PIB cresce menos no governo Dilma do que com Lula e FHC

Nos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff, a economia cresceu num ritmo mais lento do que nos mandatos de Lula e de FHC. Os presidentes deveriam ser cobrados mais pelo que fazem para melhorar as perspectivas de expansão de longo prazo do Produto Interno Bruto (PIB) do que pelas suas flutuações de curto prazo. Mesmo sob esse critério, porém, os números de 2012 divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) causam preocupação, dada a retração nos investimentos.

A economia brasileira cresceu 0,9% em 2012, abaixo dos 2,7% observados em 2011. Na média, o avanço do PIB no governo Dilma, até agora, ficou em 1,8%. É menos da metade da média de 4% registrada nos oito anos de Lula e atrás dos 2,3% de FHC.

Em grande parte, o fraco crescimento reflete fatores cíclicos. Em 2010, o PIB aumentou 7,5%, acima das estimativas mais otimistas sobre o PIB potencial, levando à aceleração da inflação. O Banco Central, que se manteve inerte no fim do governo Lula, foi obrigado a subir a taxa básica de juros nos primeiros meses do mandato de Dilma. O aperto monetário foi o principal responsável pela desaceleração econômica de 2011.

O Banco Central mudou a direção da política de juros em fins de 2011, mas, ao contrário do esperado, a distensão monetária não foi capaz de reanimar o PIB. Entre as várias teorias que tentam explicar esse fenômeno, uma das mais plausíveis é a de que os mecanismos de transmissão da política monetária não funcionaram. O acirramento da crise na Europa atrapalhou a propagação do estímulo pelo canal das expectativas. O aumento da inadimplência nos empréstimos bancários, por outro lado, causou certa obstrução no canal do crédito.

Para aferir o desempenho do governo Dilma na economia, o dado divulgado pelo IBGE mais revelador é a retração de 4% no investimento em 2012. A acumulação de capital é um dos determinantes da tendência de crescimento de longo prazo do PIB, ao lado da expansão da oferta de mão de obra e dos ganhos de produtividade. A taxa de investimento foi de 18,1% do PIB em 2012, bem abaixo da faixa entre 21% e 25% que economistas afirmam necessária para aumentar o PIB potencial acima de 4%.

O IBGE mostra que, em vez de investimentos, mas uma vez o crescimento da economia foi puxado pelo consumo, com avanço de 3,1%, num modelo que muitos afirmam ter se esgotado. O consumo do governo cresceu 3,2%. Na ótica da oferta, a indústria se retraiu 0,8%, os serviços cresceram 1,7% e a agricultura caiu 2,3%. As exportações avançaram 0,5% e as importações apresentaram redução de 0,2%.

Boa parte da queda dos investimentos, é justo reconhecer, deve-se a fatores cíclicos. Esse é o componente mais volátil do PIB, subindo mais forte nos ciclos de expansão e caindo com mais vigor nas contrações. A desaceleração econômica induzida pelo Banco Central no começo de 2011 e a crise internacional levaram ao adiamento de planos de investimento das empresas.

Há razões para supor, porém, que escolhas de política econômica do governo Dilma tenham tido repercussões na chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). A discussão tarifária no setor de energia elétrica, por exemplo, foi anunciada em meados de 2012 e sua resolução levou meses. A Petrobras reduziu a produção, com efeitos sobre a cadeia do petróleo. O cenário macroeconômico ficou mais incerto e volátil, dificultando o planejamento dos agentes econômicos. Natural que, num ambiente de incerteza, empresas adiem projetos.

É possível que a queda do investimento já esteja criando constrangimentos à ampliação da oferta. Foram quatro trimestres seguidos de contração. Em média, os projetos de investimento levam de cinco a seis trimestres para maturar.

O dado positivo do PIB é que o investimento voltou a crescer no último trimestre de 2012, com uma expansão de 0,5%. Os mais pessimistas dirão que, depois de quatro trimestres de queda, em algum momento a FBCF iria reagir, pois as empresas precisam voltar a investir nem que seja para manter a sua posição de mercado. Mas a retomada dos investimentos, ainda que fraca, não deixa de ser um dado alentador. A grande questão é se a acumulação de capital se firmará num patamar mais alto que permita o Brasil crescer a taxa mais altas.


Na era Dilma, 90% da alta do PIB veio do consumo

Valor Econômico

Em 2010 o empresário Valdemir Dantas começou a pensar em aumentar a produção. O projeto amadureceu e Dantas fez planos para aplicar, em 2012, R$ 20 milhões em uma nova fábrica que dobraria a capacidade da indústria de eletrodomésticos Latina.

O ano passado, porém, decepcionou Dantas. Seu faturamento cresceu em torno de 4% em relação a 2011, em ritmo menor que o da inflação. Ele também viu a margem de lucro se comprimir, porque não conseguiu repassar ao preço o aumento do custo de produção. A nova fábrica não saiu do papel e deve ser levantada somente em 2014. “Ela foi programada para atender a demanda crescente que imaginamos. É um projeto de longo prazo, para mais de uma década. E por enquanto não tenho certeza desse crescimento.”

Dantas não foi um caso isolado. Nos dois anos do governo Dilma Rousseff, o investimento perdeu espaço no Produto Interno Bruto (PIB). No biênio 2011-2012 o crescimento do PIB ficou mais dependente do consumo das famílias do que na gestão Lula, quando esse fator da demanda já era forte.

Nos últimos dois anos, o consumo das famílias garantiu, sozinho, 89,6% da expansão da economia. No governo Lula, essa demanda respondeu por 75% do crescimento do PIB. Por outro lado, a ajuda da Formação Bruta de Capital Fixo, medida do que se gasta em máquinas e construção dentro do PIB, teve queda vertiginosa, saindo de um peso de 37,1% na gestão Lula para míseros 2% na era Dilma, segundo cálculos da MB Associados.

Além da maior dependência do consumo, a gestão Dilma tem até agora, média menor de crescimento – os 4,06% no governo Lula, cederam para 1,8% em 2011 e 2012.

A evolução, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, mostra como o modelo de crescimento dos últimos anos foi baseado em estímulo forte ao consumo. “A Formação Bruta de Capital Fixo, que depende da percepção de potencial de crescimento, não acompanhou o desempenho do PIB.”

O baixo nível de investimento deve ser mantido neste ano, estima Vale. “Se os planos de concessão saírem de forma adequada, é possível que haja uma retomada a partir de 2014.” A política econômica atual, diz, parte da premissa que a expansão do consumo estimula investimentos. “Mas isso não acontece dessa forma. Os investimentos chegam somente se houver regras claras.” Sem isso, o que predomina são “investimentos de manutenção”. Ou seja, aqueles emergenciais, que permitem a continuidade da empresa no mercado ou o aumento de produtividade.

De novo, a fabricante de eletrodomésticos Latina é um bom exemplo. Valdemir Dantas desistiu de aplicar R$ 20 milhões em uma nova fábrica em 2012, mas iniciou no segundo semestre um investimento de R$ 3 milhões para fabricar um produto que deve ser lançado nos próximos meses. O empresário diz que o novo produto é considerado essencial para a empresa manter mercado.

Ao mesmo tempo em que o investimento pode demorar a decolar no país, o modelo de crescimento pelo consumo está esgotado, estima Vale. Os próprios números do PIB mostram isso. No ano passado, o consumo das famílias cresceu 3,1% e ajudou a puxar uma expansão de 0,9%. Em 2010, quando Dantas começou a projetar a fábrica que não saiu do papel, o consumo das famílias cresceu 6,9% num crescimento de 7,5% do PIB. Para Vale, o nível de crédito e a taxa de desemprego muito baixa reforçam a percepção de esgotamento desse modelo.

O consumidor que segurou o crescimento do PIB no ano passado, estima Vale, não é exatamente o mesmo de 2010 e 2011. A elevação do consumo nesses dois anos, diz, foi uma resposta à crise de 2008 e 2009. No biênio 2010-2011, a venda de automóveis cresceu com base em resposta a estímulos de consumo, com crédito praticamente sem restrições, com prazos a perder de vista e entrada zero. “Isso causou grande nível de inadimplência que está se reajustando agora.” O crédito bancário ficou menos generoso em 2012, diz, não só por conta do alto nível de inadimplência gerado anteriormente como também pela política monetária e pela pressão para que os bancos baixassem o spread.

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, uma das medidas de estímulo do ano passado, foi um dos atrativos para o analista de vendas Natanael Souza Ferreira adquirir seu primeiro carro zero quilômetro. Ele pegou financiamento de 48 meses para comprar um Cobalt, mas uma entrada e o carro antigo abateram cerca de 40% do valor do carro.

Também no ano passado o coordenador de vendas André Ferreiro Said comprou seu primeiro carro zero. Para pegar seu veículo, também um Cobalt, fez financiamento por 60 meses e deu seu antigo carro como entrada, que abateu cerca de 40% do valor do veículo. Com 26 anos, Said e sua mulher Daniela adquiriram, na verdade, dois veículos novos em 2012. “Nós tínhamos carros antes, mas eram usados,” diz ele. Em maio, conta Said, o casal usou algumas economias para comprar à vista um automóvel Agile, para Daniela. Empregado há seis anos numa indústria de refrigeração, Said diz que o casal ficou tranquilo ao tomar o empréstimo. “Estava seguro porque me sinto estável no emprego e o valor da parcela não chega a um décimo do que ganho.”

No caso do Agile, diz ele, o casal optou pela compra à vista para dar maior segurança financeira ao casal. Daniela, de 31 anos, é fisioterapeuta autônoma e tem renda muito variável. Said conseguiu adquirir os dois carros sem mexer na poupança que fazia para, ao fim do ano, viajar para o exterior. Ele e a esposa ficaram 17 dias em Orlando (EUA), onde passaram o Ano Novo de 2013. Foi a segunda viagem de Said para o exterior paga com o próprio dinheiro. A primeira foi em 2010, também para Orlando, com a esposa. Confiante e organizado, Said contratou a viagem de fim de ano já em março de 2012, quando o câmbio estava mais favorável. O coordenador já tem planos para o casal para 2014, que deverão resultar em aumento de seus custos fixos. “Estamos nos preparando para ter filhos.”


País precisa de mais R$ 40 bi para projetos

Valor Econômico

O Brasil terá de adicionar US$ 40 bilhões ao ano em investimentos nos projetos de infraestrutura e, desses, o governo espera que os bancos privados compareçam com até 40%, segundo estimou o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Ele e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, conversaram com o Valor depois de participar do “Forum Brasileiro de Infraestrutura 2013”, sexta-feira, em Londres, evento organizado pelo Valor.

“O governo não dará conta sozinho”, disse a ministra. “Queremos atrair o setor privado para o programa de concessões.” Mais cedo, ambos haviam falado para uma plateia de mais de 400 participantes, de forma objetiva e detalhada, sobre esse programa, seus desafios e as fontes de financiamento que estão sendo debatidas.

Hoje o país investe, por ano, cerca de US$ 45 bilhões em projetos de infraestrutura, disse Coutinho. E terá de elevar esse valor para algo entre US$ 85 bilhões e US$ 90 bilhões por ano, se o país quiser crescer de forma sustentável, tarefa que terá de ser compartilhada entre os bancos públicos, inclusive Banco do Brasil e Caixa, e pelo sistema privado. O BNDES, único financiador de projetos de longo prazo no momento, está batendo no seu limite, admitiu Coutinho.

A capitalização do BNDES, em discussão com o Ministério da Fazenda, não deve ser para já. O tesouro Nacional deve aportar até R$ 8 bilhões neste ano para o banco aumentar seu patrimônio de referência, conforme as restrições das regras de Basileia.

Até o momento, segundo Coutinho, os bancos privados podem contar com R$ 15 bilhões de liberação de compulsórios não remunerados. Na medida que esses compulsórios aumentarem, novas parcelas podem ser disponibilizadas para investimentos. “Os bancos nos dizem que querem participar, mas junto com o BNDES. Eles querem cofinanciar.”

Os investidores estrangeiros com quem Coutinho conversou nas últimas semanas estavam bastante preocupados com o risco cambial dessas operações. Eles temem que uma desvalorização abrupta do real subtraia boa parte do retorno dos investimentos. O risco cambial será assumido por eles mesmos, assegurou o presidente do BNDES. “Nessas conversas, eu tenho dito que a tendência de mais longo prazo do real é de se valorizar. Portanto, se houver, porventura, alguma depreciação súbita, eu recomendo que tenham calma, não entrem em pânico, por que pode haver um repique, mas a taxa de câmbio volta”, explicou.

Outros aspectos que estão sendo estudados e discutidos referem-se ao seguro e às garantias para esses financiamentos e obras. Coutinho informou que o governo deverá juntar, na Agência Brasileira de Garantias, o patrimônio de três fundos garantidores já existentes: o da área naval, de energia elétrica e das Parcerias Público Privadas. As garantias públicas são acionadas em casos mais excepcionais que os seguros não cobrem, como surpresas regulatórias, insurreição social no país ou algum acidente natural, como terremotos ou eventos semelhantes. “Despachamos gente para estudar isso”, disse Coutinho, citando o seguro de exportação da Coreia do Sul como exemplo a ser conferido, assim como os que os países europeus, fizeram para a construção dos trens de alta velocidade.

O governo partiu para a ofensiva em busca de recursos para investimentos e adotou um discurso mais modesto, mais humilde, segundo avaliação de empresários e representantes de bancos presentes ao seminário. O presidente do BNDES está conversando com grandes fundos de pensão, fundos soberanos, e, segundo seu depoimento, é notável o aumento do interesse tanto de investidores estrangeiros quanto nacionais no programa de concessões do Brasil.

A ministra-chefe da Casa Civil avalia que o país está “entrando em 2013 com uma outra perspectiva. A nossa produção industrial está reagindo, os investimentos começam também a reagir, e é hora de apresentarmos as concessões de forma aberta e consistente para os investidores. O governo está muito determinado.”

Também participaram do seminário Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Planejamento Energético (EPE) e Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL).


Brasil ignora perguntas da ONU sobre violações

Correio Braziliense

De todos os questionamentos sobre denúncias enviados pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) ao Brasil, menos de 40% são respondidos. O governo federal, responsável por atender aos apelos do principal órgão internacional no tema, mesmo a respeito de situações estaduais ou até municipais, simplesmente não retorna à maior parte dos comunicados recebidos. Em média, de cada cinco pedidos de explicação que chegam ao país, mais de três são ignorados. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Correio com informações dos últimos quatro anos.

Entre 2009 e 2012, a ONU se dirigiu ao Brasil pelo menos 19 vezes com questionamentos sobre situações específicas de violações de direitos humanos ocorridas em território nacional. Apenas sete foram respondidos. A postura difere muito do “espírito de cooperação” mencionado pelo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, segunda-feira passada, em discurso durante a cerimônia de retorno do Brasil ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Depois de dois anos fora do colegiado, o país voltou para um mandato de três anos, iniciado há uma semana exatamente.

Para Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas Direitos Humanos, uma das entidades da sociedade civil mais atuantes na ONU, os números levantados pela reportagem mostram que a tal cooperação carrega muito de retórica. “Responder a um comunicado é o mínimo que se espera de um país que se diz compromissado com os direitos humanos, especialmente porque os questionamentos se referem a violações concretas ocorridas no Brasil”, destaca a especialista. E completa: “O governo brasileiro não está devendo resposta à ONU apenas, mas à sociedade brasileira.”

O Itamaraty, por meio da assessoria de imprensa, confirmou a existência de pelo menos 12 questionamentos sem resposta feitos pelo Conselho de Direitos Humanos — muitas vezes classificados de “apelos urgentes” — desde 2009. A pasta ressalta, entretanto, que todos serão respondidos. Sobre a demora, que em alguns casos chega a três anos e meio, alega dificuldades na obtenção das informações necessárias para responder ao órgão internacional. Mas ressalta que não há prioridade de alguns temas em relação a outros.

“Entendemos a dificuldade, até pelo pacto federativo, de se obter informações com rapidez. Mas deixar uma comunicação sem resposta por dois, três anos não parece razoável. Esse argumento vem sendo apresentado há anos. Então, o governo federal já deveria ter encontrado uma forma de dialogar melhor com os entes federados”, ressalta Camila. Para Sandra Carvalho, diretora da organização Justiça Global, que também acompanha casos de violação denunciados em nível internacional, há um claro enfraquecimento do tema nos últimos anos. “O Estado brasileiro tem perdido prazos não só na ONU mas também na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA (Organização dos Estados Americanos).”

Tanto na OEA quanto na ONU, o Brasil vem sendo bombardeado por questionamentos sobre os impactos sociais de grandes obras como a construção da usina de Belo Monte, no Pará, e a transposição do Rio São Francisco. Mas também a respeito de execuções sumárias, abuso de autoridade, ameaça à independência de juízes, povos indígenas e quilombolas, política de drogas e acesso à saúde. “Alguns são casos pontuais em que as vítimas ou familiares, não conseguindo respostas internamente, recorrem a uma esfera internacional. O governo não pode simplesmente ignorar as demandas e as determinações dos organismos de direitos humanos dos quais faz parte”, afirma Sandra.


Preço da terra agrícola sobe mais do que o ouro

O Estado de S. Paulo

Puxado pelo aumento das co­tações da dobradinha soja/mi­lho no mercado internacional, o preço médio de um hectare de terra destinado ao agrone- gócio mais que triplicou em dez anos no Brasil, superando de longe a inflação. Além dis­so, em cinco anos, entre 2008 e 2012, a terra se valorizou num ritmo mais acelerado que o dólar, aplicações em renda fi­xa, ações e até mesmo o ouro, o “queridinho” dos investido­res em períodos de crise.

Uma pesquisa sobre o merca­do de terras feita pela consulto­ria Informa Economics/ FNP mostra que, entre o primeiro bi­mestre de 2003 e o último bimes­tre de 2012, o preço médio da ter­ra no Brasil aumentou 227%. A cotação média do hectare, que engloba áreas para agricultura, pecuária e reflorestamento, sal­tou de R$ 2.280 para R$ 7.470. Nesse período, o preço da terra subiu 12,6% ao ano, quase o do­bro da inflação média anual, de 6,4%, medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade In­terna (ÍGP-DI).

Bimensalmente, os preços das terras são coletados com corre­tores e engenheiros agrônomos pela consultoria, que integra o maior grupo de informações so­bre o agronegócio no mundo. As cotações da terras se referem a preços pedidos ou a negócios fe­chados no País em 133 regiões classificadas com o mesmo tipo de terra.

A disparada das cotações das terras provocou uma certa parali­sia nos negócios de compra e ven­da nos mercados com áreas mais valiosas do País, como em Casca­vel, no Paraná, onde o hectare para grãos atingiu R$ 36 mil em dezembro último, ou em Rio Ver­de, em Goiás, com a terra para soja cotada a R$ 24 mil por hecta­re. “Aqui não tem terra para ven­der”, conta o diretor do Sindica­to Rural de Rio Verde, José Ro­berto Brucceli. Ele conta que, por sorte, dois anos atrás, conse­guiu comprar cerca de 500 hectares na região. Pagou R$ 12,4 mil pelo hectare. Hoje essa terra vale R$ 20,6 mil. “O preço chegou no teto”, afirma.

A paralisia dos mercados se re­pete nas terras para cana-de-açúcar em Ribeirão Preto (SP), onde o hectare chegou a valer R$ 32 mil em dezembro, com alta de 138% em dez anos, segundo a consultoria. Em Piracicaba (SP), a cotação é ainda mais alta: R$ 41 mil o hectar e da terra para cana, com elevação de 305% em dez anos. Esse resultado, segundo o diretor técnico da consultoria e responsável pela pesquisa, José Vicente Ferraz, foi influenciado pela ida da montadora sul-coreana Hyundai e de outras empre­sas para o município.

Regiões

As regiões do Brasil com as terras que mais se valori­zaram nos últimos dez anos fo­ram a Nordeste e a Norte, apon­ta a pesquisa. No Nordeste, o pre­ço do hectare subiu 13,5% ao ano e atingiu R$ 3.298 em dezembro de 2012; no Norte, a valorização anual foi de 13,3%, com o hectare valendo R$ 2.228 no fim do ano passado.

Segundo Ferraz, a grande valo­rização das terras do Norte e do Nordeste está sendo puxada pe­la região do “Mapitoba”, que en­globa área para plantação de mi­lho, soja e algodão de quatro Es­tados: Maranhão, Piauí, Tocan­tins e Bahia. A área foi batizada com as sílabas iniciais dos Esta­dos. “No Mapitoba, os preços es­tão explodindo”, ressalta.

É exatamente essa região que tem uma das terras agrícolas mais valorizadas do País. Em Uruçuí, no Piauí, o preço do hec­tare de alta produtividade subiu 15% ao ano desde 2003, ou um total de 321%. Segundo Ferraz, trata-se de uma região com rele­vo excepcional para o cultivo de soja e milho. Mas a infraestrutura é um problema. “Se não tives­se problema de infraestrutura, a valorização teria sido ainda maior”, diz Ferraz.

Além das boas condições de clima e de topografia, ele ponde­ra que parte da grande valoriza­ção das terras do Noite e do Nor­deste se deve ao fato de o preço nessas regiões ser ainda relativa­mente baixo. Isso explica, por exemplo, porque as terras da re­gião Sul – as mais caras, cujo hec­tare vale, em média, R$ 15 mil – foram as que menos se valoriza­ram em dez anos no País (um au­mento médio de 12,1% ao ano nos preços).


Aumento nas importações afeta fabricantes de bens de capital

Valor Econômico

O déficit mensal recorde no comércio exterior brasileiro, em fevereiro, confirmou uma tendência que vem desanimando investidores nacionais do setor de bens de capital: aumentam as importações de máquinas e equipamentos, desviando para o exterior parte do estímulo à demanda criado com as grandes obras de infra-estrutura. Em fevereiro, puxadas pelo aumento de 1% na importação de maquinaria industrial e de 68% nas compras de “equipamento móvel de transporte” como locomotivas (mais de 8,6 mil % de aumento) e veículos para inspeção de vias (mais de 1 mil%), a média diária nas compras externas de bens de capital cresceu 5,4% em relação ao mesmo mês de 2012.

Em janeiro, o aumento já havia sido de quase 15%, o que leva a 10% o crescimento nas importações de bens de capital no primeiro bimestre. “A gente tem um grande problema aí, que é a perda de competitividade, com câmbio, juros e tributos”, desabafou o presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto. “Do valor de meu produto, 40,3%, são impostos; isso é um absurdo”, comentou Aubert.

Na semana passada, em Brasília, ao discursar na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente da Abimaq queixou-se à presidente Dilma Roussef dos efeitos do que chamou de “tripé do mal”: a política de câmbio desvalorizado e juros e tributos mais altos. “O investimento não pode ser penalizado, tem de ser promovido”, criticou. “O investimento o Brasil é caro, por isso há 18 anos não sai de 19%, 20%”. Embora não haja dados consolidados, muitos fabricantes passaram a complementar a própria linha de produção com equipamentos importados, admite ele.

No setor de bens de capital de encomenda, voltado a fabricação de máquinas e equipamentos confeccionados com especificações exclusivas para determinados projetos industriais, apesar do impulso dado pelos incentivos do governo, os empresários foram surpreendidos pela mudança na balança comercial que passou de superavitária até 2007 a uma situação de equilíbrio, em 2008 e, desde então, vem registrando sucessivos déficits.

“Foi uma guinada histórica brutal”, comentou para o Valor o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base, Paulo Godoy, que representa grandes empresas do setor. Em 2008, as importações de bens de capital sob encomenda chegaram a US$ 5,1 bilhões, número que caiu para US$ 4,4 bilhões no ano seguinte e começou uma trajetória de alta. Em 2012, as importações caíram 1,5% em relação ao recorde de US$ 6,2 bilhões de 2011; mas a queda ainda maior nas exportações do setor fez com que o balanço final ficasse negativo, em quase US$ 1,1 bilhão.

Por enquanto, nesse subsetor, as importações não são vistas como uma grande ameaça, devido à criação, pelo governo, do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), com juros favorecidos na compra de equipamentos nacionais, especialmente, em grandes obras de infra-estrutura. “O PSI deve ajudar a frear a tendência de aumento de importação”, acredita o presidente da Abdib, que desaconselha mudanças como uma maior desvalorização do real. Mas a chegada de grandes companhias chinesas como investidoras, principalmente em obras de geração e transmissão no setor elétrico, levantam um “certo alerta”, segundo Godoy.

“São empresas gigantescas, com o Estado por trás, sem dificuldade de financiamento na China”, diz ele. Esses investidores dão preferência a equipamentos chineses, financiados pelo governo local. “Um dos temas que se discute hoje é se não caberia também para o setor elétrico uma política de conteúdo nacional.”


Brasil sobe em lista de investimento externo

O Estado de S. Paulo

Em uma década, o Brasil subiu 11 degraus no ranking dos destinos globais de investimentos estran­geiros diretos (IED). Em 2003, o País era o 15.º na lista e, no ano passado, passou ao quarto lugar, atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong. A fatia brasileira nos fluxos de investimento foi a que mais cresceu no mun­do, de 1,7% para 5% no período.

O perfil do IED por aqui mu­dou nos últimos cinco anos, co­mo mostra estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empre­sas Transnacionais (Sobeet). Houve crescimento na propor­ção relativa ao setor de petróleo e um recuo na fatia setor de servi­ços, que ainda lidera a preferên­cia do capital externo em investi­mentos brasileiros. Mas a ten­dência é que o setor retome espa­ço com as novas concessões de infraestrutura.

A análise da Sobeet foi basea­da em dados do Banco Central e da Conferência das Nações Uni­das para Comércio e Desenvolvi­mento (Unctad). O levantamen­to dividiu a década em dois perío­dos: 2003-2007 e 2008-2012. Os setor de serviços viu sua fatia no bolo cair de 51,8% para 42,1% nos últimos cinco anos.

Os setores de telecomunica­ções, energia elétrica e sanea­mento foram os mais afetados. No caso das operadoras, os in­gressos de IED despencaram de 10,3% para 2,7%. Para Luis Afon­so Lima, economista da Sobeet, a explicação é que houve forte concentração de investimentos logo após as privatizações, no fim dos anos 90.

Composto por agropecuária e extrativismo mineral, o setor pri­mário atraiu mais investimentos no último quinquênio, puxado pela extração de petróleo. O porcentual do setor petrolífero nos fluxos de IED saltou de 8,2% pa­ra 18,9% na média dos dois perío­dos. O incremento reflete apor­tes de rodadas de petróleo con­cluídas no início dos anos 2000, já que os investimentos pesados costumam ocorrer cinco anos após os leilões.

Flávio Rodrigues, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), destaca o pesado plano de investimentos anunciado pela Petrobrás, que acabou sendo acompanhado pelas parceiras es­trangeiras. Ele alerta, porém, que a ausência de rodadas nos últimos quatro anos tende a re­fletir um menor ritmo da curva de IED do setor. “Isso deve apare­cer nas próximas estatísticas, embora o pré-sal possa amorti­zar um pouco tais perdas”, diz ele, para quem a manutenção do fluxo de recursos externos de­pende da constância dos leilões.

Apesar da perda de competiti­vidade nos anos recentes, a in­dústria brasileira não viu seu porcentual de atração de IED ser sig­nificativamente alterado. Hou­ve uma perda de apenas 1,2 pon­to porcentual do período 2003-2007 (38,6%) para o perío­do 2008-2012 (37,4%).

Em termos absolutos, diz Lima, os recursos destinados a se­tores industriais nos últimos cin­co anos foram até mais robustos.

De um lado porque houve esgota­mento de capacidade de setores como metalurgia e produtos quí­micos; de outro, pela aposta em setores voltados ao consumo in­terno, como alimentos e bebi­das, turbinados pelo incremen­to na renda da população. “Isso se soma à crise, que reduziu opor­tunidades em países da Europa e abriu novas frentes nos países emergentes.”

A Sobeet aponta que a atração de IED nos últimos dez anos foi parcialmente influenciada por políticas públicas voltadas a ati­vidades consideradas estratégi­cas em diferentes momentos.