adotar essa meta agora, quando a economia está tão distante de sua trajetória pré-crise, o que implica muita inflação para cobrir a distância. Mas as justicativas para uma mudança são fortes e estão ficando cada vez mais fortes.
Ideias acadêmicas bem sucedidas geralmente levam tempo para ganhar aceitação entre os formuladores de políticas e, por isso, metas para o PIB nominal não estão prestes a ser implementadas. Mas fiquem de olho nos bancos centrais escandinavos. Eles são, muitas vezes, os primeiros a adotar novas ideias. (Tradução de Sergio Blum)