Brasil tem o cartão mais caro do mundo

Apesar da queda dos juros básicos da economia – que estão no seu menor patamar histórico – os brasileiros ainda pagam a maior taxa média no cartão de crédito. Levantamento em nove países – Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, México, EUA e Reino Unido, além do Brasil – mostrou que o país cobra 238,30% ao ano. O número é mais de quatro vezes o registrado pelo Peru, o segundo colocado, com taxa de 55%, muito próxima aos 54,24% do Chile.

A Argentina é o quarto país com a maior taxa, de 50%, seguido por México (33,8%), Venezuela (33%) e Colômbia (29,23%). Nos EUA e no Reino Unido, a taxa é muito inferior, de 16,89% e 18,7%, respectivamente. O estudo incluiu dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), da Proteste e dos sites Index Credit Cards e Money Facts, dos EUA e Reino Unido, respectivamente.

– É um absurdo a diferença de taxa de juros. Não tem justificativa, nem mesmo a inadimplência – diz a economista da Proteste Hessia Costella.

Inadimplência e juros: círculo vicioso

Nem a redução da taxa básica de juros da economia teve impacto nos juros médios do cartão de crédito, que se mantêm inalterados em 238,30% anuais desde fevereiro de 2010.

– Existe um círculo vicioso. A inadimplência é alta porque os juros são elevados. E os juros elevados acabam aumentando a inadimplência. Se os juros fossem menores, a inadimplência cairia – diz o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

– A taxa de 238,30% ao ano é elevadíssima, para não dizer absurda ou irreal – afirma, por sua vez, o educador financeiro Mauro Calil.

Segundo o Banco Central (BC), a inadimplência no cartão de crédito chegava a 28,10% em julho ( atrasos com mais de 90 dias), contra média de 7,9% no crédito para a pessoa física. O volume movimentado no rotativo em julho, diz o BC, foi de R$ 37 bilhões. Para Hessia, quem entra no rotativo dificilmente sai porque as taxas são muito altas.

Uma dívida no cartão de crédito, diz Oliveira, leva seis meses e meio para dobrar de valor, a uma taxa média de 10,69% por mês (238,30% por ano). Os números são mais expressivos quando se olha além da média. Segundo a Anefac, a taxa varia entre 26,82% e 628,76% ao ano, ou 2% a 18% ao mês.

– O cartão de crédito é o principal meio de pagamento quando se trata de inadimplência – afirma Mauro Calil.

Além do juro alto, o tema desperta polêmica devido a algumas características específicas do mercado brasileiro de cartões. Aqui, todos têm a função de crédito rotativo. Quando o consumidor opta por pagar o valor mínimo da fatura, já faz uso desse financiamento, e inicia seu processo de refinanciamento. Lá fora, o rotativo não é disponível em todas as opções do mercado.

Empresas: rotativo representa só 2%

O parcelamento sem juros – praticamente uma exclusividade brasileira – também pesa sobre os custos do setor, segundo seus representantes. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) diz que 50% do faturamento dos cartões no Brasil vêm do parcelamento sem juros.

Outra diferença é a data em que o juro começa a incidir sobre as compras. No Brasil, isso só ocorre quando a pessoa atrasa o pagamento ou opta por pagar o valor mínimo. Ou seja, quem está com a fatura em dia pode ter até 40 dias de financiamento sem custo.

– Lá fora, não existe operação sem juros. O pagamento do juro ocorre a partir do dia seguinte ao da compra, enquanto aqui se cobra o juro apenas a partir do dia de vencimento da fatura. Além disso, temos o parcelado sem juros. Tudo isso tem custo – defende o vice-presidente comercial da Mastercard Brasil e Cone Sul, João Pedro Paro.

Segundo a Abecs, no exterior o saldo do rotativo representa 80% das compras. No Brasil, 70% do saldo a receber não têm juros e o rotativo representa menos de 2% do volume total.

Atendente de uma padaria da Vila Olímpia, em São Paulo, Vital Abreu Neto diz, orgulhoso, que nunca se endividou no cartão de crédito e revela o segredo: nunca pagar o valor mínimo.

– Se você paga o mínimo, a dívida dobra – diz ele.

Mastercard e Visa, as principais bandeiras globais, argumentam que são os emissores dos cartões (bancos, redes varejistas e outros) que definem as taxas de juros. Isso explica, segundo elas, o fato de que a mesma bandeira ter taxas de juros díspares em diferentes países. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) diz que a Abecs é a entidade indicada para tratar do assunto.


Carros econômicos vão pagar menos IPI

O Estado de S. Paulo

Governo e montadoras conseguiram fechar um acordo para regulamentar o novo regime automotivo que entra em vigor em 2013. O anúncio deve ocorrer hoje e a publicação do decreto com as novas regras amanhã. As negociações foram coordenadas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.

As empresas concordaram em fazer uma redução de 12% no consumo atual de combustível, medido em megajoules por quilômetro. Essa meta terá de ser atingida até 2017, mas as montadoras que anteciparem os prazos ganharão bônus para reduzir a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

O IPI está subindo em 30 pontos porcentuais para empresas importadoras e para aquelas instaladas no País que não atenderem aos requisitos do novo regime automotivo.

As montadoras poderão ter descontos dessa alta do IPI principalmente se atingirem as metas de redução de consumo de combustível e as de utilização de componentes nacionais.

Para calcular o valor do desconto com o uso de peças nacionais, o governo criou um índice. Esse índice vai retratar a porcentagem da produção que é coberta por peças nacionais e servirá como um multiplicador para calcular qual o desconto a empresa terá direito sobre o imposto. Quanto maior o resultado da multiplicação, menor o imposto a ser pago.

O multiplicador para cálculo do uso de peças nacionais e que indicará o tamanho da queda de IPI para veículos leves começa em 1,3, mas vai sendo reduzido em 0,1 ponto porcentual por ano até atingir o índice 1 em 2017.

A redução do multiplicador é um modo de forçar o uso crescente de peças nacionais. Para obter o mesmo desconto de imposto, as montadoras terão de gastar mais com peças nacionais.

Caminhões. Para o setor de caminhões, haverá uma solução diferenciada por segmento. Foi encontrada uma fórmula que permite o controle de peças importadas nas empresas que só produzem caminhões pesados e para aquelas que fabricam caminhões leves ou os dois tipos.

Esse segmento deverá ter um redutor que, na prática, permite um porcentual maior de importações de peças e partes do que para veículos leves.

A proposta do governo era dividir as regras do regime automotivo em caminhões mais pesados e mais leves. No entanto, como o mercado de caminhões tem uma dispersão muito grande em termos de valor agregado e de nacionalização, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) argumentou que é difícil fazer esse controle na fábrica porque algumas peças e equipamentos fazem parte de todos os tipos de veículos. O setor de caminhões é um dos que estão reagindo mais lentamente aos incentivos.

Cotas. Outro ponto importante da regulamentação é a definição de uma cota de importação para as montadoras sem o aumento de 30 pontos porcentuais de IPI. A cota geral deve ficar em 4,8 mil veículos por ano, mas cada empresa terá um bônus extra com base na média das exportações dos últimos quatro anos.

O regime automotivo – que vai vigorar entre 2013 e 2017 – prevê que, além do uso de componentes nacionais, ganharão uma redução do IPI as empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento, que cumprirem um programa de etiquetagem do Inmetro (que mede a eficiência energética dos automóveis), e que realizarem atividades fabris e de infraestrutura de engenharia.


Lobbies atacam MP do setor elétrico

Valor Econômico

A Medida Provisória 579, que reduz as tarifas de energia elétrica e permite a prorrogação das concessões do setor, recebeu 431 emendas parlamentares e já se tornou alvo de intenso lobby no Congresso. As atuais concessionárias buscam suavizar as regras para renovar os contratos de usinas hidrelétricas e de linhas de transmissão, enquanto a indústria faz uma ofensiva para maximizar a queda de preços no mercado livre, que atende aos grandes consumidores empresariais.

Em meio às discussões, fracassou ontem a primeira tentativa de instalar uma comissão mista para analisar a MP, por falta de quórum. Os integrantes da comissão já foram designados e o PMDB reivindica para si a relatoria, com o senador Renan Calheiros (AL) despontando como favorito. A alta quantidade de emendas – só superada recentemente pelas apresentadas à medida provisória do Código Florestal que substitui os vetos da presidente Dilma Rousseff ao projeto original – pode mexer substancialmente nas regras recém-anunciadas pelo governo para renovar as concessões com vencimento entre 2015 e 2017.

A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), que reúne geradoras como a mineira Cemig e a paulista Cesp, pede a ampliação do prazo – de 30 para 90 dias após a publicação da MP – para a manifestação formal de interesse das empresas na prorrogação de seus contratos. “Pode não parecer, mas é um ponto importante. O prazo de 15 de outubro é apertado”, diz o presidente da Apine, Luiz Fernando Vianna.

A entidade também busca retirar usinas hidrelétricas como São Simão (Cemig) e Três Irmãos (Cesp) das regras impostas pela MP 579. Como suas concessões nunca foram prorrogadas, elas ainda têm direito a uma extensão do contrato atual, por até 20 anos. Mas “deram o azar” de estar com pedidos de renovação tramitando na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) justamente agora e acabaram sendo igualmente afetadas pelas novas regras. Se nada mudar, essas usinas serão remuneradas apenas pelos custos de operação e de manutenção, com tarifa bem inferior à praticada hoje em dia.

Para o deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), integrante da comissão mista que analisará a MP das concessões de energia elétrica, situações como essa precisam ser discutidas. “Tem que haver cuidado para que o investidor se sinta confortável. Ainda há perplexidade com as medidas”, diz Imbassahy, ex-presidente da Eletrobras, entre 1995 e 1996.

O parlamentar tucano apresentou 31 emendas, eliminando restrições ao mercado livre de energia e dando mais prazo para os pedidos de renovação dos contratos pelas atuais concessionárias, entre outras propostas. “A iniciativa do governo ao reduzir as tarifas, de forma geral, é louvável. Mas a forma como isso foi feito ainda gera incertezas”, afirma.

O senador Armando Monteiro Neto, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que as indústrias eletrointensivas merecem atenção especial e encaminhou quatro emendas à MP 579. Ele argumenta que há espaço para reduzir mais ainda as contas de luz, com reduções de tributos, além da retirada ou diminuição de outros encargos setoriais. “A minha linha é garantir que esse processo de desoneração possa produzir efeitos na cadeia produtiva.”

O presidente da Abrace (associação dos grandes consumidores industriais de energia), Paulo Pedrosa, foi pessoalmente ao Congresso em busca de apoio a ajustes na MP. Uma de suas prioridades é tirar algumas amarras do mercado livre, como a permissão para vender “sobras” da energia contratada pelas empresas, e estender para a indústria todos os benefícios da redução de tarifas. A Abrace calcula, com base em estimativas de seus 46 associados, que a eletricidade paga por elas cairá entre 9% e 16%.

Esse percentual é inferior à queda de até 28% divulgada pelo governo. Isso ocorre porque a energia vendida no mercado livre, onde atua a maioria das indústrias, receberá plenamente os efeitos da retirada de encargos, mas os ganhos propiciados pela redução de tarifas das usinas já amortizadas se restringirá ao mercado cativo – das distribuidoras -, que atende às residências e ao pequeno comércio.

Pedrosa garante que as sugestões da Abrace, encaminhadas a vários parlamentares, não colocam em risco a essência das regras definidas pelo governo. “As nossas propostas reafirmam os conceitos da MP. São contribuições de aperfeiçoamento”, diz.

O deputado Eduardo Sciarra (PSD-PR), que também faz parte da comissão mista, apresentou 20 emendas. Uma delas tenta incluir, na MP, uma “oportunidade extra” para a redução das tarifas de energia. Sciarra levantou dados sobre o orçamento da Aneel e chegou à conclusão de que quase R$ 2 bilhões foram contingenciados. Como a fonte de financiamento da agência é uma taxa de fiscalização cobrada nas contas de luz e que representa cerca de 0,25% do que é pago por todos os consumidores, o deputado quer que o encargo deixe de ser recolhido enquanto toda a receita do ano anterior não tiver sido efetivamente aplicada. O impacto estimado por ele é de redução adicional de até R$ 0,55 por MWh.

Embora o nome de Armando Monteiro Neto tenha surgido como uma possibilidade para a relatoria da MP, a maior aposta dos parlamentares é que ela fique com Renan Calheiros, numa estratégia do governo para evitar sobressaltos na tramitação. Renan articula sua volta à Presidência do Senado, em 2013, e espera o aval do Palácio do Planalto.


México quer ficar mais perto do Brasil

Valor Econômico

O presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, antecipou ontem um dos temas que tratará na reunião que terá hoje com a presidente Dilma Rousseff. No encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ele disse que está interessado em alcançar uma maior integração com o Brasil, a começar pelas relações comerciais bilaterais.

Peña Nieto destacou a importância das economias dos dois países e a oportunidade que têm agora de se complementarem. Disse ainda que pretende encontrar os pontos em comum dos setores econômicos de ambos países e se comprometeu em ser um “promotor constante da integração comercial”. Outro plano é modernizar a estatal petrolífera Pemex, citando os modelos brasileiro e colombiano, que facilitam uma maior participação do setor privado.


Para Coutinho, país precisa zelar por real menos apreciado

Valor Econômico

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu ontem a manutenção do real desvalorizado nos níveis atuais a fim de ajudar a estimular a economia brasileira. “Precisamos zelar pela manutenção de um câmbio menos apreciado”, disse durante a abertura do Fórum Nacional – Sessão Especial, do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), na sede do banco. José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, convidado do evento, fez críticas à forma como o governo conduz o processo de redução das tarifas de energia. E Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que “o Brasil precisa de ações voltadas para as pequenas empresas”.

Coutinho, que fez palestra no painel “Competitividade da indústria e aumento dos investimentos” aponta o câmbio como um dos principais instrumentos para garantir a competitividade da indústria brasileira. A manifestação de Coutinho a favor do real desvalorizado ocorre na esteira das intervenções do Banco Central depois das medidas de afrouxamento monetário que vêm sendo baixadas pelo Fed (Banco Central americano), nos Estados Unidos. “Acho que não é saudável descontar na competitividade do Brasil as distorções criadas fora do país. Numa visão de médio e longo prazo, devemos priorizar o nosso desenvolvimento”, disse.

Mesmo que ocorra uma valorização das commodities em função da decisão do Fed, algo que o presidente do BNDES considera “incerto”, para ele o Brasil tem condições de enfrentar essa situação com aumento de produtividade e câmbio menos apreciado.

Coutinho fez considerações também sobre o crédito. “A redução dos juros provocará uma mudança na capacidade de crédito do país. Vai ainda acelerar o sistema positivamente, criar a oportunidade de transformar a poupança em crédito e também transformar o mercado de capitais”. Para ele, o país precisa manter “bases sustentáveis de crescimento”, disse, referindo-se a uma taxa Selic em níveis baixos e um real menos apreciado em relação ao dólar.

O presidente do BNDES elogiou as medidas recentes tomadas pelo governo para reativar a economia, como a redução das tarifas de energia, o programa de concessões em logística e o anúncio de novos leilões de blocos de petróleo pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Já o economista José Roberto Mendonça de Barros, que falou no painel “Visão de Brasil/superação da crise e criação de oportunidades”, criticou a forma como o governo conduz o processo de redução das tarifas de energia elétrica. “O modelo cria instabilidade e incerteza jurídica. A impressão que dá é que o Brasil está mais comprometido em derrubar a inflação do que com outras coisas”, disse Mendonça, referindo ao efeito imediato que a redução das tarifas terá nos índices de preço ao consumidor.

Mendonça de Barros afirmou que “faltou transparência” nas intenções do governo em negociar a prorrogação das concessões nas áreas de geração, transmissão e distribuição. Ele criticou ainda o prazo de 30 dias que o governo deu às empresas para se manifestarem sobre os novos termos do modelo de concessão. “Foi uma coisa feita de forma atropelada. Isto pode levar insegurança jurídica aos investidores privados e externos.”

Marcelo Neri, participante do painel “Brasil, país de classe média”, afirmou que “o país precisa de agenda política voltada para os pequenos produtores”. Segundo ele, o país tem programas para grandes empresas, mas é preciso aumentar o foco nas pequenas. “Precisamos trazer inovação desde baixo. A agenda do país para as empresas é boa, mas não está completa.” Sobre as grandes empresas, disse que elas têm um papel importante na criação de empregos. “O Brasil é país de grandes produtores, de grandes empresas, que estão ajudando a reduzir as desigualdades, com aumento da renda e do emprego”, afirmou.


BC do Japão afrouxa política monetária em meio à freada global

O Estado de S. Paulo

O Banco do Japão, banco central do país, afrouxou ontem a política monetária ao aumentar seu programa de compra de ativos, ao passo que as perspectivas de recuperação de curto prazo da terceira maior economia do mundo pioraram por causa do enfraquecimento das exportações e da prolongada desaceleração do crescimento chinês.

A decisão veio na sequência do terceiro afrouxamento quantitativo (QE3) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e em meio a temores de que uma disputa territorial com a China, o maior parceiro comercial do Japão, vai prejudicar ainda mais as exportações.

Mas o presidente do banco central japonês, Masaaki Shirakawa, destacou que a ação foi incentivada por recentes dados decepcionantes e não pela ação do Fed, enquanto protestos anti-Japão na China tiveram participação na decisão de afrouxar a política.

“As economias internacionais estão desacelerando mais do que prevíamos, e é por isso que diminuímos a perspectiva econômica do Japão”, afirmou Shirakawa em entrevista após a decisão. “A recuperação do Japão pode ser atrasada em aproximadamente um semestre.”

O BC japonês aumentou o programa de compra de ativos e de empréstimos, atualmente sua principal ferramenta de afrouxamento monetário, em 10 trilhões de ienes (US$ 127 bilhões) – o dobro da quantia habitual – para 80 trilhões de ienes, com o avanço destinado a compras de títulos governamentais e títulos do Tesouro com desconto.

Um quinto da economia. O estímulo total é agora equivalente a quase um quinto da economia japonesa. O BC também projetou recuperação econômica moderada à frente. “Os indicadores econômicos do Japão têm se mostrado fracos, portanto a ação do BC faz sentido por essa perspectiva”, afirmou o economista sênior do Sumitomo Mitsui Asset Management em Tóquio, Hiroaki Muto. “Shirakawa tem enviado mensagens de que o BC nem sempre faz o que o mercado espera, mas eu acho que o BC ficou um pouco surpreso com o lançamento do QE3 do Fed.”

Uma sequência recente de dados fracos, incluindo uma queda nas exportações e na produção industrial, deixou as autoridades do BC japonês menos convencidas de que a demanda global vai se recuperar em breve para ajudar na recuperação da economia dependente de exportações.


BNDES: logística é ‘calcanhar de aquiles’ do país

O Globo

Os problemas de logística são o “calcanhar de aquiles” da competitividade brasileira, afirmou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ontem, durante a abertura do Fórum Nacional – Novos Caminhos do Desenvolvimento, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, do ex-ministro João Paulo Reis Veloso. Ele afirmou que a elaboração de grandes projetos de investimento de infraestrutura, combinada com os pacotes de concessão de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, são hoje o grande desafio do país.

– O Brasil tem muitas oportunidades relevantes de investimentos – disse.

O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, alertou, porém, que as diversas mudanças de regras na concessão de serviços públicos podem afastar o investidor privado. Segundo ele, isso teria ocorrido nas novas regras para o setor elétrico:

– Foi uma surpresa total para o setor elétrico. As empresas precisam tomar a decisão sobre partir para a renovação da concessão ou para sua devolução antes de saber qual é o valor de reembolso. Tudo tem sido muito em cima da hora. O mínimo de que precisamos é clareza de regras. Chega a deixar a impressão que baixar a inflação pesou mais no timing.


Extração de gás de xisto gera dúvidas ambientais

Valor Econômico

As reservas de gás de xisto despontam como alternativa energética mais barata e abundante. O xisto é uma rocha sedimentar rica em material orgânico, encontrada em muitas partes do mundo, e que começou a ser explorado há pouco mais de uma década, quando empresas americanas desenvolveram novas técnicas de fraturar a rocha (fracking) e perfurá-la horizontalmente. Essa técnica utiliza uma mistura de água, areia e produtos químicos para penetrar as camadas de xisto e extrair gás natural dos poros das rochas.

Mas é justamente o sistema de exploração que tem levantado questionamentos por parte dos ambientalistas. O gás de xisto lança menos gases de efeito estufa na atmosfera quando comparado com petróleo ou carvão, porém existem dúvidas sobre os efeitos de sua exploração. O problema é que não se tem muitas informações sobre os produtos químicos usados e quais os efeitos que, ao longo do tempo, o seu acumulo no sub solo pode causar ao ambiente.

Segundo estudo da KPMG realizado no ano passado, o Brasil tem reservas de 226 trilhões de pés cúbicos (TCFs) de gás de xisto e ocupa a décima posição numa pesquisa com doze países. As maiores reservas então na China (1.275 de TCFs) e os Estados Unidos (862 trilhões de (TCFs).

Cálculo preliminar da Agência Nacional do Petróleo (ANP) indica que o volume recuperável de gás não-convencional em três bacias sedimentares terrestres – Parnaíba, Parecis e Recôncavo – poderia chegar a 200 trilhões de TCFs se fossem repetidas as mesmas condições encontradas no Texas.

A Shell vai perfurar o primeiro poço exploratório na bacia do São Francisco (MG) no próximo ano, disse o presidente da multinacional no Brasil, André Araújo. A petroleira possui cinco blocos de exploração na bacia, com forte potencial para descobertas de gás natural.


IBGE vai mudar metodologia usada para medir PIB

O Globo

O cálculo das Contas Nacionais vai mudar. A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, disse ontem que as alterações na metodologia estão previstas para serem divulgadas entre o fim de 2014 e início de 2015. Haverá mudança no tratamento de ativos, instrumentos financeiros e dados de empresas multiterritoriais – no caso do Brasil, a hidrelétrica de Itaipu, por exemplo.

Em investimento, que cai há quatro trimestres sobre o trimestre anterior, serão incorporados gastos com software, pesquisa e desenvolvimento, além de gastos militares e com banco de dados. A informação foi publicada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

Impacto ainda não calculado

Há pressão no governo para que o investimento aumente no Brasil diante do fraco desempenho da economia. No primeiro semestre, o crescimento foi de apenas 0,6%, o menor desde a recessão de 2009. A parcela do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) destinada a aumentar a capacidade produtiva do país, a taxa de investimento, estava em 17,9% no terceiro trimestre, menor que a do mesmo período de 2011, de 18,8%.

A mudança agregaria valor à taxa, mas o IBGE não faz cálculos sobre esse impacto. Wasmália taxa de “especulação” qualquer conta nesse sentido:

– Mudanças nos pesos dos setores ou na variação são meras especulações. Ainda são desconhecidas, mas podemos adiantar que o impacto nas estruturas das Contas Nacionais será bem menor que em 2007, quando várias bases de dados foram incorporadas ao PIB.

Na indústria, que deve fechar o ano em queda, a principal alteração será a retirada de edição e impressão de um dos maiores setores da economia. Na produção industrial, o setor representa 4%. O grupo passará a ser integrado em serviços.

– O entendimento nas discussões da Comissão de Estatísticas das Nações Unidas é que a produção de livros e jornais é intelectual. É importante destacar que essas formas diferentes de medir o PIB ainda não estão em vigor em nenhum país do mundo – disse Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

Sobre a nova metodologia para medir o investimento, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, afirmou que se trata de uma questão técnica:

– O que interessa é a tendência. Sempre achávamos que havia certa subestimativa da formação de capital (nos dados do PIB), mas isso é tema técnico. O importante é que precisamos poupar mais e investir mais – afirmou. – Nenhuma economia consegue crescer sem elevar investimentos para evitar gargalos ou para corrigir grandes ineficiências.

Segundo Wasmália, a série será revisada de 1996 até hoje. Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, a nova forma de cálculo da participação da indústria é complexa, mas a do investimento está em linha com o resto do mundo:

– Nos EUA, há muito tempo os dispêndios com software são contabilizados como investimentos para novos projetos, não é só trocar o software da folha de pagamento.


Incorporadoras fazem crédito imobiliário desacelerar

Valor Econômico

Como consequência de uma entressafra de lançamentos no mercado imobiliário ao longo do primeiro semestre, a forte expansão do crédito imobiliário em anos anteriores deu lugar aos primeiros sinais de moderação na carteira dos bancos. Enquanto o estoque chegou a apresentar um crescimento anual de quase 54% no fim de 2010, a velocidade caiu para 39% nos últimos doze meses encerrados em julho deste ano, último dado disponível na série histórica do Banco Central (BC).

É o menor avanço registrado pela modalidade desde o início da crise de 2008, quando o estoque apresentou um pequeno repique de queda em meio à retração das instituições financeiras privadas.

A desaceleração ocorre mesmo com o avanço do programa de habitação popular do governo federal, o Minha Casa Minha Vida. Para se ter uma ideia do vigor do Minha Casa, nesta segunda fase de contratação, que começou em 2011, já foram assinados quase 900 mil contratos, enquanto no crédito imobiliário tradicional, que usa recursos da poupança, o total de imóveis financiados somou pouco mais de 707 mil no mesmo período, desde janeiro do ano passado.

Os bancos públicos continuam com apetite nos dois mercados. No ano, registraram expansão do estoque de operações de 22%, contra 17% das instituições privadas no crédito habitacional com recursos da poupança. Com isso, passaram a responder por 77% de todo o estoque nessa faixa de mercado. A disposição foi reforçada pelo programa oficial de baixa renda onde dividem a totalidade dos contratos e esperam chegar a 2,4 milhões de unidades até 2014.

Segundo Gueitiro Matsuo Genso, diretor do Banco do Brasil, é possível pensar que o país possa atingir uma carteira de R$ 1,5 trilhão em crédito imobiliário até 2020, o que seria equivalente a 16% do PIB em crédito imobiliário. Hoje o estoque é de R$ 242 bilhões, 5,6% do PIB, segundo o BC.

Mas, de fato, há uma desaceleração neste momento, fruto de um “freio de arrumação” no credito imobiliário ligado ao momento das construtoras, diz José Roberto Machado Filho, diretor executivo de crédito imobiliário do Santander. “Isso acarretou um menor número de lançamentos no primeiro semestre”, diz.

Segundo ele, a retomada da demanda das construtoras e incorporadoras deve ocorrer no fim do ano. Mas a procura das pessoas físicas por financiamento continua “bastante forte”.

Os desembolsos do crédito imobiliário, que hoje estão praticamente andando de lado, devem mostrar retomada no começo do ano que vem, afirma o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e diretor do Bradesco, Octavio de Lazari Junior.

Ele concorda que o período ruim das incorporadoras e construtoras é a principal explicação para o empate do crédito imobiliário. Enquanto os desembolsos para as pessoas físicas cresceram 23% nos primeiros sete meses do ano, para as pessoas jurídicas caíram 28,5%.

Ele acredita que a “arrumação” das construtoras (com a resolução de atrasos e de outros problemas para as empresas) deva ser menos intensa já no começo do próximo ano. A Abecip estima que o crédito imobiliário cresça 15% este ano, em comparação com o ano passado, ante estimativas iniciais de 30%. Até julho, a expansão foi de 20,9%.


Leilões de 2013 em xeque

Correio Braziliense

O anúncio da retomada dos leilões de petróleo em 2013 foi visto com um certo alívio por especialistas do setor, mas com ressalvas. “O segmento vem sendo desprestigiado pelo governo: estava há quatro anos sem boas notícias. A simples sinalização de que haverá uma autorização para o primeiro leilão da camada pré-sal é positiva”, destacou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. A grande dúvida, segundo ele, é se o Executivo conseguirá atrair os líderes de mercado ou apenas os “peixes pequenos”, como ocorreu com a concessão dos aeroportos este ano.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, informou anteontem que, em maio, serão licitados 174 poços — metade em terra, metade em mar — e, em novembro, deverá ser realizada a primeira rodada de leilões da camada pré-sal. O última série de leilões (10ª) ocorreu em 2008 e, desde então, Lobão vinha anunciando datas que não se concretizaram. “Vou torcer, mas só vou acreditar quando sair o edital”, cravou Pires.

Na avaliação do economista, a demora para o Congresso Nacional aprovar o projeto de lei sobre a partilha dos royalties do pré-sal entre os estados também gera incertezas. Além disso, as exigências impostas pelo marco regulatório do pré-sal, como a obrigatoriedade de a Petrobras ter participação de 30% nos consórcios e o índice de nacionalização de 60%, poderão afugentar os grandes investidores. “Quando são criados muitos obstáculos, as piores empresas acabam ganhando”, alertou Pires. Para ele, o governo errou na estratégia ao paralisar os pregões. “Colômbia, Estados Unidos e vários países africanos

estão atraindo o dinheiro dos grandes investidores que poderiam ter vindo para cá. O país está perdendo oportunidades e geração de emprego”, pontuou.

Confidencial

Na audiência pública de ontem na Câmara dos Deputados, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, confirmou que a companhia tem interesse em participar dos leilões em 2013. A estatal discute parcerias para a exploração de eventuais blocos a ser arrematados. “Com certeza, temos recursos e teremos sócios, mas isso é absolutamente confidencial”, afirmou. Graça ainda defendeu a aprovação do projeto de lei dos royalties do petróleo, que já passou pelo Senado e aguarda votação na Câmara. “Torna-se imperioso que haja uma definição para essa questão”, afirmou ela.


Mantega diz a europeus que crise vai durar mais 3 anos

O Estado de S. Paulo

Os países emergentes, como Brasil, China, Índia e Rússia, terão de se adaptar para continuar crescendo porque a crise na Europa não terá solução em curto prazo. A avaliação foi feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ontem, em Paris, onde se encontrou com uma plateia de dirigentes de 14 multinacionais francesas. Para o brasileiro, os países europeus estão “estagnados”, as medidas para socorrer sua economia são “postergados para a eternidade” e não haverá solução em menos de dois ou três anos.

O diagnóstico foi feito no fim da manhã, em conversa com jornalistas após a palestra a portas fechadas que realizou na Embaixada do Brasil a diretores e presidentes de companhias como Carrefour, Casino, Dassault, Peugeot, BNP Paribas e Alstom. “Mostrei a eles por que o Brasil tem condições de continuar em sua trajetória de crescimento, apesar da situação econômica internacional”, disse Mantega. “A crise vai continuar, principalmente na Europa, onde não há uma solução de curto prazo.” Segundo o ministro, as medidas adotadas pela União Europeia para combater os efeitos da turbulência, como a criação do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), a nova supervisão do sistema financeiro ou ainda a compra de títulos das dívidas soberanas pelo Banco Central Europeu (BCE) “têm dificuldades de sair do papel”. “Isso significa que países emergentes têm de se organizar para poder fazer face a essa situação”, pregou.

Para Mantega, o Brasil já está crescendo a um ritmo mais acelerado. “Nossa economia está acelerando no segundo semestre. Temos vários indicadores mostrando isso e vamos terminar o ano crescendo 4%”, disse, citando os programas de estímulo, como a desoneração das folhas de pagamento, a redução do custo de energia e a queda da taxa de juros. Além disso, afirmou, o País não enfrenta risco inflacionário.


Odebrecht ganha concessão no Peru

Valor Econômico

Um consórcio liderado pelo grupo brasileiro Odebrecht ganhou uma licitação para a reforma de 114,6 quilômetros de rodovias de acesso a Lima, capital do Peru. A sociedade Líneas Viales de Lima fará investimentos de US$ 500 milhões de 2013 a 2015 e depois será concessionária das estradas por 30 anos, quando poderá cobrar tarifas de pedágio.

O projeto, que foi batizado pelo consórcio de “Vias Nuevas de Lima”, foi criado pela própria Odebrecht, que o apresentou à cidade de Lima. São três rodovias (Panamericana Norte, Panamericana Sur e Ramiro Prialé).

Em maio, o conselho metropolitano declarou que o projeto era de interesse público. Após essa decisão, foi aberto um período de três meses para que outros interessados pudessem apresentar propostas para atuar na concessão do empreendimento, sendo que a melhor proposta seria a vencedora – segundo informações fornecidas pelas autoridades peruanas.

O consórcio da Odebrecht foi declarado o vencedor, mas a municipalidade de Lima não deixou claro se outros participantes chegaram a apresentar propostas para o projeto. Procurada, a assessoria de imprensa do grupo não tinha mais detalhes.

Além do novo contrato, o grupo brasileiro tem quatro concessões de infraestrutura no Peru. Dois são de rodovias, com prazo de duração de até 25 anos. Outros dois são relacionadas à transposição do rio Huancabamba, obra com objetivo de gerar energia e promover irrigação de áreas peruanas. O grupo também atua na construção de diferentes projetos, como o da hidrelétrica de Chaglla – com US$ 1,2 bilhão em investimentos totais e capacidade instalada de 402 megawatts. Ao todos, estão em andamento mais de dez projetos no país executados pela companhia. As Américas do Sul e Central, excetuando o Brasil, respondem por cerca de 20% do faturamento global do grupo.

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