Moody’s pode rever a nota do Brasil

A agência de classificação de risco Moody”s vai analisar ainda este ano os dados da economia brasileira para decidir se o país terá elevada sua nota ou permanecerá no patamar atual. Hoje, pelos critérios da Moody”s, o Brasil tem nota “Baa2”, um estágio inicial na sua escala de grau de investimento, com perspectiva positiva. A avaliação do Brasil é a mesma do Peru e inferior à do México, que tem nota “Baa1”.

Apesar de avanços importantes, como a queda dos juros para o patamar de 7,5%, o Brasil ainda tem deficiências fiscais que o impedem de ascender ao clube das economias emergentes com nota “A” na escala da agência, como a China e o Chile.

– O Brasil, que sempre foi fraco nas finanças governamentais, está forte agora, mas ainda fraco em relação aos países com nota “A” – observou Mauro Leos, analista sênior de crédito da Moody”s, ressaltando que o país precisa de regras fiscais “mais claras”.

Para Leos, a própria redução da Selic já é fator importante para melhor equilibrar as contas públicas. Segundo ele, embora as receitas governamentais continuem crescendo, as despesas com custeio avançam num ritmo ainda forte, o que pesa negativamente na avaliação de risco do país. Por isso, se tiver sua nota elevada este ano o Brasil deve avançar apenas um degrau, para “Baa1”.

– A administração atual vem tentando estabelecer limites para os gastos a médio prazo. E embora isso implique discussões com o Congresso, que são difíceis, está-se olhando para a frente – disse Leos, para quem o governo Dilma está focado em buscar uma estrutura fiscal que fortaleça o setor privado.

Nesse sentido, observou o economista, outro fator importante para ascender na escala da Moody”s é o Brasil voltar a crescer mais fortemente. E a perspectiva de que os juros continuarão baixos, em sua opinião, é um dado a favor nesse processo. Mas ressaltou:

– Isso não é fácil de fazer, e leva tempo. É preciso investir mais, e para isso é necessário poupar mais – disse Leos, lembrando que o BNDES é ainda o principal financiador dos investimentos de longo prazo no país, e que é preciso que haja outras fontes.

Concorrência sob encomenda

O avanço dos bancos públicos no mercado de crédito, sob “encomenda” do governo, é saudável para estimular a concorrência, mas acaba expondo essas instituições a riscos maiores e ainda difíceis de serem avaliados. A afirmação é da vice-presidente de Crédito da agência Moody”s, Ceres Lisboa, que considera a Caixa Econômica como o caso que mais preocupa, pela pouca experiência que teria em vários segmentos de crédito em que passou a atuar, como automóveis e consumo.


Crise freia comércio do Brasil com a Europa

O Estado de S. Paulo

O Brasil caminha para ter o pior ano de seu comércio com a Europa em uma década. Cálculos de diplomatas brasileiros fornecidos ao “Estado” apontam que a previsão é de que o superávit comercial com os europeus deve ser o mais fraco desde 2002.

De um lado, a nova crise europeia freou o consumo local e reduziu as importações. De outro lado, o real valorizado e a falta de competitividade da indústria nacional acabaram pesando na conta final. Só para Portugal, a queda nas vendas é de 30%, a maior redução em pelo menos 23 anos.

Em 2011, a balança comercial com os parceiros europeus terminou com saldo positivo para o Brasil de US$ 6,5 bilhões. Dados oficiais apontam que, até o final de agosto deste ano, o cenário era bem diferente. As exportações brasileiras para a Europa recuaram 7,3%, enquanto as vendas europeias no mercado brasileiro cresceram mais de 4%. O resultado é um superávit de apenas US$ 1,1 bilhão, num volume de comércio de US$ 64 bilhões.

Nos últimos quatro meses do ano, as vendas poderão permitir que o superávit chegue a US$ 2 bilhões. Mas, mesmo assim, o volume só encontra equivalente em 2002, quando o superávit foi de apenas US$ 2,1 bilhões. Em 2007, quando a crise ainda não havia chegado à Europa, as exportações brasileiras permitiram que o saldo a favor do País chegasse a US$ 13 bilhões.

Nem em 2009, péssimo ano para o comércio mundial, o superávit brasileiro foi tão pequeno quanto agora. Naquele momento, o saldo positivo para o Brasil foi de US$ 4,8 bilhões.

Mas o que mais preocupa o governo é que as vendas para os maiores mercados do bloco estão em franca queda. No caso das vendas ao mercado italiano, o terceiro maior da zona do euro, a redução já é de 9,6% de janeiro a agosto. Para a França, as exportações brasileiras tiveram uma queda de 9%.

Para a Alemanha, economia que supostamente não foi afetada pela crise da mesma forma que as demais, a redução nas exportações é ainda maior. Comparando janeiro a agosto de 2011 com o mesmo período de 2012, a queda foi de 21%. Nem os produtos básicos resistiram e sofreram queda de 23% nas vendas ao mercado alemão.

Também preocupa o governo o fato de que, nos últimos anos, o comércio com a Europa era um dos pilares que permitiam ao Brasil manter seu superávit na balança comercial. Com as economias do G-8, o Brasil completará seu quinto ano de déficit comercial. Até agosto, o buraco chegava a US$ 10 bilhões com esses países.


BCE decide manter juros em 0,75%

O Estado de S. Paulo

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, anunciou ontem que a instituição decidiu manter sua taxa básica de juros inalterada, em 0,75%. Em entrevista à imprensa, Draghi reiterou que o euro é irreversível e que a instituição está pronta para comprar bônus de economias problemáticas da zona do euro.

A Espanha, no entanto, ainda não se decidiu sobre um possível pedido de ajuda à União Europeia, o que abriria as portas para o BCE ativar seu programa de compras de dívida soberana.

Draghi afirmou que a economia da zona do euro continuou fraca no terceiro trimestre deste ano. “Indicadores econômicos, em especial os resultados de pesquisas qualitativas, confirmam a continuação da fraca atividade econômica no terceiro trimestre de 2012, em um ambiente caracterizado pela alta incerteza”, disse ele no discurso divulgado na íntegra no website do BCE.

Draghi destacou que o PIB da zona do euro teve contração de 0,2% no segundo trimestre, em relação ao primeiro trimestre, após o crescimento zero nos três primeiros meses do ano. Ele disse ainda que a economia deve continuar fraca e que a zona do euro vai se recuperar apenas muito gradualmente.

O presidente da autoridade monetária explicou que as ações adotadas pelo BCE impulsionam o crescimento, mas a atividade econômica é prejudicada pelos processos de ajuste nos balanços patrimoniais de empresas dos setores financeiro e não financeiro, além das altas taxas de desemprego e da recuperação desigual dentro do bloco.

Antes do BCE, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) também deixou inalterada sua taxa de juros principal, em 0,50%.


BC fala em calibrar política para manter PIB

Valor Econômico

O mundo começa a entrar em uma nova fase da crise mundial. Se, de uma lado, os riscos de uma ruptura do sistema financeiro foram minimizados pelas últimas medidas dos bancos centrais e das autoridades europeias, ao mesmo tempo, a perspectiva é de um longo período de “crescimento medíocre” nas principais economias do mundo, sejam elas desenvolvidas ou emergentes.

Esse cenário pessimista em termos de crescimento mundial, traçado ontem pelo diretor da área internacional e de regulação do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, em discurso em São Paulo, exige que a autoridade monetária seja “capaz de calibrar o ponto mais favorável onde se maximizam as chance de crescimento” da economia brasileira, sem comprometer a estabilidade monetária e financeira.

“Apesar de uma redução dos riscos de cauda [evento de ruptura], aumentam ligeiramente – pela persistência do baixo crescimento – os riscos para o ritmo que terá a atividade nos seus polos mais dinâmicos. Dado o impulso acumulado já amplo e efetivo ao nosso crescimento, é importante ser capaz de calibrar o ponto mais favorável onde se maximizam as chances do nosso crescimento continuar a acelerar, minimizando os riscos para a nossa estabilidade monetária e financeira.”

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC divulgou um comunicado que dividiu o mercado. Ao citar que só faria movimentos adicionais de corte de juros com a “máxima parcimônia”, muitos analistas entenderam que o ciclo de queda da taxa de juros, que recuou 5 pontos percentuais desde agosto do ano passado, para 7,5% ao ano, estaria encerrado.

Mas parte dos operadores ainda acredita em novo corte de pelo menos 0,25 ponto percentual na reunião do Copom da próxima semana, visão que pode ganhar força após o discurso de ontem.

O diretor do BC incluiu uma nova palavra-chave que deve chamar a atenção do mercado, ao afirmar que o BC terá que “calibrar” as decisões de política monetária para equilibrar o baixo crescimento mundial com o risco de inflação e estabilidade financeira no Brasil.

Awazu fez questão ainda de reafirmar que o atual choque de commodities mundial que afeta também os preços no Brasil “deve ter efeitos mais amenos e temporários”, quando comparado ao ciclo de 2010/2011. “É provável que estejamos frente a um período de baixo crescimento global mais persistente e mais longo, e com possíveis efeitos negativos sobre os polos mais dinâmicos da recuperação global”.

“O que está talvez surgindo como uma nova questão mais recentemente é o efeito da “persistência” desse quadro de crescimento medíocre por um período mais prolongado do que originalmente se antecipava, como uma espécie de extensão do Japão pós-bolha”, completou em palestra em evento na BM&FBovespa, na tarde de ontem, em São Paulo, com a presença do comissário para serviços financeiros da União Europeia, Michel Barnier.

O diretor do BC fez questão ainda de reforçar algumas vezes durante seu discurso que o país mantém o compromisso com o tripé de política econômica adotado há mais de dez anos. Segundo ele, a “manutenção do tripé responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e regime de metas para a inflação tem sido capaz de guiar e consolidar a confiança dos agentes, mesmo nas situações excepcionais do mundo de hoje”, afirmou.

As palavras de Awazu parecem direcionadas às críticas que o BC recebe atualmente por sua atuação. Segundo economistas de mercado ouvidos recentemente pelo Valor, a autoridade monetária estaria se mostrando mais preocupada com o crescimento do que com a inflação.

“Ao longo das últimas décadas, desenvolvemos um arcabouço robusto para garantir simultaneamente a nossa estabilidade macroeconômica, inflação na meta, e a nossa estabilidade financeira”, diz Awazu.

Mas ele também destacou a recuperação do crescimento econômico, como tem sido cada vez mais frequente nos últimos discursos do BC, tendo como pano de fundo as atuais medidas do governo federal para ampliar a oferta da economia brasileira.

O Brasil está bem posicionado, com uma estabilidade macro e financeira consolidada, empenhado em reforçar suas políticas de oferta, de melhora de sua logística, infraestrutura e capital humano para apoiar a sua retomada do crescimento em curso.”

Se a busca pela inflação na meta continua sendo prioridade, o regime de câmbio flutuante também se mantém em plena execução, diz o diretor do BC. Segundo ele, essa não é uma questão de gosto pessoal, mas sim de se valer de um instrumento que se mostrou efetivo para amortecer choques externos.

“A sociedade brasileira se beneficiou do regime de câmbio flutuante. É a primeira linha de defesa para choques externos. Não é uma questão de desejo pessoal. É um instrumento importante para dar robustez ao nosso tripé [de política econômica]”, disse, em resposta a uma pergunta sobre o fato de o governo sistematicamente defender um piso ao redor de R$ 2 para o dólar nas últimas semanas.

Awazu reconheceu que o ambiente internacional hoje é mais “complexo” e, por isso, exige um “gerenciamento” também mais complexo da economia. Mas ele enfatizou que é preciso reconhecer que esse “gerenciamento tem sido bem-sucedido”.

“Ao mesmo tempo que o regime de câmbio flutuante tem a capacidade de eliminar volatilidades excessivas, a necessidade de se preservar o câmbio como amortecedor de choques externos tem sido muito útil ao país.”

A robustez e solidez do sistema financeiro brasileiro foi outro fator determinante para o enfrentamento da crise, disse Awazu. “Nosso sistema financeiro é sólido, com elevados níveis de capital, de cobertura da inadimplência por provisões e de liquidez das carteiras”, diz. Além disso, ele ressaltou que o sistema é resistente a choques, como mostraram os testes de estresse apresentados esta semana no Relatório de Estabilidade Financeira, e a exposição a riscos externos é pequena.

O diretor reafirmou ainda que o arcabouço brasileiro mantém sob uma mesma autoridade o papel de supervisor e de regulador do sistema. “Esse sistema coordenado foi abandonado, mas agora está sendo adotado de novo nos países avançados por ser mais eficiente.”

Por fim, Awazu apontou que o sistema brasileiro ainda tem espaço para mais aprofundamentos. “Nosso sistema tem crescido em tamanho, sofisticação e diversificação, acompanhando o progresso econômico e social do país. Destaca-se ainda o saudável processo de inclusão financeira observado na última década, o que permitiu a expansão do crédito que, não obstante, quando comparado a outras economias, ainda apresenta um baixo patamar em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Tudo isso indica haver espaço para continuar se expandindo de forma sustentável nos próximos anos”, concluiu o diretor do BC.


Faturamento cresce na indústria e CNI vê retomada

Valor Econômico

Mesmo com a utilização da capacidade abaixo da média histórica e recuo nos empregos, a indústria encerrou o mês de agosto com forte crescimento no faturamento, de acordo com os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na série com ajuste sazonal, o faturamento real subiu 4,8% em agosto sobre julho, maior alta mensal desde fevereiro de 2011, e atingiu o maior patamar da série histórica iniciada em 2005. Em índice, o faturamento está em 130,1, crescimento de 30% desde 2006 e alta de 4,83% sobre dezembro de 2012. Sobre agosto do ano passado a alta é de 7%.

Já a Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) encerrou agosto em 80,9 pontos, em estabilidade sobre julho, que teve sua leitura revisada de 81,6 pontos, para 80,9 pontos, também na série com ajuste sazonal. A média histórica, desde 2005, é de 81,52%. O Nuci apresenta tendência de queda desde fevereiro de 2011, quando marcava 83,3 pontos.

O emprego, também dessazonalizado, mostrou retração de 0,3% em agosto na comparação com julho, e caiu 1% sobre agosto de 2011. A massa salarial real também caiu no confronto mensal, cedendo 2,6%, mas sobre agosto do ano passado, apresentou crescimento de 4,6%.

Para a CNI, os dados corroboram a expectativa de recuperação que a instituição tinha e tem para a indústria nos próximos meses. “Com isso fica caracterizada uma melhora da atividade, sempre lembrando que o quadro geral que domina a economia mundial não mudou. O que mudou foram as variáveis domésticas e alguns estímulos”, disse o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, ressalvando que os desafios de manter a produtividade permanecem.

De acordo com Castelo Branco, essa postura positiva da CNI decorre da mudança de ambiente macroeconômico doméstico, como a alteração da relação câmbio/ juros, e também capta alguma reação às medidas de estímulo que foram implementadas pelo governo nos últimos meses, em especial aquelas voltadas aos bens duráveis.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, quando os indicadores apontam um para cada lado, os números mais robustos são mesmo o faturamento e a renda, pois não abrem muito espaço para discussões sobre metodologia de cálculo.

Mas mesmo com esses dois fatores mostrando variação positiva no comparativo anual, Gonçalves ainda acha que é cedo para afirmar que o setor industrial entrou em um período de recuperação.

“Estamos num período angustiante. Não se sabe se essa virada é uma recuperação firme ou alguma acomodação mais leve”, disse.

Gonçalves reconhece, no entanto, que faz parte da “minoria”, já que a “maioria” dos analistas acredita que o Brasil crescerá 1% por trimestre daqui para frente.

De acordo com o economista, além da falta de consistência dos dados econômicos, outro fator que o deixa reticente é a própria avaliação do Banco Central (BC), que tem previsão de crescimento em 2013 para abaixo dos 4%. No Relatório de Inflação de setembro, o BC estima crescimento de 3,3% do PIB nos quatro trimestres até junho de 2013.

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