Ação do BC no câmbio tem pouco efeito

A queda do dólar na sexta-feira, mesmo após dois leilões de swap cambial reverso (que equivale à compra de moeda americana no mercado futuro) promovidos pelo Banco Central, sugere que pode ser hora de a autoridade monetária mudar de arma em sua cruzada contra a valorização do real excessiva, dizem agentes de mercado.

Mesmo mantendo a moeda americana dentro da banda informal – entre R$ 2 e R$ 2,05 -, o BC não conseguiu blindar totalmente o câmbio brasileiro da euforia externa com a nova rodada de estímulo econômico anunciada pelo Federal Reserve na semana passada. Os leilões, na prática, apenas evitaram uma queda maior do dólar, acompanhando a tendência de desvalorização da moeda americana no exterior. “Se não fossem os leilões, o dólar teria caído ainda mais”, disse Mario Paiva, analista de câmbio da BGC Liquidez.

Na sexta, o dólar fechou em baixa de 0,4%, cotado a R$ 2,011, ligeiramente acima da mínima do dia, de R$ 2,009. Mesmo com três intervenções na semana, a moeda americana acumulou baixa de 0,89% no período.

Ainda assim, a queda na demanda entre o primeiro e o segundo leilões realizados na sexta-feira sugere que está se aproximando a hora de o BC utilizar outra arma de seu arsenal de política monetária. “Todos esses leilões acabam saturando um pouco o mercado de swaps”, disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

No primeiro leilão de sexta, o BC vendeu 35,7 mil dos 36 mil contratos que ofereceu. No segundo, conseguiu colocar apenas 7,4 mil dos 70 mil ofertados. “Por enquanto ainda há demanda, mas em algum momento, isso vai ter de mudar. Logo, o BC terá de atuar no mercado físico, porque a tendência é começar a sobrar dólar físico”, disse Galhardo.

Além de segurarem a cotação da moeda americana, as intervenções do BC contribuem para inibir entradas mais volumosas de recursos, ao espantar investidores estrangeiros, mais avessos a qualquer tipo intervenção no câmbio. Mesmo assim, o mercado aposta em aumento do fluxo de capitais para o Brasil, independentemente da atuação do BC, na esteira da injeção de dinheiro do Fed.

A expansão no ritmo de entrada de recursos no país não será imediata e tende a se acelerar à medida que investidores estrangeiros desmontam as posições conservadoras e defensivas. Isso deve impulsionar a valorização do real e colocar pressão sobre o BC, que terá de atuar ainda mais caso queira defender o piso da banda informal.

Na BM&F, os juros mostraram o desconforto dos investidores com a combinação formada por recuperação econômica e pressões inflacionárias.

“A disposição do governo de prorrogar as isenções fiscais em setores com elevado impacto multiplicador e os resultados melhores da produção do PIB agropecuário a partir do segundo trimestre configuram um cenário de que já neste terceiro trimestre o crescimento dessazonalizado ficará na linha do potencial”, afirma o economista-chefe da Planner Prosper Investimentos, Eduardo Velho.

Os agentes pedem mais prêmio para assumir riscos nesse cenário de maior incerteza. A diferença entre o contrato DI de janeiro de 2014 e o DI de janeiro de 2014 saiu de 1,27 ponto percentual para 1,50 ponto percentual – a mais elevada desde o dia 5 de julho. A curva de juros na BM&F projeta agora queda de 0,09 ponto da taxa básica na reunião do Comitê de Política Monetária do próximo mês, ou seja, mais de 50% de chance de a taxa básica ficar estável em 7,5% ao ano – depois que o mercado chegou a precificar um corte integral de 0,25 ponto no início deste mês.


Brasil não está preparado para nova crise, diz BIS

O Estado de S. Paulo

O Brasil e a América Latina não estão tão preparados para resistir a uma nova crise mundial como há quatro anos, quando a quebra do Lehman Brothers jogou a economia do planeta em seu pior momento em 70 anos. A avaliação é do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que pede maior rigor fiscal e deixa claro que, ao contrário do cenário dos últimos anos, países emergentes já não conseguirão sustentar o crescimento da economia mundial diante da nova desaceleração.

Para a entidade, a situação da América Latina permitiu que, em 2008 e 2009, a crise mundial gerasse um impacto relativamente menor na região que nos anos 90. Mas, agora, uma nova recessão não seria apenas uma “marolinha” e a entidade alerta que não haveria o mesmo espaço fiscal para políticas anticíclicas.

Os fundamentos macroeconômicos teriam perdido força. “Particularmente preocupante é a deterioração da situação fiscal e do balanço de contas correntes”, avaliou. Em 2007, o Brasil tinha um superávit em suas contas correntes em relação ao PIB, de 0,11%. Já em 2011 o BIS alerta que existe um déficit de 2,11%.


Cresce exposição bancária em países emergentes

O Estado de S. Paulo

Bancos reduziram atividade em países em crise, no mesmo período que Brasil, China e Índia registraram expansão

A atual crise fez bancos reduzirem de forma drástica sua exposição em países do sul da Europa e nem a ação do Banco Central Europeu conseguiu reverter a situação. No mesmo período em que bancos estrangeiros cortaram suas atividades na Itália, Espanha, Grécia e Portugal em mais de US$ 1 trilhão, países emergentes como Brasil, China e Índia registraram uma expansão no desembarque desses bancos e investidores. O cenário animou ainda empresas, bancos e até o governo brasileiro e de outros mercados emergentes a emitir papéis e captar no mercado internacional.

Apenas no primeiro trimestre do ano, bancos estrangeiros reduziram sua exposição nas economias do sul da Europa no valor de US$ 92 bilhões, incluindo Espanha e Itália. Para o Banco de Compensações Internacionais (BIS), a ação do Banco Central Europeu de inundar a economia de liquidez não resolveu a crise nessa região. “De uma forma geral, as duas ações conduzidas pelo BCE em 2011 e 2012 não destravaram um novo financeiro externo a essas economias”, indicou.

Portugal, entre 2009 e 2012, viu bancos estrangeiros retirarem US$ 100 bilhões em atividades, empréstimos e créditos à economia local ou outros bancos. Só no primeiro trimestre de 2012, depois da injeção do BCE, a perda foi de US$ 12 bilhões. Na Espanha, a redução foi de US$ 400 bilhões, dos quais US$ 26 bilhões saíram depois da ação do BCE. Na Itália, a queda foi de US$ 397 bilhões. A Grécia perdeu US$ 27 bilhões no trimestre.

Nos emergentes, o cenário foi radicalmente diferente. Entre 2009 e março de 2012, a exposição de bancos estrangeiros no Brasil aumentou de US$ 165 bilhões para US$ 290 bilhões. A Índia ganhou US$ 70 bilhões e a China viu os US$ 170 bilhões de 2009 saltarem para US$ 530 bilhões.

O cenário também favoreceu a captação externa por parte de governos de países emergentes. No primeiro trimestre do ano, essas autoridades emitiram US$ 22 bilhões em papéis de suas dívidas soberanas. Em meados do ano, o volume adicional foi de US$ 23 bilhões. Desde 2010, a expansão no volume de emissões de governos emergentes foi de US$ 94 bilhões, duas vezes superior aos números de países ricos. O crescimento de emissões soberanas e de empresas de países emergentes contrasta com a situação geral, já que elas sofreram queda no segundo trimestre no mundo.


PIB do petróleo deverá dobrar até 2020

O Globo

A perspectiva de um novo patamar na produção de petróleo e gás no Brasil, principalmente por causa do pré-sal, está impulsionando o setor de tal forma que sua participação atual de 12% no Produto Interno Bruto (PIB) nacional pode dobrar nos próximos oito anos, chegando a 20%, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). Estimativas endossadas pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), que prevê uma geração de 2,5 milhões de empregos no setor nesse período e US$ 400 bilhões em novas demandas por equipamentos e serviços.

Essa indústria deve receber um total de US$ 266 bilhões em investimentos entre este ano e 2016, segundo a previsão do IBP. Tamanha prosperidade vem abrindo caminho para a expansão das encomendas em diversos setores da cadeia de suprimentos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), este ano, a produção industrial do setor cresceu 10%, as importações ultrapassaram os 30%, e as empresas vão contar com cerca de 15% dos US$ 45 bilhões de investimentos da Petrobras destinados à cadeia produtiva.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, acredita que o setor vai mudar o panorama industrial brasileiro.

– A cadeia de fornecedores para a área de exploração, refino e petroquímica vai crescer de forma vigorosa – disse Coutinho no início deste mês, durante a apresentação dos resultados do BNDES até agosto.

Para fomentar a indústria nacional, o Ministério de Minas e Energia coordena com a Petrobras o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp) para capacitação de mão de obra e monitoramento da evolução do conteúdo local – medida que estabelece para as empresas metas de aquisição de bens e serviços nacionais.

Setor naval do Rio movimenta R$ 15 bilhões

– Desde 2006, o Prominp qualificou 90 mil profissionais e a participação da indústria nacional nos investimentos do setor evoluiu de 57% em 2003 para 76% no fim de 2011 – afirma Paulo Sérgio Rodrigues Alonso, coordenador- executivo do Prominp.

É fato que o conteúdo local já mudou o cenário brasileiro, com sinais de estímulos até mesmo em outros setores. Neste ano, o avanço do segmento offshore já gerou 179 encomendas na construção naval, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshores (Sinaval).

O Estado do Rio é o maior beneficiado, principalmente por ser responsável por 75,5% da produção nacional de petróleo e gás, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Não é à toa que a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) prevê uma movimentação de quase R$ 15,4 bilhões até dezembro de 2014 no setor naval fluminense, o que deve gerar um aumento de mais de 60% na geração de empregos.

O movimento já se reflete nos planejamentos de empresários do setor. Um deles é Gisela MacLaren, dona do estaleiro em Niterói que tem o mesmo sobrenome de sua família e foi fundado, em 1938, por seu avô.

– Nos próximos dois anos, a MacLaren Oil vai implementar um programa de modernização e ampliação em suas instalações industriais – revela a empresária sobre a obra, estimada em R$ 30 milhões.

Com tantas apostas no potencial do mercado brasileiro, há desafios cada vez maiores. O coordenador-executivo do Prominp diz que o crescimento exige um grande esforço para qualificação de profissionais e de bens e serviços. Ele alerta que o país já está no limite para conseguir atender completamente à demanda do setor.

A urgência no avanço tecnológico nacional parece ser o principal consenso entre pesquisadores da área. O diretor-geral da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, é um dos principais entusiastas do argumento.

– Agora, com o óleo e o gás, o Brasil tem a oportunidade de tirar o atraso tecnológico, investir nisso e formar bons engenheiros. Isso tudo é uma esperança – afirma Pinguelli.

Já o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, acredita que a indústria da Noruega deve servir de exemplo para o Brasil crescer.

– Precisamos seguir o modelo norueguês, que fez com que todo o país, incluindo a indústria, se desenvolvesse com o petróleo – diz.


Com criação de mini-BNDES, países da UE retomam política industrial

Valor Econômico

Reino Unido e França estão criando bancos estatais de fomento, espécie de mini-BNDES, para ajudar suas empresas a se financiar diante da forte retração do crédito por parte de bancos comerciais.

A tendência de intervenção do Estado cresce empurrada pela crise e pela recessão que ameaçam quebrar muitas companhias. E coloca bancos públicos no centro de novas políticas industriais também para enfrentar a concorrência maior de economias emergentes.

“Existe uma falha do mercado que justifica a intervenção do Estado através de bancos públicos, e isso está no coração de novas políticas industriais na Europa”, disse ao Valor Christian de Boissieu, presidente do Comitê de Analise Econômica (CAE), que auxilia o premiê francês, e professor na Sorbonne.

No Reino Unido, o governo conservador de David Cameron ultima os detalhes do banco público. Ao contrário de 20 anos atrás, os britânicos não tem mais dificuldades de falar de política industrial. Um dos focos será em dar fôlego a pequenas e médias empresas e a projetos de economia verde. O crédito virá também em parceria com bancos privados menores.

O governo socialista na França estima que o banco público, a ser anunciado em breve, é uma urgência porque os bancos privados “não têm interesse suficiente na economia real, preferindo buscar margem maior no exterior”, segundo o ministro da Recuperação Produtiva, Arnaud Montebourg.

O bancos francês vai coordenar intervenções públicas de financiamento para pequenas e médias empresas, infra-estrutura e para municípios e regiões, e também para companhias estratégicas, como de defesa nacional ou setor automotivo. O mini-BNDES francês terá € 30 bilhoes de capital inicial, o que não é muito se comparado ao crédito bancário, mas serve para alavancar bem mais socorro para empresas em dificuldades.

A Grécia, à beira do abismo, fez acordo de assistência técnica com o banco estatal alemão KfW e o Banco Europeu de Investimentos para criar seu banco de investimento produtivo de longo prazo.

Até os anos 1990, quase todos os países da Europa tinham um banco público para apoiar o investimento produtivo. Seguiu-se uma onda geral de privatizações, até por causa do clientelismo político que provocou recapitalizações enormes nesses bancos. Em meados dos anos 2000, só restavam o KfW. da Alemanha, que hoje tem ativos de € 516 bilhões, o Cassa Depositi e Prestiti da Itália (70% estatal), e a Caisse de Dépots na França, que financia moradia popular.

Agora, diz um alto funcionário europeu, em Bruxelas, “estamos passando de um paradigma de banco público que não servia a nada a um paradigma de que eles são extremamente úteis se os bancos comerciais não fazem o seu trabalho”. Para ele, “acabou a ingenuidade”, quando os governos constatam que socorreram bancos privados com centenas de bilhões de euros, sem necessariamente ter o controle sobre eles e sem mudar sua orientação de crédito.

Mas, na visão de Christian de Boissieu, presidente do orgão que auxilia o primeiro-ministro francês, a intervenção do Estado agora não significa voltar aos anos 80. Não há interesse em reestatização ou no Estado produtor. O Estado entra como indutor por meio de financiamento, de política fiscal.

“Há um retorno da política industrial, devido à crise, aos inconvenientes da desindustrialização e ao avanço de grandes economias emergentes”, diz. “Na França, Portugal, Espanha, Grécia, o objetivo é melhorar a competitividade, reduzir o deslocamento de empresas, atrair investimento externo, e não elevar protecionismo.”

Na avaliação do CAE, os bancos privados vão continuar emprestando menos do que antes da crise, por causa do Acordo de Basiléia III de capital próprio. Vão se retrair tambem porque a recessão em vários países da Europa aumenta o risco de falência de empresas.

Há ainda o sentimento na Europa de que emergentes como China e Índia estão reduzindo sua diferença com os países ricos num ritmo mais rápido que o previsto. “Não é certo que chineses e indianos nos alcançarão logo, mas a concorrência será cada vez mais acirrada e vai se jogar em tecnologia e educação”, diz Boissieu.

“Estamos impressionados pelo ritmo dos asiáticos, e também atentos ao Brasil, Indonésia e outros. Se a Europa quer continuar na primeira divisão face aos EUA e os grandes emergentes, precisa fazer o que está começando agora, de o Estado ajudar na competitividade, inovação, pesquisa”, acrescenta.

Para ele, a criação de megaempresas setoriais não é mais tarefa nacional, e sim de nível europeu. Mas essas empresas precisam menos da ajuda do Estado, pois têm acesso aos mercados de crédito.


AL está mais vulnerável, diz BIS

Valor Econômico

A vulnerabilidade das economias da América Latina a choques financeiros externos voltou a aumentar recentemente, de acordo com um estudo publicado pelo Banco Internacional de Compensações (BIS) no seu relatório trimestral sobre a atividade bancária global. Os fundamentos macroeconômicos na região, embora ainda fortes, se deterioraram desde 2007, início da crise global, segundo o estudo, que considera “particularmente preocupante” a deterioração da situação fiscal e a balança de contas correntes.

O banco dos bancos centrais diz que o documento reflete a opinião de seus autores, os economistas Carlos Montoro, do escritório do BIS no México, e Liliane Rojas-Suarez, do Centro para Desenvolvimento Mundial na capital mexicana, e não necessariamente a da instituição.

Para os autores, a recente crise financeira perturbou o crescimento do crédito na América Latina em menos medida do que nas precedentes. Exemplificam que o Brasil, que sofreu corte na expansão do crédito em 34%, precisou de apenas quatro trimestres para recuperar metade da queda, comparado a 12 trimestres na crise de 1998.

Para Montoro e Suarez, a América Latina reagiu melhor que outros emergentes graças à maior solidez macroeconômica antes da crise, que permitiu adotar políticas expansivas mais do que em crises anteriores como da Ásia e Rússia.

“Infelizmente, a melhora nos indicadores de vulnerabilidade que ocorreram entre 1997 e 2007 não continuou nos anos subsequentes”, dizem os autores. Concluem que os países da região estão menos capazes de suportar um choque externo do que em 2007. Apontam aumento da dívida externa, desequilíbrios das moedas, deterioração das balanças de pagamentos desde o começo da atual crise. Estimam que somente a posição externa líquida (dívida de curto prazo em relação a reservas internacionais brutas) melhorou graças à acumulação de reservas.

O Brasil e a Argentina têm a maior deterioração nas contas correntes. No caso do Brasil, passou de saldo de 0,11% do PIB em 2007 para déficit de 2,11% em 2011. O país destaca-se também na expansão do crédito em relação ao PIB superior à sua tendência de longo prazo. O chamado “gap de crédito” passou de 10,82% em 2007 para 11,81% em 2011, ou seja, o crédito cresceu mais que o PIB nessa proporção nos últimos três anos. O BIS avalia que descompasso entre crédito e PIB superior a 6 pontos percentuais é sinal de estresse financeiro no futuro.

Sobre espaço para implementar medidas contracíclicas, os autores notam que amplos déficits fiscais indicam menos capacidade de usar essas políticas. E taxas de juros menores do que em setembro de 2008 também indicam menos espaço na área monetária.


Governo repete fórmula e amplia gasto

O Estado de S. Paulo

O governo está repetindo em 2012 a estratégia fiscal de 2008 e 2009, quando a desaceleração da economia foi combatida basicamente com aumento de gastos correntes, e não de investimentos públicos. Com isso, pode haver, assim como depois da crise global, um aumento permanente da despesa primária (exclui juros) como proporção do PIB. A análise está em recente estudo do economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em 2009, as despesas primárias aumentaram fortemente, dando um salto de R$ 74,3 bilhões, ou 1,24 ponto porcentual do PIB, passando de 16,42% para 17,66% do PIB. Daquele total, a expansão do investimento público foi de apenas R$ 5,9 bilhões, o que correspondeu a somente 8% da expansão do gasto primário.

Já em 2012, de janeiro a julho, a despesa primária cresceu R$ 48,2 bilhões. Deste total, a alta do investimento foi de apenas R$ 8,8 bilhões, ou 18% do aumento de gasto.

Esse cálculo, porém, inclui os subsídios do Programa Minha Casa Minha Vida, que até 2011 eram computados como gasto de custeio. Se a contabilidade fosse idêntica à de 2008 e 2009, o investimento público federal de janeiro a julho de 2012 teria sido de apenas R$ 3,8 bilhões, ou os mesmos 8% da expansão dos gastos primários registrados no pior ano da crise global.

“Isto não é uma verdadeira política anticíclica, porque o Estado sai permanentemente maior da sua implementação”, critica Almeida. Política anticíclica é a expansão de gastos públicos em momentos de desaceleração econômica, como forma de estimular a demanda.

Para o economista, a trajetória da despesa pública no Brasil normalmente leva em conta projeções robustas de crescimento do PIB. Quando estas não ocorrem, e a economia desacelera, a despesa aumenta como proporção do PIB e o superávit primário tende a cair. Entre julho de 2011 e de 2012, o superávit primário do governo federal acumulado em 12 meses recuou de 2,98% do PIB para 1,83%.

Embora essa retração do primário também seja influenciada pelo lado da receita (inclusive pela série de isenções tributárias concedidas), o impulso fiscal inclui a alta da despesa primária. Esta expansão, por sua vez, por ser apenas em pequena parte constituída de investimentos, que são mais fáceis de retrair depois que a economia se recupera, leva a uma ampliação permanente dos gastos públicos.

Com a rigidez da maior parte dos gastos correntes, ligados a salários, aposentadorias, transferências e despesas de alta relevância social, como em saúde e educação, a expansão em relação ao PIB em anos de desaceleração torna-se quase irreversível quando a economia volta a crescer. Contribui para isso o fato de que boa parte das aposentadorias e transferências está vinculada ao salário mínimo, submetido há muito tempo à política de aumentos reais, acima da inflação. Além disso, as despesas de saúde estão ligadas à expansão do PIB nominal, e as de educação têm um nível mínimo de 18% da arrecadação federal.

Assim, o salto de 1,24 ponto porcentual do PIB da despesa primária em 2009 (para 17,66%) praticamente não foi dissipado em 2010 e 2011. Ao final de 2010, mesmo com o crescimento excepcional do PIB, de 7,5%, a despesa primária recuou para só 17,4% do PIB, um ponto porcentual acima da registrada em 2008. Já em 2011, quando a economia cresceu 2,7%, a despesa primária voltou a subir como proporção do PIB, para 17,5%.

“Isso ocorre porque, em anos de baixo crescimento, não é o crescimento do investimento público que puxa a expansão da despesa primária no Brasil, mas sim gastos permanentes que levam anos de maior economia fiscal ou de maior crescimento para voltar à situação pré-crise”, escreveu Almeida em seu estudo.

Política clássica. Na sua visão, diante da forte dificuldade em aumentar o investimento público, o governo tenta fazer a política anticíclica clássica via empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar investimento de empresas. O problema é que essa expansão do crédito do banco de fomento é sustentada por empréstimos do Tesouro ao BNDES, que vão atingir R$ 360 bilhões no final de 2012.

Categoria