Brasil tem pior crescimento desde Collor

A presidente Dilma Rousseff deverá encerrar os dois primeiros anos de seu mandato com a segunda pior média de crescimento da história recente do Brasil, só perdendo para o período Collor. No biênio 2011-2012, o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) do País deverá ser da ordem de 2,1%, considerando uma expansão de 1,52% prevista para este ano pela mediana do mercado financeiro na pesquisa do Boletim Focus, do Banco Central (BC).

Nos dois primeiros anos do primeiro e do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, essa média foi de, respectivamente, 3,4% e 5,6%, e nos de Fernando Henrique Cardoso, de 3,2% e 2,3%. Já no de Fernando Collor de Mello, ficou em 0,25%.

Economistas alertam para o risco de 2013 piorar o prognóstico para o governo, caso não mude o foco da política de crescimento – hoje baseada no aumento do consumo – passando a incentivar mais o investimento e melhorar a produtividade.

“Esses resultados ruins não serão salvos com políticas pontuais, como a desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis, que ajudou muito o resultado do terceiro trimestre, que esperamos ser de 0,9% na margem (comparação com o anterior)”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Mesmo com um quarto trimestre ainda melhor (1,1%), o resultado será de 1,3% no ano”, ressalta.

Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar os números do PIB referentes ao terceiro trimestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, prevê crescimento de 1,2% na comparação com o segundo trimestre.

Para o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, hoje presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a economia não deslancha mais por problema de oferta do que de demanda. Ele argumenta que tanto a demanda não está fraca que a inflação está acima do centro da meta, de 4,5%.

“Precisamos de uma mini-agenda de crescimento que comece por desindexar o salário mínimo”, defende. A proposta é polêmica e enfrenta forte resistência dos sindicatos, mas ele argumenta que é preciso baixar o custo unitário do trabalho no Brasil, “que está muito alto”.

“Esse custo é pressionado para cima pela política do salário mínimo, que todo ano tem um aumento real de valor”, diz o presidente da CNC.

As medidas tomadas recentemente pelo governo ainda não tiveram impacto no aumento da produtividade das empresas, diz o empresário José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

“O governo, em algumas coisas, andou numa velocidade que chegou a impressionar”, afirma Roriz Coelho. “Só que a queda da Selic (a taxa básica de juros da economia), por exemplo, ainda não pegou o spread bancário e as empresas continuam pagando taxas de 30% ao ano”, cita.

O empresário reconhece que a queda da taxa de juros, a melhora do câmbio e a desoneração da folha de pagamentos de 40 setores industriais vão ter impacto positivo no futuro. “Mas isso não acontece de uma hora para a outra, sem contar que pegou as empresas descapitalizadas, sem capacidade de investir e numa situação em que a produtividade está muito baixa.”

Para ele, se o atual modelo de crescimento não mudar “o mais rápido possível” para um modelo baseado em investimento, em 2013 vai ocorrer o mesmo que hoje. “O consumo cresce, mas quem captura o aumento do poder de compra do brasileiro são os produtos importados.”

Sérgio Vale, da MB, vai além. “Em 2013, junto à continuidade de falta de reformas, e com a tendência de o governo interferir ainda mais nas decisões privadas, fica difícil imaginar uma recuperação significativa.”

Para piorar, no começo do ano, o País poderá sentir os efeitos do chamado abismo fiscal americano. O problema se refere ao fim de incentivos fiscais implementados há quase dez anos pela administração de George Bush e ao início de cortes automáticos no orçamento em programas sociais e militares a partir de janeiro de 2013. O valor a ser retirado da economia chega a US$ 607 bilhões, caso não haja acordo entre o governo Obama e o Congresso do país.

“A diferença é que o impacto negativo em 2013 já é esperado, ao contrário do ano passado”, pontua Vale. “Mas o fato é que isso joga o crescimento mundial para baixo e reforça perspectivas negativas para Europa e China. Com isso, o cenário externo continua ruim e o doméstico, sem grande melhora. Assim fica difícil imaginar crescimento expressivo para o Brasil”, diz Vale.


Na contramão, indústria contrata mais em outubro de 2012

Valor Econômico

Na contramão dos setores de comércio e serviços, a indústria de transformação acelerou o ritmo de criação de postos de trabalho formais em outubro e criou três vezes mais vagas no mês passado do que em outubro de 2011. De acordo com os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na sexta-feira, a indústria de transformação abriu 17.520 vagas formais em outubro. No mesmo mês de 2011, o setor havia ampliado em 5.206 os postos de trabalho.

No período, o comércio diminuiu o ritmo de abertura de vagas de 60.878 em outubro de 2011 para 49.597 no mês passado. Já o segmento de serviços, que havia registrado criação de 77.201 vagas, foi o que mais contribuiu – entre os três setores – para a geração de 66,9 mil vagas no país, ao expandir em 32.724 os postos de trabalho no mês passado. No conjunto dos setores, o país criou 66.988 empregos formais em outubro, número 46,9% inferior ao de igual mês do ano passado.

Para o diretor do departamento de emprego e salário do MTE, Rodolfo Torelly, o desempenho da indústria foi influenciado pelas medidas de estímulo do governo. “A indústria estava numa situação difícil na época [em 2011] e agora está reagindo. Quando a indústria gera emprego, as outras áreas dão um repique”, afirmou.

Dez dos 12 setores da indústria de transformação criaram empregos formais em outubro. Apenas os segmento de produção de minerais não metálicos e calçados registraram fechamento de vagas. A demissão líquida foi de 229 postos de trabalho e 315 vagas, respectivamente. Calçados é um dos setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamento. A indústria química, farmacêutica e veterinária foi a que mais criou empregos no mês (3.640 vagas).

Mesmo com o saldo positivo de 17 mil empregos na indústria de transformação em outubro, a LCA Consultores avalia que o setor está com um nível de criação de empregos abaixo da média dos últimos anos. De acordo com Caio Machado, economista da consultoria, a média dos últimos cinco anos, contando o fraco desempenho do ano passado, é de 40 mil admissões a mais do que demissões para outubro. “O mercado de trabalho como um todo mostrou-se mais fraco em relação ao terceiro trimestre. A indústria mostrou recuperação, mas ainda em um ritmo lento”, afirmou.

Segundo Machado, os números são reflexos do baixo crescimento da economia nos três primeiros trimestres. “Os empregadores estavam segurando, em função da dificuldade de achar mão de obra qualificada e dos custos de demissão”, disse.


Governo reduz para 1% projeção para arrecadação

Valor Econômico

Assim como a esperada retomada da atividade que ainda não veio, a arrecadação de impostos também não avança. Em outubro ocorreu a quinta queda consecutiva na arrecadação federal, descontada a inflação. O governo ainda mantém a expectativa de crescimento na comparação com 2011, mas reduziu a projeção de avanço de cerca de 1,5% para 1%. No ano até outubro, o avanço é de apenas 0,18%.

“Essa recuperação ainda não aconteceu, temos dois meses”, disse a secretária-adjunta da Receita, Zayda Bastos Manatta, em entrevista concedida em Brasília na sexta-feira. De acordo com a secretária, a previsão de arrecadação tem como parâmetro a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) feita pelo governo, que foi mantida em 2% no último relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, divulgado no começo da semana.

Portanto, para que esse crescimento de arrecadação se torne realidade, o PIB tem de confirmar o avanço de 2%, um cenário cada vez mais remoto. O próprio Banco Central estima avanço de 1,6%.

Em outubro, a arrecadação federal de impostos totalizou R$ 90,5 bilhões, queda real de 3,27% (corrigida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA) em relação ao mesmo mês do ano passado. O resultado mostra uma piora com relação a setembro, quando a queda foi de 1,08%.

De acordo com Zayda, a diferença de arrecadação de outubro desse ano para outubro do ano passado decorre, basicamente, de dois eventos. Uma arrecadação atípica de quase R$ 2 bilhões vista no ano passado, que não se repetiu, e o custo das desonerações promovidas pelo governo, que tiraram do caixa outros R$ 2,5 bilhões. “Sem esses dois grupos teríamos crescimento da arrecadação”, disse a secretária.

A receita não apresentou números detalhados, mas indicou que as desonerações feitas entre janeiro e outubro de 2012 causaram uma “perda” de arrecadação de R$ 10,7 bilhões. São R$ 2,3 bilhões referentes às mudanças na folha de salários de alguns setores e outros R$ 8,46 bilhões decorrentes da redução da Cide (imposto que incide sobre os combustíveis), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) automóveis e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre crédito à pessoa física.

A arrecadação administrada pela Secretaria da Receita totalizou R$ 85,1 bilhões em outubro, redução real de 3,87%. No ano, as receitas administradas totalizam R$ 808,8 bilhões.

Captando o baixo ritmo de atividade, os tributos que incidem sobre a renda do setor produtivo apresentaram nova retração. Refletindo a queda de lucratividade das empresas, o recolhimento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), que somou R$ 11,7 bilhões no mês passado, caiu 11,47% sobre igual período de 2011.

Na mesma situação, a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) apresentou queda de 1,02% em outubro, também na comparação anual, para R$ 6,181 bilhões. Ilustrando a dicotomia entre produção e consumo, a arrecadação de PIS e Cofins, mais relacionada aos serviços, mostra alta 6,74% em outubro, no comparativo anual, para R$ 19,2 bilhões.

E mostrando outra dualidade da economia brasileira, que é a força do mercado de trabalho em um ambiente de baixo crescimento, a arrecadação previdenciária apontou alta de 3,69% em outubro desde ano na comparação com igual período do ano passado, ao somar R$ 24,698 bilhões. De acordo com Zayda, esse aumento é reflexo direto do aumento da massa salarial, que cresceu 14,12% sobre outubro de 2011.

Reflexo das desonerações feitas para estimular a economia, a arrecadação do IPI caiu, sempre em termos reais, 20,52% em outubro ante mesmo período de 2011, somando R$ 3,646 bilhões.

Sem surpresa, a maior queda na arrecadação de IPI foi registrada no segmento de automóveis, com retração real de 72,29%, passando de R$ 715 milhões em outubro do ano passado para R$ 198 milhões em outubro deste ano.


Empresas alemãs têm intenção de investir mais no Brasil, mostra pesquisa

Valor Econômico

Pesquisa da Câmara Brasil – Alemanha feita no terceiro trimestre com os associados mostra que os executivos alemães confiam na melhora do cenário econômico no curto prazo. De acordo com a sondagem, 77% dos entrevistados afirmam ter projetos concretos de investimentos no Brasil. A mesma pesquisa feita no segundo trimestre indicava projetos concretos de 61% das empresas. O levantamento foi feito com 1.200 empresários ou executivos de companhias alemãs que, segundo estimativas da Câmara, respondem por cerca de 10% do PIB brasileiro.

As empresas também estimam que o cenário para efetuar os investimentos estará mais propício dentro de seis meses. Cerca de 36% dos entrevistados avaliaram que o clima geral no terceiro trimestre era desfavorável para investimentos e apenas 23% consideraram o cenário favorável. Para o cenário daqui a seis meses, a fatia de entrevistados que estima ambiente desfavorável para investimentos é de 23% e a que considera clima favorável é de 32%.

Weber Porto, presidente da Câmara Brasil – Alemanha, reconhece, porém, que a avaliação de algumas empresas sobre o cenário para investimento ficou mais pessimista. No terceiro trimestre, 5% dos entrevistados chegou a declarar que o clima era extremamente desfavorável para investimento. Essa avaliação mais pessimista não existia nos dois primeiros trimestres do ano. “O fato de uma parcela maior das empresas ter declarado projetos concretos no país, porém, mostra que, num prazo mais longo, o Brasil ainda é considerado local interessante para investimentos.” Para ele, pesam a favor do Brasil perspectivas de melhora do consumo doméstico, com demanda maior em áreas como de infraestrutura e energia.

O cenário traçado pelas empresas alemães para a exportação, porém, é menos otimista. No terceiro trimestre 32% dos executivos consideraram as condições desfavoráveis para a exportação. Olhando para daqui a seis meses, sobe para 41% os que consideram que as vendas ao exterior terão ambiente desfavorável. Para Porto, a questão está relacionada ao câmbio. A sondagem mostra que 72,7% das empresas veem necessidade de maior desvalorização do real frente ao dólar. Apenas 18,7% consideram a atual taxa adequada.

Em relação ao câmbio, Porto também ressalta que houve mudança de avaliação das empresas. No segundo trimestre, quando o dólar já estava sendo mantido no patamar próximo de R$ 2, apenas 33,3% dos entrevistados consideravam a necessidade de desvalorização da moeda nacional, sendo que 55,6% julgavam a taxa de então adequada. “Na verdade, as empresas acreditavam que essa taxa garantiria ganho de competitividade suficiente, mas o câmbio não surtiu esse efeito.”

As companhias alemãs, diz Porto, não reivindicam maior desvalorização do real. O recado implícito na sondagem, avalia ele, é de que as empresas instaladas no Brasil precisam ter mais condições de competir. Nesse sentido, ele diz que as empresas ainda não tiveram condições de medir o alcance de medidas como a desoneração de folha e a redução da taxa de juros, por exemplo. Segundo Porto, ainda é cedo para fazer essa avaliação. “Em relação à desoneração, muitas das empresas estão em setores que acabaram de ter dissídios salariais”, diz. Mesmo assim, a pesquisa da Câmara mostra que 63,6% das empresas declaram ter intenção de contratar nos próximos seis meses, e as vagas são dirigidas principalmente para setores de produção e de vendas.

As empresas demonstram preocupação com a inflação. Isso se reflete, segundo Porto, na opinião sobre o que pode acontecer com os juros. “O governo pode elevar a taxa caso a inflação aumente mais do que o previsto”, diz Porto. Contribui para a avaliação, a própria trajetória da taxa de juros, que continuou caindo do segundo para o terceiro trimestre. Por isso fica menor, no terceiro trimestre, a parcela de entrevistados que ainda acha que há mais espaço para redução. No segundo trimestre, 55,6% acreditavam que a taxa de juros iria cair no período de seis meses. No terceiro uma fatia menor de executivos – 31,8% – acredita em mais queda, sendo que 9,1% dos entrevistados declararam acreditar que a taxa deve aumentar. No segundo trimestre não havia empresas com expectativa de aumento dos juros.


onferência do Clima buscará ajuda a países pobres

O Estado de S. Paulo

Um dos maiores desafios da nova conferência sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), que começa hoje em Doha, com a participação de quase 200 nações, é aumentar a ajuda a países pobres num momento em que o orçamento dos países mais desenvolvidos anda apertado por causa da crise econômica mundial, especialmente na Europa.

Países ricos já entregaram cerca de US$ 30 bilhões em ajuda financeira com a qual haviam se comprometido em 2009, mas esses acordos expiram neste ano. Além disso, o Fundo Verde Climático, criado na conferência do ano passado com o objetivo de arrecadar até US$ 100 bilhões de ajuda por ano, ainda não entrou em operação.

O resultado é que os países mais pobres, que são os que mais têm a perder com as mudanças climáticas, estão diante de um “abismo climático fiscal”, nas palavras de Tim Gore, da organização Oxfam. “Precisamos nas próximas duas semanas de compromissos fortes por parte dos países ricos de continuar a ajudar financeiramente os países pobres a lidar com as mudanças climáticas”, diz.

A criação de mecanismos financeiros foi um dos poucos sucessos tangíveis das negociações climáticas até agora, já que o objetivo principal – de reduzir a emissão global de gases do efeito estufa – continua muito longe de ser alcançado. As emissões continuam a subir e o único acordo internacional para reduzi-las, o Protocolo de Kyoto, termina também neste ano. Chegar a um acordo para prorrogá-lo é o outro grande desafio da conferência em Doha.

Falta de força

Um desafio que dificilmente será conquistado. Apenas a União Europeia (UE) e mais alguns países estão dispostos a prorrogar Kyoto, o que implicaria em novas metas e prazos de redução de emissões. Artur Runge-Metzger, o negociador chefe da UE, reconhece que um grupo tão pequeno dificilmente terá peso político suficiente para forçar um acordo. “Acho que representamos, no máximo, 14% das emissões globais”, disse.

Os Estados Unidos sempre rejeitaram Kyoto, pelo fato de o acordo não incluir metas para grandes países emergentes, que também emitem muito. A China já passou os EUA nos últimos anos e agora é o país que mais emite gases do efeito estufa.

Conforme acordado na conferência de 2011, em Durban, na África do Sul, começará a ser negociado agora um outro acordo climático, incluindo a China e outros países emergentes (como Índia e Brasil), previsto para ser adotado em 2015 e começar a funcionar em 2020.

Na parte financeira, Runge-Metzger disse que a UE quer continuar a ajudar os países pobres, apesar da crise. Mas disse que esses países não podem esperar um “cheque em branco” dos ricos e por isso precisam apresentar “projetos bancáveis” se quiserem receber dinheiro.


China muda perfil de negócios no Brasil

O Estado de S. Paulo

Os anúncios de investimentos chineses no Brasil estão em queda, mas o perfil das aplicações melhorou, na avaliação do governo. Dados da Rede Nacional de Informações sobre o Investimento (Renai), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), mostram que desde 2011 entram mais recursos para investimentos novos (chamados de greenfield) do que para fusões e aquisições. Também houve uma mudança dos setores que mais recebem os recursos chineses. “Há um foco no mercado doméstico brasileiro. Estão apostando no dinamismo do consumo no Brasil”, disse ao Estado o coordenador-geral de Investimentos da Renai, Eduardo Celino.

Os setores automotivo, de energia elétrica e de serviços financeiros registraram crescimento no volume de investimentos chineses recebidos em 2012. Até o início do ano passado, grande parte dos recursos no Brasil estava ligada a commodities, o que evidenciava a estratégia de garantir o fornecimento de matérias-primas. A maior parte das operações era em forma de fusões ou aquisições em setores ligados à extração e à produção de petróleo, gás e mineração.

De janeiro a setembro deste ano, o anúncio de investimentos chineses considerados greenfield somou US$ 4,43 bilhões e os de aquisições, US$ 1,34 bilhão. Em 2011, foram US$ 8,33 bilhões e US$ 6,96 bilhões, respectivamente. Por outro lado, em 2010, a maior parte dos anúncios era de fusões e aquisições, que somaram US$ 13,3 bilhões. Os investimentos que partiam do zero totalizaram US$ 3,76 bilhões.

Celino diz que os números ainda são preliminares e, embora sinalizem que devem ficar abaixo de 2011, podem mudar até o final de dezembro. Segundo ele, anúncios recentes de investimentos chineses na Zona Franca de Manaus, na área de eletroeletrônicos e motocicletas, ainda não foram incluídos nos dados da Renai. Além disso, ressalta que basta ter o anúncio de apenas um projeto com recursos vultosos para que o volume de investimentos supere o ano passado.

O crescimento mais consistente dos investimentos chineses no Brasil teve início em 2009, quando somaram quase US$ 5 bilhões, mas foi em 2010 que tiveram um boom e alcançaram US$ 17,05 bilhões.

Em função do expressivo aumento da entrada de capital chinês nessa período, o MDIC decidiu mapear os anúncios de investimentos no Brasil, feitos por empresas chinesas, para traçar uma estratégia de atuação. Celino disse que a ação governamental foi importante para direcionar algumas iniciativas e os resultados começaram a ser sentidos em 2011. “O ano passado foi o ano de transição. Dá para ver claramente na evolução dos anúncios de investimento por setor”, afirma.

Diversificação

Em 2011, investimentos no setor de petróleo, gás, carvão e de mineração ainda representaram uma parte significativa dos anúncios chineses, mas os setores automotivo, alimentação e fumo, telecomunicações e máquinas industriais começaram a ter uma fatia expressiva no bolo. Celino acredita que o maior anúncio de investimentos no setor automotivo é resultado da política de taxação maior sobre carros importados.

Os dados deste ano mostram que os chineses ainda devem colocar mais recursos em mineração, mas os anúncios neste área caíram de US$ 2,7 bilhões em 2011 para US$ 651,1 milhões até agora. No setor automotivo, que só recebeu US$ 60 milhões em 2010, os anúncios de investimentos subiram para US$ 1,92 bilhão em 2011 e US$ 2,12 bilhões até setembro. Os chineses também mostraram interesse este ano pelo setor de energia elétrica. Os valores saltaram de US$ 115,8 milhões para US$ 2,52 bilhões..

Outro movimento percebido pelo governo é a vinda para o Brasil de mais instituições financeiras chinesas. “Neste cenário adverso, a China se coloca como grande fonte de recursos para financiar empresas chinesas na relação com o Brasil e vice-versa”, destacou. Os anúncios de investimentos no setor de serviços financeiros somou US$ 250 milhões de janeiro a setembro deste ano. Em 2011, não houve anúncio chinês nesta área.


Brasil quer mecanismo para tarifar importação

O Estado de S. Paulo

O Brasil coloca à prova hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC) sua proposta de criar um mecanismo que permita aos países elevarem tarifas de importação quando suas moedas sofrerem uma valorização considerada como prejudicial.

O País terá pela frente a resistência da China, que não vê com bons olhos o uso do tema cambial para justificar a criação de uma nova barreira. O Japão também se diz contrário, enquanto os Estados Unidos adotam um tom de cautela.

Na reunião de hoje em Genebra, o governo brasileiro apresentará sua proposta de que a OMC passe a legislar sobre a relação entre o comércio e o câmbio, criando um novo instrumento para compensar os países.

O Brasil argumenta que o real sofreu uma valorização nos últimos anos que tem afetado a competitividade das exportações. Parte da explicação seria a injeção de trilhões de dólares por países ricos em suas economias, inundando o mercado internacional e migrando ao Brasil.

Pelas contas do governo brasileiro, o País teria de adotar um imposto de importação de 180% para garantir o mesmo resultado que tinha com a tarifa de 35% antes da valorização do real.

O debate começou no ano passado, com o Brasil tendo de enfrentar sérias resistências para conseguir incluir o tema na agenda da OMC. A diplomacia brasileira estima que a primeira etapa foi superada e que hoje há uma aceitação de que o comércio é afetado pelo câmbio.

Agora o Itamaraty acredita que chegou o momento de passar para uma nova fase, colocando aos países da OMC a questão direta se um mecanismo de compensação deve ser criado.

Parte do Mercosul e alguns países emergentes teriam indicado ao Brasil que apoiam o projeto. Mas uma das maiores resistências vem de Pequim. A China não quer aceitar que um fórum internacional se transforme em palco para que países a acusem de manipular o câmbio.

“A OMC não é o fórum adequado para negociar uma solução ao câmbio”, disse um diplomata chinês em conversa com o Estado. “Não vemos como países poderiam adotar novas barreiras por conta do câmbio de outra economia”, afirmou.

Parte da resistência chinesa, porém, não vem de uma oposição direta ao Brasil, mas do temor de que a ideia se transforme em uma ocasião para que os EUA ataquem sua política cambial.

Do lado dos Estados Unidos, a diplomacia americana tem participado dos debates na OMC. Mas o governo brasileiro admite que a resposta da Casa Branca tem sido de cautela.

Isso porque parte da culpa pela valorização do real e de outras moedas é da política americana de injetar trilhões na economia. A presidente Dilma já deixou claro que essa política inunda mercados emergentes de dinheiro e pressiona o câmbio.

Mecanismo

Brasília sabe que essa cruzada será longa, mas quer dar o ponta pé inicial no debate sobre o conteúdo do que poderia ser um mecanismo de compensação. Na reunião de hoje na OMC, os governos irão reagir às propostas do Brasil.

No centro do debate está a criação de uma medida compensatória que seria imposta se um país sentisse que seu câmbio havia valorizado ao ponto de afetar as exportações. Na prática, o Brasil teria o direito de elevar suas tarifas de importação se o real se valorizar.

Por enquanto, o Brasil não apresenta um receituário, mas coloca perguntas sobre como os países acreditam que tal mecanismo poderia ser acionado e parâmetros que regulariam sua implementação. Há mais questões em aberto que propostas concretas. Não há definição se a barreira deveria ser criada por produto, por setor ou para toda a economia.

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