Brasília e Moscou reduzem barreiras

Brasil e Rússia assinaram ontem protocolo de cooperação que abre espaço para o fornecimento de farelo de soja brasileiro para o mercado russo. Paralelamente, os dois países firmaram acordo sobre requisitos fitossanitários que possibilitarão a importação de trigo da Rússia pelo Brasil. Os entendimentos foram anunciados durante a visita a Brasília do primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, que foi recebido ontem pela presidente Dilma Rousseff , no Palácio do Planalto.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), a Rússia já pode importar soja do Brasil, mas os requisitos fitossanitários são tão rigorosos que os negócios praticamente não fluem. Em 2011, as exportações para o mercado russo foram de apenas 120 mil toneladas, um volume insignificante perto das mais de 30 milhões de toneladas embarcadas anualmente para todo o mundo. Os negócios com farelo são praticamente inexistentes.

Uma fonte do governo brasileiro informou ainda que técnicos da Rússia iniciarão na próxima semana inspeções em frigoríficos de Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, os três estados que ainda enfrentam restrições para exportar carne ao mercado russo, principal destino do produto nacional. O Ministério da Agricultura anunciou no final de novembro a suspensão do embargo, mas Moscou ainda manteve algumas restrições.

País compra baterias antiaéreas

O país vai comprar cinco ou seis baterias antiaéreas russas para reforçar a capacidade de defesa do país e proteger a cidade do Rio de Janeiro durante as Olímpíadas de 2016. A aquisição está prevista em um dos acordos de cooperação assinados ontem entre Brasil e Rússia, durante a visita a Brasília do primeiro ministro russo, Dmitry Medvedev. O acerto contempla a transferência integral de tecnologia para a indústria bélica nacional. O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, explicou que a produção dos equipamentos poderá ser iniciada, na Rússia, em até três meses. A fabricação no Brasil, começará com itens mais simples e ficará a cargo de um grupo de empresas coordenadas pela Odebrecht Defesa. Em alguns anos, as companhias brasileiras poderão produzir peças mais sofisticadas.


Empresas não chegam a acordo sobre texto de MP dos portos

O Globo

As empresas que atuam nos portos brasileiros não chegaram ontem a uma posição comum em defesa da aprovação da Medida Provisória 595, que reformula o setor e abre o caminho para investimentos de R$ 54,2 bilhões. Na instalação da Comissão Mista que debaterá a MP, a discussão começou com forte oposição dos representantes dos trabalhadores, mas ainda sem uma defesa enfática e uniforme das empresas que dependem do setor portuário.

Alguns setores empresariais resistem em apoiar a MP, temendo a intervenção do Estado em suas operações, via Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), e apontam a falta de vantagens competitivas para os atuais operadores, principalmente industriais, em relação a novos participantes como exemplo de problema no texto.

Participaram da reunião de ontem do empresariado as associações de terminais portuários (ABTP), de contêineres (Abratec), o Instituto Aço Brasil, as confederações nacionais da Agricultura (CNA) e da Indústria (CNI), além da Federação Nacional dos Operadores Portuários (Fenop). Apesar de não ter surgido um entendimento comum, o diretor presidente da ABTP, Wilen Manteli, espera que um acordo seja firmado já na próxima semana, quando os grupos ficaram de se reunir novamente.

– Havia um princípio de não entendimento da MP, mas as divergências diminuíram muitíssimo e acho que estamos perto de um ajuste bastante saudável para o setor empresarial – disse.

A senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA, disse que, se a MP não for aprovada, o setor portuário sofrerá um apagão em até sete anos, quando deve dobrar a demanda pelo transporte de contêineres nos portos. O Palácio do Planalto entende que exportadores e empresários nos portos têm de estar unidos em favor da essência do texto da MP, ainda que sejam necessários ajustes, para que seja aprovado no Congresso.

Trabalhadores dos portos dificultaram a instalação da comissão mista ontem e prometeram fazer uma greve no Porto de Santos amanhã, entre outros motivos, por serem contrários a previsões da MP. A comissão mista que avaliará a MP foi instalada tendo como relator o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), e o líder do PT na Câmara, José Guimarães, como presidente. Braga receberá representantes dos trabalhadores portuários na próxima semana.

Kátia Abreu está otimista quanto à aprovação da MP 595, mas disse que o Brasil só já não vive um apagão portuário porque o crescimento do ritmo de cargas desacelerou nos últimos anos, diante da crise internacional. Apesar de a maior parte dos produtos agropecuários ainda ser exportada a granel, a presidente da CNA prevê uma tendência de uso cada vez maior de contêineres – inclusive para café, soja e carne.


Produtividade cai mais no Brasil

O Estado de S. Paulo

A produtividade do trabalha­dor brasileiro caiu “dramatica­mente” em 2012. A constata­ção é do centro de pesquisas Conference Board. Levantamento anual diz que o fraco crescimento do PIB e o contínuo aumento do emprego explicam a piora do desempenho nacional no ano passado.

“O declínio mais dramático na América Latina foi no Brasil, que mostrou queda no nível de pro­dução por pessoa empregada de 0,3% em 2012 após a desaceleração vista em 2010 e 2011”, destaca o relatório. Com isso, a produtividade média do brasileiro ficou em 18,4% do desempenho médio de um trabalhador norte-americano. O movimento foi na contramão da tendência global, já que a produtividade média mundial subiu 1,8% no ano, para 26,2% do observado nos EUA.

A pesquisa argumenta que a piora brasileira é fruto do fraco crescimento econômico somado à contínua melhora do mercado de trabalho. Ou seja, a produtividade caiu porque o número de trabalhadores aumentou em ritmo maior que a produção. Assim, cada empregado acabou produzindo menos que um ano antes. “A economia brasileira se deteriorou rapidamente sob a influência da desaceleração global, o que revelou a fraqueza interna que não era visível sob as elevadas taxas de crescimento dos anos anteriores”, destaca o relatório.

O estudo também calcula a eficiência do uso dos recursos de toda a economia – o que leva em conta, além do trabalho, outros fatores como infraestrutura, tecnologia e inovação. O chamado fator de produtividade total do Brasil caiu 1,8% no ano passado, também pior que outros emergentes e economias maduras. Sob essa ótica mais ampla, o estudo cita que “os principais problemas dizem respeito à infraestrutura inadequada, pouco investimento em novas máquinas e equipamentos, impostos elevados sobre o trabalho e melhora lenta na qualificação dos trabalhadores e da gestão”.

Comparação

O resultado da produtividade do brasileiro foi o segundo pior na América Latina, só à frente da Bolívia, país em que indicador médio ficou em 11,4% na comparação com um norte-americano, (veja outros países no quadro).

Em todos esses países emer­gentes, porém, o índice subiu em 2012. A produtividade dos chine­ses, por exemplo, saltou 7,4% em um ano.

O estudo do Conference Board compara a produtividade de trabalhadores de vários países do mundo em relação aos EUA. Por ser a referência do estudo, a produtividade de um norte-americano é usada como padrão. Portanto, de 100%.

Apesar de a economia do Brasil ter crescido a um ritmo mais rápido nos últimos anos, a produtividade não reagiu. Pelo contrário, o estudo mostra que a produção média por trabalhador brasileiro tem crescido menos que o visto em outros grandes emergentes desde 1996.

De acordo com o estudo, a produtividade média do brasileiro subiu 0,4% por ano no período entre 1996 e 2005. Esse ritmo é o pior entre os grandes emergentes citados pelo estudo. Nesse grupo, todos apresentaram desempenho melhor: Rússia, com expansão média da produtividade de 3,8% por ano, Índia (+4,3%), China (+7,1%), México (+14%), Indonésia (+1,1%) e Turquia (+4,6%).

Segundo o Conference Board, a produtividade dos brasileiros melhorou entre 2006 e 2011, quando, na média, o indicador subiu anualmente 2%. Mesmo com essa reação, o ritmo continuou aquém do visto em outras grandes economias emergentes: Rússia (+3,4%), índia (+5,9%), China (+10,4%) e Indonésial (+3,1%).


Consumo interno de máquinas continuou estagnado no 4º tri

Valor Econômico

Depois de cinco trimestres seguidos de queda do investimento, o consumo doméstico de máquinas continuou estagnado no último trimestre. As projeções de cinco economistas consultados pelo Valor para a evolução do consumo aparente de bens de capital oscilam entre menos 1% e mais 1%. O volume importado desses itens subiu com força em relação ao terceiro trimestre, mas a produção interna, prejudicada por acúmulo excessivo de estoques, seguiu em terreno negativo no período.

Para um grupo de analistas, o resultado dessa equação foi novo recuo da absorção interna de máquinas, o que sinaliza mais uma retração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil), embora menor do que o tombo de 2% observado no terceiro trimestre.

Outros economistas afirmam que a alta em torno de 10% das importações de bens de capital entre o terceiro e o quarto trimestres, em termos dessazonalizados, foi suficiente para compensar a queda de 2% da produção interna na mesma comparação, o que culminou em alta da demanda por esses bens. Mesmo entre esses especialistas, porém, há a percepção de que é cedo para apontar uma retomada mais consistente do investimento já a partir do último trimestre, tendo em vista a lenta recuperação da confiança do empresariado e dúvidas persistentes quanto ao ritmo de crescimento da atividade.

Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, calcula que, mesmo com avanço de 9% das compras externas, o consumo interno de bens de capital – que soma a produção nacional, descontada a exportação, às importações – caiu 1% na passagem trimestral, na série com ajuste sazonal. No terceiro trimestre, esse recuo havia sido mais intenso, de 2,7%, trajetória que também deve ocorrer com o investimento. Ele projeta contração de 0,5% desse componente do Produto Interno Bruto (PIB) entre outubro e dezembro na comparação com os três meses anteriores.

Para Bicalho, há “dados mistos” no conjunto de informações que determinam o investimento, com sinais positivos vindos do aumento das encomendas relatado pela indústria do setor e uma procura maior por linhas de crédito do BNDES. Por outro lado, ainda persiste uma fraqueza da produção, que encolhe há cinco meses, enquanto a atividade de construção civil, que representa cerca de 40% da formação bruta, caiu 1% na passagem do terceiro para o quarto trimestre, de acordo com seus cálculos.

Em sua opinião, fatores que adiaram decisões de investir ao longo do ano seguiram presentes no último trimestre, com destaque para a incerteza quanto à velocidade de retomada da economia. Assim, mesmo com o menor custo de capital e medidas como a depreciação acelerada para compra de máquinas e redução agressiva de juros de linhas do BNDES, o investimento, mais uma vez, não decolou. “Essas medidas evitaram um resultado um pouco mais fraco, mas a tendência é que seu impacto comece a aparecer de forma mais importante a partir de agora.”

O economista-chefe da LCA Consultores, Braúlio Borges, afirma que uma alta atípica de 17% do volume exportado de bens de capital no quarto trimestre, provocada pela venda de três plataformas de petróleo que continuam operando no Brasil, prejudicou a absorção interna desses produtos. Segundo seus cálculos com ajuste sazonal, o consumo doméstico de máquinas caiu 0,3% entre o terceiro e o último trimestre. Sem essa operação contábil da Petrobras, Borges estima que essa variação teria sido positiva em 3%.

Ele avalia que o avanço de dois dígitos das importações de máquinas, que cresceram 11% na passagem trimestral em suas contas, já aponta para um cenário mais favorável ao investimento. Para os últimos três meses de 2012, porém, a LCA projeta estabilidade da formação bruta, o que resultaria em queda de 4,3% do investimento no ano passado, maior retração desde 2009. “A desaceleração da economia influenciou negativamente o investimento privado e o governo demorou a tomar medidas, mas acho provável que em 2013 não haja frustração”, afirmou Borges.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse recentemente que os desembolsos saltaram “mais de 25%” em janeiro em relação ao mesmo mês de 2012, variação vista por economistas como indício de que o aumento de 60% das consultas observado no ano anterior começou a se materializar. Rodrigo Baggi, analista da Tendências Consultoria, nota que, no ano passado, o valor das consultas, que chegaram a R$ 312,3 bilhões, superou em quase 50% o dos desembolsos. “Esse dado precisa ser olhado com cautela, mas esses investimentos podem ocorrer ao longo de 2013.”

A indústria do setor tem relatado um nível maior de encomendas, diz Baggi, mas a produção não reagiu devido ao elevado nível de estoques. Assim, mesmo com aumento das importações, ele calcula que, feito o ajuste sazonal, o consumo aparente de máquinas caiu 0,9% no quarto trimestre ante o terceiro. A consultoria ainda não tem uma projeção fechada para a evolução da formação de capital físico no período, mas, a partir dos dados da absorção doméstica, a expectativa é de nova queda. “Houve uma melhora relativa em relação ao segundo e ao terceiro trimestres, mas ela ainda é bem morna.”

Fernando Rocha, economista e sócio da JGP Gestão de Recursos, faz análise semelhante, apesar de seus cálculos apontarem para alta de 0,8% no consumo de bens de capital entre o terceiro e o quarto trimestres. Esse movimento, segundo Rocha, é suficiente para interromper a sequência de quedas trimestrais da formação bruta, que subiu 1,3% no último trimestre nas projeções da JGP. Mesmo assim, o analista não vê uma virada no jogo para o investimento.

Em sua visão, há uma recuperação da formação de capital fixo em curso. A questão, no entanto, é em que velocidade se dará essa reação, limitada, segundo Rocha, por amarras já conhecidas, como o alto custo de mão de obra, o baixo nível de poupança interna e a perda de competitividade da indústria, que reduziram o crescimento potencial da economia brasileira para algo próximo de 3%. Assim, diz o analista da JGP, para uma expansão nesse nível esperada para o PIB este ano, o investimento deve crescer dentro desse ritmo.

A partir dos dados dos últimos três meses de 2012, Fabio Ramos, da Quest Investimentos, avalia que o pessimismo em relação ao ambiente macroeconômico foi reduzido. Em suas contas, o consumo aparente de bens capital teve alta de 0,7% ante o trimestre anterior, sempre com ajuste sazonal. “Isso não quer dizer que entramos em um cenário muito otimista. A confiança da indústria está voltando, mas ainda é uma volta lenta”, disse.


61,5% das famílias se dizem endividadas, revela pesquisa

Valor Econômico

A parcela de famílias endividadas no país retomou trajetória de alta em fevereiro, impulsionada por gastos extras, como pagamento de taxas e reajustes de preços que ocorrem nesta época do ano. É o que mostra a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional), divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Em universo de 18 mil pesquisados, o percentual de famílias que se declararam endividadas este mês foi de 61,5%, resultado acima do verificado em janeiro (60,2%) e também superior ao de fevereiro do ano passado (57,4%).

O levantamento mostrou que o endividamento em fevereiro foi mais forte entre aquelas de menor poder aquisitivo. Nas famílias com renda até dez salários mínimos, o percentual com dívidas alcançou 63,1% em fevereiro de 2013, ante 61,5% em janeiro de 2013; e 58,4% em fevereiro de 2012.

Nas famílias com renda acima de dez salários mínimos, a parcela de endividados diminuiu de 54,2%, em janeiro, para 54% em fevereiro. Em relação a fevereiro do ano passado, o percentual de famílias com dívidas nesse grupo de renda era menor, de 50,6%.

O cenário acendeu sinal de alerta para os níveis de inadimplência. A fatia de famílias que declararam ter dívidas ou contas em atraso, em fevereiro, foi de 22,1% – acima de janeiro de 2013 (21,2%). A parcela de famílias que admitiram não ter condições de quitar seus débitos também subiu de 6,6% para 7% entre janeiro e fevereiro deste ano.


Acordo limita soberania na zona do euro

Valor Econômico

Um elemento-chave dos planos de garantir a disciplina das políticas econômicas na zona do euro foi resolvido ontem, depois de um ano de negociações entre os governos europeus e os legisladores do Parlamento Europeu.

As novas regras, chamadas de “two-pack” (algo como “pacote duplo”) pelos burocratas da União Europeia (UE), obrigarão governos da zona do euro a avisar Bruxelas sobre os seus planos orçamentários e dão à Comissão Europeia, braço executivo da UE, mais condições de supervisionar os países sob risco de crise financeira.

As regras são o último grande esforço para impor disciplina às políticas econômicas sob os tratados atuais da UE. Elas se seguem a um pacto fiscal do ano passado, que obriga os governos a buscar orçamentos equilibrados e a introduzir uma série de reformas, aprovadas em 2011, que permitem que Bruxelas repreenda com sanções os países-membros recalcitrantes.

O acordo de ontem foi alcançado após os legisladores terem recuado em seus esforços de persuadir a Comissão Europeia a apoiar alguma forma de dívida comum da zona do euro. A Alemanha se opôs fortemente à iniciativa.

Em vez disso, a comissão concordou em criar um grupo de especialistas que deve apresentar, até março de 2014, um parecer sobre um possível fundo regional de resgate de dívida, no qual alguns débitos nacionais poderiam ser agrupados e gerenciados. O acordo de ontem ainda precisa ser ratificado pelos governos e legisladores europeus, o que provavelmente ocorrerá ao logo das próximas semanas.

O comissário para assuntos econômicos da UE, Olli Rehn, disse que quaisquer passos futuros com relação a agrupamento de dívidas “devem andar de mãos dadas com uma maior disciplina fiscal e integração” na política econômica.

Ele disse também que as regras devem dar à zona do euro “uma estrutura mais integrada e efetiva para a definição de políticas”.

Essas regras surgem num momento em que os déficits governamentais estão gradualmente diminuindo e a crise de dívida da região arrefece um pouco. Contudo, muitas economias europeias estão definhando com a recessão e estão crescendo os apelos para que a UE promova iniciativas que priorizem o crescimento sobre a disciplina.

Isso define o cenário para a longa batalha entre legisladores e países-membros com relação a quais medidas o “two-pack” deveria conter.

Sob as regras, os integrantes da zona do euro terão de submeter os seus planos de orçamento para a comissão até o dia 15 de outubro do ano anterior à sua vigência. A executiva da UE pode então publicamente discutir mudanças se considerar que o plano irá tirar o país do rumo com relação ao seu déficit.

As propostas também dão à comissão poder para pressionar por mudanças nas políticas quando as autoridades acreditarem que o país corre o risco de instabilidade financeira. A comissão pode solicitar dados mais detalhados, incluindo testes de estresse dos bancos, com o objetivo de prevenir que países como a Espanha, que tinha posições fiscais relativamente saudáveis, sofra um colapso do sistema financeiro. Países como a Irlanda e a Grécia, já em programas de resgate, continuarão sujeitos à vigilância da comissão quando saírem deles.

Houve um certo enfraquecimento das propostas originalmente feitas pela comissão. A executiva da UE não ganhará o poder de recomendar a um país-membro que ele busque um programa de ajuda financeira – iniciativa que poderia exercer enorme pressão sobre país.

Os legisladores retiraram a promessa de que a comissão buscará proteger os investimentos públicos em educação e saúde quando fizer recomendações orçamentárias. E a comissão prometeu propor um fundo em 2013 para ajudar os países-membros a empreender reformas profundas nas estruturas das suas economias.

“Países que hoje estão fazendo sacrifícios sobre-humanos precisam saber que seus esforços são reconhecidos e serão recompensados”, disse Elisa Ferreira, legisladora portuguesa do Parlamento Europeu que participou da elaboração do texto.


Ritmo da expansão global dos transgênicos arrefece

Valor Econômico

Embora o plantio global de safras transgênicas tenha batido recorde, o ritmo de adoção da tecnologia perdeu fôlego em 2012, em um sinal de consolidação dos mercados tradicionais.

No ano passado, a área ocupada com sementes geneticamente modificadas cresceu 6%, para 170,3 milhões de hectares, segundo o ISAAA, lobby científico financiado pelas multinacionais de biotecnologia agrícola. Trata-se da menor taxa de expansão pelo menos desde 2001 – em 2010 e 2011, o aumento foi de 10,4% e 8,1%, respectivamente.

Nos Estados Unidos, maior mercado agrícola do mundo, o cultivo de transgênicos cresceu menos de 1% no ano passado (para 69,5 milhões de hectares), depois de avançar 3,3% no ano anterior. Mercados relevantes como Argentina (23,9 milhões de hectares), Índia (10,8 milhões) e China (4 milhões) também ficaram perto da estagnação.

A principal exceção à regra foi o Brasil, que respondeu, sozinho, por 60% de todo o aumento na área plantada com transgênicos no mundo. Em 2012, a adoção da tecnologia no país avançou quase 21%, de 30,3 milhões para 36,6 milhões de hectares.

A expansão dos transgênicos no mundo ainda esbarra em resistências por parte de ambientalistas e autoridades de segurança alimentar, sobretudo na União Europeia, onde o uso da tecnologia continua virtualmente vetado. Mesmo na Índia, quarto maior produtor mundial de transgênicos, o uso da tecnologia ainda é restrito ao plantio de algodão.

Quase duas décadas depois que a Monsanto lançou suas primeiras sementes de soja resistentes ao herbicida glifosato, nos Estados Unidos, apenas 28 países plantam transgênicos – em 2011, eram 29 – e apenas 9 cultivam mais de 2 milhões de hectares. Destes, três – Estados Unidos, Brasil e Argentina- respondem por 75% de toda a área “convertida” à transgenia.

Nesses mercados, o nível de adoção da tecnologia já se aproxima de um limite. Nos Estados Unidos, mais de 90% das lavouras de soja e milho já são geneticamente modificadas. No Brasil, estima-se que quase 90% das lavouras de soja e 75% das de milho contenham a tecnologia.

Além disso, ainda não há no mercado variedades geneticamente modificadas para culturas como arroz, trigo e cana-de-açúcar, que ocupam centenas de milhões de hectares em todo o mundo – o ISAAA espera que a primeira variedade transgênica de arroz seja lançada nas Filipinas em 2013/14.

Tudo indica que a próxima fase de crescimento acelerado na adoção de transgênicos dependerá do amadurecimento de tecnologias para a Ásia. Só na China, afirma a ISAAA, a adoção de milho transgênico pode abrir um mercado de 30 milhões de hectares para as multinacionais de sementes.

Categoria