Suspenso do Mercosul, Paraguai aumenta vendas para mercado brasileiro em 35%

Mesmo suspenso das atividades políticas do Mercosul, acusado de não garantir a “plena vigência democrática”, o Paraguai conseguiu aumentar em 35% suas exportações ao Brasil, entre julho e novembro, em comparação com o mesmo período do ano passado.

O bom desempenho foi garantido pela demanda aquecida e pela alta nos preços das commodities. Em volume, os embarques paraguaios ao Brasil, no período após a suspensão, somaram 25% a mais do que no mesmo período de 2011.

Para o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, a continuidade, até em maior volume, das vendas paraguaias ao Brasil demonstra que o Mercosul cumpriu seu compromisso de evitar prejuízos à população e à economia do país mais pobre do bloco, apesar da punição política ao país. Durante o ano, o aumento das vendas paraguaias ao mercado brasileiro deve chegar a 40%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.

O Paraguai foi suspenso em julho após o juízo político que, em dois dias, instaurou e encerrou um processo de impeachment contra o então presidente Fernando Lugo. Os governos da União das Nações da América do Sul (Unasul), decidiram que não havia sido garantido o direito legítimo de defesa ao presidente deposto, e suspenderam o país da organização. O mesmo foi feito no Mercosul, onde o governo argentino chegou a propor sanções econômicas aos paraguaios.

De janeiro a novembro, quase 60% das vendas do Paraguai ao Brasil foram em produtos básicos alimentícios: trigo, milho, soja, carnes de bovino desossadas e arroz. Cerca de metade das exportações paraguaias de carne tem origem em frigoríficos de capital brasileiro, segundo o economista Gustavo Rojas de Cerqueira César, do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep).

As vendas paraguaias de carne desossada aumentaram quase 160% de janeiro a novembro de 2012, comparadas às exportações em igual período do ano passado. As exportações de carne desossada congelada cresceram quase 90%.

As estatísticas de comércio bilateral indicam que os brasileiros foram buscar no Paraguai os grãos que a situação do mercado internacional fez faltar no mercado interno. O principal produto da pauta de exportação paraguaia ao Brasil em 2012 (vendas de US$ 170 milhões, ou 19% da pauta de exportações ao mercado brasileiro) foi o trigo, com aumento de 204% em relação às importações brasileiras de trigo paraguaio em 2011, até novembro.

As vendas de têxteis paraguaias aos brasileiros também cresceram significativamente, ainda que alguns produtos, como cobertores, tenham sido barrados pelos mecanismos de defesa comercial no Brasil, sob acusação de serem produtos chineses travestidos de mercadoria do sócio no Mercosul. As vendas de edredons, almofadas e travesseiros cresceram 180%, as de lençóis estampados de algodão, 79%, e de tecidos impermeabilizados, impregnados com PVC, 375%.

Apesar da suspensão política, a reunião de cúpula do Mercosul, em Brasília, em dezembro, teve representantes paraguaios nos fóruns de empresários e da sociedade civil. O governo não tem ainda definição sobre a readmissão do país no bloco.


Desemprego ofusca melhora em França e Itália

Valor Econômico

Duas das maiores economias da zona do euro deram sinais hesitantes de melhora ontem, mas qualquer otimismo sobre as perspectivas foi minimizado por novas provas de que o desemprego continua crescendo.

Os dados sobre o desemprego na França, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostraram que o número de pessoas sem trabalho subiu pelo 19º mês consecutivo em novembro, com a categoria A de desempregados – ou seja, os registrados como totalmente desempregados, mas que estão procurando emprego – chegando a 3,1 milhões na França continental, uma alta de 0,9% em relação a outubro.

“O aumento no número de desempregados na França tem sido contínuo desde 2008 e foi particularmente forte no último ano e meio”, afirmou o Ministério do Trabalho em um comunicado.

Os dados do trabalho ofuscaram os números um pouco mais positivos de outras partes da economia francesa, divulgados na quinta-feira.

O Insee, instituto de estatísticas da França, havia informado que a confiança do consumidor subiu em dezembro, apesar do aumento do desemprego e das perspectivas desanimadoras.

E, em outras áreas, pareceu que os esforços do presidente François Hollande para reforçar as finanças públicas da segunda maior economia da zona do euro começaram a dar frutos, com a notícia de uma queda na razão entre a dívida pública e o PIB no terceiro trimestre.

Enquanto isso, na vizinha Itália, o instituto nacional de estatísticas, a Istat, informou que o índice de confiança das empresas subiu em dezembro pelo segundo mês consecutivo.

Os novos pedidos, que são o componente do índice mais voltado para o futuro, foi seu elemento mais forte.

Mas a medida mais ampla da Istat de confiança das empresas, que inclui os setores de varejo, serviços e construção, caiu de um nível revisado de 76,5 em novembro para 75,4 em dezembro, o mais baixo em quase sete anos.

A confiança na Itália permanece sob pressão devido à incerteza no cenário político.

O país deve realizar eleições gerais no final de fevereiro do ano que vem, e grande parte de ambas as alas políticas estão questionando as medidas de austeridade de Mario Monti, o primeiro-ministro tecnocrata em vias de deixar o cargo.

O aumento do índice de confiança do consumidor francês, de 84 em novembro para 86 em dezembro, foi o primeiro a ser registrado desde maio.

O Insee informou que os consumidores pareciam mais confiantes quanto ao seu futuro padrão de vida, mas temem que o desemprego aumente.

O instituto estimou neste mês que a economia iria se contrair no último trimestre de 2012 e ter um aumento apenas modesto no primeiro semestre de 2013.

Se essa previsão for correta, seria necessária uma rápida aceleração no crescimento da economia no segundo semestre de 2013 para que o governo possa cumprir seu plano de reduzir o déficit para 3% do PIB, ante os estimados 4,5% de 2012.

Em outro comunicado, o Insee informou que o saldo da dívida pública caiu € 14,5 bilhões, para € 1,818 trilhão (US$ 2,4 trilhões), no final do mês de setembro em relação ao trimestre anterior. Isso ocorreu graças a uma queda no endividamento das administrações públicas centrais.

Essa redução no saldo abaixou a dívida pública de 91% do PIB para 89,9%. O governo francês ainda espera que a proporção da dívida alcance um pico de 91,3% no fim do ano que vem, antes de começar a cair em 2014.

Dominique Barbet, economista do BNP Paribas em Paris, disse que a queda da dívida é “uma boa notícia”. Ele nota que isso sugere que a meta de 4,5% do PIB para o déficit deve ser alcançada neste ano.

O governo pretende equilibrar as finanças públicas até o final do mandato do presidente Hollande, em 2017.

“Este é um plano ambicioso e pretendemos implementá-lo sem lutar por uma política orçamentária antiquada de aumentos nos impostos e nos gastos”, escreveu o ministro da Fazenda, Pierre Moscovici, na edição de quinta-feira do jornal alemão “Handelsblatt”. “Ao longo dos próximos cinco anos, a redução nos gastos será superior aos aumentos nos impostos e trará € 60 bilhões de euros.”

Moscovici acrescentou que o país já havia alcançado um nível de dívida “inaceitável”, de € 1,7 trilhão, no ano passado.

O governo socialista de Hollande está sob estreita vigilância das agências de classificação de crédito, pois um crescimento econômico abaixo das expectativas governamentais fará com que este não cumpra sua meta.

Duas das três grandes firmas internacionais de classificação já tiraram do país sua cobiçada classificação AAA, mas a agência Fitch Ratings a confirmou no início deste mês, embora com um cenário negativo.

Indispensável para uma perspectiva de crescimento é aumentar a competitividade das empresas do país, que vêm ficando para trás das alemães, em especial, nos últimos dez anos.

O governo já fez planos para € 20 bilhões em incentivos fiscais ao longo de três anos com o objetivo de ajudar as empresas a reduzir os custos trabalhistas.

Mas o apelo de Hollande para que empregadores e sindicatos cheguem a um acordo mais abrangente, a fim de aumentar a competitividade por meio de mais flexibilidade no trabalho, ainda não foi atendido e continua sendo debatido intensamente pelos dois lados.


Desembolsos do BNDES podem superar projeção de R$ 150 bilhões, diz Coutinho

Valor Econômico

Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) podem ultrapassar R$ 150 bilhões, volume previsto para este ano. A afirmação foi feita ontem pelo presidente da instituição, Luciano Coutinho. Até agora, o banco estimava desembolsos entre R$ 145 bilhões e R$ 150 bilhões. Coutinho disse que os desembolsos em dezembro “estão muito fortes” e o acumulado do ano já está próximo dos R$ 150 bilhões.

O volume de desembolsos maior que o previsto vai depender de possíveis operações que podem ser realizadas até hoje, com a possível entrega de documentos por parte de empresas não mencionadas por Coutinho.

De janeiro a novembro deste ano, os desembolsos somaram R$ 121,8 bilhões, 3% acima das liberações feitas em igual período em 2011. No mesmo período de comparação, houve 41% de aumento nas aprovações de empréstimos -R$ 211 bilhões nos primeiros 11 meses de 2012.

Houve, também, elevação de 58% nas consultas de janeiro a novembro deste ano ante o mesmo período de 2011, para R$ 263 bilhões. Cláudio Leal, superintendente da área de Planejamento do BNDES, disse que o crescimento das consultas – primeiro passo para pedido de empréstimo junto ao banco e “termômetro” do interesse para novos investimentos – sinalizam retomada mais robusta de aportes para 2013.

Segundo Leal, a indústria deve estar entre os setores que ajudarão a impulsionar os investimentos na economia em 2013. “Bons desempenhos na indústria indicam um cenário mais auspicioso [para o setor industrial] em 2013”, declarou o executivo. Coutinho destacou que o principal objetivo da instituição é ajudar a aumentar a participação dos investimentos no PIB.

“Esperamos que a infraestrutura e a logística sejam vetores de dinamismo para o investimento [em 2013]”, disse, ao participar de cerimônia para a assinatura de contrato de financiamento para o Estado de São Paulo de R$ 1,9 bilhão, no âmbito do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e Distrito Federal do BNDES (Proinveste), com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Os instrumentos adotados pelo governo para estimular a economia foram apontados por Leal como um dos motivos para o bom desempenho deste ano. Criado este ano, o Proinveste tem um montante de R$ 20 bilhões a serem liberados para os Estados e para o Distrito Federal.

Segundo Alckmin, o volume de R$ 1,9 bilhão será totalmente aplicado na expansão da linha 5 (Lilás) do metrô paulista, entre as estações Largo Treze e Chácara Klabin. O financiamento permitirá a construção de 11,5 quilômetros de trilhos e 11 estações de metrô. Atualmente, segundo Alckmin, a linha 5 transporta 275 mil passageiros por dia. “As obras vão agregar um total de 770 mil passageiros por dia”, afirmou.

Alckmin destacou que sistema de transportes sobre trilhos de São Paulo, incluindo trem e metrô, transporta 7,5 milhões de passageiros por dia, sendo 2,7 milhões por trem e 4,8 milhões por metrô. Até o fim do ano, a expectativa é atingir cerca de 8 milhões de passageiros por dia. “A meta é expandir mais rapidamente a rede de metrô, porque ela ainda é pequena. Temos 76 quilômetros de rede de metrô, o que é pouco para o tamanho da cidade.”

Incluindo o valor de R$ 1,9 bilhão assinado ontem, São Paulo tem um total de R$ 4,4 bilhões contratados junto ao BNDES. Além disso, também tem R$ 5,7 bilhões em análise com o banco. Segundo o governador, 70% do montante, incluindo contratado e em análise, serão voltados para a área de transportes. O restante será dividido principalmente entre saúde, saneamento básico e habitação.


Fundos de pensão planejam investir mais em ações

Valor Econômico

Os gestores de fundos de pensão planejam mudanças no portfólio de investimentos em 2013. Maiores aportes em renda variável, em títulos de crédito privado e também em fundos de private equity, que compram participação em empresas, estão entre os planos desses grandes investidores brasileiros. Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa inédita por sua abrangência, organizada pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).

Em um trabalho que durou pouco mais de três meses, os gestores de 120 fundos de pensão revelaram como pretendem enfrentar o desafio de cumprir as metas atuariais em um ambiente de rentabilidade menor. Juntas, as fundações ouvidas na pesquisa administram aproximadamente 81% do total dos ativos do setor. Segundo a Abrapp, em junho, os fundos reuniam patrimônio de R$ 620 bilhões.

Na pesquisa, mais da metade dos gestores respondeu que pretende aumentar a alocação em renda variável nos próximos 12 meses. Atualmente, a participação dessa classe de ativo não chega a 40% do total dos recursos geridos pelos fundos de pensão com benefício definido. Quando observados os fundos com contribuição definida ou variável, a renda variável se faz ainda menos presente. Em média, 14,9% dos recursos estão nessa modalidade.

Para Carlos Garcia, sócio da Itajubá Investimentos, gestora voltada para clientes institucionais, a mudança nos planos dos gestores é emblemática. Mostra a preocupação com o cumprimento das metas atuariais e uma rápida correção de rota. “A resposta dos fundos ao novo patamar dos juros no Brasil veio de forma muito rápida, na minha opinião. No mercado americano, a resposta levou mais tempo”, afirma Garcia, um dos coordenadores da pesquisa da Abrapp.

Garcia salienta que o levantamento captou a intenção dos gestores e não propriamente as novas alocações. Mesmo que se confirmem, os planos para aumentar a aplicação em renda variável – seja com aportes em ações ou cotas em fundos imobiliários – não devem mudar o perfil dos portfólios brutalmente. Como herança das décadas de juros altos e títulos públicos com farta rentabilidade, a renda fixa comporta o maior volume de recursos. Na carteira dos planos com benefício definido, 50,7% dos recursos estão alocados nessa modalidade, segundo a pesquisa. No portfólio dos planos com contribuição definida ou variável, o percentual é ainda maior: 77,7%.

Uma mudança que deve acontecer nessa fatia de renda fixa é a característica dos títulos. Atualmente, 80% dos recursos estão em papéis públicos. Nos próximos meses, 33,3% dos gestores dos planos de contribuição definida ou variável pretendem reduzir a posição que têm no Tesouro Nacional, e 61,3% querem aumentar as aplicações em crédito privado. “A disposição em aportar em FIDCs [fundos de investimento em direitos creditórios] e títulos privados foi o que mais surpreendeu”, diz Garcia.

O levantamento mostrou que a propensão dos gestores dos fundos não mudou, entretanto, quanto a investimentos estrangeiros. Segundo o estudo, 0,004% dos ativos estão alocados em aplicações no exterior. Somente 12,7% dos gestores de planos de contribuição definida ou variável pretendem aumentar a parcela “offshore” do portfólio. Desse total, 77,3% planejam ter entre 0% e 2% dos recursos alocados em outros países.

Para Garcia, essa modalidade de investimentos merece entrar no radar dos investidores. Ele argumenta que os mercados estrangeiros possuem classes de ativos que não existem no Brasil e que, naturalmente, possuem correlação negativa com as oportunidades no país. “No atual cenário, em que ficou mais difícil conseguir a rentabilidade, a busca por ativos com correlação negativa passa a ser importante.”

O sócio da Itajubá afirma que o cenário de juros mais baixos exige mudança de comportamento de todos os investidores, inclusive dos fundos de pensão. “A migração para ativos novos e rentáveis é difícil, porque eles são escassos. Quem for mais ágil vai conseguir as melhores oportunidades”, afirma Garcia. “O bom ativo não espera.” Alguns gestores terão de repensar o processo de tomada de decisão sobre seus investimentos, segundo Garcia. Ele explica que há fundos que precisam, por norma, aguardar a próxima reunião do comitê para decidir sobre uma nova aplicação.


A magnitude dos gastos com juros

Valor Econômico

A discussão sobre política fiscal no Brasil costuma deixar em segundo plano as despesas financeiras, apesar de os gastos com juros do setor público superarem com folga os R$ 200 bilhões por ano. Nos 12 meses até outubro, a diferença entre os juros pagos e os recebidos pelo conjunto formado por União, Estados, municípios e estatais (exceto Petrobras e Eletrobrás) somou R$ 217 bilhões, ou cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa montanha de dinheiro equivale a quase 11 vezes o orçamento de 2012 do Bolsa Família, que beneficia 13,7 milhões de famílias.

A boa notícia é que os gastos financeiros estão em queda, tanto em valores absolutos como em proporção do PIB. O corte expressivo da taxa Selic desde o ano passado colaborou para reduzir as despesas líquidas com juros, que em janeiro deste ano haviam atingido R$ 237 bilhões no acumulado em 12 meses, ou 5,7% do PIB. Os gastos líquidos levam em conta o saldo entre os juros pagos e recebidos pelo setor público.

O ponto é que a diminuição das despesas com juros tem sido mais lenta que a sugerida pelo tombo da Selic – de agosto de 2011 a outubro de 2012, caiu de 12,5% para 7,25% ao ano. Como adverte há tempos o especialista em contas públicas José Roberto Afonso, a Selic deixou de ser uma boa referência para a magnitude dos gastos com juros no Brasil. O custo efetivo da dívida líquida do setor público, dado pela chamada taxa implícita, é hoje muito mais alto que a Selic, além de ter caído menos, diz Afonso, assessor técnico da subcomissão de assuntos tributários do Senado. A taxa implícita acumulada em 12 meses recuou de 16,7% ao ano em agosto de 2011 para 15,3% em outubro de 2012, uma queda de 8,4% em termos relativos. Nesse período, a Selic em 12 meses caiu de 11,4% para 9,2%, uma baixa de 19,3%.

Despesas financeiras superam R$ 200 bilhões

A Selic influencia hoje menos os gastos com juros em parte porque corrige uma fatia menor da dívida pública. Os papéis prefixados ou atrelados à inflação respondem por mais de três quartos da dívida interna em títulos do governo federal.

Outro motivo fundamental é que, nos últimos anos, houve um aumento expressivo dos reservas internacionais e dos empréstimos do Tesouro para os bancos públicos. Com isso, cresceu a diferença entre o rendimento e o prazo dos ativos do setor público (como as reservas e os empréstimos aos bancos) e os seus passivos (como os títulos da dívida), o que fez saltar a distância entre a taxa implícita e a Selic.

As reservas internacionais estão hoje próximas de US$ 380 bilhões. No fim de 2004, estavam abaixo de US$ 53 bilhões. Ao comprar dólares no mercado, o BC aumenta o volume de reais na economia, retirados de circulação por meio de operações compromissadas, pelas quais vende títulos públicos, com a promessa de recomprá-los, pagando juros próximos à Selic. Os dólares adquiridos pelo BC, por sua vez, são aplicados no exterior a taxas bem mais baixas do que a Selic. O custo de ter reservas elevadas é alto, ainda que o recuo recente dos juros básicos por aqui tenha diminuído a distância das taxas em vigor nos países desenvolvidos.

Há discussão entre os economistas se vale a pena continuar a acumular reservas internacionais, mas elas são um trunfo importante para proteger o país em caso de agravamento do cenário externo, caso haja risco de diminuição ou interrupção do fluxo de capitais. Depois da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, o nível elevado de reservas contribuiu para reduzir o impacto da crise global sobre o Brasil.

Os empréstimos para os bancos públicos aumentaram muito depois da crise de 2008. Os créditos do Tesouro para instituições financeiras oficiais pularam de R$ 14 bilhões em 2007 para os atuais R$ 390 bilhões, com os empréstimos para o BNDES totalizando R$ 354,6 bilhões. “É um volume enorme, que não para de subir”, diz Afonso. Os aportes continuaram a ser realizados em montantes significativos, mesmo num quadro bem diverso do registrado em 2008 e 2009, quando os bancos privados travaram o crédito.

Afonso aposta em novos empréstimos do Tesouro para o BNDES no ano que vem, lembrando que o governo anunciou a prorrogação até o fim de 2013 do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), a linha subsidiada do banco para financiar bens de capital, no valor de R$ 100 bilhões. Para fazer essas operações, o Tesouro lança títulos em grande parte atrelados à Selic, e fica com créditos junto ao BNDES corrigidos pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que em janeiro vai cair dos atuais 5,5% para 5% ao ano. A diferença entre as taxas é menor do que no passado, mas a Selic ainda está mais alta que a TJLP, havendo também um descasamento de prazos entre créditos e débitos do Tesouro. Tudo isso contribui para manter elevada a distância entre o custo média da dívida e os juros básicos. Afonso critica ainda o fato de esses empréstimos não constarem do orçamento, não passando pelo crivo do Congresso.

A expectativa dominante entre os analistas é que a Selic ficará muito tempo nos atuais 7,25%. Mesmo quando voltar a subir, a taxa não tende aumentar com força. Juros básicos de dois dígitos parecem hoje fora do radar. Nesse cenário, os gastos financeiros do setor público deverão seguir em baixa, mas o ritmo de queda poderá frustrar os que esperam uma grande economia de juros por causa da queda da Selic.

O recuo dos juros básicos é positivo, mas não vai se traduzir numa redução expressiva dos gastos financeiros, diz Afonso. Para ele, a Selic mais baixa não vai abrir um grande espaço fiscal para cortes de impostos ou elevação dos investimentos do governo em infraestrutura.

Em 2011, o saldo entre o que o setor público pagou e recebeu de juros ficou em R$ 236,7 bilhões, ou 5,7% do PIB. Neste ano, o número pode ficar na casa de 4,8% do PIB, o equivalente a cerca de R$ 212 bilhões. Para um país que já gastou mais de 9,5% do PIB com juros, como nos 12 meses até agosto de 2003, os quase 5% do PIB até parecem razoáveis, mas ainda é muito dinheiro – para comparar, a União deve investir algo como 1% do PIB neste ano, sem incluir os subsídios ao programa Minha Casa, Minha Vida.


Varejo prevê alta de 7,5% nas vendas em 2013

Valor Econômico

O empresário varejista deve começar o ano “sem preocupações”, nas palavras do economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes. “Não há nada que preocupe o empresário do comércio para o ano que vem”, frisou o especialista.

Bentes fez a observação ao comentar a alta de 0,3% no Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) de dezembro ante novembro. O economista minimizou o recuo de 1,5% do Índice de Expectativas (IEEC), um dos sub-indicadores componentes do Icec, para o mesmo período.

Segundo ele, a queda ocorreu, porque as expectativas já operam em patamar muito elevado. “Podemos observar que o IEEC atingiu 160,6 pontos em dezembro, sendo que 100 pontos significam neutralidade. Então, podemos dizer que as perspectivas do comércio estão muito acima da neutralidade”, disse. Na prática, afirma, houve em dezembro uma pequena diminuição do “superotimismo” do empresário do comércio.

A prorrogação de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para carros e para a linha branca de eletrodomésticos, além de cortes de tributos para o comércio, anunciados recentemente pelo governo, impulsionarão as vendas do setor varejista no próximo ano, prevê o economista.

A CNC projeta aumento de 9,1% nas vendas do varejo em 2012 ante 2011; e avanço de 7,5% nas vendas de 2013 ante ano anterior, afirmou o técnico. “Esperamos patamar menos intenso de elevação em 2013, porque as vendas do comércio crescerão em cima de uma base de comparação já elevada.”

Nem a ameaça de avanço de inadimplência e o elevado nível de endividamento das famílias, devem afastar o consumidor das lojas no ano que vem, afirmou Bentes. O economista da CNC espera diminuição na taxa de inadimplência e menor endividamento em 2013.

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