Oferta de energia complica ano já difícil para o investimento

A crise do investimento foi a principal frustração de 2012, mas o governo encerrou o ano prevendo uma forte recuperação dos gastos com máquinas e em obras de infraestrutura em 2013. Essa crença já era partilhada por poucos analistas. Agora, dizem eles, a atual crise energética vai reforçar a tendência de cautela na retomada dos investimentos produtivos.

Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem defendido que os incentivos recentes visam avanço de 8% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) este ano, economistas ouvidos pelo Valor trabalham com alta bem mais modesta – perto de 4%, na média -, a despeito da intensa queda do custo de capital, dos juros reais negativos para a compra de máquinas e de outras medidas de caráter mais estrutural que poderiam reanimar decisões de investir, como o corte nas tarifas de energia elétrica e a desoneração da folha de pagamentos.

Pesam contra um ambiente propício à retomada dos projetos produtivos, a perspectiva de lenta recuperação global e a avaliação de parte dos agentes de que vigora um maior intervencionismo do Estado na economia. Esse cenário de incertezas foi exarcebado pela crise energética e reforçou a percepção de que a retomada da indústria será tímida e se dará em cima da capacidade instalada já existente, dado que o setor opera com nível de ociosidade relativamente elevado. Apesar de o risco de racionamento de eletricidade ser considerado baixo, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, essa possibilidade pode diminuir a confiança do empresariado e adiar decisões de investir.

Impulsionada pelos incentivos do governo, Borges mantém expectativa otimista para a formação de capital físico, com base no aumento do números de consultas ao BNDES e na demanda maior relatada por fabricantes de bens de capital, mas afirma que a questão energética pode frustrar a forte alta de 8,8% esperada para o investimento em 2013. “O risco de racionamento é pequeno, mas o risco de que essa discussão tenha impacto sobre a confiança e o investimento é bem maior”, avalia. “Isso só não respinga sobre toda a FBCF porque os investimentos em infraestrutura vão acontecer.”

Para André Loes, economista-chefe do HSBC, a piora significativa do investimento tem como base o encarecimento do processo produtivo, uma questão que demanda ações mais profundas do governo, mas dois pontos conjunturais também tiveram peso negativo sobre a formação bruta em 2012: o excesso de medidas “bem intencionadas” para reduzir os custos industriais, que, pela sua frequência elevada, acabaram gerando insegurança, e os resultados ruins da Petrobras, que teve suas margens apertadas e adiou sua agenda de investimentos.

Segundo Loes, as intervenções cambiais também podem ter afetado a importação de máquinas, por causarem incerteza quanto ao patamar do dólar. Em 2013, o economista acredita que a depreciação acelerada e os juros menores para a compra de bens de capital podem estimular empresários a investir, mas vê com ressalva a queda das tarifas de energia e a desoneração da folha de pagamentos. “Vamos ver se o governo pode aparar algumas arestas e aumentar a confiança do empresariado, de modo que o lado bom dessas medidas predomine”. Assim, o HSBC projeta que, após queda de 2,2% da FBCF em 2012, o investimento irá subir 3,2% em 2013, o que é compatível com alta de 3% do PIB.

“O governo está tentando atacar os custos muito altos de mão de obra e de energia, mas continuamos com o mesmos problemas que não mudarão de um ano para o outro”, diz Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), referindo-se à baixa qualificação da mão de obra e à pouca competitividade da indústria devido à infraestrutura deficiente e aos altos salários. Para Rocha, o governo precisa dar uma nova sinalização de política econômica, mais “pró-mercado”, para que os investimentos decolem, o que considera pouco provável. Ele prevê que o investimento crescerá entre 3% e 4% este ano, com alta do PIB de 3,2%.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, avalia que a “letargia reformista” atingiu seu ápice no governo Dilma, caracterizado por políticas de curto prazo e por ingerência maior nos juros e no câmbio. Esse “desmonte” em relação a gestões anteriores, em sua opinião, foi decisivo para o período de baixo crescimento do investimento iniciado em 2011 e também determina um fôlego menor para a reaceleração da economia. “Vemos o Brasil com dificuldade de deslanchar e os investimentos tendem a diminuir por causa disso”. Para este ano, a consultoria projeta que o PIB irá crescer 3%, o que, segundo Vale, já está sendo visto como cenário otimista pelos clientes da MB.

Mesmo entre analistas que veem os estímulos concedidos pelo governo como positivos e necessários diante da fraqueza da economia global, não há muito ânimo com o investimento. Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, não é a insegurança jurídica nem a falta de vontade política que está travando a formação de capital físico, mas sim a má situação que o setor produtivo atravessa. Para 2012, o consenso de mercado é que a produção encerre o ano em nível 2,3% abaixo do de 2011.

Segundo Silveira, a indústria, que representa mais de metade da FBCF, não terá motivos para investir mais em 2013 porque sua retomada será modesta, já que as exportações seguirão prejudicadas por um aumento do protecionismo nas economias maduras, como reflexo do baixo crescimento. Baseada somente na demanda doméstica, a expansão da produção não exigirá aumento da capacidade instalada do setor. “Teremos mais uma vez um crescimento puxado pelo consumo das famílias e do governo”, diz.

Embora com papel secundário, economistas apontam o travamento do crédito em função dos recordes dos índices de inadimplência e de endividamento como outra explicação para a freada da economia em 2012, problema que, antes das desonerações e da redução forçada dos spreads bancários, afetou o consumo de bens duráveis. De janeiro a maio, mês em que começou a valer o IPI reduzido, as vendas de veículos, motos, partes e peças recuaram 0,4% sobre igual período de 2011. Sem os incentivos fiscais, o ministro Mantega estimou que o consumo de automóveis e linha branca teria sido entre 30% e 40% menor em 2012.

O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, afirma que o comportamento ruim do investimento está conjunturalmente relacionado à moderação do consumo doméstico, dado que a falta de competitividade é um problema de longo prazo da economia brasileira. “Não dá para separar bem esses efeitos. Como a questão da competitividade é mais estrutural, tendo a dar mais importância à questão do crédito, que afetou o ciclo de crescimento no curto prazo.”

Em 2013, Padovani avalia que todos os fatores de curto prazo que prejudicaram o crescimento em 2012 irão se reverter, tais como a volta ao normal da produção de caminhões após a mudança na legislação de emissões que encareceu os veículos, uma melhora das safras agrícolas e alguma recuperação do crédito, o que, aliado a um cenário externo mais tranquilo e aos incentivos já dados à economia, deve garantir expansão de 3,5% para o PIB. A Votorantim estima que as concessões de crédito irão avançar 3% reais neste ano, acima dos 2% previstos para 2012.

Daniel Moreli Rocha, do BI&P, nota que os balanços trimestrais dos maiores bancos privados do país vão na mesma direção, indicando que foram afetados por calotes no segundo semestre, mas que, no início de 2013, suas carteiras de crédito estarão mais saudáveis. Essa limpeza, caso confirmada, diz Rocha, abrirá espaço para um maior consumo das famílias.


Reversão no desemprego de longo prazo dá ânimo aos EUA

Valor Econômico

A profusão de pessoas desempregadas por um longo tempo, um dos problemas mais prejudiciais e persistentes da economia americana, está finalmente dando sinais de melhora. Os desempregados de longo prazo – aqueles sem trabalho por mais de seis meses – responderam por 39,1% dos americanos procurando trabalho em dezembro, segundo o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos. Foi a primeira vez que o número caiu abaixo de 40% em mais de três anos. O problema está longe de ser resolvido.

Quase 4,8 milhões de americanos estão desempregados por mais de seis meses, abaixo do pico de mais de 6,5 milhões de 2010, mas ainda assim um nível sem precedência desde a Segunda Guerra Mundial. Esses últimos sinais de progresso marcam uma reviravolta em relação ao começo da recuperação econômica, quando o desemprego de longo prazo se mostrou resistente às melhorias nos outros setores do mercado de trabalho. Mais recentemente, entretanto, o desemprego tem diminuído mais rapidamente na categoria de longo prazo do que no geral. No ano passado, o número de desempregados de longo prazo baixou em 830.000, respondendo por quase toda a queda de 843.000 pessoas no número total de desempregados. Michael Lehay, de 59 anos, perdeu seu emprego como gerente de um banco no Estado de Connecticut em 2010. Depois de passar por um programa para desempregados de longo prazo, ele voltou a trabalhar em outro banco em dezembro. “O que mais me surpreendeu foi a sensação gratificante que eu sinto ao levantar de manhã e saber que tenho um lugar para ir”, disse ele. O declínio no desemprego de longo prazo é boa notícia para a economia em geral.

Vários economistas receavam que muitos desempregados de longo prazo jamais voltariam a ser empregáveis, criando um desemprego “estrutural” semelhante ao que ocorreu na Europa nos anos 80. “Não acredito que os desempregados de longo prazo não sejam mais empregáveis”, disse Omair Sharif, economista da RBS Securities Inc. “Na verdade, são eles que estão pegando as vagas.” Nem toda a queda no desemprego de longo prazo pode ser atribuída a trabalhadores arrumando emprego.

Nos últimos anos, milhões de americanos desistiram de procurar trabalho, até um ponto em que deixaram de ser incluídos nas estatísticas oficiais de desemprego. A recente queda no desemprego de longo prazo, contudo, não parece vir destas desistências. O número de pessoas que saíram da força de trabalho, mas dizem que querem trabalhar, aumentou em apenas 400.000 no ano passado, enquanto o número de americanos empregados subiu em 2,4 milhões. Isso indica que pelo menos grande parte do aumento se deve a pessoas estarem arrumando emprego e não desistindo de procurar, disse Sharif. O desempregado americano vem agora procurando emprego por 38 semanas em média, abaixo do máximo de quase 41 semanas e o menor nível desde o início de 2011. É verdade que os desempregados de longo prazo ainda têm chances limitadas de encontrar trabalho.

Cerca de 10% deles arrumaram emprego em abril, o último mês para o qual há dados específicos, comparado com 25% dos que estão desempregados por menos tempo. Só que as fileiras de desempregados de curto prazo se renovam mais rapidamente por novos demitidos. Como resultado, o número total de desempregados de curto prazo caiu mais lentamente nos últimos meses, mesmo que esses trabalhadores individuais ainda tenham uma chance muito maior nas suas buscas por emprego. E, quando o desempregado de longo prazo consegue trabalho, seu novo emprego geralmente paga bem menos que o antigo.

Um estudo recente de economistas da Universidade de Boston, Universidade Columbia e do Instituto para a Pesquisa do Emprego concluiu que cada ano de desemprego reduz o salário do trabalhador, depois que ele consegue emprego, em 11%. Além do mais, os ganhos recentes ainda têm que chegar àqueles desempregados há mais tempo: embora o número de pessoas desempregadas entre seis e dois anos tenha caído 12% no ano passado, o número de desempregados por três anos ou mais ficou praticamente inalterado.

Os economistas citam várias razões para a queda no desemprego de longo prazo. A mais importante é a melhora gradual do mercado de trabalho, em que o desemprego caiu de 10% em 2009 para 7,8% em dezembro. A recuperação gradativa do mercado imobiliário também pode contribuir para a melhora, já que muitos dos desempregados de longo prazo eram trabalhadores da construção demitidos após o estouro da bolha imobiliária. Outro possível fator é a redução progressiva dos benefícios de seguro-desemprego para os trabalhadores demitidos. Estudos indicam que o segurodesemprego incentivou alguns beneficiados a não procurar emprego com tanto afinco, e a perda dos benefícios pode ter levado alguns trabalhadores a aceitar empregos que em outras circunstâncias eles rejeitariam, disse Gary Burtless, economista do Instituto Brookings.


Emergentes reduzem reserva em euro

O Estado de S. Paulo

Com o impacto da crise na credibilidade da moeda única europeia, países emergentes estão se desfazendo de seus euros. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) obtidos pelo ‘Estado’ revelam que as autoridades monetárias optaram por diminuir o peso que o euro tem em suas reservas internacionais, para não sofrer com um eventual colapso da moeda. O Brasil foi no mesmo caminho e reduziu à metade o porcentual de euros em suas reservas internacionais entre 2008e 2012. Entre 2000 e 2007, países apostaram de forma significativa no euro como forma de diversificar as reservas e evitar a dependência ao dólar. Reservas em euros nos cofres de BCs passaram de 17% para mais de 30% nesse período. Mas, em 2012, essa taxa sofreu uma queda brusca e hoje não chegaria sequer a 24%. Só no ano passado, BCs de países emergentes se desfizeram de euros no valor equivalente a mais US$ 82 bilhões. No mesmo período, as reservas de economias em desenvolvimento aumentaram em US$ 700 bilhões nas de mais moedas. A tendência, segundo dados do FMI, já havia começado a ser sentida de forma intensa em 2011. No total, 139 países mantinham reservas de US$ 10 trilhões. Mas já se podia notar naquele momento uma redução do apetite dos emergentes pelo euro. Mas foi em 2012 que a tendência ganhou força. Em2007, antes de a crise eclodir, 13% das reservas de países emergentes estavam em euros. Ao final de 2012, essa taxa era de apenas 9%, um revés importante para a moeda que, ao ser criada há pouco mais de dez anos, apresentava-se como a alternativa estável ao dólar. Para negociadores em Bruxelas, a queda é também um reflexo da redução da credibilidade política e do peso da EU na esfera internacional. “Essa crise não terá apenas um impacto doméstico na Europa,mas em sua própria posição no mundo”, admitiu uma fonte próxima ao gabinete da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton. Segundo o Barclays Capital, parte da redução do euro é explicada pela busca de emergentes de diversificar suas reservas, usando moedas australianas, canadenses e suecas como alternativa. Com isso, os governos acreditam que poderiam reduzir eventuais perdas como euro. Em um estudo, o BNP Paribas admite que, nos próximos anos, moedas ditas “tradicionais” perderão espaço na composição das reservas dos governos. Mas poucos previam que a queda do euro seria tão rápida.

Defesa

Outro fator que pesou foi a decisão de diversos BCs de países emergentes de se desfazer de euros para defender as próprias moedas. No fim de 2012, a Nomura estimou que a Coreia do Sul gastou €7 bilhões defendendo sua moeda, assim como Indonésia e Filipinas. Uma das maiores preocupações para os líderes europeus foi o comportamento do governo russo, que detém a quarta maior reserva do mundo, com US$ 525 bilhões, e, fora da Europa, o maior porcentual em euro. No início de 2012, Moscou reduziu sua exposição ao euro de 43% para 42%, num gesto que soou os alarmes em Bruxelas. Em novembro, o assunto foi pauta do encontro entre o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, com o presidente francês François Hollande. “Apesar dos problemas na zona do euro, acreditamos que as coisas vão melhorar”, garantiu o russo, que prometeu continuar usando o euro. Entre os países desenvolvidos, quem também assustou os europeus foram os suíços. Se em 2011 o BC mantinha 60% de suas reservas em euros, ao final de 2012 essa taxa havia despencado para apenas 48%.

Brasil

Assim como vários países emergentes, o Brasil também reduziu a participação do euro nas reservas internacionais. A fatia da moeda europeia caiu de 9,4% em 2008 para 4,9% ao final de 2011. Os dados integram o Relatório de Gestão das Reservas Internacionais, divulgado uma vez por ano pelo Banco Central (BC).O mais recente foi lançado no meio do ano passado e traz dados relativos a 2011. No texto do relatório, o BC não explica por que diminuiu a participação dos euros nas reservas– que hoje estão próximas de US$ 380 bilhões. A autoridade apenas chama a atenção para a “ampliação do nível de diversificação de moedas das reservas internacionais, com leve diminuição da proporção do dólar americano e inclusão, na carteira de investimento, de duas novas moedas: a coroa sueca e a coroa dinamarquesa”. O relatório é o documento pelo qual o BC se comunica quando quer abordar a questão das reservas internacionais. Publicamente, as autoridades não costumam falar do assunto. Ainda segundo o texto do BC, a “alteração marginal na participação das demais moedas deve-se a variações de mercado e de estratégias ativas”. Em todos os relatórios – cuja primeira edição é de 2009–, o BC faz questão de destacar as preocupações coma diversificação das reservas. Outro tema sempre presente nos relatórios é a liquidez – ou seja, a capacidade de o governo transformar rapidamente em dinheiro as aplicações em papéis. Nesse sentido, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos são imbatíveis no mundo das finanças globais. Considerados seguros e líquidos, eles são os preferidos de bancos centrais do mundo todo. Ainda assim, nota-se que o dólar americano também perdeu participação nas reservas internacionais brasileiras nos últimos anos. Em 2008, representava 89,1% dos ativos, ante 79,6% no fim de 2011.Mas, como os próprios números do BC mostram, o dólar continua sendo, disparado, o porto seguro preferido dos administradores das reservas brasileiras. Desde que a crise global se aprofundou, com a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008, o euro perdeu quase 7% do valor em relação ao dólar. Na semana passada, a moeda européia comprava pouco menos de US$ 1,33.


Indústria fecha 2012 com produtividade em queda e falta de novos investimentos

Valor Econômico

Enquanto a produção industrial no Brasil não dá sinais consistentes de fortalecimento, a produtividade do setor acumula quedas. Entre janeiro e novembro de 2012, a produtividade industrial recuou 0,7%, na comparação com igual período do ano anterior, segundo cálculos do Valor. Entre 18 setores pesquisados, oito perderam eficiência ao longo de 2012. Esse desempenho fraco deixado como herança para 2013 se soma à falta de investimentos e aos altos custos de mão de obra para trazer pessimismo ainda maior sobre o vigor da atividade industrial neste ano.

Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil, afirma que os ganhos de produtividade vêm, sobretudo, via investimentos, que já estão baixos na indústria. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de bens de capital acumula queda de 11,6% no intervalo entre janeiro e novembro de 2012, ante igual período do ano anterior. “Se não há investimento, não há ganho de produtividade.”

Além da falta de novos investimentos, o espaço de “manobra” da indústria foi reduzido com os custos altos, principalmente em mão de obra. “O mercado de trabalho e o varejo estão aquecidos, pressionando o setor de serviços. Com isso, aumentam os custos de mão de obra e a indústria, que está com dificuldades para crescer, não consegue acompanhar”, afirma.

Para Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o cenário para investimento nem está ruim, mas as incertezas que ainda marcam o cenário econômico em 2013 criam desconforto em industriais com quem ele conversou. “Os empresários têm me dito que o câmbio está favorável e que esperam aumentar as exportações, que há um mercado interno em crescimento e relativa melhora no cenário externo, mas ainda há muita incerteza e eles não devem fazer grandes apostas em 2013”, diz.

Aumentar a produtividade com o emprego estagnado não é um ganho de produtividade “virtuoso”, como qualifica o economista-chefe do Iedi. O ideal é quando produção e emprego crescem juntos, mas esse movimento não será observado neste ano, diz Souza. “O ano vai começar com bastante cautela. O investimento está na ponta do lápis. O custo de investir não está caro, mas ainda não se sabe se esse investimento terá retorno. Eles devem segurar o emprego mesmo que a produção volte a crescer.”

A última vez em que a produtividade da indústria cresceu na comparação com o mês anterior foi em agosto, quando houve alta de 1,5%. Naquele mês, a produção industrial cresceu 1,5% ante julho, com ajuste sazonal, e o número de horas pagas na indústria não variou. “A indústria segurou o emprego durante muito tempo, o que aumentou os custos e reduziu as margens de lucro, com a produção em queda”, diz Souza. Apesar de não ter variado na passagem de outubro para novembro, com ajuste sazonal, o pessoal ocupado no setor acumula queda de 1,4% em 2012, até novembro, ante igual período de 2011.

Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, projeta queda de 0,8% da produção industrial em dezembro, na comparação dessazonalizada com novembro, mas sem que haja redução no número de horas pagas, o que implica novo recuo de produtividade. São os altos custos trabalhistas embutidos nas demissões que explicam a estabilidade do emprego no setor na passagem de outubro para novembro, quando houve queda dessazonalizada de 0,6% da produção, segundo o economista do Rodrigo Lobo, do IBGE. De acordo com ele, para os empresários, ainda não ficou claro qual será o cenário da atividade industrial nos próximos meses. “Para evitar custos trabalhistas, os empresários mantiveram as vagas”, diz.

Mariana, do ABC Brasil, não acredita num cenário otimista para a produtividade da indústria em 2013. Segundo ela, a produtividade não deve recuar, como em 2012, mas, na melhor da hipóteses, considerando um crescimento da atividade geral na ordem de 3,5%, a produtividade crescerá “bem pouco”. No entanto, a economista aposta que novos incentivos fiscais do governo ainda devem vir em 2013 e outros, como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece taxas de juros mais baixas para investimentos em máquinas, tratores e caminhões, podem surtir efeito mais visível ao longo deste ano. “O investimento pode vir daí, em bens de capital, mas os dados da indústria, até agora, não mostraram isso.”

De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), do IBGE, divulgada sexta-feira, o pessoal ocupado na indústria não variou na passagem de outubro para novembro, feitos os ajustes sazonais. No entanto, o número de horas pagas caiu em 0,2% e a folha de pagamento real cresceu 7,8% – puxada pelo 13º salário e participação nos lucros.


Bancos reveem a oferta de crédito à baixa renda

Valor Econômico

Você emprestaria dinheiro para um desconhecido? A resposta não é tão óbvia assim. De meados de 2005 até o fim de 2012, segundo dados do Banco Central, passaram a fazer parte do sistema financeiro brasileiro 42,5 milhões de novos clientes, um dos processos mais velozes de bancarização de que se tem notícia no mundo. Foi uma multidão de “ilustres desconhecidos”, com demandas reprimidas de consumo e que viu sua renda se multiplicar no espaço de poucos anos, que tomou de assalto os bancos do país. Uma multidão que chegou querendo crédito.

Agora, com a bancarização acontecendo mais lentamente, sobrou no balanço das instituições financeiras a conta desse processo: a inadimplência. Em maior ou menor grau, os bancos estão tendo que reformular os modelos de concessão de crédito ou a estratégia de atuação com as classes de menor renda, recém-chegadas ao sistema bancário.

Até uma das “regras de ouro” da concessão de crédito no país, que prevê um teto informal de até 30% de comprometimento da renda mensal do tomador com dívidas precisou ser revista.

“Há alguns anos, não havia histórico ou o comportamento desse cliente. Agora começamos a separar o joio do trigo”, afirma Octavio de Lazari Junior, diretor da área de empréstimos e financiamento do Bradesco. O índice de inadimplência do banco na pessoa física encerrou o terceiro trimestre em 6,2%. “Não tinha outro jeito. Era algo pelo qual tínhamos que passar.”

Com mil agências abertas só em 2011, o Bradesco tem na população de baixa renda um público-chave para a concessão de crédito. “É um percentual importantíssimo da população economicamente ativa”, afirma Lazari. “Ele pode ser baixa renda hoje, mas há ainda uma janela fantástica de boom demográfico no país para os próximos anos.”

O banco foi um dos primeiros a perceber que, na baixa renda, a monitoração do gasto mensal com dívida do cliente precisa ser mais estrita. Enquanto tradicionalmente estima-se de 25% a 30% do orçamento mensal comprometido com dívida como um percentual adequado, para o cliente de baixa renda o “número mágico” é algo entre 10% a 12%, afirma Lazari. Passado esse nível, a oferta de crédito é feita com muito mais cautela.

“A inadimplência ainda elevada no Brasil deve ser traduzida como um “custo social”, decorrente da própria velocidade do processo de inclusão bancária”, escreveu o diretor do departamento de pesquisas e estudos econômico do Bradesco, Octavio de Barros, em relatório aos clientes do banco. “Estamos assistindo a um processo de “desbancarização temporária” de segmentos que ainda não estavam preparados em termos de renda para ingressar no mercado de crédito”, escreveu ainda.

A inadimplência da pessoa física fechou novembro em 7,8%, apenas 0,1 ponto abaixo da máxima histórica, segundo dados do Banco Central. O índice está praticamente estável nesse percentual desde maio. Já as concessões de crédito à pessoa física acumuladas em 2012 avançaram 8,2% na comparação com 2011.

Boa parte das estratégias adotadas pelos bancos para a baixa renda diz respeito a aumentar a precisão dos modelos estatísticos de concessão de crédito para esse público. Esses modelos usam diferentes informações do cliente (consultas a bancos de dados negativos, ao Banco Central, endereço de residência etc), combinado com o histórico de outras operações semelhantes da instituição, para tentar antecipar a chance de o candidato a devedor não pagar. Com base nesse resultado – e no apetite de risco da instituição – sai a aprovação do crédito.

A arte no meio dessa matemática toda está em calibrar corretamente quais são as informações que o banco coleta e os pesos que o modelo atribui a cada uma delas. Isso explica, por exemplo, o esforço do Banco do Brasil em fazer com que os clientes pessoa física tragam seu salário para o banco, acenando com juros menores.

“Hoje nossa operação é muito focada em correntista. Não operamos no “mar aberto”, com clientes que não conhecemos”, afirma Marcelo Labuto, diretor de empréstimos e financiamentos do BB. “Os proventos que o cliente traz para o banco enriquecem minha percepção dele e de sua capacidade de pagamento”. As dívidas com atraso acima de 90 dias representam 2,17% da carteira do banco, incluindo pessoa física e jurídica.

Para Labuto, além da bancarização, clientes que já tinham algum relacionamento bancário também passaram a tomar financiamentos. “Isso pode ter trazido um efeito estrutural para a inadimplência do sistema, mas não acho que é motivo para sérias preocupações.”

No caso do Santander, melhorias nos modelos de concessão vêm sendo feitas desde 2008, mas ganharam um reforço extra no ano passado, quando a inadimplência da instituição começou a piorar. Oscar Herrero, vice-presidente de risco do Santander Brasil, destaca dois esforços feitos pela instituição nessa linha: primeiro, uma ampliação da equipe de matemáticos e estatísticos que trabalham na operação de varejo, embora não detalhe a magnitude desse crescimento.

Segundo, o banco passou a atualizar mais frequentemente os modelos de concessão de crédito à pessoa física. As atualizações hoje são trimestrais em todos os modelos, sendo que antes alguns ajustes eram feito só semestral ou anualmente. Na linha do que tem feito o BB, o Santander também vem dando prioridade à captura de clientes no ponto de trabalho, onde as informações disponíveis sobre o perfil do tomador são mais amplas.

O Itaú Unibanco fez mudanças na sua estratégia de captura de clientes. Desde o fim de 2010, o banco vem desmontando as parcerias que tinha com varejistas para oferecimento de produtos e serviços financeiros. Foram cerca de 300 acordos encerrados, entre eles Lojas Americanas e a rede de supermercados Sonda. A mudança, segundo pessoas próximas do banco, tem relação com o “perfil” do cliente trazido por essas parcerias e afetou alguns dos principais canais de contato do banco com a baixa renda. Procurado, o banco não se pronunciou.

Rodrigo Del Claro, presidente da Crivo TransUnion, empresa que desenvolve modelos de crédito para bancos e financeiras, diz que, na ausência de um histórico tradicional, há uma série de outras informações que ajudam numa modelagem mais acurada. “O gasto na conta de luz tem uma correlação altíssima para predizer a inadimplência”, afirma.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, combinados com o endereço do cliente e até mesmo sua zona eleitoral também ajudam a compor um quadro mais preciso, diz Del Claro.

Na Losango, promotora de vendas do HSBC que opera financiamentos em parcerias com o varejo, o problema não era tanto o modelo de concessão em si, mas sim a coleta de informações do tomador feita no ponto de venda. A promotora reverteu a piora na qualidade do crédito no começo do ano passado intensificando o treinamento de quem concede o crédito na ponta. “É isso que explica porque lojas com perfis semelhantes tinham inadimplência tão distinta”, afirma Hilgo Gonçalves. “É uma questão de conhecer o cliente e ver se o produto que ele financia está adequado ao seu perfil. Por que um casal recém-casado precisa de um fogão de seis bocas?”


Tarso: PT usou métodos que sempre criticou

O Globo

Um dos principais dirigentes do PT, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, afirma que o partido usou “os mesmos métodos tradicionais” para formar alianças que antes criticava em outras siglas, ao analisar a origem do mensalão. Defensor de uma “profunda renovação” no partido, Genro diz que dirigentes petistas não podem, ao mesmo tempo, prestar consultoria privada.

Quais os reflexos que o mensalão ainda provocará no PT? Como se preparar para 2014?

Integro uma corrente de opinião no PT que é minoritária, tem em torno de 40% dos delegados, a Mensagem ao Partido. Ela entende que o partido precisa passar por uma profunda renovação, e essa renovação passa pelos métodos da direção; pelas relações do partido com os governos; por novos métodos de participação da base, por meio de métodos tecnológicos; e por uma avaliação muito mais profunda do que foi feito até agora sobre o que ocorreu nesta Ação Penal 470. Uma coisa é você avaliar, como eu avaliei, que teve de se inventar uma tese de domínio funcional dos fatos para condenar lideranças do partido. Outra coisa é você compreender que, tendo ocorrido ilícitos penais ou não, os métodos de composição de maiorias e de formação de alianças que nós utilizamos foram os mesmos métodos tradicionais que os partidos que nós criticávamos adotavam. É uma total necessidade você aprender a superar esses métodos. Esta é a grande questão que temos que trabalhar: qual é o sistema de alianças que nos dá uma capacidade de governar dentro da ordem democrática sem utilizar esses métodos tradicionais que herdamos da República Velha.

O senhor defende a cassação dos mandatos dos mensaleiros?

A Constituição tem que ser interpretada a partir da independência dos poderes. A decisão tem que ser da Câmara Federal de cassar ou não. Eu substituí o (José) Genoino na presidência do PT, e o que circulava dentro do partido, e foi constatado depois, é que ele assinou empréstimos, agora pagos, e que o fez de boa-fé, sem saber que, por trás daqueles empréstimos, poderia ter uma articulação de intercâmbio de favores em benefício do partido e de outras pessoas. Eu não sei se, nessa situação, eu renunciaria. O fato é que toda essa situação significa que o PT tem de instituir regras muito rígidas em relação aos seus dirigentes, seus quadros e seus vínculos com as empresas privadas. É totalmente incompatível dirigente partidário continuar se apresentando como tal e sendo ao mesmo tempo consultor de grandes negócios. Porque, quando essa pessoa fala dentro do partido, quem está falando? É o dirigente ou o consultor? Essa regra não deve valer só para o PT, não estou me fixando em nenhum caso específico. Essas relações são sempre muito perigosas.

Qual futuro o senhor prevê para o ex-ministro José Dirceu?

Tenho uma relação política interna de partido com Dirceu. Nunca fui uma pessoa próxima a ele. Ele teve uma participação muito importante na construção do partido e na primeira vitória do presidente Lula. Mas acho que a forma como o Dirceu está enfrentando essa questão é equivocada, porque tende a estabelecer uma identidade dos problemas que ele está enfrentando com o problema do PT, com o conjunto, e trazendo para a sua defesa o partido como instituição. A defesa que o partido tem que fazer em circunstâncias como essas, para qualquer pessoa, é que ela tenha direito a defesa e a um julgamento justo, e não o estabelecimento de qualquer identidade política, que é outra coisa. O Dirceu não pode ser demonizado no partido, até pela trajetória que ele teve, embora a forma como ele está lidando com essa questão não seja boa para o partido, estabelece uma identidade forçada dele em conjunto com o partido, coisa que, no mínimo, não existe. O partido tem que ser solidário com todos os seus quadros, errem ou acertem, para que tenham direito de defesa e julgamentos justos.

O partido hoje só se pauta pelo mensalão?

A agenda do partido não pode ser a agenda da Ação Penal 470. O que o partido tinha que fazer já fez. Já fez o manifesto, já deu a solidariedade que tinha que dar. O partido tem que tratar da sua vida, ele é um projeto para a sociedade, não um projeto para ficar amarrado a uma pauta, que inclusive foi constituída por indivíduos e dirigentes, e não por decisões do partido, para que aqueles fatos ocorressem, fatos esses narrados na Ação penal 470. A agenda PT tem que ser da a reforma política, do que eu chamo de 14-18 (projeto 2014-2018) e do sistema de alianças.


Inflação muda de patamar e previsão para ano é de 6%

O Estado de S. Paulo

Pressionada pelos preços dos alimentos e dos serviços, a inflação subiu um degrau e deve continuar em alta a maior parte deste ano. Até setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 m-ses deve ser igual ou superior a 6%, preveem economistas. A inflação encerrou 2012 com alta de 5,84%, o terceiro resultado consecutivo acima do centro da meta de 4,5%  traçada pelo Banco Central (BC). A mudança de patamar do custo de vida no País é ratificada pelos investidores. A taxa de inflação embutida na remuneração dos títulos do governo brasileiro vendidos no mercado financeiro aponta para um IPCA superior a 6,5% este ano e um pouco abaixo de 6%, mas com tendência de alta, para 2014 e 2015, segundo levantamento da LCA Consultores feito com base nas negociações efetivas desses papéis. “Isso significa que há investidores apostando dinheiro na alta da inflação”, observa o economista da consultoria, Antonio Madeira. É consenso entre os economistas de consultorias privadas, bancos e institutos de pesquisa independentes que o IPCA gire em torno de 6% boa parte do ano.

O alívio na inflação, pondera Fábio Romão, economista da LCA responsável por essa projeção, é esperado só para o último trimestre. A partir de outubro, diz ele, o impacto do choque de preços agrícolas de 2012 deve sair da conta do IPCA acumulado em 12 meses, com inflação fechando o ano em 5,3%. Em2012, a alimentação subiu 9,86%e a perspectiva para este ano é de uma alta ainda forte, de 6%.  Na semana passada, analistas ouvidos pelo Boletim Focus do BC elevaram de 5,47% para 5,49% a perspectiva de inflação para 2013. Em um mês, o mercado aumentou em 0,10 ponto porcentual a projeção para 2013.

Risco

Já a economista do Banco Santander, Tatiana Pinheiro, espera inflação de 6% para 2013 e não vê alívio nos preços dos alimentos. Ao contrário: ela diz que o grande fator de risco inflacionário hoje é o clima. Primeiro, porque o impacto da seca já ameaça a redução de 20% na tarifa de energia elétrica anunciada pelo governo no fim de 2012 para vigorar no mês que vem, um dos poucos fatores que atenuariam a inflação. É que a escassez de chuvas, que fez baixar o nível dos reservatórios das hidrelétricas, pode levar ao acionamento das termoelétricas, que têm custo maior na geração de energia. Isso pode diminuir o tamanho do corte na tarifa. O outro impacto do clima, segundo Tatiana, pode recair sobre os preços dos alimentos. Por enquanto, o governo informa que a safra será recorde. Mas, para ela, o cenário agrícola é incerto por causa da falta de chuvas. “As pesquisas mostram que a safra será muito boa.Mas, na verdade, só vamos ter certeza mais para a frente”, pondera Salomão Quadros, coordenador dos IGPs da FGV. Ele explica que, se houvesse certeza absoluta em relação à boa safra, os preços dos alimentos já estariam até caindo. Mas esse movimento ainda não foi captado pelos índices de preços agrícolas no atacado.

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