Governo vai agir para conter o dólar
O governo acredita que a nova rodada de expansão monetária, patrocinada pelos bancos centrais dos Estados Unidos (Federal Reserve Bank), da Europa (BCE) e do Japão, terá impacto no mercado nacional. Isso obrigará o Brasil a adotar novas medidas de controle cambial para impedir a apreciação da moeda nacional, fato que, desde meados de 2010, quando os BCs intensificaram o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chama de “guerra cambial”, afetou negativamente a competitividade da indústria.
Uma das reações do Banco Central (BC) tem sido acelerar a acumulação de reservas cambiais. De janeiro até agora, o BC aumentou as reservas em US$ 26,5 bilhões para neutralizar os efeitos da entrada de dólares no mercado brasileiro, supostamente provocada pela expansão monetária promovida, no início do ano, pelo BCE. Desde o chamado QE2 (sigla em inglês da segunda rodada de afrouxamento quantitativo promovida pelo Fed), em meados de 2010, o BC comprou cerca de US$ 130 bilhões.
Outras medidas para controlar o fluxo cambial não estão descartadas. O governo acha que o QE3, anunciado há duas semanas pelo Fed, veio no formato esperado, isto é, com foco no mercado imobiliário americano, o que, em tese, evitaria uma inflação de ativos generalizada. A surpresa ficou por conta do caráter “open-ended” (sem limite) da medida. O Fed manterá a expansão monetária até que a taxa de desemprego caia e a economia dos EUA volte a crescer de forma sustentada.
Banco Central não é hostil à redução do superávit primário
“Há um risco de vazar [moeda] para cá. Isso temos que trabalhar. Não é assim não”, adverte um integrante da equipe econômica, preocupado com os efeitos do QE3. “Alguma coisa vaza.”
Com o novo afrouxamento monetário, o banco central americano tenta reanimar o setor que jogou o mundo na crise de 2007/2008. O setor imobiliário chegou ao fundo do poço e está em processo lento de recuperação. A crença é a de que a injeção de recursos nesse mercado, por meio da compra pelo Fed de MBS (papéis lastreados em hipotecas), vá gerar novamente crédito para a compra de imóveis residenciais.
“A probabilidade de esse dinheiro fugir para outros ativos diminui”, pondera uma fonte graduada do governo. De qualquer forma, como as condições de liquidez mundial vão melhorar, haverá impacto nos mercados, inclusive, no de commodities, que já está pressionado por choques de oferta decorrentes da quebra de safra de produtos agrícolas relevantes (soja, milho e trigo).
O que, na opinião de Brasília, diminuirá o impacto da expansão monetária sobre os preços das commodities é a desaceleração da economia chinesa, grande demandante desses produtos. De fato, segundo números do Fundo Monetário Internacional, em 2009 a China respondeu por 65% da importação mundial de minério de ferro e de 53% das compras de soja. A aquisição de metais e de matéria-prima em geral foi expressiva – quase 30% do total no primeiro caso e perto de 15% no segundo.
Com a economia chinesa desacelerando – de uma expansão de 10,4% em 2010 para 7,5% neste ano -, é provável que os preços das commodities, mesmo com o aumento da liquidez mundial, não sejam pressionados excessivamente, como ocorreu no QE2. “A China em desaceleração é bom pra gente. Não pressiona a inflação pelas commodities mais à frente”, diz uma fonte.
O interesse em não deixar que o real volte a apreciar em relação ao dólar é crucial para a atual equipe econômica. Com a ajuda da crise internacional, que tornou a economia mundial desinflacionária, o governo acredita que conseguiu adotar um novo equilíbrio macroeconômico para o país. No equilíbrio anterior, prevaleciam juros altos e câmbio apreciado; no novo, juros baixos e câmbio menos apreciado.
Como a mesma crise que ajudou o BC a reduzir juros também derrubou o crescimento da economia brasileira, deixando claro que o novo equilíbrio macroeconômico não é suficiente para acelerar o PIB, o governo vem trabalhando desde o início do ano numa série de medidas para ampliar a infraestrutura, estimular o investimento privado e reduzir custos de produção. O debate interno gira, agora, em torno da possibilidade de diminuição do superávit primário das contas públicas. O objetivo é criar espaço fiscal para a promoção de novas desonerações.
O BC argumenta que a meta cheia de superávit primário – entre 3% e 3,1% do PIB em 2011 e 2012 – tem ajudado a manter o mix de política econômica que permitiu a queda da taxa básica de juros (Selic). O superávit auxilia a contenção da demanda agregada e, por isso, continuará sendo importante, segundo uma fonte oficial.
O governo acredita, entretanto, que é possível reduzir a meta de superávit por meio de uma desoneração horizontal de tributos (que beneficie a todos os setores da economia). Haveria um impacto positivo sobre os preços que, no fim, ajudaria a controlar a inflação. O Banco Central não é hostil à ideia, desde que a diminuição do superávit não seja feita para aumentar gasto corrente.
“Se fizermos um pouco menos [de superávit primário] com uma desoneração horizontal mais forte, talvez o mercado entenda. Fazer o superávit cortando mais despesa corrente, aí não precisa dar tanto. Não é o numero em si que importa, mas é o número feito com qualidade”, explicou uma fonte, acrescentando que um ajuste fiscal de maior qualidade é feito por meio de corte de gastos e não pelo aumento da arrecadação.
Nos debates internos, o BC, mesmo aceitando a flexibilização dos regimes cambial e de metas para inflação, alerta para os riscos de pressão inflacionária criados a partir do excesso de estímulos à atividade econômica. A atual diretoria do BC lembra uma das principais lições da crise de 2008/2009, quando o Comitê de Política Monetária também cortou os juros de forma vigorosa, mas depois, por causa da avalanche de estímulos fiscais e creditícios, teve que interromper o processo e, no momento seguinte, elevar a Selic novamente.
Dilma quer pacto anticrise
O Globo
A presidente Dilma Rousseff cobrou ontem na abertura da 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas um pacto global pelo crescimento, com engajamento especial dos países ricos, para que o mundo supere a conjuntura de crise configurada desde 2008, com a quebra do banco americano Lehman Brothers. Na primeira parte do discurso de 25 minutos, Dilma mais uma vez disparou críticas ao mundo desenvolvido, que segundo ela ainda patina no falso dilema entre políticas de estímulo à economia e austeridade fiscal, com consequências deletérias para as populações desses países e para as nações emergentes. Para Dilma, “é urgente a construção de um amplo pacto pela retomada do crescimento global”:
– A consolidação fiscal só é sustentável em um contexto de recuperação da atividade econômica. A história revela que a austeridade, quando exagerada e isolada do crescimento, derrota a si mesma. A opção do Brasil tem sido a de enfrentar simultaneamente esses desafios – afirmou a presidente. – Superamos a visão incorreta que contrapõe, de um lado, as medidas de incentivo ao crescimento e, de outro, os planos de austeridade. Esse é um falso dilema.
Dilma disse que é preciso fortalecer os mecanismos multilaterais de cooperação, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o G-20 (grupo das 20 maiores economias).
– Essa coordenação deve buscar reconfigurar a relação entre política fiscal e monetária, para impedir o aprofundamento da recessão, controlar a guerra cambial e reestimular a demanda global – disse.
Dilma afirmou que, entre os discursos de setembro de 2011 e de ontem, a crise econômica global ganhou “novos e inquietantes contornos”, com a insistência dos países ricos em adotar medidas fiscais recessivas e uma política monetária expansiva. Esta, ao irrigar as economias mais fortes com dinheiro, desequilibra a taxa de câmbio das nações emergentes.
E, quando os emergentes tomam ações de defesa comercial para se salvaguardar, são acusados de protecionistas, criticou Dilma. Na semana passada, o representante de Comércio dos EUA, Ron Kirk, enviou carta ao Itamaraty taxando de protecionismo o aumento na alíquota de importação de cem produtos pelo Brasil. O presidente dos EUA, Barack Obama, estava nos bastidores do plenário da ONU ouvindo o discurso de Dilma, que antecedeu o do americano.
– Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam injustamente classificadas como protecionismo. Devemos lembrar que a legítima defesa comercial está amparada pelas normas da Organização Mundial do Comércio – defendeu Dilma.
Para a presidente, o aumento artificial de competitividade – uma referência às políticas monetárias expansivas de EUA, China e integrantes da zona do euro – é que deve ser eliminado:
– O protecionismo e todas as formas de manipulação do comércio devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta.
Mais tarde, em entrevista coletiva, Dilma reiterou seu recado aos países ricos:
– Não adianta nada ficar fazendo classificação (sobre quem é ou não protecionista). O que adianta é que tenhamos uma compreensão de que, desta situação (de crise), todos sofremos as consequências.
Senado aprova MP do Código Florestal
O Estado de S. Paulo
O Senado aprovou ontem o projeto de conversão da medida provisória do Código Florestal, retomando pontos que tinham sido vetados pela presidente Dilma Rousseff. A expectativa do relator, senador Jorge Vianna (PT-AC), é de que essas regras, ressuscitados pela comissão mista que examinou a matéria, sejam novamente vetadas.
O senador disse estar “seguro” em afirmar que a presidente pode, sim, aperfeiçoar o texto com algumas modificações que favoreçam mais ao meio ambiente. “Ela pode sancionar a lei e, ao mesmo tempo, fazer alguns reparos, alguns pequenos, mas significativos ajustes”, prevê.
Em votação simbólica, a proposta foi rejeitada ontem apenas pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Roberto Requião (PMDB-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Paulo Davim (PV-RN).
A principal discordância no texto – de acordo com o líder do governo, Eduardo Braga – é a redução da largura da faixa mínima de mata exigida nas margens dos rios, para médios produtores, de 20 para 15 metros.
Para os grandes produtores, a exigência mínima de recomposição de mata ciliar caiu de 30 para 20 metros. O líder também reforça a expectativa de que a presidente deve recorrer novamente aos vetos, ao afirmar que não há acordo com os senadores para manter na íntegra o texto do projeto que eles aprovaram. “Não há acordo aqui para que a presidente não vete.”
Braga alega que a supressão de 5 metros de preservação pode comprometer o equilíbrio ambiental com prejuízo para o setor agrícola, além de causar um impacto “não recomendável” no meio ambiente..
Mesmo se quisessem, os senadores não teriam como derrubar os itens recuperados pela comissão mista. Eles estão engessado pela falta de tempo, uma vez que a MP perderá a validade no próximo dia 8, se não for aprovada. Outro ponto recuperado no projeto da MP e rejeitado pelo governo é a recomposição de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) menores para imóveis maiores onde houver atividade consolidada anterior a 22 de julho de 2008, em relação ao previsto na MP original. O replantio também poderá ser feito com árvores frutíferas, tanto nas APPs, quanto na reserva legal.
“O novo Código não é o dos meus sonhos, mas é realista”, disse o senador Jorge Viana. Como exemplo citou os dispositivos voltados para solucionar os problemas provocados por 40% da agropecuária brasileira, “trabalhadas em áreas que estão em desacordo com a lei vigente”.
Se o veto for confirmado, Dilma poderá recorrer a três mecanismos para suprir as brechas deixadas pela supressão do texto: o uso novamente de uma MP, o que teria de aguardar o início da próxima legislatura, em fevereiro; o envio de um projeto de lei ao Congresso, o que estenderia o buraco negro por mais tempo, até ser aprovado nas duas Casas; e um decreto, retomando os pontos vetados na forma desejada pelo governo.
Exportação do Brasil foi a mais afetada pelo ajuste argentino
Valor Econômico
O Brasil arcou com a maior parte do ajuste cambial argentino este ano. As importações argentinas de origem brasileira caíram 16% entre janeiro e agosto, de acordo com dados divulgados ontem pelo Indec, o instituto oficial de estatísticas do país, enquanto a redução global de compras externas da Argentina foi de 7%.
Em termos absolutos, nos oito primeiros meses do ano a Argentina importou US$ 45 bilhões, ou US$ 3,5 bilhões a menos que no mesmo período em 2011. No caso de produtos brasileiros, a redução foi de US$ 2,5 bilhões, com queda de importações de US$ 14,2 bilhões para US$ 11,7 bilhões.
esde fevereiro deste ano, a Argentina introduziu uma série de restrições no comércio exterior, o que provocou reclamações de 40 países na Organização Mundial do Comércio (OMC). A barreira mais relevante foi a criação de uma declaração jurada exigida aos importadores, o que na prática significou a extensão do regime de licenças não automáticas para todos os produtos.
A queda nas importações fez com que o país acumulasse superávit comercial de US$ 10 bilhões nos primeiros oito meses do ano, compensando a redução de 1% nas exportações, que acumularam US$ 55 bilhões. O saldo na balança é estratégico para a situação fiscal da Argentina, que não conta com fontes de financiamentos externos.
“A redução das compras com origem no Brasil foi mais drástica do que a de outros mercados em razão da pauta que existe entre os dois países. A Argentina adquire produtos industrializados e insumos usados para a fabricação de manufaturados, que são exportados para o próprio mercado brasileiro, sobretudo no setor automotivo”, disse o economista Marcelo Elizondo, da consultoria DNI, ex-presidente da Fundação Export Ar, órgão de promoção de exportações do governo argentino.
De acordo com Elizondo, o desaquecimento da economia argentina fez com que se reduzisse a compra de bens de capital. A desaceleração brasileira freou a indústria automotiva. As exportações argentinas para o Brasil, movidas pelas montadoras, caíram de US$ 11,3 bilhões para US$ 10,6 bilhões entre janeiro e agosto. E as restrições governamentais travaram o restante dos negócios.
A redução das importações argentinas, que paralisou negócios como a exportação brasileira de carne suína ou de calçados, fez com que o governo brasileiro começasse a retaliar a Argentina em uma cesta de dez produtos, a maioria deles da agroindústria, a partir de maio.
A partir de junho, os governos dos dois países começaram a negociar diretamente e as vendas do Brasil para a Argentina deixaram de retroagir mês a mês, ainda que permaneçam em níveis muito abaixo dos registrados em comparação com 2011.
Em agosto, por exemplo, as exportações brasileiras para a Argentina ficaram em US$ 1,6 bilhão. É uma recuperação em relação ao US$ 1,3 bilhão registrado em junho e o US$ 1,4 bilhão de julho, mas são US$ 500 milhões a menos que os US$ 2,1 bilhões vendidos em agosto do ano passado.
“Os únicos mercados vendedores para a Argentina que se mantiveram ativos em 2012 são os que fornecem derivados de petróleo e gás”, disse Elizondo. De acordo com dados do Indec, as importações argentinas no segmento de energia variaram pouco: de US$ 6,9 bilhões entre janeiro e agosto do ano passado para US$ 7 bilhões este ano.
As importações argentinas da União Europeia subiram 10%, atingindo US$ 8,4 bilhões. E o fim do acordo automotivo com o México não travou as importações do país de produtos do Nafta. As compras com origem no bloco aumentaram 3%, somando US$ 7,3 bilhões, graças às vendas para os Estados Unidos.
As maiores variações negativas ocorreram em relação a países com uma pauta de exportações de produtos industrializados, semelhante à que o Brasil tem com a Argentina, como a China (queda de compras de US$ 6,4 bilhões para US$ 6 bilhões) ou Coreia do Sul (redução de US$ 1 bilhão para US$ 750 milhões).
Na ONU, Dilma defende medidas “legítimas” de defesa comercial
Valor Econômico
Crítico ferrenho do protecionismo cambial das economias avançadas, o Brasil se vê agora na desconfortável situação de justificar as suas próprias ações. Ontem, no discurso feito na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a presidente Dilma Rousseff rechaçou as acusações de que o Brasil está colocando barreiras ilegítimas à competição estrangeira.
“Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam injustamente classificadas de protecionismo”, afirmou a presidente, fazendo o discurso de abertura da reunião, que tradicionalmente cabe a um brasileiro.
O Brasil tem sido acusado por países desenvolvidos, de forma crescente, de protecionismo comercial. A mais recente reclamação foi feita pelo representante comercial americano, Ron Kirk, em carta ao ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, referindo-se aos movimentos do Brasil para aumentar tarifas de importação de centenas de produtos. “O aumento de tarifas pelo Brasil claramente representa uma medida protecionista”, afirma Kirk na carta entregue ao Itamaraty na semana passada, que recebeu uma dura resposta das autoridades brasileiras.
Em seu discurso na ONU, Dilma não citou a polêmica em torno do aumento de tarifas. Mas se referiu a ele de forma indireta, ao defender a tese de que as ações dos emergentes não se constituem protecionismo, e sim legítima defesa comercial, porque estão amparadas pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). A presidente afirmou, no discurso, que “o protecionismo e todas as formas de manipulação do comércio devem ser combatidos, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta”.
As acusações de protecionismo enfraquecem o discurso feito pelo Brasil até aqui de que é uma das principais vítimas das chamada “guerra cambial”, uma expressão usada há dois anos pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para denunciar a competição comercial desleal produzida pela manipulação cambial por países emergentes e desenvolvidos.
Há pelo menos duas facetas da chamada guerra cambial. Uma é a subvalorização de moedas asiáticas, sobretudo da China, por meio de pesadas intervenções no mercado de câmbio. A outra faceta são as políticas monetárias extremamente relaxadas de economias desenvolvidas, que ampliam a liquidez no mercado internacional e levam à perda de valor de moedas fortes como o dólar e o iene japonês.
Na ONU, Dilma concentrou sua artilharia nos países desenvolvidos. “Os bancos centrais de países desenvolvidos persistem em uma política monetária expansionista, que desequilibra as taxas de câmbio”, afirmou. “Com isso, os países emergentes perdem mercado, devido à valorização artificial de suas moedas.”
Dilma levantou a bandeira da guerra cambial também no seu discurso do ano passado e, desta vez, esperava-se que ela subisse um pouco o tom, usando expressões mais duras, como chamar os baixos juros e a emissão de moedas de economias desenvolvidas de “tsunami monetário”.
Ela, no entanto, fez um discurso mais técnico, mostrando que a rápida consolidação fiscal em alguns países avançados causa desaceleração econômica, deixando nas mãos dos bancos centrais a tarefa do superdosar a política monetária para estimular a atividade.
Dilma defendeu que organismos multilaterais, como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial assumam a tarefa de coordenar a ação monetária e fiscal de seus membros, como forma de impedir o aprofundamento da recessão e de controlar a chamada guerra cambial.
Na entrevista coletiva que concedeu no hotel St. Regis, onde está hospedada, depois de seu discurso na ONU, Dilma afirmou que o Brasil teve que se defender da chamada guerra cambial por meio de uma adoção de um novo mix de juros e câmbio. “Tivemos que procurar nos defender”, afirmou a presidente. “Nós mudamos o mix câmbio-juros”, afirmou
Ela não detalhou o que seria esse novo mix de juros e câmbio. Nos últimos meses, porém, o governo impôs medidas de controles de capitais, e o Banco Central passou a atuar mais forte no mercado cambial, levando à desvalorização do real, ao mesmo tempo em que reduzia os juros básicos da economia para os menores níveis da história.
Dilma falou da atitude “defensiva” brasileira ao descrever a chamada guerra cambial e ao propor que os países adotem um novo pacto de crescimento, dois temas preponderantes em seu discurso na abertura da ONU.
Didaticamente, explicou que a maciça expansão monetária feita por países desenvolvidos está levando à desvalorização de suas moedas e à valorização da taxa de câmbio dos países emergentes. “A moeda desvalorizada é um dos mais conhecidos instrumentos de competição internacional”, disse ela para os jornalistas. “Apesar de não estar previsto [nas regras comerciais internacionais] como um elemento artificial de concorrência, é um elemento artificial de concorrência”, afirmou.
A presidente brasileira rechaçou as acusações de que o Brasil está caminhando para o protecionismo. Dilma citou um ranking recente divulgado pela Global Trade Alert qua mostra que o Brasil impõe menos medidas classificadas como protecionistas do que outros países ocidentais e que, quando consideradas as medidas de liberalização, o país aparece como um dos que menos fecharam sua economia.
“Os países deveriam formar um novo pacto em vez de apontar o dedo uns par aos outros”, disse. Segundo ela, os países deveriam encontrar políticas de recuperação que, quando adotadas, não atinjam uns aos outros.
Dilma informou aos jornalistas que o acordo para a compra de aviões da Embraer foi um dos temas discutidos em telefonema com o primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan. Questionada se houve avanços na negociação, ela disse que “sim”. “Agora está naquela fase de discutir os preços”, disse a presidente, sem fornecer mais detalhes. Além de Embraer, outro tema discutido com o primeiro-ministro turco foi a crise da Síria. Segundo ela, o Irã não foi tema de discussão.
A presidente negou que tenha discutido um acordo de livre comércio em reunião na segunda-feira com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. “Acordo de livre comércio seria um tema do Mercosul”, disse, procurando deixar claro que não está atropelando os demais membros do bloco econômico regional.
Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, havia sugerido que a conversa de Dilma com Durão foi para retomar as negociações de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. “Vamos tentar agendar uma reunião negociadora do acordo birregional entre Mercosul e União Europeia no mês de outubro. E deverá ser organizada uma reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia, um compromisso anual que a princípio fica para janeiro de 2013”, disse Patriota. Apesar de negar negociações para esse acordo de livre comércio, Dilma destacou a importância de aprofundar as relações comerciais entre o Brasil e a Europa.
Espanha prepara nova rodada de cortes
Correio Braziliense
A Espanha deverá anunciar amanhã outra rodada de medidas de austeridade para tentar reduzir o deficit do orçamento de 2013, o que intensificou os protestos de parte da população que vem sendo atingida pelas tentativas de colocar as finanças do país em ordem. O governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy estuda agora cortes de aposentadorias indexadas à inflação, aumento de taxas sobre transações acionárias, impostos sobre emissões de poluentes e eliminação de incentivos fiscais.
Rajoy já conseguiu passar cortes de 65 bilhões de euros para os próximos dois anos, mas precisa mostrar aos parceiros europeus de que o deficit pode ser reduzido em mais de 60 bilhões de euros até o fim de 2014. As medidas adicionais serão necessárias porque os dados econômicos já divulgados até meados do ano mostram que a meta de deficit para 2012 pode não ser atingida, uma vez que as previsões de arrecadação de impostos estão sendo frustradas pela contração econômica.
Revolta
Enquanto isso, os protestos contra os cortes estão ficando mais agudos. Ontem, mais de 1.000 policiais fizeram barricadas diante do Parlamento, em Madri, para barrar manifestantes que pretendiam fazer uma corrente humana em volta do edifício. MIlhares de pessoas se reuniram em diferentes pontos da capital antes de marcharem ao Parlamento, afirmando estarem revoltados com o governo por ter injetado dinheiro público em bancosproblemáticos enquanto corta benefícios sociais.
A polícia usou balas de borracha para dispersar os manifestantes e 26 pessoas foram presas. Outras 60, das quais 27 policiais, ficaram feridas.”Estamos protestando contra os cortes. Tive de abrir mão de meu apartamento”, afirmou Ondina, uma aluna de pós-graduação de artes plásticas desempregada. Ela disse não poder sobreviver com um seguro desemprego de 260 euros (R$ 680) por mês.
BC eleva previsão de investimento em 50%
O Estado de S. Paulo
O Banco Central elevou em 50% a previsão de ingresso de investimentos estrangeiros no País em 2012 em relação à estimativa feita há três meses. De acordo com a instituição, os investidores continuaram confiantes no País, apesar da crise, no que se refere a projetos de longo prazo.
Ao todo, o BC espera US$ 82 bilhões em investimentos no País em 2012.
A previsão para os investimentos estrangeiros diretos (IED) em empresas brasileiras, por exemplo, subiu 20%, para US$ 60 bilhões. Com essa nova previsão, o Brasil terá agora recursos para cobrir com folga, pelo quinto ano seguido, o resultado negativo do País nas suas transações de bens e serviços com o exterior, que foi revisto para baixo pela instituição, para US$ 53 bilhões.
“A avaliação sobre o Brasil continua positiva, e o melhor indicador sobre isso são os fluxos de IED, que não tiveram uma mudança de comportamento, a despeito das adversidades”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.
Na avaliação do economista sênior do BES Investimento do Brasil, Flávio Serrano, o BC parece ter se convencido de que a crise internacional não será tão prejudicial aos investimentos como se pensava. “Talvez o BC tenha sido conservador em suas projeções anteriores, pois a crise externa indicava contração dos investimentos”, disse. “Mas os dados foram mostrando uma dinâmica mais consistente e forte que o obrigou à revisão para cima.” Já a estimativa para entrada de empréstimos externos acima de um ano, também classificada pelo BC como investimento, passou de apenas US$ 100 milhões para US$ 9,1 bilhões. Em junho, o governo zerou o IOF para captações entre dois e cincos anos, que estava em 6% desde março.
“Estamos considerando um quadro de ampliação da liquidez externa”, disse Maciel.
Apesar de prever entrada maior de dólares, o BC evita falar em “tsunami” de recursos, expressão utilizada pela presidente Dilma Rousseff para falar da migração de dólares do exterior em busca de rentabilidade maior no Brasil. Até porque a previsão da instituição para entrada de dinheiro para a Bolsa de Valores e renda fixa, somada, ficou praticamente inalterada, em US$ 12 bilhões.
Lucros. A nova previsão para o déficit nas transações com o exterior, US$ 3 bilhões menor que a estimativa feita há três meses pelo BC, se deve principalmente à queda na conta de remessas de lucros para outros países. Segundo a instituição, isso reflete a desaceleração da economia brasileira, que impactou o lucro das empresas, a alta do dólar e as remessas maiores de filiais de empresas brasileiras no exterior.
Em relação às viagens internacionais, a previsão ficou praticamente estável, pois os gastos de brasileiros fora do País tem se mantido neste ano próximos dos verificados em 2011.
Déficit de agosto. O déficit em transações correntes no País somou US$ 2,568 bilhões em agosto, segundo dados apresentados ontem pelo BC. O valor apurado no mês passado é inferior ao observado em igual mês de 2011, quando as transações correntes registraram saldo negativo de US$ 4,849 bilhões.
De acordo com o BC, as maiores contribuições para o déficit de agosto deste ano foram a conta de rendas, que ficou negativa em US$ 3,063 bilhões e a de serviços, também negativa em US$ 3,011 bilhões.
Essas saídas de recursos foram parcialmente compensadas pelo superávit comercial de US$ 3,226 bilhões e pelas transferências unilaterais positivas em US$ 280 milhões.
Arrecadação federal caiu pelo terceiro mês seguido
O Globo
A arrecadação federal caiu pelo terceiro mês seguido, afetada pela fraca atividade econômica, que avançou 0,6% no primeiro semestre. Em agosto, o recolhimento de impostos ficou em R$ 77,07 bilhões, queda real (descontada a inflação) de 1,84% contra agosto de 2011. Com o resultado, a secretária-adjunta da Receita Federal, Zayda Manatta, reduziu mais uma vez a projeção de arrecadação federal no ano, que estava entre 3,5% e 4% e caiu para entre 1,5% e 2%:
– (A revisão) tem relação com a revisão dos indicadores macroeconômicos. Um exemplo é a previsão de alta do PIB, que estava em 3% e foi revista para 2%. É a conjuntura econômica do país ao lado das alterações legais que o governo tem promovido.
Em julho, a arrecadação fora de R$ 87,94 bilhões, recuo real de 7,36% frente a 2011.