Expansão do Brasil gera debate sobre postura imperialista

No início, os uruguaios ainda gostavam da cerveja brasileira. As filiais do Banco Itaú na capital Montevidéu tampouco eram um problema. Porém, em 2006, quando as firmas brasileiras passaram a comprar os armazéns frigoríficos do país, muitos ficaram desconfiados. De uma hora para outra o grosso dos negócios com a carne bovina, campeã de exportações do país, encontrava-se em mãos brasileiras.

Frigoríficos no Uruguai, plantações de soja no Paraguai, usinas hidrelétricas no Peru: as empresas do Brasil conquistam a América do Sul. E com cifras de impor respeito. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, o total das exportações nacionais para o restante da América Latina e o Caribe saltou de 11,5 bilhões para 57 bilhões de dólares, entre 2002 e 2011. Isso situa a região como segundo mais importante mercado para o comércio externo brasileiro, depois da Ásia.

Admiração e rejeição

Porém os demais latino-americanos observam com ceticismo a ascensão econômica do país. “Em muitos aspectos, os países veem o Brasil com um olhar semelhante ao que a América do Sul tinha sobre os Estados Unidos”, expõe Oliver Stünkel, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, em entrevista à DW Brasil. “É uma mistura de admiração e rejeição.”

O clima político é especialmente tenso no Paraguai. A atitude brasileira após a posse do então presidente Fernando Lugo, em junho de 2012, ainda é encarada como uma intervenção descabida. “Quando o Brasil pressionou para que o Paraguai fosse suspenso do mercado comum Mercosul, voltou a aflorar o sentimento de que o país se comporta como uma potência colonial”, explica Stünkel.

O ex-ministro brasileiro do Exterior Luiz Felipe Lampreia também classifica como uma gafe diplomática o comportamento de seu governo na época. “Essa decisão política despertou um grande mal-estar no Paraguai”, admitiu em entrevista à DW.

No entanto, o diplomata considera absurda a acusação de que o Brasil estaria se comportando de forma colonialista. “Os brasileiros pagam impostos, exportam mercadorias e criam postos de trabalho, tanto no Paraguai como no Uruguai ou na Bolívia”, contra-argumenta Lampreia.

África como alvo preferencial

Quer como amigo, quer como inimigo, a expansão econômica e política do Brasil segue a passos largos. A mineradora Vale S.A. pretende investir no exterior, até 2014, um total de 9,6 bilhões de dólares, em especial em países africanos como Moçambique, Angola e Zâmbia. Com 17 mil funcionários, a multinacional Odebrecht é a maior empregadora privada de Angola. E a semiestatal Petrobras explora petróleo em Angola e na Nigéria.

A expansão brasileira no continente africano é fruto de uma intenção política. Lá, o gigante sul-americano está representado com, no mínimo, 37 embaixadas. E, ao oferecer créditos acessíveis, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também ajuda a financiar grandes projetos domésticos.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou os países ao sul do Saara mais de uma dezena de vezes durante seus dois mandatos, de 2003 a 2011. Também sua sucessora Dilma Rousseff segue apostando na cooperação sul-sul. Com resultados palpáveis: de 2000 até agora, o volume anual de negócios Brasil-África cresceu de 4,2 bilhões para mais de 20 bilhões de dólares.

Mais uma nação imperialista?

Entretanto também na África lusófona a expansão brasileira gera tensões. Em julho de 2010, manifestantes enfurecidos invadiram a mina de ferro da Vale S.A. na Guiné, por violações dos direitos dos trabalhadores. Também em Moçambique, no leste africano, pequenos agricultores protestaram no último ano contra a empresa mineradora, por desalojá-los, a fim de dar lugar à exploração de carvão mineral em Moatize.

“Em Moçambique, a relação da Vale com a população local é tão ruim que, para muitos, a atual imagem do Brasil é pior do que a de Portugal da época colonial”, escreveu Carlos Tautz para O Globo. Se o governo não lembrar as firmas brasileiras do respeito às normas internacionais, no futuro o Brasil será percebido “como mais uma nação imperialista”, advertiu o jornalista.

O professor Oliver Stünkel, contudo, não partilha essa opinião. “A reputação do Brasil na África é muito boa. Para o país, ainda se desenrola o tapete vermelho”, afirma o perito econômico.


Contração da economia alemã é novo golpe para eurozona

Carta Maior

A contração econômica da Alemanha no último trimestre de 2012 e a redução oficial das projeções de crescimento para este ano são um novo golpe para a zona do euro. Segundo o Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha a contração foi de 0,5%. Segundo o Banco Central alemão, a economia crescerá 0,4% este ano, muito menos do que o 1,6% previsto em cálculos anteriores. Na primeira metade do ano passado o crescimento alemão evitou uma recessão do conjunto da eurozona. É óbvio que as coisas estão mudando.

A crise dos países do sul da zona do euro está alcançando a Alemanha e apagando a ilusão de um desacoplamento graças à mítica eficiência produtiva germânica. Em 2009, a Alemanha sofreu uma contração de 5% como consequência da crise mundial, mas em 2010 e 2011 teve uma rápida recuperação com um crescimento de 4,2% e 3% respectivamente. A queda foi abrupta na segunda metade do ano passado e deixou o Produto Interno Bruto (PIB) alemão com um anêmico aumento de 0,7%. Em declarações ao Financial Times nesta quarta-feira o presidente do governo da Espanha, mariano Rajoy, que aceitou o plano de ajuste em seu país, pediu às nações credoras da eurozona que ponham em marcha políticas de estímulo ao crescimento. “Este é o momento de colocar em marcha essas políticas. Está claro que não se pode pedir a Espanha que adote políticas de expansão, mas sim aos países da zona do euro que estão em condições de fazê-lo”, afirmou.

Um dado deveria favorecer esta mudança. Segundo o mesmo Escritório de Estatísticas, a Alemanha obteve um superávit fiscal de 0,1%, o primeiro desde 2007. Mas o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schauble reafirmou, terça-feira à noite, a posição de austeridade de seu governo.

As duas eurozonas

Desde o estouro da crise da dívida na Grécia em 2010, a zona do euro vem apresentando uma história de realidades paralelas. Enquanto os PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) afundavam na recessão, a Alemanha, segundo exportador mundial depois da China, crescia graças suas vendas ao exterior. Segundo Marie Dirone, economista sênior da consultora internacional Ernest and Young, os novos dados provam que a Alemanha não pode se desvencilhar do destino de seus vizinhos. “Durante um certo tempo causou assombro a capacidade alemã para resistir à debilidade do sul da Europa com a diversificação de suas exportações para a China e outros mercados emergentes. Está claro que isso tem limites. A Alemanha está sentindo a queda da demanda nos outros países da zona do euro”, assinalou à Carta Maior.

Não chega a surpreender. A metade das exportações alemãs tem como destino os países da zona do euro. O dado se reflete nas estatísticas oficiais. O setor exportador, que representa mais da terça parte do PIB alemão, sofreu uma queda abrupta no último trimestre do ano passado. Esta queda arrastou a zona do euro que terminou 2012 em recessão (dois trimestres consecutivos de contração).

Os novos dados oficiais mostram também que o euro segue sofrendo do desequilíbrio estrutural entre economias muito distintas, o que vem colocando em perigo o projeto da moeda única europeia. Entre Alemanha ou França e Grécia ou Portugal sempre houve um abismo de produtividade e competitividade. Estas diferenças não eram incorrigíveis. No coração do projeto pan-europeu estava a ideia de homogeneizar economias diversas por meio do investimento público nas zonas mais atrasadas.

Mas o euro nasceu em meio à grande festa financeira. Graças à moeda única, os países da periferia, os PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), tiveram uma taxa de juro muito baixa que financiou bônus de investimento e consumo pagos com um crescente endividamento. O resultado foi que os países do norte europeu exportaram e os do sul consumiram com base em um déficit de conta corrente. O ajuste decidido pelo governo alemão socialdemocrata de Gerhard Schroeder em 2003 aprofundou o desequilíbrio: os salários alemães tiveram uma estagnação relativa aos do Sul que encareceu os produtos que vinham dos PIGS.

O ajuste unidimensional

Segundo uma escola de pensamento, sendo a zona do euro uma unidade, o desequilíbrio não deveria importar tanto: a queda de uma região seria compensada pelo crescimento de outra. Mas o especialista alemão da London School of Economic, Henning Meyer, opina que a unidade da zona do euro é uma ficção sem mecanismos concretos que compensem os desequilíbrios. “A zona do euro não tem transferências fiscais que compensem a queda de uma região. E a política que está sendo impulsionada no conjunto da região é exatamente a contrária a um mecanismo desta natureza. Há um ajuste assimétrico pelo qual os países que têm déficit estão adotando políticas recessivas enquanto que os países que apresentam superávit não estão adotando políticas expansivas”, disse Meyer à Carta Maior.

A chanceler alemã Angela Merkel é a grande papisa da austeridade na zona do euro em meio a uma contração que começa a afetar os interesses do poderoso setor exportador alemão. Estes programas de ajuste, que o jornal espanhol El País batizou como “austericídio”, são uma corda no pescoço que o governo alemão segue apertando. É preciso reconhecer que o fundamentalismo alemão é coerente. Há duas semanas, o ministro de Finanças, Wolfgang Schauble assinalou que a própria Alemanha necessita de um ajuste fiscal.

Isso dependerá muito do que ocorrer com sua economia. O fantasma que começa a rondar entre os analistas é a possibilidade de uma recessão alemã. A este fantasma econômica se somam as eleições de setembro, nas quais a chanceler Merkel tem que renovar seu mandato. “A Alemanha tem vivido em um mundo paralelo no qual a crise da zona do euro era uma coisa que se via pela televisão. Se a economia alemã se deteriorar, isso pode ter um forte impacto no resultado das eleições, na política adotada e no conjunto da eurozona”, disse Meyer à Carta Maior.


Petrobrás terá de elevar investimentos após exigências da ANP

O Estado de S. Paulo

A revisão que a Agência Nacio­nal de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) começou a di­vulgar nesta semana sobre os planos de desenvolvimento dos maiores campos de petró­leo da Petrobrás deve forçar a companhia a elevar a suas me­tas de produção. Segundo duas fontes ligadas à agência, é possível que a empresa te­nha de elevar as projeções já em seu próximo plano de negó­cios, em meados do ano.

A ANP aprovou, com ressal­vas, o plano de desenvolvimento apresentado pela Petrobrás para o campo de Roncador, o primei­ro de 11 megacampos que estão tendo as atividades revistas pelo regulador. As 11 concessões são as que mais pagam participação especial no País, responsáveis por 4/5 da produção nacional.

A agência exigiu, por exemplo, que a Petrobrás invista em mais poços e plataformas, a custos de mais de R$ 1 bilhão, numa previ­são conservadora. O resultado de Roncador foi publicado em ata de reunião de 7 de janeiro, mas a Petrobrás informou que ainda não recebeu comunicação oficial. Nos próximos meses, a ANP divulgará a revisão dos ou­tros dez campos e, segundo as fontes, deve manter o rigor nas avaliações, levando a Petrobrás a aumentar investimento, maquinário, eficiência e produção nos campos mais antigos.

O objetivo da ANP é reverter o declínio, que chegou a 40% em campos antigos entre 2011 e 2012, enquanto a Petrobrás direcionou os olhos para o pré-sal.

O pedido para que a Petrobrás revisse os planos de desenvolvi­mento foi feito pela ANP no ano passado. A Petrobrás apresen­tou projetos para recuperar os campos, mas o resultado da ava­liação de Roncador divulgado nesta semana mostra que a ANP considera os esforços insuficien­tes e exigirá mais da companhia.

Se não cumprir as determina­ções da agência, algumas imedia­tas, a Petrobrás será autuada. Ao cumprir, precisará aumentar suas metas de produção. Nesse caso, poderia ter de elevar a cur­va já na próxima revisão do pla­no de negócios, em meados des­te ano. “A ANP defende os inte­resses dá nação. A Petrobrás está produzindo aquém do que pode­ria. A agência quer garantir que estão sendo aplicadas as melho­res práticas da indústria”, disse a fonte ligada à agência.

No caso de Marlim, a produ­ção encolheu a menos de um ter­ço: passou de 600 mil barris por dia, em 2002, para 192 mil barris por dia, em agosto passado. A Pe­trobrás só está conseguindo manter estável a produção pois a queda de campos antigos é compensada pela elevação de produ­ção em novos campos do pré-sal.

Parte dos equipamentos que a ANP está exigindo pode vir de áreas cujo período de exploração está chegando ao fim. No en­tanto, segundo uma fonte, o nú­mero de sondas liberadas não passaria de cinco e será insufi­ciente. Nesse caso, a se manter o mesmo rigor da ANP nos próxi­mos campos, a Petrobrás terá de realocar ou contratar novas son­das e equipamentos.

Entre as possibilidades da companhia está a realocação de unidades previstas para o pré-sal. No limite, a Petrobrás pode estudar a redução de participa­ções em alguns campos, para via­bilizar os investimentos.

A ANP vai rever em dezembro se a Petrobrás cumpriu as exigên­cias quanto a Roncador. Se não tiver justificativas para possíveis descumprimentos (por exem­plo, não conseguir licença am­biental para perfuração), a em­presa pode ser multada, explica a fonte ligada à agência.


Governo reduzirá custo de todas as empresas

O Globo

Num esforço para recuperar a economia, o governo vai estender a todos os setores, ainda este ano, a desoneração da folha de pagamento das empresas. Segundo interlocutores da presidente Dilma Rousseff, ela considera que os segmentos que já receberam esse incentivo têm apresentado bons resultados e que está na hora de usar todas as armas para evitar que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) de 2013 não repita o fraco desempenho de 2012, quando o crescimento ficou, na melhor das hipóteses, em 1%. Para este ano, a previsão oficial está em 4%.

A desoneração prevê a retirada da alíquota de 20% de contribuição previdenciária que incide sobre a folha de pagamentos e a cobrança de uma alíquota entre 1% e 2% sobre o faturamento das empresas. Na avaliação da presidente, a medida reduziu custos dos empresários com mão de obra e favoreceu a formalização no mercado de trabalho. Além disso, o Planalto avalia que a política de fazer desoneração beneficiando setores de forma pontual – algo que era criticado por parte dos economistas – se esgotou.

A equipe econômica começou a reduzir os encargos sobre a folha das empresas em 2011 de forma tímida, beneficiando apenas três setores: calçados, software e móveis. O benefício foi ampliado gradativamente em 2012 e abrange hoje 42 setores, incluindo mais recentemente o comércio varejista. Nos moldes em que está, a desoneração provoca uma perda de arrecadação para a União que é bancada pelo Tesouro Nacional. Somente este ano, o impacto será de R$ 15 bilhões.

O tamanho da renúncia fiscal provocada pela medida foi o que tornou o governo cauteloso na hora de ampliá-la. Mas começou a pesar na balança a opinião de parte dos técnicos da equipe econômica que defendem uma flexibilização da política fiscal em troca da concessão de benefícios que trarão retorno para a economia.

Em outra frente, a presidente decidiu procurar os representantes de setores que já foram beneficiados pela desoneração da folha e pedir que eles deem uma contrapartida por meio do aumento da contratação de funcionários e da ampliação de investimentos. Somente na semana passada, ela se reuniu com o presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto; o presidente da Vale, Murilo Ferreira; e o diretor-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht.

Quando anunciou a desoneração da folha de diversos setores da indústria, de serviços e do comércio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou que o governo também esperava como retorno a manutenção de empregos, aumento da produção e das exportações. Outro auxílio esperado pelo governo é no controle da inflação. Isso porque as empresas que conseguiram reduzir custos com a desoneração da folha teriam condições de fazer reajustes menores em seus produtos e serviços este ano.

Os técnicos do governo explicam que todos os setores intensivos em mão de obra (e que por isso eram os mais prejudicados pela cobrança de 20% sobre a folha) já foram beneficiados pela desoneração. Entre eles, estão o segmento automotivo e a construção civil. No entanto, ainda há setores que demandam o benefício, como é o caso do segmento de bares e restaurantes, além de alguns fabricantes de equipamentos e componentes e os fornecedores de mão de obra terceirizada. Há também quem tenha ficado de fora do benefício em função do tamanho das alíquotas que passaram a incidir sobre o faturamento.

– Existem alguns setores que pediriam para entrar na desoneração se a alíquota de 1% ou 2% baixasse – explicou um técnico.

Apesar da preocupação de certas áreas do governo com o impacto da medida nos cofres da Previdência, Dilma avalia que a repercussão social supera em muito os riscos econômicos. Especialmente porque, ao estimular a geração e manutenção de empregos no país, o Brasil se fortalece contra a crise internacional. Em seus discursos, ela faz questão de repetir que o país vem fortalecendo os direitos e promovendo o pleno emprego, ao contrário do que têm feito países europeus.

A presidente bateu o martelo sobre a universalização da desoneração da folha de pagamento durante o processo de negociação da medida provisória (MP) que favoreceu os mais de 40 setores em 2012. Durante o processo de negociação da MP, a área econômica se mostrou flexível para estender o benefício para todas as empresas. Além disso, a presidente quer que a equipe econômica anuncie o mais rapidamente possível sua proposta para simplificar a cobrança de PIS/Cofins no país.


BNDES pode se tornar sócio da CSN

Valor Econômico

Será debatida na próxima semana uma proposta que poderá transformar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em sócio relevante da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) nos seus principais negócios.

Este é um dos desenhos em estudo para viabilizar a aquisição, por parte da CSN, dos ativos da alemã ThyssenKrupp no Brasil e nos Estados Unidos. Desde o ano passado, estuda-se um modelo que coloque o banco estatal como acionista da operação. Porém, mais recentemente, ganhou força a ideia de o BNDES tornar-se sócio de peso de todos os negócios do grupo controlado por Benjamin Steinbruch, apurou o Valor. O banco, conforme informações da empresa, é dono de apenas 1,9% do seu capital por meio de seu braço BNDESPar.

Se essa possibilidade for levada adiante, ainda terão de ser definidos o tamanho e o desenho da participação da instituição como acionista da companhia. A reunião da semana que vem, a ser realizada na sede do BNDES, no Rio, servirá justamente para discutir os caminhos possíveis para a atuação do banco.

O BNDES já não é mais um grande credor da CSN. De acordo com informações disponíveis no site do banco estatal, há pelo menos cinco anos não há registro de novos financiamentos da instituição à companhia.

A entrada direta da instituição como sócia da CSN, abarcando todos os negócios – aço, mineração, logística, cimento e energia – poderia ajudar a contornar os maiores entraves à compra dos negócios do grupo alemão.

Os ativos colocados à venda pela ThyssenKrupp – a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio, e uma laminadora no Estado americano do Alabama – não são baratos. A CSN, segundo informações reveladas na quarta-feira, fez uma proposta de US$ 3,8 bilhões para ficar com eles.

Se fechada por esse valor, a aquisição consumiria mais da metade dos R$ 15 bilhões que a siderúrgica tinha em caixa no fim de setembro. Ao mesmo tempo, absorver os ativos elevaria o grau de alavancagem da CSN, que encerrou o terceiro trimestre do ano passado com dívida líquida de R$ 15,6 bilhões.

Em relatório publicado no fim de novembro, o analista Felipe Reis, do Santander, considerava improvável a aquisição dessas companhias pela siderúrgica de Steinbruch. Em seus cálculos, o negócio elevaria de 3,8 vezes para 5,1 vezes a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda) da CSN.

Um aumento de capital no grupo, com a entrada do BNDES, reduziria o peso das dívidas no balanço da empresa. Ao mesmo tempo, poderia contribuir para dissipar o temor de investidores de que a aquisição consumiria o caixa da CSN em um mau momento do setor.

Procurado, o BNDES informou que não comentaria o assunto. A

Ontem, as ações da CSN abriram o dia na Bovespa com forte queda diante das notícias – caíram até 4,9%, liderando as quedas do pregão. Fechou o dia como a segunda maior baixa do Ibovespa, com 3,7%, a R$ 11,98.

Pesava sobre os papéis a percepção dos investidores de que a companhia poderá entrar em uma guerra de propostas e pagar caro pelos ativos da ThyssenKrupp num momento de demanda fraca. “Investidores de curto prazo consideram o movimento negativo porque haverá um desembolso de caixa e provavelmente um aumento nos investimentos necessários”, afirmou Marcelo Varejão, analista da Socopa, à Bloomberg News. “É um mau momento para o setor siderúrgico e parece mais adequado preservar caixa.”

O “Wall Street Journal” noticiou ontem que além da oferta de US$ 3,8 bilhões da CSN pelos ativos, a Thyssen também recebeu propostas iguais de US$ 1,5 bilhão da ArcelorMittal e da Nucor pela usina do Alabama. O jornal atribuiu a informação a fontes familiarizadas com o negócio.

Um interlocutor ouvido pelo Valor confirmou as propostas, mas afirmou que elas são, por enquanto, indicativas. Ou seja, ainda poderão ser modificadas e não representam um compromisso definitivo dos interessados.

A CSA, localizada no Rio, entrou em operação em meados de 2010 e tem capacidade de produzir 5 milhões de toneladas de placas por ano. A laminadora americana, do mesmo ano, está apata a fazer 4,5 milhões de toneladas anuais de chapas, principalmente para o setor automotivo.


Após dois anos abaixo da média, Incra planeja acelerar assentamentos em 2013

Valor Econômico

Depois de dois anos com o total de assentamentos de famílias para a reforma agrária abaixo da média histórica – 45 mil na soma dos dois anos -, a gestão da presidente Dilma Rousseff pode registrar este ano o seu melhor desempenho nessa área. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) inicia 2013 com quase 300 imóveis rurais prontos para serem desapropriados, o que deve permitir o assentamento de 16 mil famílias já no início deste ano. Em 2011, foram 22 mil famílias, e em 2012, 23 mil.

A explicação para um início de ano forte, segundo o presidente da autarquia, Carlos Guedes de Guedes, está na liberação de terras na segunda metade de 2012 e na preparação das áreas para assentamento em 2013. “Tivemos recursos disponíveis para conseguir áreas importantes no Centro-Sul, como o Complexo Cambayba, de Campos dos Goytacazes (RJ), Fazenda Colômbia (SP) e Fazenda Três Pilões (GO). “

Mesmo sob fortes críticas de movimentos sociais, que acusam o governo de proteger grandes latifúndios, Guedes diz que o Incra continua “firme” na postura de melhorar a condição dos assentamentos existentes. Para isso, a autarquia está assinando uma série de convênios com outras áreas do governo para dividir suas atribuições, que incluíam desde construção de estradas, moradia de assentados até construir escolas em assentamentos.

Em julho, quando Guedes assumiu a presidência do Incra, apenas 3 mil famílias tinham sido assentadas. O trabalho ainda foi prejudicado pela greve na estatal, que durou quase três meses (de meados de junho a setembro).

De acordo com representantes de movimentos sociais, a alta na qualidade de vida nos acampamentos, principal bandeira atual da autarquia, é obrigação do Estado, e não o principal objetivo. Segundo eles, uma alta no número de assentados seria mais comemorada do que melhorias nos acampamentos já estabelecidos.

A coordenadora-geral da Fetraf-Brasil, Elisângela Araújo, diz que o governo abandonou a política de reforma agrária. “Nossa posição continua a mesma. Discordamos dessa nova diretriz de ação. O governo não pode dizer que quer qualidade em assentamentos, se e não faz uma política para isso”, disse Elisângela.

Para conseguir maior sintonia com outros programas do governo, o Incra vai agregar seu banco de dados ao Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), que é usado, obrigatoriamente, para a seleção de beneficiários e para integração de programas sociais do governo federal. Ao todo, 50 mil assentados farão parte do Plano Brasil sem Miséria, em 770 assentamentos.

Dentre os acordos que começarão a vigorar em 2013, o principal será o investimento de R$ 200 milhões para que 300 mil famílias de todo o Brasil recebam assistência técnica em suas propriedades para aumentar a produção. Na safra 2011/12, apenas 15 mil famílias vendiam para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A meta da estatal é triplicar esse número na safra 2012/13.

Outro convênio assinado com o Ministério da Integração Nacional vai permitir que 30 mil famílias do Semiárido nordestino tenham acesso a água potável nos assentamentos. Por fim, o Minha Casa, Minha Vida chega ao produtor assentado, com estimativa inicial de 70 mil construções em 2013, e mais de 120 mil reformas em todo o Brasil.

A responsabilidade pelo fornecimento de água a famílias no Semiárido passará a ser do Ministério da Integração, enquanto a construção da rede de energia elétrica em todos os assentamentos será atribuição do Ministério de Minas e Energia, dentro do programa Luz para Todos.

O orçamento de 2012 do Incra – R$ 2,1 bilhões – foi quase integralmente empenhado. Guedes diz que não houve contingenciamento e que o governo tem “dado todo o apoio à reforma agrária”. Segundo ele, “a informação de que houve retenção de valores é equivocada”. Ao todo, foram gastos R$ 639 milhões em obtenção de terras, R$ 200 milhões em infraestrutura e R$ 200 milhões em assistência técnica.


Inflação cai no atacado, mas alta é forte para consumidor

Valor Econômico

Com desaceleração mais rápida que o esperado nos produtos agropecuários e perda de fôlego de alimentos processados, o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) surpreendeu economistas ao recuar de 0,63% para 0,42% entre dezembro e janeiro, mas não trouxe perspectivas mais otimistas para a inflação ao consumidor no primeiro mês do ano. Como os alimentos in natura e cereais seguem pressionados por condições climáticas desfavoráveis, analistas continuam trabalhando com forte avanço do grupo alimentação no IPCA.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem peso de 60% nos IGPs, cedeu de 0,66% para 0,34% na passagem mensal, com taxas menores tanto nos produtos agrícolas (1,21% para 0,35%) como nos industriais (0,44% para 0,34%). Na contramão, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou de 0,65% para 0,76% no período, puxado principalmente pelo grupo alimentação, cuja alta passou de 0,97% para 1,54%.

Também divulgado ontem, o IPC da Fipe, que calcula a variação semanal dos preços na cidade de São Paulo, mostrou alta ainda maior dos alimentos. O grupo subiu 2% na segunda quadrissemana de janeiro, acima da alta de 1,76% observada na abertura do mês.

“Soja e milho, que estão cedendo e têm peso elevado no atacado, pesam pouco na cesta de consumo. Alimentos in natura e cereais, por outro lado, ainda estão subindo bastante, por isso vemos o grupo alimentação com alta no IPC”, diz Flávio Serrano, do BES Investimento.

Dentro do IPA, a soja intensificou sua deflação de 1,94% para 4,49%, enquanto o milho desacelerou de 6,95% para 0,63%. Por outro lado, no IPC, ficaram mais caros hortaliças e legumes (-2,61% para 6,45%), frutas (1,39% para 2,91%) e aves e ovos (2% para 4,1%). Segundo Serrano, essas altas são sazonais e não irão se dissipar no curto prazo, o que irá elevar o IPCA para algo entre 0,8% e 0,85% no fim do mês.

Fabio Romão, da LCA Consultores, nota que a correção para baixo de preços de grãos, motivada por perspectivas de safras melhores em 2013, já chegou aos bovinos, que deixaram alta de 0,86% para recuo de 2,37%, e está se transmitindo aos alimentos industrializados. Na passagem de dezembro para janeiro, produtos alimentícios e bebidas saíram de avanço de 0,81% para deflação de 0,09%.

Como a expectativa é que a deflação na soja se intensifique ao longo do mês, e que os preços industriais continuem mostrando taxa comportada, Romão espera alta ainda menor do IGP-M em janeiro, de 0,27%. As boas notícias no atacado, no entanto, não irão evitar que os alimentos subam 1,5% no IPCA de janeiro nas previsão da LCA, já que o cenário para a produção de alimentos in natura segue desfavorável.

A estimativa de Romão para os índices ao consumidor para o próximo mês, por outro lado, é de desaceleração relevante, puxada principalmente pelos alimentos e pela queda das tarifas de energia elétrica. A consultoria projeta que o IPCA irá recuar de 0,87% para 0,43%, entre janeiro e fevereiro.

Segundo Salomão Quadros, da FGV, a redução no preço de commodities agrícolas, vista em janeiro, chegará nos próximos meses ao IPC. A alta nos preços de aves e ovos no varejo, diz, ainda é resultado da recente valorização da soja, grão usado na fabricação de ração animal. Já em hortaliças, legumes e frutas, Quadros afirma que as chuvas têm atrapalhado as colheitas.

Categoria