Embraer fecha nova parceria para a produção de aviões não tripulados

A empresa brasileira de engenharia militar e civil Avibras, que produz foguetes e mísseis, virou sócia da fabricante de aviões Embraer e da também brasileira AEL Sistemas (fabricante de produtos eletrônicos, militares e civis). A Avibras agora possui uma parte da Harpia Sistemas, empresa formada pela Embraer e AEL para fabricar aviões não tripulados. Essas aeronaves são usadas para patrulhar fronteiras, reconhecer alvos e participar de ações militares.

Com o acordo, a Avibras assumiu 9% de participação na Harpia, reduzindo a fatia da AEL Sistemas para 40%. A Embraer Defesa e Segurança permanece como acionista majoritária, com 51% das ações.

A entrada da Avibras na sociedade vai permitir que a Harpia fique com o projeto do avião não tripulado Falcão em sua linha de produtos. A aeronave está sendo desenvolvida pela Avibras para uso pelas Forças Armadas brasileiras. O avião tem como objetivo ser capaz de realizar missões de reconhecimento e vigilâncias terrestre e marítima, entre outras tarefas.

Shlomo Erez, presidente da AEL diz que a Avibras traz elementos para colaborar no desenvolvimento de aviões não tripulados de última geração, “que atenderão às necessidades do país”.

Fundada em 1961, a Avibras é uma empresa nacional, especializada em engenharia, que projeta, desenvolve e fabrica produtos para os mercados militar e civil.

Sua linha de produtos de defesa inclui sistemas de foguetes de artilharia, mísseis autônomos e guiados, sistemas de defesa antiaérea, sistemas de armamento para aeronaves, veículos militares blindados e aeronaves remotamente pilotadas.

A AEL Sistemas é uma empresa brasileira com sede em Porto Alegre. Fabrica produtos eletrônicos, militares e civis, para aplicações em veículos aéreos, marítimos e terrestres, tripulados e não tripulados. Em 2001, a AEL Sistemas tornou-se uma subsidiária da Elbit Systems, a maior empresa fabricante de produtos de defesa de Israel. Em 2011, a Embraer Defesa e Segurança adquiriu 25% de participação acionária na AEL Sistemas.


Congresso: Orçamento, só depois da folia

Correio Braziliense

A oposição impôs ontem ao governo a segunda derrota em menos de dois meses na votação do Orçamento de 2013. Mais uma vez a base aliada se mostrou incapaz de garantir quórum na sessão do Congresso para analisar a peça orçamentária sem a necessidade de apreciar antes os mais de 3 mil vetos presidenciais e, a exemplo do que ocorreu no fim de dezembro, a análise da matéria acabou adiada pela terceira vez. O novo embate ficou para depois do carnaval.

O segundo adiamento ocorre no dia seguinte à confirmação de que a Petrobras teve o seu pior resultado nos últimos oito anos, com uma queda nos lucros de aproximadamente 36% (R$ 21,18 bilhões em 2012 ante um resultado positivo de R$ 33,3 bilhões em 2011). O governo também tenta driblar as previsões pessimistas diante do pífio resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, que vai ficar próximo dos 1%.

Além da questão dos vetos, sobretudo o que define as novas regras de distribuição dos royalties — que opõe estados e não produtores —, existe uma clara insatisfação da base no tratamento recebido do Palácio do Planalto, sobretudo pela dificuldade em liberar as emendas parlamentares. O impasse deve permanecer após o recesso de carnaval, já que parlamentares de estados produtores de petróleo querem que o Congresso analise os vetos individualmente, para postergar a derrubada dos itens que tratam sobre a redistribuição dos royalties.

O Correio apurou que o governo insistirá na tese de não aceitar vincular a votação do Orçamento à análise dos vetos. Mas nenhum dos interlocutores da presidente Dilma Rousseff soube explicar qual será a estratégia utilizada para evitar a terceira derrota consecutiva. Como a semana pós-carnaval é “morta” politicamente e fevereiro é um mês menor, não está descartada a possibilidade de o Orçamento de 2013 ser votado e aprovado apenas em março.

Foi também o primeiro teste do PMDB no comando do Congresso após as eleições de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na Câmara. Mas os novos presidentes não conseguiram construir um consenso e a sessão do Congresso foi cancelada antes mesmo de começar.

Renan admitiu que cancelou a sessão porque não havia quórum. “O processo legislativo passa pelo consenso e pelo entendimento. Trabalhamos para apreciar hoje o Orçamento, mas não havia consenso”, explicou o presidente do Senado. “Vamos deixar essa tarefa para mais adiante. O Congresso queria votar, o Planalto queria votar, e a resistência não veio nem do Congresso nem do Planalto. A resistência é de setores localizados”, acrescentou Renan.

Compromisso

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), adotou a mesma linha e explicou que o tema não poderia ser levado a plenário sem que houvesse consenso com a oposição. Ele criticou os parlamentares que se opuseram à apreciação do Orçamento antes da votação dos vetos. “O Orçamento não interessa apenas ao governo, o Orçamento interessa ao país. Uma matéria com essa relevância deve ser votada em consenso por parlamentares da oposição e do governo”, justificou Alves.

Na última segunda-feira, durante sessão de abertura do ano legislativo, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pediu que o Congresso honrasse o compromisso de aprovar a lei orçamentária. Em dezembro, durante café da manhã com jornalistas, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que a troca da votação em dezembro havia sido acertada com a oposição. “Se não votar em fevereiro, sim, será uma derrota”, vaticinou ela.

O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), disse que a base do governo quer retirar dos parlamentares a prerrogativa de apreciar vetos do Planalto. “Eles não querem que o Congresso possa apreciar vetos, que os vetos fiquem engavetados pelos próximos 100 anos. Com a decisão do ministro Luiz Fux (que obrigou a análise de todos os 3 mil vetos em ordem cronológica), estamos resgatando nossa prerrogativa”, argumentou.


Novas regras atraem investidor para rodovias

Valor Econômico

Em uma cruzada para atrair o capital privado, o governo alterou as regras pouco antes do início do jogo. Os leilões de concessão de duas rodovias – BR 116 e BR 040 – foram adiados para que a modelagem fosse alterada e assegurasse o aumento da rentabilidade para os investidores, por determinação da presidente Dilma Rousseff. Pelo novo modelo, a rentabilidade sobe de em média 10% para em média 15% nos principais projetos.

Outras alterações foram feitas para atrair os investidores. “Melhoramos a modelagem das concessões para que seja mais rentável que a anterior”, confirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante o fórum “Infraestrutura e Energia no Brasil: Projetos, Financiamentos e Oportunidades”, realizado ontem em São Paulo com apoio do Valor e do BTG Pactual.

O modelo, alterado em “uma semana e meia de trabalho”, segundo Mantega, agora prevê aumento no prazo de concessão – de 25 para 30 anos -, no de financiamento – de 20 para 25 anos – e na carência -de três para cinco anos – nos empréstimos contraídos junto às instituições financeiras oficiais. O programa de concessão tem o apoio de BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O governo está oferecendo ainda juros de TJLP e 1,5% ao ano. Segundo Mantega, a exigência de garantias será reduzida. Os interessados poderão contrair empréstimos-ponte com exigência de patrimônio líquido igual a uma vez o valor do empréstimo. A regra anterior previa patrimônio líquido de 1,3 vez o total do financiamento. A exigência de ativos totais caiu de 2,8 para 2 vezes o valor do empréstimo.

Também foi alterada a projeção de aumento de tráfego nas rodovias a serem concedidas. A previsão original é que o volume de tráfego cresceria 5% ao ano, em média, durante os 25 anos da concessão. Agora a estimativa é de 4% médios ao ano, considerada mais realista pelo governo e por investidores presentes ao evento.

“Nós caprichamos”, disse Mantega. Segundo o ministro, as mudanças melhoram a equação financeira dos projetos e devem atrair um maior número de interessados. Em sua intervenção, o presidente do BTG Pactual, André Esteves, afirmou que as novas regras “mudam um pouco” a percepção dos investidores em relação ao processo de concessão.

Esteves declarou que a iniciativa do governo se agrega a uma série de indicadores positivos da economia brasileira para tornar o país mais atrativo. Usando a conhecida metáfora do copo pela metade, afirmou que os investidores, principalmente os brasileiros, devem atentar para “a metade cheia”, que, “muito significativa”, inclui inflação sob controle – há sete anos consecutivos dentro da meta do Banco Central -, mudanças no patamar dos juros, crescimento consistente do crédito e da renda. “São condições que, junto com essa iniciativa do governo, devem levar os investidores privados a aceitar o desafio de empregar recursos nesse programa”, defendeu. “Isso é absolutamente transformador no Brasil.”

O presidente do BTG Pactual também mencionou a solidez fiscal do país, com uma dívida líquida em torno de 35% do Produto Interno Bruto, “a menor entre os países do G-20”, o aumento da renda e o crescimento, ainda que lento, da economia. “O Brasil oferece uma escala de possibilidades que poucos países oferecem.”

Com o evento de ontem, o governo deu início a uma série de apresentações, para investidores, de seu plano de investimentos em infraestrutura, complementar ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O “road show” terá agora uma rodada internacional, com apresentações nos dias 26 de fevereiro em Nova York, 1º de março em Londres e mais duas datas a definir, ainda em março, em Tóquio e Cingapura.

A aproximação do governo com investidores privados visa a “acelerar os investimentos e garantir a expertise na execução dos projetos com o apoio da iniciativa privada”, defendeu a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Segundo ela, a intenção do governo é oferecer instrumentos para os investidores e ao mesmo assumir seu papel de regulador e fiscalizador, disposto a errar menos que no passado.

As concessões na área de transporte preveem de investimentos de R$ 370 bilhões no período de 30 anos -prazo de duração dos contratos – com mais da metade dos desembolsos concentrada nos cinco primeiros anos. Esse total não inclui o trem de alta velocidade (TAV), entre Campinas (SP) e Rio de Janeiro, passando por São Paulo. A projeção oficial para construção do TAV é de US$ 35,6 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões).

Serão licitados 10 mil quilômetros de ferrovias, 7,5 mil quilômetros de rodovias (obras de duplicação), além da concessão de mais dois aeroportos (Galeão, no Rio, e Confins, próximo a Belo Horizonte), além de terminais portuários. Os investimentos serão de R$ 42 bilhões em estradas, R$ 91 bilhões em ferrovias. Nos cinco primeiros anos, a rodovias devem receber R$ 23,5 bilhões, ao passo que as ferrovias, R$ 56 bilhões.

De acordo com o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, o país praticamente interrompeu os investimentos em infraestrutura de transporte há 30 anos e tem hoje um déficit de R$ 400 bilhões a R$ 500 bilhões nessa área. Assim, o país terá de lançar novos programas para investir além dos R$ 370 bilhões projetados na atual ofensiva, defendeu.

O governo também apresentou oportunidades de investimento na área de energia. O presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Mauricio Tolmasquim, afirmou que serão contratados R$ 148 bilhões em projetos na área de energia elétrica, sendo que cerca de R$ 120 bilhões serão direcionados para o segmento de geração. Um dos principais projetos será a usina de São Luiz dos Tapajós, no Pará, com 6.133 MW de capacidade, cujo leilão poderá ser realizado em 2014. Tolmasquim destacou que está otimista com perspectivas de exploração de gás não convencional, o que poderá viabilizar o acréscimo da oferta interna do insumo, seja para térmicas, seja para consumidores industriais.

O diretor-presidente do Valor, Alexandre Caldini, afirmou que a aproximação entre governo e iniciativa privada é benéfica e necessária. Historicamente, lembrou, a relação entre os dois setores têm sido marcadas por “desconfianças mútuas, muitas vezes justificadas”. Ele mencionou que medidas como a queda dos juros, a desoneração da folha de pagamento e a redução do preço da energia são exemplos de ações do governo originadas no diálogo com a sociedade. Segundo ele, esse encontro entre o público e o privado tende a tornar o “mais forte, dinâmico e competitivo”.


Inflação dos alimentos desafia governo

Valor Econômico

Na semana passada, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, convocou os representantes do Ministério da Agricultura e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para uma reunião com o objetivo de pôr em prática a estratégia de vender estoques públicos de grãos para conter a inflação dos alimentos – apontada pelo governo como um dos principais fatores para a elevação de 5,84% no IPCA em 2012.

Gleisi foi avisada, porém, que a Conab não tem estoques suficientes para levar a ideia adiante, apesar do crescimento contínuo da produção de grãos nos últimos anos. Hoje, a estatal praticamente não tem milho e feijão em seus armazéns e conta com apenas 756 mil de toneladas de arroz, o suficiente para um mês de consumo. O efeito da venda desse volume de arroz sobre os preços no varejo seria inócuo, já que a safra está sendo colhida e as cotações tendem a cair naturalmente nos próximos 45 dias.

Diante da impossibilidade de vender estoques públicos, o governo começou uma ofensiva para coordenar as expectativas do mercado. Na segunda-feira, em discurso a produtores rurais no Paraná, a presidente Dilma Rousseff enfatizou que não faltará crédito para a agricultura brasileira neste ano. “Se gastarem o dinheiro, terá mais. O que gastarem, nós cobrimos. Estamos oferecendo 115 aqui, 18 ali, tudo bilhão “, disse ela, durante o Show Rural, evento promovido pela cooperativa Coopavel.

Ontem, também em entrevista a uma emissora de rádio do Paraná, a presidente disse que o governo está estudando desonerar integralmente a cesta básica dos tributos federais. À tarde, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, declarou que a safra 2012/13 de grãos, até então estimada pela Conab em 180 milhões de toneladas, deve alcançar 185 milhões. Um conjunto de notícias que acalmaria os preços e, portanto, as expectativas de inflação.

A Conab só tem autorização legal para adquirir produtos no mercado quando as cotações estão mais baixas do que as fixadas pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). O Ministério da Agricultura compra os excedentes ou financia a estocagem, sempre que o preço de mercado cai abaixo do mínimo. Para aquisições acima desse valor, é necessária autorização por Medida Provisória (MP).

No mês passado, governo editou a MP 603, que autoriza, em caráter excepcional, neste ano, a aquisição de até 300 mil toneladas de milho em grão, ao preço de mercado, por meio de leilões, para recompor os estoques públicos.

O objetivo dessa MP é o de ofertar milho diretamente para pequenos criadores de aves, suínos, bovinos, caprinos e ovinos sediados nos municípios da área de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), por causa da longa estiagem. A ajuda, porém, não deve sair do papel devido à proximidade da colheita de milho.

Com a alta dos preços das principais commodities agrícolas nos últimos anos, os gastos do governo para manter os valores mínimos vêm caindo. Para aquisições por meio da PGPM, o governo chegou a gastar R$ 3,1 bilhões em 2009. Em 2012, ano de alta nas commodities, a despesa foi bem menor, de R$ 568 milhões. Em 2013, o ministério estima que um gasto ainda mais modesto, abaixo de R$ 300 milhões.

A carência de estoques não é culpa apenas dos preços altos. Na avaliação da Presidência da República, o Ministério da Agricultura não agiu no momento adequado nas aquisições. No início de 2012, a Conab recomendou ao ministério a compra de milho para formação de estoque, o que não foi feito. A pasta não considerou que haveria gargalos de abastecimento no ano, devido à safra recorde de milho, que foi de 72,9 milhões de toneladas.

Agora, no curto prazo, não há condições de reforçar os estoques de grãos. Por isso, a Conab decidiu que vai aumentar o preço mínimo do feijão e da farinha de mandioca para incentivar o plantio dessas culturas. O feijão perdeu área no Paraná para a cana-de-açúcar, e a seca no Nordeste está prejudicando a produção tanto do grão quanto da mandioca.

Na reunião da semana passada, a ministra-chefe da Casa Civil perguntou para os representantes do ministério da Agricultura por que a Conab não vendeu arroz em dezembro, quando o preço estava subindo.

A resposta foi que o ministério havia decidido suspender um dos leilões marcados para janeiro, contra a recomendação da Conab, atendendo a um pedido de deputados da bancada ruralista e da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que temiam uma desvalorização do produto.

Não foi o que aconteceu. A saca de 50 quilos custa atualmente R$ 50,86 em Mato Grosso, longe do preço mínimo – R$ 28,23. No Rio Grande do Sul, o valor está em R$ 33,45, com o preço mínimo a R$ 25,28. O cereal subiu 36,6% em 2012.

A alta do arroz, porém, não é o problema que mais preocupa o governo. O feijão carioca, variedade mais consumida no país, registrou aumento de 31,53% no ano passado. O feijão preto, segundo mais consumido, subiu 44,20%. Ao contrário do arroz, que deve cair nos próximos meses, o feijão trilha o caminho contrário e, para piorar, os estoques são irrisórios. A Conab não comprou feijão em 2012, pois o produto já estava acima do preço mínimo devido à estiagem que atingiu o Sul e Nordeste do país.


Fim de IPI reduzido diminui otimismo do comércio

Valor Econômico

O fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) provocou o recuo da confiança do comércio nos últimos três meses, de acordo com Aloísio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O Índice de Confiança do Comércio (Icom) registrou, no trimestre encerrado em janeiro, 126,1 pontos. No trimestre encerrado em dezembro estava em 130,3 pontos. Apesar da queda, o resultado indica ritmo de atividade entre moderado e forte no setor.

Na visão de Campelo, o resultado negativo é concentrado nos setores do comércio que estão sendo afetados pelo aumento gradual do IPI de automóveis e eletrodomésticos desde 1º de janeiro e mostra que a percepção negativa desses segmentos industriais chegou ao comércio.

Nos setores do varejo com produtos mais relacionados ao nível de renda não houve uma piora expressiva do nível de confiança. A queda é mais concentrada nos bens duráveis, onde estão os segmento de veículos, motos e peças, no qual o índice caiu de -2,5% em dezembro para -7,6% em janeiro, móveis e eletrodomésticos (de -15,6% para -21,2%), e material para escritório e informática (recuo de 1,5% para -10,4%). “Essa oscilação, muito conectada com o IPI, estava mais na indústria. Agora se manifesta também no comércio, onde as expectativas pioraram muito”, diz o economista do Ibre.

Na comparação com janeiro de 2012, no entanto, o Icom ficou estável. Para Campelo o resultado é uma boa notícia para a economia e mostra que os setores do comércio ligados aos bens não duráveis mantêm uma expectativa muito próxima ao que tinham no ano passado. A confiança dos comerciantes de bens não duráveis aumentou 1,4% em relação a janeiro de 2012. Entre os comerciantes de bens duráveis, caiu 3,5%.

“O que a gente está vendo é um comércio mais tradicional vendendo no mesmo nível”, avalia Campelo. “Há expectativas ainda favoráveis nos segmentos menos ligados ao crédito. Mas nos setores de bens duráveis deve haver desaceleração”, prevê. Ele acredita que o estímulo ao crédito para incentivar o consumo não deve conseguir manter o ritmo de vendas de bens duráveis ao longo do primeiro semestre. “Se o cenário internacional for mais constante, pode-se esperar que o nível de vendas dos bens duráveis tenha alguma recuperação. Mas as famílias ainda estão endividadas”, ressalta. Para Campelo, o cenário mostra que a economia brasileira precisa voltar a investir para crescer neste ano.

No varejo restrito, que exclui veículos e material de construção, o índice de confiança caiu 1,2% em janeiro ante janeiro de 2012. No varejo ampliado houve queda de 0,7% na mesma base de comparação.


Custo de logística é estimado em 10,6% do PIB

Valor Econômico

Para reduzir o custo de logística do país, estimado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) em 10,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quase 50% mais alto do que o verificado nos Estados Unidos, o governo federal irá acelerar a transferência de parte de sua malha rodoviária à iniciativa privada.

Em agosto, foi anunciada a retomada da terceira etapa de concessões, que envolve 7,5 mil quilômetros de estradas federais que cortam oito Estados (Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal). Os nove trechos a serem concedidos receberão no total R$ 42 bilhões, sendo que R$ 23,5 bilhões serão investidos em cinco anos, e R$ 18,5 bilhões em 20 anos. “A retomada é um sinal muito positivo para o setor”, diz o presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), Moacyr Duarte.

Segundo as regras estipuladas pelo governo nestas concessões, os investimentos nas rodovias serão concentrados nos primeiros cinco anos, com foco na aplicação de recursos em duplicações, contornos, travessias e obras de arte. O vencedor da licitação será o que oferecer a menor tarifa de pedágio, que só começará a ser cobrada quando 10% das obras estiverem concluídas. A expectativa é de que os primeiros lotes sejam leiloados até o fim do primeiro semestre.

Para gerenciar os projetos e as obras, o governo criou a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), em moldes semelhantes ao da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), que faz o planejamento do setor elétrico desde 2004. Se de um lado o governo busca conceder mais lotes de rodovias, de outro trabalha para colocar de pé mais de dez mil quilômetros de trilhos, para aumentar a participação das ferrovias no transporte de cargas, o que terá impacto sobre o modal rodoviário. “Se todos os projetos de ferrovias saírem mesmo, uma parte das cargas poderá ir para os trilhos e reduzir a participação geral das rodovias”, diz o diretor do Ilos, Paulo Fleury.

Nos Estados Unidos, 43% da circulação de cargas é feita por ferrovias e 32% pelas estradas, enquanto na China 50% é feita pelas rodovias e 37% por trilhos. No Brasil, quase 60% das cargas trafegam sobre rodas. Pior: sem contabilizar o transporte de minério de ferro, feito exclusivamente por trilhos e um dos principais produtos exportados pelo país, o modal rodoviário responderia por 73% da circulação de mercadorias, com as ferrovias respondendo por 5% e o transporte aquaviário por 16%. As condições das estradas brasileiras são ruins. Dos 1,7 milhão de quilômetros que cortam o país, apenas 200 mil quilômetros são pavimentados, sendo que desse montante cerca de 50 mil quilômetros estão nas mãos da União. “O Brasil precisa melhorar muito sua malha rodoviária, e os recursos privados são importantes nessa equação de melhoria”, afirma Fleury, do Ilos.

A ampliação dos investimentos em ferrovias e rodovias deverá manter uma tendência em alta: o crescimento dos serviços de operadores de logística, segmento que vem crescendo a dois dígitos anuais. “A multimodalidade tenderá a crescer, criando oportunidades para prestadores de serviços logísticos”, afirma Fleury. Com a malha férrea crescendo no Centro-Oeste e no Nordeste, um produtor de soja que mandava toda sua safra pela rodovia agora ganha uma nova opção. “Se ele estiver a 300 quilômetros da ferrovia, precisará de transporte rodoviário e armazenamento da sua carga até os trilhos”, exemplifica Fleury.

As 142 maiores empresas do setor faturaram R$ 48 bilhões em 2011, 20% de alta sobre 2010. A expansão tem se dado pela terceirização de operações a empresas especializadas na área. “Há espaço para ampliar esse mercado, porque as deficiências da malha de transporte pesam no bolso do setor produtivo”, diz Fleury. Pesquisa do Ilos aponta que, em 2008, 37% das empresas faziam elas próprias sua logística, enquanto 63% contratavam prestadores de serviços. Três anos depois, 69% das consultadas contratavam serviços de terceiros. Nos EUA, esse percentual está em 47%. Há uma grande pulverização de operadoras logísticas no Brasil. No setor rodoviário, estima-se que haja mais de 200 mil transportadoras, sendo que 75% delas possuem até cinco caminhões. A idade média da frota de caminhões é antiga: estava em 17,6 anos em 2011. Diante de clientes cada vez mais exigentes, ganhar mercado pressupõe ter serviços diferenciados e maior profissionalização da gestão.

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