BC reduz juro a 7,25% e encerra ciclo de cortes

O Banco Central anunciou, na noite de ontem, novo corte na taxa básica de juros da economia, levando-a para 7,25% ao ano, o menor patamar desde que a política monetária brasileira passou a ter como bússola o regime de metas para inflação, em 1999. Ao mesmo tempo em que promoveu o décimo corte seguido da Selic, desta vez de 0,25 ponto percentual, a autoridade sinalizou o fim do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto do ano passado.

“Considerando o balanço de riscos para a inflação, a recuperação da atividade doméstica e a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para meta, ainda que de forma não linear”, informou o Comitê de Política Monetária do BC, em comunicado após a reunião que decidiu o novo nível da taxa.

A magnitude desta nova redução foi menor que a das anteriores. Fiel ao conteúdo do comunicado emitido ao fim da reunião anterior, em 29 de agosto, o Copom desta vez tirou apenas 0,25 ponto da Selic, que até então estava em 7,5% ao ano. No comunicado e na ata da reunião, o colegiado já tinha avisado que, se o cenário prospectivo viesse a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento seria “conduzido com máxima parcimônia”.

A trajetória de queda começou com meio ponto percentual no fim de agosto de 2011, manteve essa passada por mais três reuniões do comitê, acelerou com dois cortes seguidos de 0,75 ponto, em março e abril deste ano, e voltou ao ritmo original nas três últimas antes da de ontem.

O retorno à velocidade original tinha sido sinalizado pelo uso do termo “parcimônia” para qualificar os cortes. No discurso após a reunião de agosto passado, o BC passou a falar em “máxima parcimônia”. Somada à evolução dos índices de inflação, que voltaram a subir com o choque de oferta de produtos agrícolas, essa ênfase levou parte dos economistas a prever que o ciclo de alívio na taxa básica de juros tinha se encerrado na reunião de agosto passado, quando a Selic caiu de 8% para 7,5%.

Tanto que as apostas de que a taxa entrara num novo período, de estabilidade, foram captadas pela pesquisa de expectativas de mercado divulgada semanalmente pelo BC no boletim Focus.

No entanto, na edição do boletim com data base na sexta-feira, dia 5, a mediana das projeções feitas pelo grupo de cinco instituições que mais vêm acertando previsões sobre a Selic (“Top 5”) já antecipava a queda de 0,25 ponto ontem decidida. A fala do diretor de Assuntos Internacionais do BC e membro do Copom, Luiz Awazu Pereira, ajudou a realinhar projeções para baixo. Na quinta-feira, dia 4, em evento na BMF&Bovespa, ele disse ser “importante” que a política monetária seja “capaz de calibrar o ponto mais favorável” entre a maximização das chances de continuidade de crescimento da economia e a minimização dos riscos para a estabilidade monetária e financeira.

A visão de que o Copom sinalizou o fim do ciclo de cortes é unânime entre analistas ouvidos pelo Valor. “O jogo acabou. A Selic foi a 7,25% e assim vai ficar. Foi um sinal claro”, diz o economista da LCA Consultores, Antônio Madeira. “O comunicado não justificou o corte, mas sinalizou os próximos passos”, afirma. O placar dividido da decisão reforça a tendência de estabilidade dos juros por um período prolongado, afirma Constantin Jancso, economista do HSBC.


Mercado reavalia o risco regulatório de concessões

Valor Econômico

O movimento de pânico que contaminou os papéis atrelados à infraestrutura no dia 11 de setembro completa um mês com um cenário diferente. Depois de a Medida Provisória nº 579 voltada ao setor elétrico derrubar ações ligadas à energia e também a outros tipos de concessões, o mercado já nota uma recuperação dos papéis na bolsa. Apesar disso, é certo que analistas passaram a discutir e a incorporar novos riscos em suas projeções.

Publicada há um mês, a MP prevê, entre outros pontos, que as geradoras e transmissoras de energia poderão prorrogar suas licenças, mas mediante uma redução tarifária de 60%, em média. O mercado ainda tem dúvidas sobre como (e se) o processo de renovação condicionada a termos mais rígidos vai se estender aos outros setores.

Analistas consultados pelo Valor mostraram maior preocupação com empresas ligadas a portos e ferrovias, dado que ambos os setores passam por reformas no marco regulatório e, portanto, trazem incertezas em relação ao que vem pela frente. Já empresas de rodovias e saneamento são vistas como mais “seguras”.

O desempenho das ações um mês depois do “susto” inicial corroboram a análise: já estão recuperados a níveis pré-pacote os papéis de CCR, EcoRodovias, Triunfo Participações e Investimentos e Sabesp. No lado negativo, chama atenção o desempenho da Santos Brasil, especializada em terminais portuários. Apesar da alta de 19% no ano, as units caíram mais de 14% no mês.

O analista Pedro Balcão, do Santander, passou a considerar que a renovação da concessão do terminal da empresa – que vence em 2022 – no Porto de Santos (Tecon Santos) será efetuada mediante compromissos de investimentos vultosos por parte da companhia, que baixariam a margem operacional de 55% para 35%, a partir daquele ano. Sob essa perspectiva, a corretora cortou o preço-alvo para as units, de R$ 33 para R$ 24, considerando ainda mais competição no setor.

Segundo relatório do JP Morgan, os papéis da Santos Brasil estão sob pressão também devido a “ruídos” referentes a potenciais reduções de tarifa – uma possibilidade considerada muito remota pelo banco. “Nossa percepção é de que o governo deseja mais investimento para aumentar a capacidade do setor, e qualquer sinal de não renovação dos contratos ou o estabelecimento de limites de preços levariam a um menor Capex”, escreveram os analistas do banco.

O analista Bruno Savaris, do Credit Suisse, também considera pouco provável a queda de preços das tarifas cobradas pelos terminais portuários e manteve o preço justo para a units da Santos Brasil ao fim de 2013 em R$ 35, considerando investimentos da ordem de R$ 1 bilhão para que a licença para operar o Tecon Santos seja prorrogada. “Não se trata de uma guerra de preços e, sim, de uma pressão por qualidade por parte do governo. Se o operador entrega um bom serviço, os usuários não se importam em pagar”, avalia um executivo do setor que não quis ser identificado.

A preocupação do mercado com a “mão do governo” em companhias de concessão se entende às ferrovias, mas de uma maneira mais complexa. Está sendo colocada em prática uma série de medidas – previstas em contrato – para aumentar a produtividade dos trilhos, acelerar investimentos nas malhas e baixar o preço dos fretes.

A consequência foi que, desde agosto do ano passado, as ações da ALL estão sendo negociadas abaixo de R$ 10, nível que não era visto desde 2005, ano seguinte à abertura de capital na Bovespa. O papel, que chegou a bater R$ 34 em 2010, fechou o pregão de ontem cotado a R$ 8,99.

A mais recente dessas medidas foi a redução do teto-tarifário praticado pelas concessionárias. Publicada em 24 de setembro no Diário Oficial da União pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a redução do preço máximo a ser cobrado pelo modal é de 25% em média e passa de 50% em alguns casos, segundo levantamento do Valor.

A ALL, que sempre defendia já praticar tarifas médias 10% menores em relação ao teto da ANTT, deve reduzir o teto das subsidiárias ALL Malha Sul, ALL Malha Paulista e ALL Malha Oeste em média 15%, 29% e 47%, respectivamente – o que deve causar redução efetiva no preço cobrado pelo frete.

Companhias de infraestrutura se recuperam na bolsa, mas sofrem com medo da “mão do governo”

A redução do teto foi responsável pela queda abrupta dos papéis da ALL, única companhia especializada em ferrovias com papéis negociados em bolsa. Poucos dias depois, o pacote de energia causou maior desvalorização com o que ficou ainda mais evidente: o governo não estaria disposto a renovar as concessões de ferrovias de maneira automática.

Na semana passada, a Santander Corretora deixou de considerar a renovação de três das quatro concessões da ALL em seu modelo de avaliação da empresa: da Malha Oeste, que vence em 2026; da Malha Sul, que vence em 2027; e da Malha Paulista, que vence em 2028. O resultado foi uma redução do preço-alvo das ações da companhia para o fim de 2013, que passou de R$ 14 para R$ 10. A recomendação dos investidores mudou de compra para manutenção dos papéis.

“A decisão de renovar cabe apenas ao governo e ele já sinalizou que não está satisfeito com o atual modelo”, afirma Balcão, responsável pela análise do setor no Santander. A redução do teto tarifário da ALL foi outro fator por trás do corte na estimativa de preço justo para as ações.

O Deustche Bank também tem visão cética para os papéis do setor, com preço justo estimado em R$ 11 para as ações ordinárias da ALL. “Não esperamos notícias positivas para a empresa no médio prazo”, disse o analista Alessandro Baldoni, em relatório.

Por outro lado, Felipe Vinagre, do Barclays, comentou, em relatório, que nunca considerou a renovação das concessões na hora de calcular o valor da empresa e ressaltou que a insatisfação do governo com o atual modelo ferroviário e o atraso nos investimentos representa um risco para as ações.

Mas as medidas estatais para o segmento vêm desde julho de 2011, com o objetivo de atualizar um modelo contratado nos anos 1990 e que exige das concessionárias apenas duas metas: limite de acidentes e um mínimo de produtividade geral.

No novo marco, publicado há mais de um ano, foi estabelecido que as concessionárias deverão cumprir um mínimo de movimentação de cargas em cada trecho concedido. O modelo atual, em que a produtividade é calculada pela malha como um todo, pode “disfarçar” trechos com baixa produtividade e, em casos mais graves, levar ao abandono.

Também ficou estabelecido o direito de passagem e tráfego mútuo para que as demais concessionárias possam compartilhar a malha mediante pagamento de uma taxa – o que, na prática, já ocorre em alguns casos (embora de maneira muitas vezes limitada). Por último, a resolução prevê a defesa do usuário do transporte de carga, oficializando os direitos dos clientes.

Paralelamente às três diretrizes publicadas e à redução do teto, o governo está retomando trechos das concessionárias atuais para, então, relicitá-los sob um mecanismo diferente. O governo comprará do vencedor do leilão toda a capacidade de transporte da malha (depois de ela receber as melhorias necessárias) e irá revendê-la a diferentes operadoras logísticas. O objetivo é acelerar investimentos e também acabar com o monopólio de uma empresa em determinado trecho.


Indústria deve crescer, mas sem contratar

Valor Econômico

Após longo período de produtividade em queda e aumento dos gastos com a folha de pagamentos, a indústria deve crescer nos próximos meses sem aumentar o pessoal ocupado. Esse movimento, que vem sendo observado desde junho, fortaleceu-se em agosto, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem. No mês, apesar de a produção do setor ter crescido 1,5% na comparação dessazonalizada com julho, o pessoal ocupado recuou 0,1%.

O crescimento esperado virá do aumento da produtividade, avaliam economistas. Eles acreditam que existe ociosidade na indústria capaz de comportar o avanço neste ano. Em agosto, a produtividade do trabalho na indústria avançou 1,5% ante julho – índice igual ao da produção, já que o volume de horas pagas não variou em relação ao mês anterior.

Esse foi o terceiro mês seguido em que houve aumento da produtividade na indústria. Em julho, o avanço ante junho tinha sido de 0,2% e, em junho, de 0,5% ante maio. No entanto, a produtividade da indústria acumula queda de 1,3% no acumulado do ano até agosto, na comparação com igual período de 2011.

Para Caio Machado, economista da LCA Consultores, o crescimento da indústria no último quadrimestre será calcado nesse aumento da produtividade. “O dado de agosto confirmou nossas expectativas de que o emprego industrial perderia força até o fim do ano, porque há um estoque de trabalhadores ocupados muito grande, dada a produção”, avalia. “A atual capacidade instalada da indústria ainda comporta essa correção no pessoal ocupado.”

Enquanto a retomada da produção não der sinais de consistência, o setor esperará para fazer novas contratações, na avaliação de Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. Ele acredita que o terreno precisa estar mais estável para que os empresários voltem a contratar. “O emprego está parado mesmo com o crescimento da produção nos últimos três meses. A tendência é esperar uma retomada mais consistente da indústria para que o emprego dê sinais de melhoria. O ambiente ainda é de muita incerteza. Até agora vemos apenas um ensaio de melhora para o setor industrial”, avalia.

A projeção da Tendências aponta queda de 0,4% da produção industrial em setembro, na comparação dessazonalizada com agosto, o que reforça esse cenário de crescimento ainda inconsistente. “O aumento da produtividade é uma tendência. Há também uma acomodação nos custos, o que é positivo para incentivar a retomada da produção”, diz Bacciotti.

Segundo Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, o recuo do pessoal ocupado em agosto ainda reflete o alto custo unitário do trabalho. “O custo unitário do trabalho pressiona a indústria e é um dos maiores entraves para o avanço do emprego no setor neste momento mais claro de retomada da produção”, avalia.

“Algumas ações do governo, como a desoneração da folha de pagamentos, ajudam a diminuir o custo Brasil e, consequentemente, a aumentar a produtividade”, diz Padulla, para quem os resultados da desoneração da folha no pessoal ocupado da indústria serão mais claros em 2013, quando a extensão do benefício para mais 25 setores passa a valer.

O IBGE observou que a folha de pagamento real teve alta de 2,2% na passagem de julho para agosto, com ajuste sazonal. Esse resultado foi puxado pelo pagamento de participação nos lucros da Petrobras. No acumulado do ano, o indicador avançou 3,4%. Considerando somente a folha da indústria de transformação, a alta foi de 0,6% entre julho e agosto, com ajuste.

De acordo com Machado, da LCA, a desoneração da folha de pagamentos vai se refletir de maneira positiva na criação de empregos. “O efeito sobre o mercado de trabalho será positivo, mas só ocorrerá quando a atividade engrenar, a produção crescer mais e a produtividade tiver recuperado as perdas deste ano”, afirma.

Bacciotti, da Tendências, lembra que há forte rigidez no mercado de trabalho, o que consolida no empresário industrial a intenção de segurar as contratações até que o cenário seja mais consistente. No acumulado de janeiro a agosto, o pessoal ocupado na indústria recuou 1,4%, ante igual período de 2011. “Ainda estamos num patamar de ociosidade. É possível crescer sem aumentar o emprego. Temos espaço para recompor essa ociosidade”, avalia.

O emprego industrial no acumulado do ano registra queda em 11 dos 14 locais pesquisados pelo IBGE, na comparação com igual intervalo de 2011. O principal impacto negativo vem de São Paulo, onde o recuo foi de 3,2%. Entre os 18 setores analisados, o total do pessoal ocupado recua em 13. As contribuições negativas mais relevantes vêm de vestuário (-8,3%), calçados e couro (-6,3%), produtos de metal (-4,4%) e têxtil (-5,5%).


Aneel: Eletrobras pode ficar fora de leilões

O Globo

O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, confirmou ontem que as empresas do Grupo Eletrobras – Chesf, Furnas e Eletronorte – podem ficar de fora do próximo leilão de linhas de transmissão por atraso nas obras de transmissão. Segundo a proposta do edital – previsto para novembro, mas que ainda terá de ser aprovado pela diretoria da Aneel -, estão impedidas de participar do leilão as empresas que, individualmente ou em consórcio, tenham participação superior a 10% e estejam com as obras de implantação de transmissão atrasadas nos últimos três anos.

Essas companhias também não poderão ter recebido três ou mais penalidades relacionadas à execução dessas obras nos últimos três anos e já julgadas na área administrativa. A intenção é que a regra passe a valer para todas as licitações de transmissão. A informação foi publicada ontem no jornal “O Estado de S.Paulo”.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, considera uma ação moralizadora a proposta de restringir a participação nos leilões das empresas com obras atrasadas. Para ele, o impedimento não reduzirá investimentos, porque há muitas empresas interessadas no mercado brasileiro:

– É importante que tenha o maior número de linhas possíveis, mas também que as empresas que participem tenham condição de construir -disse.

Os oito lotes de linhas de transmissão que a Aneel vai licitar cortarão nove estados. Parte da transmissão será destinada ao escoamento da energia a ser produzida na usina hidrelétrica Belo Monte.


FMI faz dura crítica à atuação dos líderes para debelar a crise da UE

O Globo

O Fundo Monetário Internacional (FMI) exortou os parlamentares europeus a aprofundarem urgentemente seus vínculos financeiro e fiscal na zona do euro, para restaurar a confiança no combalido sistema financeiro global. Feita num tom incomumente duro, a crítica à forma como os líderes políticos vêm atuando para debelar a crise da dívida na região está no Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado ontem em Tóquio. E contrastou com a a aparente tranquilidade recente na Europa, desde que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que compraria títulos de dívida soberana dos países em dificuldade que aceitarem fazer reforma fiscal.

O relatório, cuja divulgação precede a reunião anual do Fundo para avaliação da conjuntura econômica global, afirma que “apesar de muitos passos importantes já tomados pelos parlamentares europeus, a agenda de ações permanece criticamente incompleta, expondo a zona do euro a uma espiral de fuga de capital, temores de dissolução do bloco e declínio econômico”.

Até US$ 4,5 tri em provisões

Para o Fundo, a crise da dívida europeia é atualmente a principal ameaça à estabilidade financeira global, que perdeu força nos último semestre, deixando a confiança de investidores, consumidores e empresários “bastante precária”.

O moroso progresso na zona do euro significa que os bancos europeus provavelmente terão que provisionar US$ 2,8 trilhões em ativos nos próximos dois anos para reduzir suas exposições a risco. Esse número representa um aumento de US$ 200 bilhões em relação à estimativa feita pelo Fundo há seis meses. Tal volume traz o risco de enxugar a oferta de crédito na periferia da zona do euro em 9% até o fim de 2013, afetando o crescimento global.

O Fundo alerta, porém, que esse montante poderá chegar a US$ 4,5 trilhões em ativos até 2013, se os políticos europeus não conseguirem debelar a crise, por meio de políticas fiscais rígidas ou mediante a criação de um sistema supervisor. Segundo o relatório, 58 bancos europeus, do UniCredit ao Deutsche Bank, se veriam forçados a provisionar ativos. Isso afetaria o crédito e reduziria o crescimento em quatro pontos percentuais em 2013 em Grécia, Chipre, Irlanda, Itélia, Portugal e Espanha, a chamada periferia do euro.


Hollande e Rajoy querem união bancária já

O Estado de S. Paulo

Em mais um sinal de que os países do sul se organizam para fazer frente à Alemanha, o presidente da França, François Hollande, e o premiê da Espanha, Mariano Rajoy, pediram ontem a criação de uma união bancária na zona do euro ainda em 2012.

O anúncio foi feito em um encontro no Palácio do Eliseu, em Paris, e contraria os interesses da chanceler alemã Angela Merkel, que deseja postergar a decisão. O novo choque de visões tem data e lugar para ocorrer: 18 e 19 de outubro, em Bruxelas.

O encontro entre Hollande e Rajoy fez parte da 21.ª cúpula bilateral, que trouxe a Paris vários ministros espanhóis, inclusive os de Economia e Relações Exteriores. A mobilização serviu para que os dois líderes discutissem a crise das dívidas sob vários ângulos, inclusive das implicações políticas de um eventual pedido de socorro de Madri ao recém-criado Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), espécie de FMI da zona do euro. Em público, porém, o primeiro-ministro espanhol não quis responder se pedirá ou não resgate a Bruxelas.

Questionados sobre a união bancária, os dois líderes foram enfáticos em favor da aceleração do projeto, em fase de tramitação. “Nós devemos avançar tanto quanto for possível sobre a união bancária e sobre a supervisão dos bancos, com o Banco Central Europeu (BCE) tendo a responsabilidade sobre a zona do euro e do conjunto dos bancos”, afirmou Hollande, arriscando os próximos passos. “A seguir, outras etapas deverão ser vencidas para a união bancária.”

A tomada de posição dos dois líderes em favor da união dos sistemas financeiros nacionais contraria os interesses da Alemanha. Em 22 de setembro, no último encontro entre Hollande e Merkel, o presidente francês insistiu que “quanto mais cedo” a união fosse efetivada, “melhor”. A chanceler afirmou instantes depois: “A união bancária levará o tempo que for necessário”.

Desde então os dois países estão em descompasso sobre o tema. A questão deverá ser evocada em 18 e 19 de outubro, na próxima cúpula de chefes de Estado e de governo da UE, em Bruxelas. No último encontro, em junho, uma frente formada por Hollande, Rajoy e pelo premiê italiano Mario Monti resultou em um recuo de Merkel.


Reforma avança em etapas

O Estado de S. Paulo

Especialistas divergem sobre a “reforma fatiada” proposta pelo governo, mas o ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, garante: a mudança do sistema tributário já começou e está caminhando

Em todas as pesquisas feitas com empresários, o maior problema apontado para a realização de negócios no Brasil é a elevada carga tributária e a complexidade do sistema de impostos, fatores responsáveis pela perda de capacidade de competição dos produtos nacionais no mercado global.

Para discutir o andamento das propostas de aperfeiçoamento do sistema, o Estado e a Agência Estado, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), reuniram alguns dos maiores especialistas no assunto no seminário “Como avançar na agenda da tributação”, na última terça-feira. Houve consenso de que a questão deve ser tratada como prioridade para o desenvolvimento econômico e social do País, embora haja discordâncias sobre se as mudanças devem ser amplas ou de forma “fatiada”, como vêm ocorrendo no governo da presidente Dilma Rousseff.

Além de resumir os principais tópicos do debate, esta edição especial traz também uma entrevista exclusiva com o ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, em que ele defende a estratégia do governo. “A reforma tributária já começou e está caminhando, cada tema com a sua velocidade”, afirma. Ele admite que só assim é possível encaminhar discussões polêmicas, como a unificação da alíquota do PIS-Cofins e da cobrança do ICMS. “Esses são os dois grandes desafios.”

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