Ajuda a bancos vai elevar déficit e dívida da Espanha
A admissão é feita num momento em que cresce o temor quanto à solvência do país, o que tem elevado seus custos de empréstimos e pressionado o governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy a solicitar um resgate da União Europeia para continuar se financiando.
A quarta maior economia da zona do euro sofre as consequências do colapso do mercado imobiliário depois de uma década de boom, o que derrubou as receitas fiscais do país, minguou a demanda interna e sobrecarregou seus bancos com bilhões de euros em dívidas de recebimento duvidoso.
No plano de orçamento de 2013, apresentado sábado, o governo informou que o pacote de ajuda aos bancos vai inflar seu déficit orçamentário para cerca de 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Excluindo o efeito de medidas para ajudar os bancos a digerir uma enorme pilha de ativos imobiliários tóxicos, o governo afirmou que o pais vai cumprir a meta de déficit de 6,3% do PIB para 2012 com que havia se comprometido para receber um resgate da União Europeia. Não foi possível contatar imediatamente um porta-voz da Comissão Europeia, o braço executivo da UE, para comentar o assunto.
Enquanto isso, o governo espanhol voltou a subir sua estimativa de déficit orçamentário para o ano fiscal de 2011, dos 8,96% do PIB divulgados anteriormente para 9,44% do PIB, para ter em conta as medidas para ajudar seus bancos. É a segunda vez que o governo revisa o déficit do orçamento do ano passado.
As revisões do orçamento ocorrem num período em que Rajoy enfrenta crescentes críticas dos círculos sociais e políticos contra seu pacote de medidas de austeridade e de reforma econômica. No sábado, milhares de manifestantes assediaram o Parlamento nacional, em Madri, pela terceira vez só na semana passada para protestar contra os cortes de gastos e aumentos de impostos.
O governo já solicitou à UE até € 100 bilhões (US$ 128,6 bilhões) em ajuda para fortalecer seus bancos. Mas, depois que uma auditoria independente realizada pela consultoria americana Oliver Wyman mostrou que os bancos precisam de menos de € 54 bilhões em capital novo, o governo anunciou sexta-feira que pode precisar apenas de € 40 bilhões em fundos da UE porque um novo banco estatal, que reunirá os ativos tóxicos, vai ajudar a reduzir as necessidades de capital e alguns dos bancos serão capazes de levantar fundos por conta própria.
O conselho de administração do Banco Popular Español – o maior banco entre as instituições que negociam ações em bolsa a precisar de capital – aprovou, no domingo, um plano para vender até € 2,5 bilhões em novas ações aos investidores para evitar ter de aceitar a ajuda da UE, disse uma pessoa familiarizada com a situação. O Banco Popular precisa de € 3,2 bilhões em capital adicional, constatou a auditoria.
O governo também disse em sua apresentação do orçamento que sua carga de dívida vai saltar este ano e no próximo. A relação entre dívida e PIB da Espanha deve subir para 85,3% em 2012 e para 90,5% em 2013. No início deste ano, o governo previa uma relação entre dívida e PIB de cerca de 80% para este ano.
No seu plano de orçamento de 2013, o governo informou que o aumento agudo da dívida leva em conta a linha de crédito que a UE está liberando para os bancos do país, a contribuição da Espanha para o resgate de os outros países da zona euro e o financiamento dos subsídios de energia elétrica. Os 27 países da UE tinham uma relação dívida/PIB média de 83% até o fim do primeiro trimestre de 2012.
A Espanha tinha a esperança de que a carga de dívida da ajuda da UE ao sistema bancário pudesse ser transferida para o fundo de resgate da região, depois que um acordo entre os chefes de Estado europeus em junho pareceu abrir as portas para esse tipo de transferência. Mas uma declaração na semana passada dos ministros das Finanças da Alemanha, Holanda e Finlândia jogou água fria na ideia, ao sugerir que essa possibilidade não deve ser aberta para planos de resgate existentes, como o da Espanha.
O orçamento de austeridade da Espanha para 2013 inclui aumentos de impostos e cortes de gastos da ordem de € 13 bilhões por parte do governo central. Incluindo as medidas e cortes anunciados anteriormente a serem implementados pelos governos regionais e municipais, a Espanha pretende reduzir seu déficit orçamentário em € 37 bilhões até o ano que vem. Mesmo assim, muitos analistas acreditam que uma recessão econômica profunda possa tornar mais difícil para a Espanha cumprir seus compromissos com a UE de reduzir o déficit para 4,5% do PIB em 2013 e para 2,8% em 2014.
Em discurso durante um evento de campanha antes das eleições regionais de 21 de outubro no País Basco, Rajoy disse que seu governo, de linha conservadora, teve de fazer cortes orçamentários profundos por causa da má gestão econômica do governo do ex-primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero. “Essa é a origem de muitas das nossas dificuldades”, disse Rajoy em Vitoria, capital da região espanhola do País Basco.
Bancos terão de explicar custo de tarifas
O Estado de S. Paulo
Com o aumento da oferta de crédito no País, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, quer monitorar os custos efetivos das operações financeiras e vai começar colocando uma lente de aumento sobre as tarifas dos bancos.
“Queremos verificar quanto, de fato, se cobra na ponta ao consumidor”, afirmou a secretária Juliana Pereira da Silva, que discutirá hoje com representantes do Banco Central (BC) como se dará esse monitoramento.
A ação será mais uma ofensiva do governo na área financeira. Brasília está insatisfeita com o pequeno repasse da redução dos juros ao consumidor, com a alta das tarifas cobradas pelos bancos e com as elevadas taxas de cartão de crédito para clientes e lojistas. Para acirrar a concorrência no mercado, o governo tem acionado os bancos públicos.
Esta não é a primeira batalha da Secretaria Nacional do Consumidor em relação ao setor. A secretaria esteve, junto com o Banco Central, por trás da unificação dos nomes das tarifas bancárias, mas o avanço é considerado insuficiente para que o consumidor compare os serviços oferecidos pelos diferentes bancos.
Hoje, as instituições financeiras têm de contar ao BC qual o teto de tarifas cobrado aos clientes. O problema, segundo a Senacon, é que a obrigatoriedade é insuficiente para que correntistas saibam de antemão exatamente quanto vão pagar de encargos.
A avaliação é de que é preciso um detalhamento maior, unificado e transparente dos serviços ofertados. O ideal seria poder fazer escolhas de tarifas como se faz opções por compra de televisões, comparando marcas e lojas a partir de parâmetros únicos como tecnologia (LED ou LCD) e número de polegadas.
“Bola da vez”
A cobrança de abertura de crédito é considerada a “bola da vez”, porque os consumidores têm ganhado ações na Justiça nesse âmbito. De acordo com o site do Banco Central, elas podem chegar a R$ 5 mil, mas não se sabe quanto o cliente paga, em média, por esse tipo de operação. Há relatos de pagamento de R$ 1 mil para essa operação embutida em financiamento de veículos, e que o consumidor nem se dá conta de que está pagando.
“Esse valor corresponde a uma parcela da compra de carro, e poderia ir para o consumo de um bem”, afirmou Juliana.
A alta taxa de um serviço não é vista como um problema em si, pois cabe ao consumidor optar por esse ou aquele estabelecimento na hora de contratá-lo. A questão, enfatizou Juliana, é que o correntista tem de saber, antes de fechar um negócio, quais são exatamente as taxas cobradas pelas instituições para que possa fazer comparação e tomar sua decisão, o que nem sempre ocorre. “O mercado tem liberdade, mas falta ao consumidor condições para fazer comparações”, disse.
As listas das maiores tarifas e taxas cobradas por banco pode ser acessada no site do BC. Mas isso não basta, avalia Juliana. “Não adianta falar que a informação está no site do Banco Central ou no da Federação dos Bancos, pois o cliente não acessa. É preciso tratar a informação de forma transparente”, defendeu.
Outra frente que a secretária promete explorar é a dos juros embutidos nos produtos comprados em várias vezes, os famosos parcelamentos “sem juros”. “Isso tem de avançar e queremos aproveitar as normas e nosso convênio com o Banco Central para criar instrumentos para o consumidor.”
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que se pronunciará sobre o assunto “oportunamente”.
BB recebe autorização para ampliar operações nos EUA
Valor Econômico
O Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), um dos supervisores do sistema bancário americano, deu sinal verde para o Banco do Brasil ampliar as suas operações nos Estados Unidos.
Em 12 de outubro, o BB passa a operar oficialmente no território americano com a nova marca, Banco do Brasil Américas. E coloca em marcha a estratégia de ampliar o portfólio de produtos e de instalação de novas agências.
No começo do ano, o BB adquiriu um banco comunitário da Flórida, o Eurobank, com apenas três agências. A instituição apresentava algumas fragilidades financeiras, por isso o FDIC havia limitado sua ampliação de ativos e passivos.
O BB pagou US$ 6 milhões pelo Eurobank. Nos meses seguintes, injetou US$ 49,5 milhões para reforçar o capital do banco, além de promover um saneamento da carteira de ativos.
Para o FDIC, gestor do seguro depósito nos Estados Unidos que tem poderes de supervisão, esse processo está concluído. Sob o comando do BB, o Eurobank já é um banco sólido e pode voltar a ampliar as suas atividades.
No plano de negócios apresentado às autoridades americanas, o BB informou que pretende ter 16 agências bancárias nos próximos cinco anos. O objetivo é ampliar a base de clientes, hoje de 1,5 mil, para cerca de 100 mil correntistas até 2020.
“Não descartamos fazer novas aquisições para crescer nos Estados Unidos”, afirmou Leandro Alves, presidente do Banco do Brasil Américas.
Com a liberação pelo FDIC, o BB também irá ampliar o portfólio de produtos, incluindo cartão de crédito, banco no celular e uma rede de 50 mil terminais de auto-atendimento (ATMs) com atendimento tanto em inglês quanto em português. No ano que vem, o BB vai oferecer financiamento imobiliário para a aquisição de imóveis nos Estados Unidos.
A operação no varejo americano é um desejo antigo do BB. Em 2008, o banco federal havia obtido autorização dos reguladores americanos para iniciar uma operação orgânica, ou seja, formar um banco do zero. Mas os planos foram adiados, devido à crise financeira que atingiu os Estados Unidos.
O BB escolheu começar na Flórida porque é um Estado com grande concentração de brasileiros (que algumas estimativas colocam em 300 mil), com perfil de renda diversificado. Há imigrantes que se mudaram para “fazer a América”, mas também um grande grupo de turistas e de brasileiros de alta renda que resolveram morar nos Estados Unidos.
A ideia é instalar agências também em Massachusetts, Nova York e Nova Jersey, Estados com grande concentração de brasileiros. E também atrair outras comunidades de latino-americanos. “O Brasil tem uma boa aceitação nos demais países da região”, disse Alves.
Chineses querem reduzir peso do investimento no PIB
O Estado de S. Paulo
A China começa gradualmente a abandonar o modelo de crescimento turbinado por investimentos que vigorou nas últimas três décadas e levou o país a construir a gigantesca indústria siderúrgica, que responde por quase metade da produção mundial de aço e consome 60% do minério de ferro exportado no planeta.
Para alguns analistas, a atual capacidade das siderúrgicas e os estoques que serão acumulados com o menor ritmo de crescimento podem levar a excesso na oferta de aço. A consequência seria a redução forçada da produção, que derrubaria o preço do minério de ferro no mercado internacional.
Entre os mais pessimistas estão Matthew Cross e Ivan Lee, analistas de aço e ferro da Nomura Equity Research em Hong Kong. “Acreditamos que o aumento na produção de aço pode exacerbar os problemas atuais e aumentar a possibilidade de uma redução desordenada de estoques e um grande, involuntário corte de produção e, na nossa visão, as siderúrgicas estão provavelmente adiando o inevitável”, escreveram, em relatório.
Raja Mukherji, do fundo de investimentos PIMCO, também ressaltou os problemas trazidos pelo excesso de capacidade de produção do setor em nota divulgada no mês passado. “A indústria siderúrgica chinesa apresenta vários sinais de sérias dificuldades econômicas, trazidas pela velocidade e a dimensão sem precedentes de sua expansão”, escreveu Mukherji, que também fica em Hong Kong.
Em sua avaliação, a demanda de aço na China alcançou nível próximo do pico e terá dificuldades de ampliar na medida em que o país reduz o peso dos investimentos na expansão do PIB.
No ano passado, a capacidade instalada da indústria de aço do país atingiu 850 milhões de toneladas, mas a produção foi de 683 milhões, o equivalente a 46% do total mundial.
A quantidade de aço fabricado pela China superou a soma das toneladas que saíram das siderúrgicas dos 16 países que apareceram em seguida no ranking. O segundo colocado, o Japão, fabricou 108 milhões de toneladas.
Na avaliação dos analistas da Nomura, projeções de aumento no consumo de aço na China tendem a ser exageradas por não descontarem os efeitos do megapacote de investimentos lançado em 2008, que elevou a demanda pelo produto a um nível artificialmente alto.
“Usar o “ano passado” como o ponto inicial de análise não faz o ajuste ao impacto do pacote de estímulo de 2008, que salvou a economia da China de entrar em uma recessão pela antecipação de investimentos de capital e uma grande elevação do patamar básico do consumo anual de metais”, observaram.
Cross e Lee ressaltaram que estimativas não adaptadas às distorções provocadas pelo estímulo tendem a superestimar a demanda futura da China por aço e, por tabela, minério de ferro.
Estrangeiro investirá como local
Valor Econômico
O novo fundo de private equity da Kinea contou com esforços de captação exclusivamente no país. Mesmo assim, atraiu a gestora americana Siguler Guff, especializada em investir em portfólios de várias gestoras – os chamados “fundos de fundos”.
Com um total de US$ 10 bilhões sob gestão, a Siguler possui investimentos em algumas das principais firmas de private equity brasileiras, como Gávea e Pátria, mas foi a primeira vez que aceitou compartilhar o mesmo fundo dos investidores institucionais locais.
Com divergências sobre a estrutura de governança dos fundos, investidores nacionais e estrangeiros costumam ser alocados em estruturas distintas. Algumas gestoras preferem, inclusive, levantar recursos exclusivamente no exterior.
O foco da discórdia é o chamado comitê de investimento – responsável por aprovar os negócios selecionados pelos gestores. Enquanto os grandes investidores locais, como fundos de pensão, exigem assento nesse comitê, os estrangeiros preferem delegar as decisões de investimento aos gestores.
“Conhecemos o trabalho da equipe que hoje está na Kinea, por isso nos sentimos confortáveis em participar do fundo ao lado dos investidores locais, que se profissionalizaram muito nos últimos anos”, afirma o diretor responsável pelo escritório da Siguler Guff no país, Cesar Collier, que acabou sendo eleito pelos cotistas minoritários para representá-los no comitê de investimentos.
Franceses protestam contra pacto fiscal
O Globo
Milhares de manifestantes marcharam pelas ruas de Paris ontem contra o pacto fiscal europeu, na primeira grande exibição de insatisfação pública contra o presidente da França, François Hollande, desde sua eleição, em maio. A manifestação, organizada pela coligação Frente de Esquerda, acontece dois dias antes do início das discussões entre os parlamentares sobre o projeto de lei que trata do acordo fiscal. Os ativistas pedem que seja realizada uma consulta popular sobre o tratado, que impõe medidas de contenção de gastos aos membros da União Europeia.
Na sexta-feira passada, Hollande anunciou o maior ajuste fiscal em 30 anos, que inclui aumento de impostos e corte de gastos, com o objetivo de poupar ¬ 30 bilhões até o fim de 2013. A iniciativa faz parte de um movimento maior, em que outros países europeus se comprometeram a seguir um maior rigor nas contas públicas, como manter o déficit fiscal em 3% do Produto Interno Bruto (soma de bens e serviços produzidos no país). Hoje, o déficit francês está em 4% do PIB.
Também ontem, o ministro do Orçamento da França, Jerome Cahuzac, afirmou que não haverá aumento de impostos em 2014 e que, em 2015, os tributos poderão ser reduzidos.
– Nós enfrentaremos dois anos difíceis, indiscutivelmente, muito difíceis. Mas não haverá um maior esforço fiscal depois disso… A partir de 2015 esperamos reduzir taxas obrigatórias – disse Cahuzac à rádio francesa Europe 1.
No fim de semana, também houve protestos em Madri e Lisboa, contra as medidas de austeridade.
Minério lidera exportações do Brasil
O Estado de S. Paulo
Nem mesmo os otimistas acreditam que o preço do minério de ferro voltará ao nível de US$ 130/tonelada registrado em julho. Para eles, o novo nível de equilíbrio está na casa de US$ 110 a US$ 120, que poderia ser alcançado nas próximas semanas.
O principal fator que sustenta as previsões é o alto custo de produção das mineradoras chinesas, que tendem a sair do mercado quando a cotação do produto cai abaixo de US$ 120. A consequência é a redução da oferta doméstica e o aumento das importações, o que eleva o preço.
Segundo fontes do setor, a China consome 1,1 bilhão de toneladas de minério de ferro por ano, das quais entre 350 milhões e 400 milhões são produzidas no país. Cerca de 40% da oferta doméstica é de alto custo e tende a ser interrompida quando a cotação cai abaixo de US$ 120.
O que aumenta o custo de produção na China é o fato de o minério local ter apenas 20% de conteúdo de ferro, o que exige extrações de grandes quantidades para obtenção do produto final. O minério brasileiro chega a ter 62% de ferro.
Por isso, mesmo se for incluído o valor do frete, o produto da Vale pode chegar aos portos chineses a um preço menor que o extraído dentro do país.
O vertiginoso aumento da demanda chinesa transformou o minério de ferro no principal produto de exportação brasileiro e levou os preços do produto a níveis inimagináveis no começo do século.
Em 2001, a China assumiu a posição de maior comprador do minério de ferro brasileiro, com importações de US$ 482,6 milhões, o equivalente a 0,83% das vendas totais do país ao exterior. No ano passado, foram US$ 19,8 bilhões, participação de 7,73% no total dos embarques.
Meta é elevar investimentos de 2013 em 10%
Valor Econômico
O governo trabalha para aumentar a taxa de investimento da economia em 10% no próximo ano, elevando o estoque para algo próximo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa taxa, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), isto é, a compra de bens de capital (máquinas e equipamentos) e os gastos com construção civil, estava em 17,88% do PIB no segundo trimestre, a mais baixa desde o terceiro trimestre de 2009.
A aceleração do investimento é considerada crucial pelo governo para sustentar o crescimento do PIB a taxas mais elevadas e sem gerar inflação. A taxa de investimento real vem caindo desde o segundo trimestre de 2010. Entrou em terreno negativo no primeiro trimestre deste ano, quando caiu 2,06% em relação ao mesmo período de 2011, e acelerou o recuo no segundo trimestre (-3,7%). É por essa razão que o governo vem adotando, desde maio, várias medidas para reduzir custos financeiros e de produção e ampliar os investimentos em infraestrutura.
O Ministério da Fazenda trabalhava, inicialmente, com meta de expansão de 15% dos investimentos em 2013. Agora, segundo informou ao Valor um integrante da equipe econômica, a meta é avançar 10%. Trata-se de objetivo mais realista, uma vez que, mesmo após a forte queda dos juros, da desvalorização do real frente ao dólar e da concessão de inúmeros estímulos fiscais e creditícios, o investimento está demorando a reagir.
“O investimento é prioritário”, disse um ministro. “O modelo de crescimento da economia [baseado nos últimos anos na expansão do consumo e do crédito] não se esgotou, mas o governo quer focar o investimento”, atestou outra fonte.
O governo acredita que, no momento, há vários sinais positivos indicando recuperação “gradual” da economia. Entre esses, destaca-se a confiança dos empresários. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), apurado pela Fundação Getulio Vargas, avançou 0,9% entre agosto e setembro, atingindo 105 pontos, valor próximo da média histórica recente (105,4 pontos).
Na opinião de economistas oficiais, é pelo canal da confiança, batizado na diretoria do Banco Central (BC) de “CNN channel”, uma referência ao noticiário internacional, que a crise internacional mais tem afetado a atividade econômica no Brasil. Os empresários temem o agravamento da crise financeira mundial e, por isso, seguram os investimentos.
O governo acha, entretanto, que o risco de um cenário extremo na Europa é bem menor hoje e que, por isso, o humor estaria mudando. “Os estímulos monetários e financeiros, mesmo com atraso, não perderam eficácia”, explicou uma fonte graduada.
De fato, o crédito cresceu, em agosto, a um ritmo superior ao do mês anterior. O estoque, nesse período, saltou de 50,8% para 51% do PIB. O governo acredita que a recente liberação de depósitos compulsórios, no total de R$ 30 bilhões, além de injetar liquidez no sistema (para ajudar bancos pequenos e médios), aumentará a concessão de crédito e reduzirá os spreads bancários.
“Compulsório mais baixo reduz custos dos bancos e abre espaço para mais redução dos juros”, explicou uma fonte. “Curiosamente, esse é um processo [a diminuição dos spreads] que caminha mais rapidamente no momento em que a economia dá uma recuperada e o volume de negócios aumenta. Os próprios bancos ficam mais à vontade para poder reduzir spreads, porque estarão compensando no volume de negócios.”
O governo cita outros aspectos que mostrariam a economia em processo de recuperação. Um deles é a redução dos estoques da indústria de transformação. Outro é o ingresso de investimento estrangeiro direto (IED). Nos 12 meses concluídos em agosto, entraram US$ 65,8 bilhões no país por essa modalidade de investimento, indicando que, apesar do baixo crescimento do PIB nacional, os investidores seguem acreditando na economia brasileira.
Outro aspecto mencionado pelas autoridades é o fato de, hoje, o país ter uma taxa de câmbio mais competitiva. Elas alegam que a volatilidade do câmbio diminuiu muito nos últimos quatro meses e que isso ajuda tanto os exportadores quanto quem produz para o mercado interno. Há uma preocupação, porém, com o efeito, sobre a cotação do real, da expansão monetária promovida pelas principais economias do planeta. Uma forte entrada de dólares provocará a valorização do real novamente.
“Não sabemos o tamanho da encrenca, mas estamos preparados para agir”, disse uma fonte. O Banco Central acredita que, mesmo tendo um foco (o mercado imobiliário americano), o afrouxamento quantitativo posto em prática pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, vazará para os mercados de commodities e de moeda.
A reação do governo a esse “vazamento” ocorrerá em duas frentes. Na primeira, o BC vai acelerar a compra de reservas cambiais e atuar no mercado futuro para manter a taxa de câmbio em torno de R$ 2. Se mesmo assim o real apreciar, o governo usará o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aumentar a barreira de entrada. “Prefiro não utilizar o IOF, mas, se precisar, o faremos”, disse uma fonte.
A equipe econômica trabalha, também, na elaboração de novas medidas destinadas a reduzir custos de produção. Os próximos pontos dessa agenda são a unificação da Cofins e do PIS, medida que será anunciada no fim do ano ou, no mais tardar, no início de 2013, e a unificação, em 4%, da alíquota interestadual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.
Além disso, o Ministério da Fazenda deve preparar novas desonerações de impostos. “Existe uma tendência em tornar permanentes as desonerações sobre bens de capital (máquinas e equipamentos)”, informou um auxiliar da presidente Dilma Rousseff. Não está descartada, por exemplo, a manutenção, a partir de janeiro, do prazo reduzido (de dez para cinco anos) da depreciação acelerada de bens de capital – o benefício, a princípio, vigoraria apenas até dezembro.
O limite da concessão de novas desonerações é o resultado primário das contas públicas. Nos últimos dias, iniciou-se um debate sobre a possibilidade de redução do superávit – hoje, em torno de 3% do PIB -, desde que o espaço fiscal seja usado para diminuir a carga tributária. A medida já conta com a simpatia, inclusive, do BC, que vinha defendendo, até pouco tempo atrás com intransigência, o cumprimento da meta fiscal.