Cresce fatia de salários usada para pagar dívida

Em julho, parcela de salários destinada a prestações representava 22,42% da renda

Os consumidores estão utilizando uma parcela cada vez maior dos seus salários para pagamento de dívidas bancárias. Dados do Banco Central mostram que o valor total das prestações a serem pagas pelas famílias brasileiras em julho deste ano correspondia a 22,42% da sua renda. Isso significa que, na média, quase um quarto dos ganhos das pessoas é utilizado para pagar essas dívidas.

O porcentual, apurado pelo Banco Central desde 2005, representa novo recorde. Há sete anos, o brasileiro gastava mensalmente pouco mais de 15% do salário com essas despesas.

Houve, no entanto, uma mudança importante nos últimos meses. Ao separar o valor da prestação em pagamento de juros e do principal, o Banco Central verifica que o primeiro vem caindo, mesmo que lentamente, em relação à renda. Em março deste ano, 8,1% da renda foi usada para pagar juros aos bancos, um recorde. Em julho, o porcentual havia recuado para 7,9%.

Já a parcela do salário usada para reduzir o valor total devido, ou seja, para o pagamento do principal, continua crescendo. Passou de 14,2% para 14,5% da renda nesse mesmo período, patamar também inédito.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, diz que é natural que seja registrada elevação no endividamento das famílias. “Com o crédito crescendo mais do que a renda, que é o que estamos observando, claro que o endividamento vai crescer.”

Maciel afirmou, no entanto, que a maior parte do aumento do endividamento está ligada ao crédito imobiliário. Ou seja, há uma troca do aluguel pela prestação da casa própria. “Isso é um benefício nítido em termos de bem-estar social”, afirmou.

Outra consequência do endividamento é o aumento da inadimplência no crédito ao consumo, que ficou estável em 7,9% em agosto na comparação com julho, segundo o Banco Central, próxima do recorde alcançado em 2009 (8,5%).

Para a consultoria LCA, a inadimplência ainda elevada e a postura seletiva dos bancos no crédito são fatores que continuam impedindo um avanço mais expressivo do volume de empréstimos. A consultoria espera, no entanto, pequeno recuo desse nível de atrasos nos próximos meses, assim como o Banco Central.


Juros caem, mas calote não diminui

O Globo

A cruzada da presidente Dilma Rousseff contra os juros altos está produzindo frutos. Em agosto, as taxas médias cobradas das pessoas físicas caíram 0,6 ponto percentual e chegaram a 35,6% ao ano, o menor nível desde o Plano Real, em 1994, quando o Banco Central (BC) começou a registrar os dados. Já a inadimplência continua resistente. No mês passado, ficou em 7,9% entre as pessoas físicas, mesmo patamar do mês anterior e do auge da crise de 2009. Entre as empresas (pessoas jurídicas), a inadimplência teve ligeira alta, passando de 4% em julho para 4,1% em agosto.

Em agosto, a inadimplência subiu de 5,9% para 6,0% no crédito pessoal, enquanto no cheque especial aumentou de 11,8% para 12,2%. Mas houve queda na inadimplência no crédito para aquisição de veículos, de 6% para 5,9%; e no crédito para aquisição de outros bens, de 14,2% para 13,7%.

– O aumento do endividamento é natural porque, no país, o crédito cresce mais que a renda – afirmou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, justificando que o brasileiro tem trocado o aluguel pela prestação da casa própria e por isso há um aumento da dívida. – Trocam consumo por investimento.

crédito sobe mais em bancos públicos

Já os juros do cheque especial recuaram de 151% ao ano em julho para 148,6% ao ano em agosto. No crédito pessoal, caíram de 39,9% para 39,4% no mesmo período e no crédito para veículos as taxas recuaram de 21% para 20,5% ao ano.

Em agosto, os bancos públicos e privados cobraram dos clientes pessoas físicas um spread bancário (diferença entre o custo do dinheiro para a instituição financeira e para o cliente) de 27,7 pontos percentuais. Houve queda de 0,7 ponto percentual ante julho.

– É fato que nunca tivemos juros tão baixos, mas ainda há muito espaço para cair, porque, enquanto no Brasil o spread é de quase 30 pontos percentuais, nos outros países, está entre dois e cinco pontos percentuais – disse o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Oliveira.

Enquanto isso, o crédito continua a crescer. Em agosto, atingiu R$ 2,2 trilhões, ou 51% do PIB. Ontem, o BC anunciou a revisão da projeção de crescimento do crédito nas instituições públicas de 21% para 24% no ano. Já a estimativa para os bancos privados nacionais ficou estacionada em 10% e a dos estrangeiros, em 13%. Ao todo, o BC aumentou a previsão de crescimento do crédito de 15% para 16% neste ano.

para analista, calote deve diminuir

Essa nova projeção já leva em consideração medidas adotadas pela própria autarquia, como a redução dos depósitos compulsórios – parte do dinheiro dos clientes que os bancos são obrigados a deixar no BC. Só isso deve colocar R$ 30 bilhões a mais em circulação e impulsionar o consumo e o endividamento das famílias.

– Essa diferença entre públicos e privados reflete a postura dos bancos: os públicos estão mais atuantes que os privados. É uma diferença de postura em relação à conjuntura – avaliou Maciel, que negou que um crescimento muito maior do crédito de instituições públicas seja perigoso, argumentando que a inadimplência desses bancos é mais baixa ante outras instituições.

Um nível de calote menor é a explicação do Banco Central para a capacidade maior de cortar os juros das instituições públicas. De acordo com a autoridade monetária, a Caixa Econômica Federal, por exemplo, cobra 1,85% ao mês pelo crédito pessoal. Já os clientes do HSBC pagam, em média, 4,46% ao mês, praticamente o mesmo custo dos correntistas do Bradesco. Na compra de veículos, a taxa média do Banco do Brasil é de 1,32% ao mês, enquanto no Santander é de 2,01% ao mês.

– Quando os privados sentirem mais segurança com o cenário lá fora, vão acelerar o crédito para recuperar o espaço perdido para as instituições públicas, porque a inadimplência não é mais um problema, se estabilizou e tende a cair. O ideal era que esse crescimento fosse equilibrado, mas isso não é necessariamente um problema – disse o vice-presidente da Anefac.

41% têm ou já tiveram “nome sujo”

Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) divulgada ontem mostra que 41% dos consumidores brasileiros já estiveram, ou estão, nas listas de inadimplentes dos serviços de proteção ao crédito. A maioria de quem já esteve, ou está, com o “nome sujo” pertence às classes C e D, com renda familiar de até R$ 3.825. Desses, informa ainda a pesquisa, 13% ainda têm o nome em listas de inadimplentes, o que os impede de realizar compras a prazo.

O levantamento do SPC Brasil identificou que 64% das famílias com renda de até R$ 3.825 têm entre um e quatro cartões de crédito. Em faixas de renda superiores, a proporção sobe para 77%.

Segundo Nelson Barrizzelli, economista do SPC Brasil, tanto no caso dos cartões de crédito quanto no do cheque especial, se atentassem para os níveis excessivamente altos dos juros cobrados e evitassem seu “uso inadvertido”, muitas famílias evitariam ingressar nos cadastros de inadimplentes.

A Serasa Experian identificou aumento de 1,7% na inadimplência das empresas em agosto na comparação com julho. O indicador considera os números de cheques sem fundos, títulos protestados e dívidas vencidas de empresas com bancos e instituições não bancárias. O avanço do calote no mês passado, contudo, foi menor que o verificado em julho, de 1,8%.

Para a Serasa Experian, o crescimento menor é resultado das condições econômicas mais favoráveis, como a queda dos juros e a recuperação gradual das vendas, além do recuo da inadimplência entre os consumidores.


Confiança da indústria sobe e indica recuperação

Valor Econômico

Os dados de setembro da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), reforçam a percepção de que a recuperação do setor está em curso. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 0,9% no mês, consolidando o movimento de alta iniciado em agosto, quando o indicador avançou 1,4% sobre julho, descontados efeitos sazonais. O indicador alcançou 105 pontos em setembro e se aproximou da média dos últimos 60 meses (105,4 pontos).

“Existem sinais de melhora que não eram percebidos no segundo trimestre”, afirma Aloísio Campelo, coordenador do estudo, citando a produção prevista para os próximos três meses e a expectativa dos empresários em relação aos negócios nos seis meses seguintes.

Segundo ele, os empresários já estão contando com novas encomendas, o que explica o salto de 4,1% na produção prevista pela indústria para o próximo trimestre. Com o avanço, o indicador atingiu 130,9 pontos em setembro, superando a média dos últimos 60 meses, de 127,2 pontos.

Entre agosto e setembro, o percentual de empresas que afirmam que irão produzir mais nos próximos meses passou de 38,8% para 42,8%, enquanto a fatia das que dizem que irão reduzir a produção caiu de 13% para 11,9%. “Não só as medidas voltadas especificamente para a indústria ajudam na recuperação do setor, mas também a politica monetária. O conjunto de ações adotadas pelo governo está tendo impacto maior agora”, diz Campelo. Prova disso, segundo ele, é a melhora disseminada da confiança entre os setores industriais.

Em setembro, 8 dos 14 setores pesquisados pela FGV apresentaram melhora na confiança. Houve queda em três setores e estabilidade em outros três. No mês passado, o cenário era praticamente o oposto, com piora da confiança em oito setores, aumento em quatro e estabilidade em dois. “Antes, a confiança estava concentrada nos setores que receberam benefícios fiscais do governo. Agora, a política monetária está fazendo mais efeito, possibilitando melhora generalizada”, diz Campelo.

O otimismo dos empresários se deve à avaliação do futuro. O Índice da Situação Atual (ISA) ficou estável (-0,1%) na comparação com agosto, enquanto o Índice de Expectativas (IE) avançou 1,7% sobre ao mês anterior, feitos os ajustes sazonais.

O percentual de empresas que vislumbram melhoras nos negócios nos próximos seis meses passou de 51,9% em agosto para 53,7% em setembro, ao passo que os empresários que estimam piora nos resultados recuou de 8,7% para 8% no período. Com esse panorama, o indicador que mede a situação futura dos negócios atingiu em setembro o maior patamar do ano, marcando 145,7 pontos e superando a média dos últimos 60 meses, de 139,6 pontos.

A retomada da atividade industrial, entretanto, deverá ocorrer em meio a poucas contratações de trabalhadores, na avaliação de Campelo. Segundo ele, como as empresas evitaram demitir no período de desaceleração econômica, não haverá grande necessidade de ampliação no quadro de funcionários para suportar o aumento da produção.

O indicador que mede o emprego previsto para os próximos três meses na indústria recuou 0,7% em setembro, na comparação com o mês anterior, feitos ajustes sazonais. Foi o terceiro mês consecutivo de retração, levando o indicador aos 109,9 pontos, abaixo da média dos últimos 60 meses, de 114 pontos.

O nível de utilização da capacidade instalada, por outro lado, se manteve estável. Ficou em 84,1% em setembro, mesmo patamar de agosto (84%) e ligeiramente acima da média dos últimos 60 meses, de 83,7%.


Demanda por bens de capital cresce e reforça investimento

Valor Econômico

A recuperação da atividade na virada do primeiro para o segundo semestre já está puxando uma tímida retomada do investimento, após quatro trimestres seguidos de queda na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil). Os sinais – tais como a melhora da confiança do empresariado, dois meses seguidos de alta na produção de bens de capital e o aumento da demanda por máquinas – ainda são incipientes, mas economistas avaliam que a formação bruta deve ganhar mais tração no quarto trimestre, quando as incertezas sobre o mercado doméstico já devem estar totalmente dissipadas.

Reforçam esse cenário as medidas recentemente tomadas pelo governo que podem ter impacto já neste ano. São elas a depreciação acelerada para as compras de bens de capital, cujo prazo foi reduzido de dez para cinco anos, e o corte de 5,5% para 2,5% dos juros das linhas do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, para financiamento de caminhões, ônibus e máquinas, estímulos que valem só até 31 de dezembro. A depreciação acelerada ajuda as empresas porque na compra de uma máquina, elas podem lançar parte do preço como despesa a cada ano. Essa contabilidade diminui o lucro e, portanto, resulta em queda no imposto de renda recolhido.

Em agosto, os desembolsos do PSI somaram R$ 5,6 bilhões, alta de 14% sobre julho. De janeiro até o mês passado, o banco estatal desembolsou R$ 23,9 bilhões para o programa, 20% a menos do que em igual período de 2011. Em setembro, a demanda voltou a crescer (ver reportagem abaixo).

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, contava com números mais fortes para o investimento a partir do terceiro trimestre antes das ações adicionais do governo. Para ele, o avanço dessazonalizado de 84,4 para 94,7 pontos do nível de demanda relatada pelo setor de bens de capital entre julho e agosto, na Sondagem Conjuntural da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV), já é indício de melhora da FBCF, reflexo da aceleração da economia.

Borges também menciona a confiança do empresário, que segundo a mesma pesquisa, subiu 1,4% entre julho e agosto e, na sondagem de setembro, cresceu mais 0,9% sobre o mês anterior. “O que está por trás disso é a recuperação do consumo”, diz.

Além do incentivo da própria atividade, ele sustenta que as melhores condições de financiamento podem antecipar compras de maquinário, motivo pelo qual a LCA colocou viés de alta em suas projeções de 1,1% para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro e quarto trimestres. A formação bruta, de acordo com Borges, deve ser o maior destaque positivo entre os componentes do PIB na segunda metade do ano, embora deva encerrar 2012 com variação nula em função do primeiro semestre negativo.

O diretor da fabricante de compressores de ar Metalplan Equipamentos, Edgard Dutra, conta que grandes empresas com projetos represados no primeiro semestre estão retomando negociações, motivadas não apenas pelo corte agressivo de juros das linhas do BNDES. “Estamos em um cenário mais tranquilo do que há seis meses, quando os ânimos estavam muito diferentes.”

Dutra diz que a percepção de seus clientes maiores está caminhando para um “equilíbrio térmico”, no qual projeções muito otimistas de demanda não foram concretizadas, mas o pior também não aconteceu. “Não acredito mais em números fantásticos, mas sinto que essa retomada é consistente.”

O faturamento da Metalplan subiu 10% na média dos meses de julho e agosto sobre a média do primeiro semestre, desempenho que o executivo credita às exportações, que estão subindo devido ao câmbio mais competitivo, mas também pela reação doméstica.

Calculado pela FGV, o indicador que mede a expectativa de desempenho da produção entre as empresas de máquinas e equipamentos avançou 11,5% entre agosto e setembro, ao passar de 111,3 pontos para 124,1 pontos, já descontados os efeitos sazonais. “Esse resultado é indicação de que as empresas estão retomando os investimentos, ainda que moderadamente”, diz Aloísio Campelo, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV e coordenador da sondagem da indústria da entidade. Para ele, o setor de bens de capital, ao lado dos intermediários, deve liderar a retomada da indústria nos próximos meses.

Campelo não viu com preocupação o recuo do nível de demanda relatado pelas empresas do segmento para 90,2 pontos em setembro, após a forte alta de dez pontos registrada na comparação anterior. “Essa queda ocorreu mais pelas avaliações do presente. A recuperação ainda está um pouco irregular entre os setores, mas as expectativas continuam melhorando. O pior momento já passou.”

Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, afirma que os indicadores conhecidos até agora – com destaque para os dois meses seguidos de alta na produção de bens de capital (1,3% em junho e 1% em julho, segundo o IBGE) – vão no sentido de uma alta ainda comedida do investimento. Em sua avaliação, as medidas recentes do governo diminuíram o risco de atraso maior nessa recuperação. As condições para investir estão mais atrativas, diz Bicalho, mas ainda esbarram na incerteza proveniente do cenário externo, que está diminuindo lentamente, e na capacidade ociosa da indústria.

“Enquanto houver ociosidade, a aceleração dos investimentos tende a ser um pouco postergada, mas alguns estímulos já devem ter impacto no fim deste ano e início do ano que vem”, projeta Bicalho, para quem a formação bruta deve se expandir entre 1% e 2% no terceiro trimestre, taxa que deve aumentar para algo entre 2% e 3% no último trimestre, sempre em relação ao período anterior, feitos os ajustes sazonais. Bicalho trabalha com queda perto de 1% do investimento neste ano em relação a 2011.


IPI pago por montadora pode cair até quatro pontos

Valor Econômico

As empresas comercializadoras dos automóveis abrigados no novo regime automotivo, o Inovar-Auto, a ser regulamentado hoje, poderão pagar até quatro pontos percentuais a menos do que hoje pagam de Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), caso cumpram requisitos previstos pelo governo, de investimentos em engenharia e inovação e aumento da eficiência energética dos motores.

Como antecipou o Valor, todas as empresas incluídas no regime receberão crédito de IPI, proporcional ao gasto com peças e partes fabricadas no Mercosul, para abater dos 30 pontos percentuais do imposto criados no fim do ano passado.

Hoje, só empresas sem fábricas ou planos de investimento no país pagam os 30 pontos adicionais. A partir do próximo ano, as empresas estarão sujeitas a esse aumento de imposto, mas, poderão reduzir e até eliminar o tributo, caso cumpram requisitos mínimos de conteúdo regional (uso de partes e peças fabricados nos países do Mercosul).

As empresas terão um crédito especial a ser abatido do valor equivalente aos 30 pontos percentuais adicionais do IPI. Em 2013, poderão abater do imposto devido até 130% dos gastos com partes e peças regionais; em 2014, 125%; em 2015, 115%, até cair para no máximo 100%, em 2017.

O decreto de regulamentação do Inovar-Auto foi levado ontem em sua versão final à presidente Dilma Rousseff e deve ser anunciado hoje. Para evitar questionamentos na Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo não incluiu exigências mínimas explícitas de conteúdo nacional, mas, na prática, pagará mais imposto quem não aumentar a quantidade de componentes fabricados no país ou nos sócios do Mercosul – Argentina, Uruguai, Venezuela e Paraguai.

Para evitar forte prejuízo às montadoras que iniciaram recentemente atividades no país, cada empresa terá, como antecipou o Valor, uma cota, proporcional às importações realizadas nos últimos três anos e de, no máximo, 4,8 mil automóveis, para importar sem pagamento de adicional de imposto.

Para ingressar no Inovar-Auto, as empresas terão de se comprometer com uma meta de eficiência, que as obrigará a reduzir em 12%, até 2017, o gasto de energia exigido pelos motores, medido em megajoules por quilômetro, a unidade de medida usada pelos técnicos. Haverá uma tabela de referência com a previsão de redução de consumo de combustível (em litros consumidos por quilômetro), mas sem efeito legal, para dar aos consumidores ideia da economia desejada.

Se as empresas melhorarem os motores a ponto de reduzir o gasto energético em 15%, terão crédito presumido de IPI para abater até um ponto percentual do imposto pago. Se o ganho for de 18%, o crédito permitirá abatimento de até dois pontos percentuais.

Essas metas foram exaustivamente negociadas com as montadoras, e executivos dessas empresas são céticos em relação às vantagens econômicas de investir em motores tão eficientes para abater dois pontos percentuais no IPI. Esse abatimento, sob forma de crédito presumido, só valerá a partir de 2018.

As empresas poderão, ainda, abater até metade do que gastarem em pesquisa e desenvolvimento (inovação) no país, no limite de até um ponto percentual de imposto. Outro ponto poderá ser descontado proporcionalmente aos gastos feitos com engenharia no Brasil.

Só poderão se beneficiar do Inovar-Auto as empresas que cumprirem pelo menos três das seguintes exigências: 1) realizar no país atividades fabris ou de infraestrutura; 2) investir no país em pesquisa, desenvolvimento e inovação, pelo menos, 0,5% do faturamento; 3) fazer no país gastos em engenharia, tecnologia industrial básica e capacitação de fornecedores; e 4) aderir ao programa de etiquetagem veicular nacional.

O governo acredita que as exigências atrairão investimentos na fabricação de peças no país, aumentarão a competitividade dos carros nacionais e darão a esses veículos maiores chances no mercado mundial.


BB, Caixa e pessoa física sustentam crédito

Valor Econômico

As projeções divulgadas ontem pelo Banco Central indicam que a desaceleração do crédito no Brasil, em 2012, só não será mais acentuada graças aos bancos públicos. Diante da ordem do governo para ajudar na sustentação da demanda doméstica da economia, além de manter o ritmo do ano passado, que não foi fraco, eles exibirão crescimento muito mais vigoroso que o da banca privada, principalmente no crédito a pessoas físicas, incluindo o habitacional.

A carteira dos estatais deverá fechar o ano com variação de 24%, praticamente a mesma taxa do ano passado (23,75%), e não mais de 21%, como o BC previa até então. Para os bancos privados de controle nacional, a projeção foi mantida em 10%. Isso reforça a tendência de desaceleração nesse segmento que já vinha se observando em relação ao ano passado, apesar das reduções de taxas de juros anunciadas nos últimos meses por grandes instituições como Bradesco e Itaú.

A carteira dos bancos privados de controle estrangeiro deverá crescer 13%, mais que em 2011 (8,5%), ainda assim muito menos que a dos públicos.

O BC fez nova revisão de projeções depois de aproximadamente cinco meses de agressivas campanhas publicitárias e de redução de juros da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil (BB) para incrementar suas operações. O governo conseguiu fazer com que os bancos privados seguissem o exemplo e também cortassem juros. Mas as projeções indicam que eles não estão conseguindo ou não pretendem seguir os estatais também no que se refere ao ritmo de crescimento do crédito, até porque a inadimplência mostra resistência. A taxa de expansão prevista para o estoque total de crédito subiu de 15% para 16% exclusivamente em função do desempenho esperado dos bancos públicos.

Os dados dos oito primeiros meses do ano antecipam que as operações com pessoas físicas serão as principais responsáveis pela expressiva taxa de crescimento do crédito no segmento estatal em 2012. Até agosto, sem contar os financiamentos habitacionais – que também são em sua maioria diretamente concedidos às famílias -, essa fatia da carteira aumentou 13,6%. Nos bancos privados nacionais, a elevação foi de apenas 5,3% e nos estrangeiros, de 5,4%.

O saldo dos financiamentos habitacionais concedidos diretamente a famílias e a cooperativas de habitação subiu ainda mais expressivamente que o das demais operações com pessoas físicas. Mas esse é um fenômeno comum a todo o sistema financeiro, estatal e privado. O crédito habitacional foi a modalidade que mais cresceu em oito meses (24,7%), muito acima da média da totalidade da carteira (8,9%). O avanço foi de 26,4% nos bancos públicos, 21,8% nas instituições privadas nacionais e de 15,6% nas de controle estrangeiro.

Os bancos públicos vêm sustentando também o crescimento do crédito a pessoas jurídicas. O volume de operações das instituições estatais com a indústria, com o comércio e com o setor de serviços aumentou, respectivamente, 5,1%, 8,8% e 12,3%. Nas instituições privadas nacionais, o incremento foi somente de 3,8%, de 1% e de 1,1%, respectivamente. Nos estrangeiros, a taxa de expansão só foi maior no caso das operações com indústria (8,1%), pois para o comércio e para o setor de serviços, ficou, respectivamente, em -1% e 7,2%.

Consideradas todas as modalidades, o saldo das operações cresceu até agosto 14,5% nos bancos públicos, modestos 4,2% nos privados de controle nacional e 5,6% nos bancos estrangeiros.

A carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social cresceu no acumulado de janeiro a agosto somente 5,5%, muito abaixo da média registrada pelo segmento financeiro estatal como um todo. Isso é uma evidência de que o que vem puxando o avanço são as operações de Caixa e BB.

Em 12 meses, as operações dos bancos estatais cresceram 26,8%. A projeção para o ano calendário de 2012 (24%) ainda indica, portanto, alguma desaceleração, embora mais branda do que a esperada pelo BC em junho, quando se projetava crescimento de 19% para o crédito dos bancos públicos.

Ao mesmo tempo, o menor crescimento das operações do BNDES ajuda a explicar por que o aumento do estoque de crédito para pessoas jurídicas (7,3% no ano) do sistema financeiro todo foi inferior ao do crédito a famílias (10,9%). A diferença fica mais acentuada quando se olha a evolução do crédito direcionado, que cresceu 17,7% para pessoas físicas e 5,5% para empresas. O BNDES opera basicamente com empresas e só com recursos direcionados.

O estoque de crédito com recursos de livre aplicação pelos bancos, por outro lado, aumentou mais para pessoas jurídicas (8,4%) do que para as famílias (7,8%) nesses oito meses.

As projeções do BC para 2012 apontam que o crédito direcionado vai crescer 20% e o livre, 14%. A projeção subiu apenas para o crédito livre (era de 13%). Isso indica que a expectativa da autoridade monetária é de que os bancos públicos também ajudem a incrementar o crédito livre.

O governo entende que o crédito tem sido importante elemento de sustentação da demanda doméstica da economia, motivo pelo qual não tem hesitado em fazer dos bancos federais uma ferramenta para elevar sua oferta.

Não é de hoje que o desempenho das instituições estatais está bem à frente. Pelo menos desde 2008, elas vêm crescendo mais do que as privadas. A diferença é que em 2012, ao contrário das privadas, elas não perderão ritmo, o que também ocorreu em 2011.

Mesmo mais ousados na concessão de crédito, os bancos públicos ainda têm inadimplência menor que os concorrentes privados. Em relação ao total de operações com recursos livres e direcionados, aquelas com pelo menos uma parcela em atraso há mais de 90 dias representavam 1,9% no caso do sistema financeiro estatal, no fim de agosto. A inadimplência dos bancos privados de controle nacional era de 5,2% e a dos privados de controle estrangeiro, de 5,7%.

Os números divulgados ontem pelo BC mostram ainda que a carteira das instituições estatais alcançou R$ 1,011 trilhão no fim de agosto, saldo 1,9% superior ao de julho. O saldo dos empréstimos e financiamentos dos bancos privados nacionais aumentou 0,8% e terminou o mês em R$ 828,279 bilhões. A carteira das instituições de controle estrangeiro cresceu ainda menos, só 0,3%, fechando agosto em R$ 370,835 bilhões.

O BC também divulgou dados de fluxo de novas concessões. A média diária caiu pelo segundo mês consecutivo em agosto, desta vez 1,3%. Em julho, tinha recuado 10,1% em relação ao mês anterior. Além de voláteis por causa de sazonalidades, os números do fluxo, no entanto, pegam só o crédito com recursos livres e mesmo assim nem todo. Ficam de fora o crédito direcionado todo e ainda financiamentos habitacionais com recursos livres. Por isso, as projeções em relação ao estoque oferecem um panorama melhor da tendência. Na série dessazonalizada pelo BC, a média diária de concessões teve ligeira alta e não queda em agosto, disse Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC, sem dar o número. Já para o Itau, a média diária, na série com ajustes sazonais, caiu 2% em agosto, após redução de 4% em julho.


BCE não pode mais aliviar a dívida da Grécia, diz autoridade

O Estado de S. Paulo

O Banco Central Europeu (BCE) não pode mais fornecer alívio de dívida adicional para a Grécia, se o país precisar, afirmou Jens Weidmann, membro do conselho da autoridade monetária e presidente do Bundesbank (o banco central da Alemanha), durante uma entrevista coletiva com o ministro de Finanças da Itália, Vittorio Grilli.

Weidmann não quis comentar quando questionado sobre relatos de que a Grécia pode precisar de um terceiro resgate, dizendo que era melhor esperar até que a troica, grupo de representantes da Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e do BCE, emita um relatório no próximo mês.

Weidmann afirmou que os ministros de Finanças são responsáveis por avaliar como as lacunas de financiamento gregas podem ser preenchidas. “Elas não serão preenchidas pelo BCE. Essa é uma posição clara que eu tenho tido em várias ocasiões.”

O presidente do BC alemão disse também que o projeto para a criação de supervisor bancário na zona do euro é complexo.

Grilli, que também não quis responder perguntas sobre a Grécia, enfatizou que no momento não é o plano da Itália buscar ajuda externa de seus parceiros internacionais, apesar da desaceleração da economia mundial.

“A Itália está fazendo um trabalho muito bom nas reformas, com uma economia sem necessidade de qualquer ajuda extra”, ressaltou o ministro.


Inadimplência de empresas cresce menos em agosto

O Estado de S. Paulo

A inadimplência das empresas cresceu 1,7% em agosto na comparação com julho, influenciada pelo aumento das dívidas vencidas com instituições não bancárias, informou a Serasa Experian. O resultado, porém, representa leve desaceleração em relação a julho, quando o Indicador de Inadimplência das Empresas apresentou avanço de 1,8% sobre o mês anterior.

Comparado a agosto de 2011, a alta foi de 8,3% – mas este número foi o menor aumento nessa base de comparação desde fevereiro de 2011. No acumulado de janeiro a agosto de 2012, a inadimplência subiu 14,3% sobre o mesmo período do ano passado.

Para a Serasa Experian, a redução dos juros, a recuperação gradual das vendas por causa das medidas de estímulo ao consumo e o recuo na inadimplência do consumidor desaceleraram o indicador. Dívidas com bancos atingiram valor médio de R$ 5.276,52 de janeiro a agosto (alta de 2,2%) e o valor médio dos cheques sem fundos ficou em R$ 2.237,72 (alta de 8,4%).


Setor de energia terá investimentos de R$ 1 tri em 10 anos

O Estado de S. Paulo

O setor de energia deve receber investimentos de mais de R$ 1 trilhão no País nos próximos dez anos, estima a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2021. O setor de óleo e gás deve responder pela maior parte desse montante: cerca de R$ 750 bilhões. A expectativa é que a produção de petróleo evolua dos atuais 2 milhões para 5,43 milhões de barris por dia (bde) até 2021.

Para isso, a EPE calcula que serão necessárias 90 novas plataformas FPSO, incluindo a conversão de navios existentes. Para isso, a EPE conta com a retomada de um ritmo de crescimento da economia mais elevado nos próximos dez anos. Como resultado da desaceleração da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) vista este ano, o número de projetos hidrelétricos previstos caiu na comparação com o plano 2011-2020.

“Há uma redução de demanda entre um plano e outro. O efeito do ano passado e deste ano é incorporado e isso tem um rebatimento ao longo do horizonte. Mesmo que se considere um cenário em que haja recuperação da economia adiante, há um efeito no plano. Isso explica a redução”, disse o presidente interino da EPE, Amílcar Guerreiro.

Um dos destaques do plano é a ampliação da fatia do gás natural na oferta interna de energia, que passa de 11% em 2012 para 15,5% em 2021.

A expectativa da EPE é que ao longo desse período se elimine o descompasso entre oferta e demanda do insumo.

Hoje, muitos projetos térmicos não saem do papel no País porque há escassez de gás. Por causa disso, o governo estuda uma nova forma de estruturar os leilões de energia para permitir que mais empreendedores participem da concorrência. Atualmente, para entrar na disputa, é preciso ter garantia de acesso ao gás. Uma proposta prevê que uma espécie de leilão prévio em que as empresas concorreriam para ter acesso ao produto.

Apesar do aumento da participação do gás natural, os derivados de cana e a energia eólica ajudarão a sustentar o crescimento da fatia das fontes renováveis no período. Ao longo dos próximos dez anos, esse tipo de geração crescerá a uma taxa média anual de 5,1%. Os derivados de cana devem aumentar em quase 5 pontos porcentuais sua presença, alcançando 21,2%.


Empreiteiras são as maiores financiadoras

O Globo

Doze empreiteiras estão entre os 30 maiores doadores individuais de recursos para campanhas a prefeitos e vereadores no país. Essas construtoras doaram R$ 83 milhões para partidos e candidatos até o início de setembro. Outras três empresas da lista são bancos e mais três oferecem serviços de coleta de lixo. Os dados foram levantados pela ONG Contas Abertas com base na segunda prestação de contas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O maior financiador individual de campanha do país é a construtora Andrade Gutierrez, que doou sozinha R$ 23,08 milhões para partidos. Esse valor foi distribuído entre PMDB (R$ 7,5 milhões), PSDB (R$ 5,3 milhões) e PSD (R$ 3,7 milhões). Outros 11 partidos receberam o restante. Como o valores foram doados aos diretórios dos partidos, e não diretamente aos candidatos, não é possível saber exatamente quem foi o beneficiado.

Outras construtora com destaque na lista é a OAS, que financiou campanhas eleitorais em R$ 22,8 milhões, sendo R$ 1 milhão apenas para a campanha de Fernando Haddad (PT) a prefeito de São Paulo. Também na relação estão gigantes como Queiroz Galvão (R$ 7,2 milhões), WTorre Engenharia (R$ 4,2 milhões) e Norberto Odebrecht (R$ 2,9 milhões).

Entre os bancos, o destaque fica para o Alvorada, ligada ao Bradesco. O banco foi o terceiro maior doador, com R$ 7,7 milhões. O BMG doou R$ 7,1 milhões. Procuradas, as empresas não comentaram ou limitaram-se a informar que as doações foram realizadas dentro da legislação.

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