BCs aliviam exigências para os bancos

Os bancos saíram vencedores de uma briga que cresceu nos últimos meses.Após inúmeras reclamações e em meio à crise financeira que se arrasta, os bancos centrais cederam ao afrouxar parte de um pacote de regras mais rígidas conhecido como Basileia 3. Pela decisão tomada ontem, será reduzida a obrigação das instituições financeiras de ter caixa para pagar credores e clientes nas operações de curto prazo. Reunidos ontem, representantes dos BCs de todo o mundo – que formam o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) – anunciaram o que as instituições financeiras tanto pediam: adiamento na implantação de Basileia 3. Na reunião de ontem, o grupo afrouxou regras já anunciadas e que deve-iam começar a valer em 1.º de janeiro de 2015. O afrouxamento acontecerá em três frentes. Na primeira, bancos terão quatro  anos adicionais para cumprir o chamado “requerimento mínimo de liquidez de 30 dias”, o LCR em inglês. Esse novo mecanismo obriga o sistema financeiro a ter em caixa ativos de alta liquidez para resistir a um cenário de estresse agudo de até um mês. Ou seja, dinheiro fácil para pagar todos os compromissos – de clientes e credores – por 30 dias. Pela regra antiga, bancos teriam de ter o equivalente a 100% desses compromissos em 2015. Ontem, porém, ficou decidido que a regra será adotada gradualmente: o caixa precisará cobrir apenas 60% do montante em 2015 e chegará aos originais 100%só em2019.

Liquidez

Além disso, cresceu a lista de ativos considerados de “alta liquidez” para pagar clientes e credores. A partir de agora, o investimento dos bancos em algumas ações e títulos de dívida corporativa poderá ser usado. Em outras palavras, será mais fácil alcançar o montante exigido pelo BC. Houve, ainda, uma mudança na estimativa de quanto os bancos precisarão desembolsar nos próximos 30 dias. Pela nova regra, foi reduzida a previsão de quanto dinheiro sairá, por exemplo, das contas correntes de pessoas físicas e empresas. Ou seja, a projeção dos compromissos à frente também foi aliviada. Portanto, o BIS afrouxou Basileia 3 emtrês frentes: 1) menor cobertura das dívidas; 2) ampliação da lista de ativos que podem ser usados para pagar esses compromissos; e 3) expectativa de que os débitos futuros serão menores.

Vitória

O passo atrás é uma vitória dos bancos de todo o mundo, especialmente os menores, que não escondiam a insatisfação como quadro. Em outubro, por exemplo, cerca de 15 mil banqueiros de instituições de pequeno porte assinaram uma petição contra o cronograma das novas regras de Basileia 3. Cálculo recente do BIS mostra que, se o LCR existisse em 2011, menos da metade dos 200 maiores bancos do mundo estaria de acordo com a regra. Instituições desenquadradas teriam de reservar até US$ 2,4 trilhões em ativos de alta liquidez. Para atingir essa cifra, bancos ameaçavam reduzir o montante destinado ao crédito das famílias e empresas– fato que preocupava governos das economias que tentam sair da crise. “É uma decisão mais realista após a avaliação dos argumentos (dos vários BCs), os dados e, claro, o tempo de transição para a nova regra”, disse o presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, ao anunciar a decisão.Para ele, não é possível considerar as medidas como “passo atrás”. “As medidas vão garantir que o novo padrão de liquidez não prejudique a capacidade do sistema bancário para financiar uma recuperação da economia global”, argumentou. O Brasil acompanha a nova regra com certa tranqüilidade porque antes mesmo da decisão do BIS, o Banco Central já monitorava indicador semelhante desde 2003. Avaliações recentes mostram  que o sistema financeiro nacional cumpre os requisitos exigidos com folga.


‘Orçamento paralelo’ do Governo Federal chega a R$ 200 bilhões

O Estado de S. Paulo

Os restos a pagar do Orçamento federal devem chegar à marca recorde de R$ 200 bilhões em 2013, segundo estimativa do portal Contas Abertas, especializado em contas públicas. Os restos a pagar são despesas de orçamentos anteriores, que não foram pagas, e que são roladas para a frente. Em 2002 e 2003, os restos a pagar estavam em torno de R$ 20 bilhões, o que significa que foram multiplicados por dez em uma década.

Para especialista, aumento do valor combina “dificuldade de acomodar gastos, inoperância dos ministérios e bagunça orçamentária”

O aumento de 2012 para 2013 deve ser de R$ 58,9 bilhões, quase quatro vezes maior do que a média anual de aumento de restos a pagar de 2009 a 2012, que foi de R$ 15,3 bilhões. “Uma conta de R$ 200 bilhões pode ser chamada de tudo, menos de restos a pagar”, critica o economista José Roberto Afonso, especialista em assuntos fiscais.

Gil Castelo Branco, secretário-geral do Contas Abertas, diz que “os restos a pagar são um orçamento paralelo, tão ou mais relevante que o Orçamento oficial em algumas rubricas, como investimentos”.

Ele nota que os restos a pagar de investimentos em 2013 (há diversos outros tipos de despesa também), estimados em R$ 73,5 bilhões, serão bem maiores que todo o investimento federal em 2012, de R$ 46,8 bilhões. Além disso, em 2012 foram feitos mais investimentos de restos a pagar (R$ 25,3 bilhões) do que os investimentos do próprio Orçamento do ano, de R$ 22 bilhões.

Quando se toma o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o mesmo padrão se repete. Foram pagos R$ 21,3 bilhões de investimentos de restos a pagar, e apenas R$ 18,2 bilhões do Orçamento de 2012.

O aumento de restos a pagar de investimentos em 2013 foi de R$ 16,2 bilhões, quase três vezes maior do que a média anual de aumento da mesma rubrica de 2009 a 2012, que foi de R$ 5,7 bilhões.

Dentro da estimativa do Contas Abertas de restos a pagar de investimento para 2013, o item principal é transporte rodoviário, com R$ 7,7 bilhões. O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, nota que os investimentos em transporte estão caindo desde 2010 como proporção do PIB. No valor acumulado até novembro, saiu-se 0,33% do PIB em 2010 para 0,29% em 2011 e 0,22% em 2012.

Para Velloso, o aumento dos restos a pagar nos últimos anos é uma combinação de “dificuldade financeira de acomodar gastos e cumprir a meta de superávit primário, inoperância dos ministérios e bagunça orçamentária”.

Entraves

Os restos a pagar correspondem a despesas que foram “empenhadas”, passo inicial da execução orçamentária, mas que deixam de ser pagas. Algumas vezes, explica Castelo Branco, isso ocorre por falta de uma licença ambiental, ou porque o Tribunal de Contas paralisa a obra por alguma irregularidade, entre outros motivos. Ele observa que os restos a pagar começaram a crescer “como bola de neve” no início da década passada e, naquela época, eram usados também como mecanismo de cumprimento do superávit primário, quando as metas fiscais brasileiras eram severamente vigiladas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, muitas vezes os empenhos eram feitos, permitindo ao político exibir ao seu eleitorado uma “conquista” de alguma obra de interesse local, mas os recursos não eram efetivamente liberados.

Esse estratagema ainda é usado hoje, na visão de Castelo Branco e Velloso. Mas os analistas fiscais também acham que o gigantesco acúmulo de restos a pagar cria um orçamento paralelo, que dá margem de manobra para o governo gastar e investir, sem as amarras do Orçamento oficial e da sua tramitação complexa e sujeita à permanente guerrilha política do Congresso Nacional. “Com os restos a pagar, o governo não precisa que o Orçamento de 2013 seja aprovado tão cedo, ele pode ir tocando os seus gastos com essa autorização orçamentária que já possui.”

Mas os especialistas notam que há uma enorme contrapartida negativa no crescimento dos restos a pagar.

Para Castelo Branco, o País está perdendo completamente o princípio da anualidade, já que o Orçamento é feito para um exercício (ano fiscal), e para que a sociedade possa acompanhar o que está sendo feito neste exercício – agora há orçamentos paralelos que derivam de múltiplos exercícios. “Estamos acompanhando o Orçamento pelo retrovisor”, critica o economista.

José Roberto Afonso lembra que o processo orçamentário está na raiz da democracia moderna, o que significa que o governo não pode criar impostos ou gastos sem a chancela dos representantes do povo, que estão no Legislativo. Mas, com o enorme orçamento paralelo dos restos a pagar, o governo na prática pode escolher que projetos tocar, desamarrando-se de uma forma que pode até favorecer a corrupção. “No fundo, o que temos é um cheque em branco”, diz Afonso, que defende a revisão da legislação tributária e do mecanismo dos restos a pagar, criado há meio século apenas para facilitar a transição entre exercícios fiscais, mas que foi completamente distorcido.


Desafio da Petrobras em 2013 é conter queda na produção

Valor Econômico

Além dos problemas de sempre, entre os quais os prejuízos contínuos com a venda subsidiada de gasolina e diesel, o grande desafio da Petrobras em 2013 é conter a abrupta queda na produção de petróleo a partir de 2009 nos campos antigos. A menor produção significa mais dificuldade para transformar os pesados investimentos da companhia em receitas, e o tamanho do tombo atingiu níveis alarmantes nos últimos três anos.

Em 2012, a Petrobras pode registrar a terceira queda da produção total em seus 59 anos de existência. A primeira aconteceu em 1990, durante o governo de Fernando Collor, e a segunda em 2004, quando a companhia produziu 3% menos que no ano anterior. Apesar de ter alcançado um aumento de 1,5% na produção em novembro, a estatal poderá ter encerrado 2012 e passar todo o ano de 2013 sem obter nenhuma grande alteração na produção de óleo e condensado pelo terceiro ano consecutivo. Até novembro, a produção de 2012 estava em 1,968 milhão de barris diários, 2,3% abaixo dos 2,021 milhões de barris diários que atingiu em 2011.

Para entender o declínio da produção da petrolífera brasileira, a Bradesco Corretora analisou a vazão de óleo de 8.878 poços de extração em terra e no mar registrados no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP), da ANP, ao longo de sete anos, entre agosto de 2006 e agosto de 2012. Em agosto de 2011 o país produziu 2,052 milhões de barris de óleo e condensado. Doze meses depois, a produção era de 2,006 milhões. Mas quando descontada a produção (500 mil barris) de novos poços que entraram em operação no período, o que se vê é que a taxa de declínio da produção foi de 40% entre um ano e outro. Em volumes, esse percentual significou redução de 679 mil barris por dia – mais de um quarto da produção nacional – da qual a Petrobras responde por 91,5%, seguida por Statoil (1,9%), BG (1,3%) e Sinochem (1,2%).

Os números mostram uma aceleração do declínio da produção maior do que a geologia pode explicar. A média histórica de queda registrada na indústria, sempre mencionada pela estatal, varia entre 7% e 10% da produção anual. Mas essa taxa se refere à chamada depleção natural dos campos, que é causada pela queda de pressão dos reservatórios ou das reservas em consequência da extração de fluidos.

Os dados do Bradesco Corretora compilados pelos analistas Auro Rozembaum, Bruno Varella e Marcos Dong com base no BDEP impressionam. Entre 2005 e 2010 o declínio da produção foi de 32%, percentual que subiu para 38% entre 2010 e 2011, chegando aos 40% entre 2011 e 2012. Não só o declínio é maior que a média, como estava acelerando. O tema preocupa enormemente a ANP.

O analista Rozembaum, da Bradesco, explica que para analisar as causas desse declínio os poços foram divididos em duas categorias: os terminados ou descontinuados (seja para manutenção ou por falta de equipamento) e os que foram continuados, além dos novos.

Se desconsiderada a produção de novos poços que foram substituindo os que estavam em declínio ou foram fechados, a queda na produção no espaço de um ano foi de 27%. Ou seja, se a Petrobras não tivesse colocado nenhum poço novo em operação, os 2,052 milhões de barris ao dia produzidos no Brasil em agosto de 2011 estariam em apenas 1,506 milhão de barris diários um ano depois, uma queda de 27%. Como foram adicionados 500 mil barris produzidos por 834 novos poços perfurados (alguns em campos antigos) no final a queda líquida foi de 2,2%.

O declínio pode ser visto de vários ângulos. A queda da produção dos poços antigos como percentual da produção saltou de 11% em 2006 para 27% em 2012. “É uma bicicleta que, enquanto estiver desse jeito, não adianta pedalar. Eles vão ficar pedalando e acrescentando produção nova, mas o ralo está muito grande. É preciso fechar esse ralo”, resume Rozembaum, lembrando que a Petrobras já está corrigindo o problema com os investimentos do Programa de Aumento da Eficiência Operacional (Proef).

O analista destaca que a forte piora da produção da Petrobras nos últimos dois anos é explicada pela descoberta do pré-sal, em 2007, que mudou o resultado do jogo. “Naquela época a Petrobras não tinha nem equipamentos nem dinheiro e precisou refazer não apenas sua estratégia como também sua escala de produção. Naquela altura, resolver o problema do dinheiro foi fácil, mas demorou cinco anos para chegar ao número adequado de sondas capazes de perfurar em águas profundas”, diz Rozenbaum.

Com o pré-sal, a Petrobras se deparou com uma “Escolha de Sofia”, título do relatório do Bradesco emprestado do livro de William Clark Styronx em que uma mãe judia foi obrigada por um nazista a escolher qual dos dois filhos seria levado para a câmara de gás. No caso da estatal, a escolha impossível significou usar equipamentos disponíveis para manter os níveis de produção da época ou cumprir os compromissos de exploração do pré-sal para atender os prazos estipulados pela ANP para não perder áreas.

A decisão, conhecida, foi correta, diz Auro Rozembaum. Apesar de ter resultado na difícil situação atual, o analista do Bradesco vê uma série de boas notícias. A primeira delas é que a Petrobras já tem 40 sondas de perfuração à sua disposição, a segunda é que a queda da produção não se deveu ao esgotamento dos reservatórios – caso do México -, mas sim à falta de equipamentos que levou a uma manutenção inadequada dos ativos. “A terceira boa notícia é que a produção do pré-sal é uma surpresa positiva e ficou muito além das expectativas”, diz.

Os poços do pré-sal estão produzindo uma média de 26 mil a 32 mil barris de petróleo por dia, muito além da expectativa inicial da Petrobras, que era de produzir 15 mil barris diários, na média.

Em dezembro, a presidente da Petrobras, Graça Foster, usou a palavra “manutenção” para descrever sua expectativa de performance da produção em 2013.

Essa também é a expectativa de bancos de investimentos, que só esperam uma reação em 2014. Para 2013, o Bradesco não vê aumento e o Credit Suisse espera uma média de 2,016 milhões de barris por dia, 0,25% menor que os 2,021 milhões de barris/dia registrados em 2011.

O Itaú BBA é mais pessimista: espera queda de 2% no ano passado e para 2013, a expectativa é que a produção seja de 1,985 milhão de barris diários devido ao grande numero de paradas e o esperado atraso na entrega de novas plataformas com capacidade total de processar 590 mil barris de petróleo. As novas unidades são a Cidade de São Paulo e Cidade de Paraty (nos campos de Sapinhoá e Lula Nordeste, no pré-sal da Bacia de Santos) e as plataformas P-61 e P-63 (Papa-Terra) e P-55 (Roncador).


Indústria fraca põe em dúvida PIB de 1%

Valor Econômico

A queda da produção industrial em novembro e a forte revisão para baixo no dado de outubro renovaram o pessimismo com a economia no último trimestre, o que pode rebater nos dados da atividade e trazer para menos de 1% o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012. O último Boletim Focus apontou projeção de alta de 0,98% para o indicador, mas já há quem cogite índice ainda pior depois de nova decepção com os resultados da indústria.

O dado ruim do setor não apareceu apenas no recuo da produção, mas também no índice de difusão e no preocupante recuo na produção de bens de capital, num momento em que a retomada dos investimentos é considerada ponto-chave para a economia.

Mais que a queda dessazonalizada de 0,6% em novembro, foi a revisão sobre outubro (de alta de 0,9% para alta de 0,1% ante setembro) que colocou um viés de baixa na projeção de crescimento do PIB calculada pelo Santander, que está em 1%. “Essa composição negativa dos resultados da indústria fere o PIB, tanto pela oferta, via produção industrial em queda, quanto pela demanda, via investimento, com a produção de bens de capital em queda”, diz a economista Fernanda Consorte. Leandro Padulla, da MCM Consultores, ainda não alterou sua projeção de alta de 1% para o PIB em 2012, mas já considera forte a possibilidade de o resultado ficar em 0,9%.

Os dois economistas aguardam outros indicadores, como o da Anfavea, e as vendas no varejo de novembro, que podem consolidar esse quadro de crescimento ainda menor do PIB. “Temos um cenário industrial muito fraco. Esperávamos que viesse uma recuperação com os incentivos dados para a economia como um todo, mas, aparentemente, ela não chegou no 4º trimestre. Foram dados muitos estímulos, porém, nesse ciclo, a economia está respondendo com atraso”, avalia Fernanda.

A média móvel trimestral da produção industrial em novembro ficou em 0,4%, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado do setor em dezembro precisaria vir muito mais forte que o cenário observado para reverter essa queda e encerrar o ano sinalizando a tão esperada – e adiada – recuperação da atividade.

Para Flavio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, não está posto um início de ano em ritmo de retomada para a indústria. “A herança é bem negativa para 2013, especialmente para bens de capital e bens duráveis. As ações do governo não estão surtindo impacto sobre o investimento.”

Combat avalia que o resultado negativo da produção industrial em novembro reflete uma realidade que deve se manter forte nos próximos meses, marcada pelo comprometimento do orçamento familiar com o consumo antecipado de automóveis e linha branca no segundo semestre de 2012.

Combat explica que esses bens, que contaram com o benefício tributário da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), comprometem a renda familiar com prazos de financiamento alongados. Logo, a capacidade de consumo de quem os adquiriu também é reduzida por um período maior. “Em 2013, a questão do endividamento é algo que ainda vai pesar nos resultados da produção industrial. O empresário está atento a esse comprometimento do consumo futuro, que vem acompanhado de um aumento da inadimplência”, diz Combat.

Para Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados, os salários altos na indústria brasileira e a concorrência internacional, acirrada pela busca de mercados onde existe forte demanda, como no Brasil, ainda pressionam o setor industrial. “Esperamos uma performance mais robusta em 2013, ainda que não tão forte quando a anunciada pelo governo”, diz ele, cuja projeção para aumento da produção industrial em 2013 está entre 2% e 2,5%.

Em entrevista à agência de notícias Dow Jones, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que os efeitos das medidas de estímulo adotadas pelo governo começam a ser sentidos neste ano, fazendo o PIB crescer entre 3% e 4% agora e acima de 4% em 2014. Porém, esse crescimento é “muito otimista” caso os investimentos não decolem e a produção industrial os acompanhe nos próximos meses, segundo Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil. “A retomada do investimento é imprescindível. Mas as condições econômicas de risco e segurança precisam ser mais fortes para esse investimento decolar”, diz.


Ibama perto de liberar linhões da Região Norte

Valor Econômico

Os dois maiores empreendimentos de linhas de transmissão de energia em construção no país estão prestes a receber suas licenças ambientais de operação, autorização que é concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que permitirá o início efetivo de funcionamento dessas redes. Até junho, o Ibama vai liberar a licença do chamado “linhão do Madeira”, malha de quase 2.400 quilômetros que liga as usinas de Santo Antônio e Jirau, na cidade de Porto Velho (RO), até Araraquara, no interior de São Paulo.

A malha dupla do linhão do Madeira tem orçamento de R$ 3,2 bilhões. Se os estudos ambientais apresentados pelo consórcio IEMadeira – que trabalha na conclusão de um dos dois linhões – estiverem de acordo com as exigências ambientais, há possibilidade de esse prazo ser até encurtado para meados de março.

O segundo empreendimento que receberá licença de operação neste semestre é a linha de transmissão Tucuruí/Macapá/Manaus, de aproximadamente 1.800 km de extensão. O projeto tocado pela Eletrobras também está em fase de conclusão e, assim que for acionado, fará a integração dos Estados do Amazonas, Amapá e do Oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o qual faz a distribuição nacional de energia. Construído também em circuito duplo, o linhão tem investimentos previstos de R$ 2 bilhões.

Os prazos para liberar a operação dos projetos foram confirmados pelo coordenador-geral de infraestrutura de energia elétrica do Ibama, Thomaz Miazaki de Toledo. “Esses dois linhões estão entre as nossas prioridades neste início do ano. Trabalhamos para que os dois projetos recebam a licença de operação neste semestre”, disse ao Valor.

Atrasado, o linhão do Madeira, que foi leiloado em novembro de 2008, tinha previsão original de ser energizado até fevereiro de 2012. A situação é a mesma da linha Tucuruí/Macapá/Manaus, que foi a leilão em março de 2008 e tinha cronograma de operação previsto para o ano passado.

O Ibama, que é frequentemente acusado de retardar a emissão de licenças ambientais e, com isso, atrasar os projetos, rebate as críticas e justifica que, na maior parte dos casos, a demora na liberação de licenças é consequência direta da baixa qualidade dos estudos apresentados pelas empresas (ver texto anexo). Isso não significa, porém, que seja desnecessário fazer aprimoramentos nas regras de licenciamento, disse Toledo. “Claro que há espaço para melhorias. Estamos trabalhando em uma série de instruções normativas para este ano que vão acelerar os processos.”

Uma das principais mudanças desenhadas pelo Ibama, e que deve entrar em vigor este ano, prevê o uso da internet para realização de consultas públicas. A proposta é que, nos casos de projetos que tenham baixo impacto ambiental – como a instalação de um trecho de algumas dezenas de quilômetros de linha de transmissão -, seja realizada apenas uma “consulta pública virtual”, onde o cidadão possa tirar suas dúvidas e fazer sugestões.

Pelas regras atuais – que estão em vigor desde 1987 – é preciso que o Ibama, após a publicação do estudo de impacto ambiental (EIA/Rima), abra prazo de dois meses para a marcação de audiências presenciais e, só depois disso, colha as colaborações para concluir seu parecer técnico. “Tudo isso demanda muito tempo. Para empreendimentos mais complexos, é claro que esse é o caminho correto, mas há muitos projetos pequenos em que isso não se justifica”, disse Toledo.

Outra portaria a ser publicada pelo instituto ambiental tem como alvo o licenciamento de usinas térmicas, além de ações ligadas a área nuclear, como o transporte e o enriquecimento de urânio. Hoje, 100% dos projetos de térmicas têm que se apresentar EIA/Rima para obter licenciamento, um estudo caro e complexo, que demanda tempo para ser concluído e analisado. Uma nova instrução normativa vai permitir que esses empreendimentos apresentem estudos mais enxutos – como o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) – como pré-condição de licenciamento, regra que hoje já é aplicada para as linhas de transmissão.

Em 2012, o Ibama emitiu um total de 367 licenças ligadas ao setor de energia, petróleo e gás. Essas autorizações são divididas em três etapas: licença prévia (LP), que sinaliza a viabilidade ambiental do empreendimento; licença de instalação (LI), que permite o início de construção da obra após atendidas as condicionantes socioambientais previstas na autorização prévia; e licença de operação (LO), que finalmente libera o funcionamento daquele empreendimento.

Ao longo do ano passado, o Ibama autorizou a operação de hidrelétricas que somam 4.135 megawatts (MW) de potência instalada, com destaque para as usinas de Jirau, em Porto Velho, e Simplício, na divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro.

Na área de transmissão, o licenciamento das linhas somou 4,2 mil km de extensão total, dos quais 1,7 mil km referem-se a licenças de operação. O maior trecho liberado em 2012 – com licença de instalação – foi a linha de 1 mil km que liga Jauru, no Mato Grosso, até Porto Velho.

Em 2013, disse Thomaz Miazaki de Toledo, a tendência é de que se os licenciamentos do setor de energia se acentuem ainda mais na área de transmissão. Há pelo menos 1,2 mil km de linhas que já tiveram suas instalações liberadas e que poderão requerer autorização para entrar em operação. “A transmissão deverá concentrar a maior parte dos empreendimentos que teremos para analisar. Em geração de energia, a maioria das licenças estará atrelada a renovações.”


País fica mais perto de crise energética

Valor Econômico

A energia elétrica tende, cada vez, a ser um grande problema para o Brasil em 2013 e não mais uma solução, como desejava a presidente Dilma Rousseff, que concentrou esforços para reduzir em 20%, em média, a conta de luz dos brasileiros a partir deste ano.

A falta de chuvas nas principais bacias e a queda dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas para níveis críticos fizeram com que os custos de operação do sistema elétrico disparassem para R$ 555 por MWh na sexta-feira, aproximando-se dos patamares alcançados somente no ano de 2001 e em janeiro de 2008, períodos em que o país também atravessou uma crise na oferta de energia hidráulica.

Analistas dizem que os riscos de um racionamento, hipótese rejeitada até o momento pelo governo, aumentaram na última semana com a piora das condições climáticas. Em fevereiro de 2008, as chuvas se normalizaram e afastaram a necessidade de que o consumo fosse racionado, medida que precisou ser adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 2001.

Em relatório para investidores, os analistas do banco BTG Pactual Antonio Junqueira e Gustavo Gattass afirmam que uma eventual restrição na oferta de energia afetará o crescimento do PIB neste ano. “Os riscos [de racionamento] são maiores do que eram antes e a situação é delicada”, escrevem os analistas. Mesmo que não seja necessário recorrer à contenção do consumo, considerada uma medida extrema, os analistas do BTG dizem ser provável que as térmicas fiquem ligadas por meses seguidos.

Os gastos com a queima de combustível para garantir o abastecimento energético, dizem eles, vão neutralizar uma parcela relevante do corte de 15%, aproximadamente, que deveria ser obtido com a redução dos encargos setoriais e das tarifas das usinas e linhas de transmissão antigas, cujas concessões foram renovadas em dezembro

Dessa forma, em vez de contribuir para uma desaceleração da inflação, a energia elétrica pode agravá-la. “Antes de cair, o preço da energia vai subir”, previu a economista Tereza Fernandez, da MB Associados, em apresentação promovida na semana passada pela Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias de veículos. Segundo ela, aumentos nos preços de combustíveis, carros, alimentos e passagens aéreas também podem distanciar a inflação do centro da meta a ser perseguida pelo Banco Central.

“Quanto mais crescer o PIB, mais altos serão os riscos [de racionamento] e mais cara ficará a energia em 2013”, escreveram os analistas do BTG.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevou na sexta-feira o custo marginal de operação (CMO) do setor de R$ 341 para R$ 554,95 por MWh na região Sudeste para a próxima semana. Isso fez com que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), ou o valor da energia no mercado disponível, também disparasse para R$ 554,82 por MWh no Sul e Sudeste, acumulando na semana um alta de 62%.

“Este é certamente um indicador de crise [de abastecimento]”, afirmou Paulo Mayon, da comercializadora de energia Compass. Segundo ele, em janeiro 2008, o país enfrentava problemas com fornecimento de gás natural da Bolívia, que não ocorrem neste momento.

Em compensação, o consumo de energia elétrica pelas residências e pelo setor de serviços cresceu significativamente. Há ainda outros dois agravantes, diz Mayon. Os reservatórios na região Sudeste estão só 29% cheios, enquanto, em 2008, esse percentual era de 46%. Neste ano, não há ainda a ocorrência de um padrão climático definido – La Niña ou El Niño -, o que aumenta as incertezas em relação ao comportamento das chuvas.

O Brasil, afirma Mayon, poderá recorrer a alguns planos alternativos para garantir uma maior oferta, entre eles buscar energia da Argentina, com a qual já há um intercâmbio, e da Venezuela, país com o qual foi feita uma conexão por Manaus e Boa Vista, mas que nunca foi utilizada até o momento. “São “cavalarias” que podem ser chamadas para salvar a situação”.


Pesquisa mostra que 21% das empresas globais pretende investir no Brasil

Valor Econômico

O Brasil vai permanecer como importante foco de atração para o investimento estrangeiro nos próximos 12 meses. Pelo menos 21% das companhias globais planejam investir em diferentes áreas da economia brasileira. Os mais interessados em ampliar a presença no país são os espanhóis, os americanos e os argentinos, segundo o Relatório Internacional de Negócios 2012 (IBR, na sigla em inglês), divulgado pela empresa global de consultoria Grant Thornton.

O relatório mostra que os países emergentes continuam no topo da lista de preferências dos grandes conglomerados internacionais na hora de elaborar a estratégia de investimentos. Com os problemas econômicos enfrentados pela Europa, Estados Unidos e Japão, os emergentes, mesmo não deixando de sofrer o impacto da crise nos países desenvolvidos, ainda aparecem como melhor alternativa.

De acordo com as empresas ouvidas pela pesquisa feita entre março e setembro do ano passado – mais de 6 mil de todos os setores industriais – 57% planejam investir em pelo menos um das cinco principais economias emergentes (China Índia, Brasil, Rússia e México).

A China, sozinha, será o destino de recursos de 31% das empresas. No conjunto da Europa Ocidental, são 38% os interessados. Nos Estados Unidos e no Canadá, combinados, 33%.

Paulo Sergio Dortas, sócio-diretor da Grant Thornton do Brasil, onde foram entrevistados cerca de 300 empresários, “o atual nível de interesse dos investidores no Brasil é um dado positivo, mas a situação não pode ser considerada confortável, por causa do baixo crescimento do PIB no terceiro trimestre das projeções de inflação em alta”.

Segundo Dortas, chama atenção a “forte concorrência” que o Brasil começa a sofrer, como ponto de atração de investimentos, de outros países latino-americanos, como México, Peru e Chile, que, segundo ele, apresentam atualmente uma economia mais equilibrada.

“Dependendo da evolução dos indicadores econômicos brasileiros nos próximos meses, poderemos ver alterações nas intenções de investimento das empresas globais nos próximos estudos”, prevê Dortas.

Na pesquisa, o Brasil se destacou como polo de intenções de ampliação de investimentos devido às obras de infraestrutura, em função da Copa do Mundo de futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, da exploração de petróleo na camada do pré-sal e do crescimento da capacidade de consumo da nova classe média brasileira. “São os setores que podem se beneficiar desses três fatores os mais interessados em investir no país no próximo período”, diz o diretor da Grant Thorton.

Se as empresas, em nível global, apostam na estratégia de levar seus investimentos para os emergentes no futuro próximo, a confiança demonstrada internamente pelos empresários desses países no próprio negócio se mostra ainda mais forte. Segundo o relatório, 34% das empresas das principais economias emergentes (Brasil, China, Índia, Rússia e México) se mostram otimistas em relação aos negócios nos próximos 12 meses, enquanto nos países definidos como “maduros” (França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), apenas 3% demonstram a mesma confiança.

Nos países emergentes, 79% das empresas projetam faturar mais nos próximos 12 meses e 68% acreditam que os lucros também serão maiores. Esses números são bem mais modestos entre os empresários “maduros”: 35% e 19%, respectivamente. O que ajuda a explicar por que, na lista dos dez países mais otimistas, de acordo com o relatório da Grant Thorton, oito sejam emergentes, entre eles o Peru (91% das empresas projetam resultados melhores no próximo período), Chile e México (78% nos dois países), Índia (68%) e Brasil (66%).

Também como parte do relatório global, a consultoria divulgou o Índice de Oportunidades nos Mercados Emergentes, ranking das 27 maiores economias emergentes, de acordo com o potencial de atração de investimentos. O ranking leva em consideração indicadores como tamanho da economia, população, riqueza, envolvimento no comércio global, perspectivas de crescimento e níveis de desenvolvimento.

No índice, a China permanece na liderança, devidos às taxas de crescimento e ao grande mercado consumidor. A Índia, que aparece em segundo, se beneficia das projeções de forte crescimento no médio prazo, além de, assim como a China, contar com grande população, potencial mercado para o futuro. A Rússia aparece em terceiro lugar, destacando-se pelo elevado PIB per capita e pelas exportações, principalmente de commodities.

O Brasil subiu uma posição em relação ao índice de 2010, passando o México e assumindo a quarta posição, graças ao forte crescimento do PIB registrado em 2010 e 2011. Turquia e Indonésia, completam a relação dos sete primeiros, que segundo informa a pesquisa, deverão responder por 45% do crescimento global nos próximos cinco anos.

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