Congresso evita abismo fiscal, e Obama retoma férias

O presidente dos EUA, Barack Obama, deixou a Casa Branca na terça-feira para retomar as férias no Havaí depois que o Congresso aprovou a lei que aumenta os impostos para os americanos mais ricos, evitando o chamado abismo fiscal que seria provocado por consecutivos aumentos de impostos e cortes de gastos.

Obama deixou a Casa Branca pouco após a meia-noite. Ele havia interrompido as férias na semana passada para coordenar os esforços por um acordo antes do Ano Novo.

O acordo foi uma vitória de Obama, reeleito com a promessa de resolver problemas econômicos em parte pelo aumento dos impostos sobre os mais ricos. Os republicanos foram forçados a votar contra um princípio central de seu conservadorismo.

O texto também resolve, por ora, dúvidas sobre se os EUA podem superar diferenças ideológicas profundas para evitar um agravamento da situação econômica, que só agora começa a melhorar, após a pior recessão em 80 anos.

Consumidores, empresas e os mercados financeiros foram abalados com os meses de impasse a respeito do orçamento. A crise só terminou quando republicanos na Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) aceitaram os aumentos de impostos aprovados pelo Senado, controlado pelos democratas.

As bolsas asiáticas atingiram máxima de cinco meses e o dólar caiu, conforme os mercados saudavam a notícia.

Drama

O acordo evitou o abismo fiscal, mas não resolveu outros confrontos políticos dos próximos meses. Os cortes de gastos de US$ 109 bilhões em programas militares e domésticos só foram adiados por dois meses.

Obama pediu “um pouco menos de drama” quando o Congresso e a Casa Branca forem negociar as próximas questões fiscais, como a extensão da autoridade de empréstimo do país. “Embora eu vá negociar muitas coisas, não terei outro debate com o Congresso sobre se devem ou não pagar as contas que eles já acumularam”, disse Obama, na Casa Branca.

Houve muito drama no primeiro dia de 2013. Enquanto o resto do país comemorava o Ano Novo, o Senado ficou reunido até 2h horas da terça-feira.

Foi a primeira vez em 40 anos que a Casa teve de se reunir na noite de Ano Novo.

Em 2011, a disputa com os republicanos sobre o teto da dívida levou a agência de classificação financeira Standard and Poor’s a reduzir a nota da dívida dos EUA.

Acordo

Com 275 votos a favor e 167 contrários, às 23h (2h de Brasília), a Câmara de Representantes aprovou um projeto de lei que aumenta de 35% a 39,6% os impostos para as famílias com renda superior a US$ 450 mil ao ano. A nova alíquota equivale à de duas décadas atrás. No dia anterior, o Senado havia aprovado o texto, com 89 votos a 8.

O texto mantém o nível atual da carga tributária para 98% das famílias e 97% dos pequenos negócios.

O acordo não prorroga, no entanto, o rebaixamento temporário das retenções sobre salários aprovadas pelo presidente Obama dentro das medidas de estímulo à economia, pelo que alguns americanos notarão, a partir desta quarta-feira, uma redução de seus salários líquidos.

Embora repudiem qualquer aumento de impostos, os republicanos aceitaram votar a favor da medida para evitar o abismo fiscal. Um número significativo de republicanos exigia uma emenda para cortar as despesas do governo em US$ 300 bilhões.


Superavit da balança comercial brasileira cai 35% em 2012

Valor Online

A balança comercial brasileira fechou 2012 com superavit (exportações menos importações) de US$ 19,438 bilhões –queda de 34,8% em relação ao ano anterior, pelo conceito de média diária. Em 2011, as exportações superaram as importações em US$ 29,794 bilhões.

O resultado comercial do ano passado foi o pior desde 2002, quando o saldo da balança foi positivo em US$ 13,195 bilhões.

Os dados foram divulgados nesta quarta-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

As vendas de bens para o exterior somaram US$ 242,580 bilhões em 2012, ante US$ 256,039 bilhões em 2011, o que representa queda de 5,3% pela média diária. As importações alcançaram US$ 223,142 bilhões no ano passado, 1,4% abaixo do valor registrado no ano anterior (US$ 226,245 bilhões) pela média diária.

Somente em dezembro a balança comercial brasileira teve superavit de US$ 2,250 bilhões –queda de 40,8% em relação ao mesmo período do ano passado, quando as exportações superaram as importações em US$ 3,801 bilhões.

Na terceira semana de dezembro o superavit foi de US$ 275 milhões. A quarta semana de dezembro fechou com superavit de US$ 1,163 bilhão. Já na quinta semana do mês as exportações superaram as importações em US$ 1 milhão.


Capitais começam 2013 com corte de gastos

O Globo

Depois de um ano de crescimento econômico baixo, a preocupação com o corte de gastos deu o tom dos discursos dos prefeitos, novos ou reeleitos, que tomaram posse na terça-feira. Reeleito no Rio, Eduardo Paes (PMDB) anunciou redução de 10% no total dos gastos com cargos de confiança. Prometendo um olhar crítico sobre a sua administração, Paes determinou, por exemplo, a redução em pelo menos 15% nos contratos de locação de veículos por órgãos e entidades públicas.

Em Salvador, ACM Neto (DEM) prometeu “apertar o cinto e gastar com aquilo que é necessário”.

Em Recife, Geraldo Júlio (PSB), afilhado político do governador Eduardo Campos, extinguiu duas secretarias e mais de 600 cargos, sinalizando um choque de gestão. Em Manaus, Arthur Virgílio (PSDB) anunciou redução do próprio salário, que havia sido aumentado pela Câmara.

Em São Paulo, Fernando Haddad (PT) disse que quer renegociar a dívida com o governo federal.

– Precisamos repactuar o contrato da dívida com o governo federal – disse Haddad, afirmando que não é possível que o município tenha uma dívida de 200% do valor de sua arrecadação.

Dirigindo-se ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), também declarou que não irá ‘recusar um centavo do governo estadual por divergências partidárias’.

– Quero dar aos mãos ao senhor – disse Haddad.


Economia da China termina o ano em alta

Valor Econômico

A economia da China encerrou 2012 com bons sinais, com dois índices mostrando que a atividade industrial continua em expansão. O índice oficial dos gerentes de compra, divulgado ontem, mostrou que o ritmo de expansão em dezembro ficou estável em relação a novembro, quando chegou a 50,6 pontos, maior patamar em sete meses. Leituras acima de 50 pontos indicam expansão. O dado seguiu-se à divulgação de elevação no índice de gerentes de compra do HSBC para o maior patamar em 19 meses. O índice do HSBC passou de 50,5 para 51,5 pontos entre novembro e dezembro, de acordo com dados divulgados na segunda-feira.

Embora os números ainda encaminhem a China a um crescimento abaixo de 8% em 2012, o menor em mais de dez anos, a força da economia teve recuperação visível no quarto trimestre, depois de o governo ter elevado os investimentos em infraestrutura. “Esse ímpeto deverá se manter nos próximos meses, quando as construções de [projetos de] infraestrutura estiverem em ritmo total e as condições do mercado de propriedades se estabilizem”, disse Qu Hongbin, do HSBC na China.

O economista prevê que o crescimento poderia recuperar-se em 2013 e chegar a 8,6%, o que representaria uma retomada relativamente forte, apesar da lentidão da economia mundial. A questão fiscal nos EUA e a persistência dos problemas com as dívidas europeias, contudo, poderiam lançar uma sombra sobre as perspectivas chinesas. O índice dos gerentes de compra mostra que, por enquanto, a China vem conseguindo contar com a demanda doméstica para compensar a fragilidade externa.

Um dos componentes do indicador, o de novas encomendas, subiu de 50,8 para 52,9 pontos, de novembro a dezembro, o maior nível em 23 meses. O de novas encomendas para exportação, porém, caiu de 52,1 para 49,2 pontos. A diferença entre os dois componentes foi vista como sinal de que a demanda doméstica, e não a externa, vem sendo responsável pela melhora na economia. O índice Xangai Composto, referencial na China, subiu 1,6% no pregão de segunda-feira, dando continuidade à tendência de alta, que já acumula alta de quase 15% nos últimos 30 dias, depois do fraco desempenho durante boa parte de 2012. Em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu 0,2%.

Os dados econômicos chineses começaram a apontar para cima em setembro, após o governo elevar investimentos em infraestrutura e promover um afrouxamento cauteloso da política monetária. Ainda assim, questiona-se se a recuperação poderia perder força em breve. A inflação, sob controle há quase dois anos, começou a avançar lentamente, o que poderia levar o governo a apertar a política monetária. Também cresceram os receios quanto ao forte aumento no financiamento não bancário, cuja supervisão é menos estrita.

“Estamos preocupados com a sustentabilidade da recuperação, uma vez que o banco central indicou recentemente receio com as atividades bancárias paralelas e poderia endurecer a supervisão para controlar o risco financeiro”, disse o economista Zhiwei Zhang, da Nomura. Em discurso de Ano-Novo, o presidente Hu Jintao disse que a China se esforçará para promover um crescimento forte, sustentável e equilibrado da economia mundial”.


Indústria deve ter ‘folga’ de custos de 20% em 2013

Valor Econômico

A indústria brasileira passou por profundas alterações desde a crise de 2008. O saldo das mudanças é um setor menos competitivo (pelo aumento de custos) e mais “pobre”. Desde a crise, segmentos intensivos em tecnologia, e que exportavam bens de consumo duráveis, perderam espaço, enquanto fabricantes de bens commodities avançaram, embora na média quase todos tenham desempenho medíocre desde então. Por isso, dizem economistas, a estagnação do setor em 2011 e 2012 vai muito além de uma demanda fraca e indica problemas estruturais a serem resolvidos.

No terceiro trimestre de 2012, a produção que saiu das fábricas de materiais eletrônicos e de comunicações foi 32% menor do que a registrada no mesmo período de 2008, logo antes da crise mundial. Esse não foi o único setor que viu a produção encolher brutalmente no pós-crise: entre os 27 setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12 produzem menos hoje do que há quatro anos. Em cinco deles, a produção caiu mais de 15%.

Na média, a indústria de transformação produziu, no terceiro trimestre do ano passado, 3% menos do que em igual período de 2008. Na mesma comparação, o volume de mercadorias vendidas no varejo foi 35% maior. Nos mesmos quatro anos, o que realmente cresceu no país, acompanhando o aumento da população e da renda, foi a produção de bebidas, remédios e perfumaria, únicos setores a registrar aumento de produção superior a 10%, sempre na comparação entre os terceiros trimestres de 2008 e 2012.

Um estudo dos economistas Cristina Reis e Daniel Keller, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), mostra a mudança de cara da indústria ao vasculhar os dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA-2010). O trabalho mostra que, entre 2007 e 2010, o aumento real com os gastos de pessoal foi de 26,7%, crescimento superior ao dos ganhos de produtividade, que foram de 23,7% na mesma comparação. O trabalho não avança para 2011 e 2012, mas os dados de produção industrial do IBGE indicam que o movimento continuou.

No acumulado desses dois anos, os salários pagos na indústria subiram 7% acima da inflação, sem nenhum ganho de produtividade. O avanço do custo dos salários muito acima do da produtividade é um dos elementos que explicam a perda de competitividade da indústria brasileira frente aos seus competidores, seja no exterior, seja no mercado interno, aponta o trabalho. O estudo mostra, contudo, que a indústria não ficou parada vendo os custos subirem.

Para compensar esse aumento, recorreu à importação de insumos. Como consequência, os custos em operações (que incluem despesas com matéria-prima) perderam peso no valor bruto da produção, passando de 57,5% em 2007 para 54,4% em 2010. No mesmo período, o peso dos salários e encargos passou de 13,7% para 15,2% do valor da produção industrial. Essa “troca”, argumentam os economistas, permitiu ao setor sobreviver ao longo desses quatro anos. A sobrevivência, contudo, não foi uniforme.

Em 2008, o Brasil exportou US$ 3,1 bilhões em telefones celulares, número que caiu constantemente até fechar 2011 em US$ 682 milhões. No mesmo período, as importações aumentaram de US$ 362 milhões para US$ 1 bilhão. Para Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica, a indústria não perdeu competitividade entre 2007 e 2012. “Ela já tinha perdido”, diz ele. “O que acontece é que, com a crise, a máscara caiu, os estrangeiros vieram com mais força disputar o nosso mercado e o excesso de capacidade mundial se direcionou para os mercados que cresciam, como o Brasil.

” Para Gomes de Almeida, a maior parte dos custos que afetaram a indústria “veio de fora”, como a energia cara, o câmbio apreciado e os salários altos. “Os reajustes pagos pela indústria foram provocados pela concorrência que o setor de serviços provocou no mercado de trabalho”, diz. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, acrescenta outra preocupação. Enquanto os custos domésticos cresciam, a indústria do resto do mundo ficou mais competitiva. Para ele, não é o custo de energia um pouco menor que vai resolver os problemas domésticos.

E o câmbio atual, mais desvalorizado, é quase um problema, diz, porque encarece justamente as importações feitas pela indústria – 80% da importação é de bens de capital e intermediários. Vale observa que anúncios recentes – alguns já oficiais, outros ainda na forma de intenção – apontam bons caminhos, como a perspectiva de uma flexibilização nas leis que regulam a presença de mão de obra estrangeira e uma forte ênfase à inovação. “Essas são duas boas notícias, mas o cenário para 2013 e 2014 ainda é de uma industria sem capacidade de investimento, sem escala e com crescimento fraco.

Pacotes pontuais não resolvem o problema”, diz. Para Vale, uma das principais questões é que a orientação econômica mudou, e o maior intervencionismo que ela sugere afetou a confiança dos agentes econômicos. “O governo trocou o tripé pela dupla juros baixos e câmbio mais competitivo, mas precisa mais do que isso para recuperar a confiança.” Na avaliação de Vale, as medidas recentes do governo (na área de energia e outros segmentos de concessões) indicam que ele quer controlar o investimento privado, “e isso cria uma perspectiva negativa para o investidor”.

Gomes de Almeida acredita que a palavra fundamental para a indústria agora se chama “produtividade”. E ganhar produtividade, diz, depende de um aumento dos investimentos em inovação. Para impulsionar esses projetos, contudo, é necessário um incentivo maior, especial. “O governo está focando sua política pelo custo do investimento, mas precisa aumentar a ajuda fiscal para isso”, diz ele. Entre as medidas que precisam “voltar”, está a depreciação acelerada para bens de capital, cujo prazo terminou no fim de 2012, depois de ter entrado em vigor em agosto. “Você não afeta decisões de investimento com medidas que duram três ou quatro meses”, argumenta o ex-secretário de Política Econômica.


Economistas preveem PIB acima de 3%

Valor Econômico

Marcelo Arnosti, da BB-DTVM: há uma retomada em curso, mas a recuperação da economia não será linear O “pibão” esperado pela presidente Dilma Rousseff dificilmente ocorrerá neste ano, afirmam economistas consultados pelo Valor Data, mas o crescimento da economia brasileira deve superar 3% em 2013 e 2014. Ficará para trás, portanto, o pífio desempenho da atividade na primeira metade de seu mandato, quando o crescimento médio anual foi perto de 1,8%. A possibilidade de dobrar esse ritmo associada a um desemprego muito baixo pode ser um trunfo no processo eleitoral de 2014. A expectativa é de alguma retomada do setor industrial, em um primeiro momento, por causa de medidas como a redução da tarifa de energia e a desoneração da folha de pagamentos e, mais à frente, em função da recuperação projetada para a demanda global. O consumo das famílias continuará forte e é esperada alguma recuperação dos investimentos. A nova “matriz macroeconômica” defendida pelo governo, com o real mais desvalorizado em relação ao dólar e juros menores, também será mantida, na avaliação dos analistas. Na média, consultorias e instituições financeiras projetam que a Selic permanecerá estável em 7,25% ao ano ao longo de 2013, com algumas apostas de um moderado ciclo de aperto monetário em 2014. Nesse cenário, a inflação não converge para o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5% ao ano, mas também não supera, na maior parte das opiniões, o teto de 6,5%, oscilando na banda entre 5,5% e 6,5%. Para segurar pressões inflacionárias, que devem surgir com o reaquecimento da economia, os economistas apostam em novas desonerações. Como resultado, tanto em 2013 quanto em 2014 o governo não deve cumprir a meta “cheia” para o superávit primário, de 3,1% do PIB. Para o economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta, o Produto Interno Bruto (PIB) vai avançar 3,3% neste ano e 3,8% em 2014, em linha com o potencial da economia brasileira, estimado em torno de 3,5% pela consultoria. “Vamos crescer o que é possível, dadas as restrições de oferta de mão de obra e baixo nível de investimento.” Ao longo desta ano, a economia deve reagir de forma mais clara ao acúmulo de estímulos, como redução da taxa básica de juros e dos spreads bancários, alteração na tarifa de energia e desoneração da folha de pagamentos, por exemplo, afirma. “Mesmo considerados todos esses fatores, não vemos nada que possa dar um choque de ânimo nos empresários e faça com que os investimentos tenham forte reação em 2013”, afirma o economista da MCM. Para a indústria, no entanto, a combinação entre crédito mais barato e mudança do nível de câmbio deve surtir efeito mais pronunciado, ainda que não seja esperado um desempenho “espetacular”, diz Genta. Nos cálculos da MCM, depois de uma queda em 2012, o produção industrial crescerá 4,4% em 2013, e 4,8% no ano seguinte. “Há uma retomada em curso”, diz Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, que, no entanto, não projeta que essa recuperação será linear. Arnosti acredita em indicadores de atividade mais fortes no primeiro trimestre, já que a indústria ingressará em 2013 com estoques mais ajustados e o consumo das famílias tende a se sustentar em nível elevado. Arnosti espera, no entanto, alguns solavancos na zona do euro no segundo trimestre, o que pode atenuar a recuperação dos investimentos no ambiente doméstico. Diante dessa perspectiva, de novo será costurado um acordo entre líderes europeus, que afastará temores de ruptura e permitirá um 2014 mais sólido. “Como nossa indústria é integrada, tende a se beneficiar de um nível de incerteza menor”, afirma Arnosti. Nesse cenário, a atividade doméstica reage, levando o BC a voltar a elevar juros em 2014, mas o ciclo de aperto monetário, na avaliação da BB-DTVM, será curto, de 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano, ao fim de 2014. A MCM espera alta ainda menor da Selic, de apenas 0,5 ponto em 2014. “Enquanto puder, o Banco Central vai manter a taxa básica no patamar atual”, afirma Genta. Como a perspectiva é de inflação mais pressionada, em função do consumo aquecido e da aceleração dos investimentos, por causa da iminência dos eventos esportivos programados para o país, o BC lançará mão de medidas macroprudenciais (controle de crédito). Mesmo com o uso dessas medidas, o Santander não acredita que o governo será capaz de evitar estouro da meta de inflação em 2014. O banco projeta 7% de alta para o IPCA no ano da Copa, reflexo da atividade mais forte e também de uma nova rodada de redução nos juros em 2013, para 6,25%, mantendo-se esse nível até o fim do ano seguinte. “O desempenho da economia no segundo semestre do ano passado frustrou as expectativas, abrindo uma nova oportunidade para queda nos juros”, diz a economista Fernanda Consorte. Para ela, o governo vai utilizar também mais artifícios fiscais para reforçar a economia entre 2013 e 2014. Novos cortes em impostos estão no radar do Santander, que, pelos cálculos da economista, poderão ajudar a diminuir a inflação em cerca de 0,2 ponto percentual em 2013, fechando o ano em 6%. O governo, segundo Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, está disposto a bancar essa conta porque, mesmo assumindo tais compromissos, a relação entre a dívida líquida e o PIB continuaria decrescente, já que o dólar mais caro valoriza as reservas internacionais brasileiras. As consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data projetam o dólar ao redor de R$ 2,15 em 2013, e R$ 2,20 em 2014. Para Alessandra, é importante que os gastos do governo tenham reflexos sobre os investimentos, para que isso sustente o crescimento do PIB nos próximos anos. A Tendências estima avanço de 4,6% na formação bruta de capital fixo em 2013, compensando a queda de 3,7% esperada para o ano passado, e elevação em torno de 8% nos investimentos em 2014. “Ainda assim, o consumo das famílias continuaria sendo a principal força da economia, já que responde por cerca de 60% do PIB”, diz. O investimento contribui com aproximadamente 19%. Na avaliação de Aurélio Bicalho, economista do Itaú, a retomada dos investimentos será lenta e insuficiente para que a formação bruta de capital fixo supere 20% do PIB em 2014. Ainda assim, será um nível maior que o observado em 2012, quando a taxa de investimento ficou em torno de 18,5% do produto. “Além dos estímulos de juros, temos elementos específicos, como eventos esportivos, que estimularão essa retomada.” Para Bicalho, as condições favoráveis no mercado de trabalho e a confiança elevada do consumidor vão manter o consumo em nível elevado. A média das projeções dos economistas aponta crescimento de 6,2% em 2013 e de 6,4% em 2014 das vendas no varejo restrito, que não inclui veículos nem material de construção, depois do avanço de mais de 8% em 2012 pelos cálculos dos analistas. “Neste ano, o reajuste do salário mínimo não será tão forte quanto em 2012, o que dará menos fôlego ao consumo. Ainda assim, haverá bom crescimento, que se dará sobre uma base já alta”, prevê Fernanda, do Santander. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho, no cenário de recuperação traçado pelos economistas, continuará bastante apertado, com taxa de desemprego próxima das mínimas históricas, ao redor de 5,5% ao longo deste biênio. Para Genta, da MCM, ainda que o crescimento da economia não alcance o esperado pelo governo, a sensação de bem-estar da população será pouco alterada, o que pode ajudar nos planos de reeleição de Dilma Rousseff.

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