Multinacionais compram empresas de autopeças no Brasil

Duas empresas brasileiras do setor automotivo, uma de autopeças e outra de artefatos de borracha foram vendidas para multinacionais nesta semana. Ontem, o grupo americano Dayco anunciou a compra da Nytron, fabricante de tensionadores com duas unidades em Itapira (SP), por valor não revelado. A japonesa Toyo Tires deve pagar US$ 15,5 milhões pela Produflex, com fábricas em São Paulo e Minas Gerais.

A venda da Produflex foi divulgada pelo jornal japonês Nikkei, mas ainda não foi confirmada no Brasil. A empresa brasileira emprega 430 funcionários e fornece componentes de borracha para várias montadoras, especialmente a Fiat. A Toyo é uma das maiores produtoras de pneus no mundo e tem quatro fábricas na América do Sul.

Fundada há 20 anos por um grupo familiar, a Nytron é líder nacional do mercado de reposição de tensionadores, item que compõe o sistema do motor dos automóveis. Com a compra, a Dayco, que também lidera no País as vendas de correias automotivas, passa a ser a maior fornecedora desses dois itens no mercado de reposição.

“Nosso objetivo é fazer da Nytron também uma grande exportadora para a América do Sul e Europa”, diz o vice-presidente da Dayco, Ronaldo Teffeha. A Dayco tem duas fábricas no Brasil (em São Paulo e Minas Gerais) e uma na Argentina e exporta 20% de sua produção para a América do Sul, Europa e China.

Segundo Teffeha, as aquisições no Brasil “não param por aí”. O grupo que espera faturar US$ 150 milhões neste ano (7% mais que em 2012) avalia novas aquisições, mas ele não revela detalhes.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos (Sindipeças), Paulo Butori, afirma que há um novo movimento de desnacionalização de empresas no setor, em razão das dificuldades financeiras que muitas enfrentam.

“Com as crises na Europa, EUA e Japão, muitas multinacionais se voltaram para o Brasil e acabam adquirindo companhias locais”, diz Butori. Em 1994, as empresas nacionais respondiam por 52,% do faturamento total do setor de autopeças, participação que em 2011 caiu para 30%.


Governo quer cortar impostos de mais 40 setores, mas só em 2014

O Globo

A equipe econômica está disposta a desonerar a folha de pagamento de mais de 40 setores, entre eles, os de transporte de cargas, engenharia e arquitetura e empresas jornalísticas, mas só a partir de 2014. Essas atividades foram incluídas na medida provisória (MP) 582, aprovada pelo Congresso, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai recomendar à presidente Dilma Rousseff o veto e pretende negociar os benefícios com as empresas de acordo com as disponibilidades do caixa do Tesouro.

Técnicos do governo argumentaram que é preciso calcular com calma o impacto fiscal que a inclusão de novos setores na desoneração da folha terá sobre as contas públicas. Mantega já informou que o governo vai estender o incentivo, mas não quer ser pressionado a fazer isso imediatamente. Antes, será preciso avaliar os efeitos que a desoneração da folha terá sobre cada um dos setores e sobre a arrecadação.

Setor de armas foi incluído

O governo já reduziu os encargos sobre a folha de 42 setores, como têxtil, de autopeças e tecnologia. Juntos, representam uma renúncia de R$ 16 bilhões. No entanto, durante a tramitação da MP 582 (que previa uma série de benefícios fiscais), o Congresso incluiu mais de 40 novas atividades – entre as quais a produção de armas, munição e fogos de artifício. Segundo os técnicos, embora seja importante para economia, pois gera empregos e reduz custos das empresas, a desoneração da folha tem de ser avaliada com cuidado para saber se seus impactos são relevantes sobre o mercado de trabalho e o crescimento da atividade.

Outra questão que precisa ser avaliada pelos técnicos é o fato de que, dentro de um mesmo setor, uma parte das empresas pode não querer o benefício. Por terem um folha de pagamento pequena, para elas não seria vantagem passar a pagar a contribuição previdenciária sobre o faturamento.

– Todos os setores beneficiados pela desoneração da folha passaram por uma negociação com o governo. Os impactos desse tipo de medida, tanto sobre os setores quanto sobre as contas públicas, têm de ser avaliados – disse um técnico.

Os parlamentares também incluíram no texto da MP a possibilidade de as empresas optarem por pagar a contribuição previdenciária sobre a folha ou sobre o faturamento. Neste caso, a equipe econômica também vai recomendar o veto à presidente. Segundo os técnicos, isso traria riscos para a arrecadação da Previdência.

A Comissão de Viação e Transportes da Câmara aprovou ontem requerimento convidando Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para falar sobre o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, de apenas 0,9%. A ideia é fazer sessão conjunta com outras comissões. Como é convite, eles não são obrigados a comparecer.


Argentina ameaça Vale com tomada de concessão

O Globo

O governo argentino elevou o tom ontem contra a Vale. O ministro do Planejamento, Julio de Vido, acusou a empresa de “roubar” e “espoliar” o país e ameaçou tomar a concessão da mineradora para exploração de potássio na província de Mendoza. Ele negou que a decisão da companhia, anunciada segunda-feira passada, de suspender o projeto Rio Colorado tenha sido motivada pela instabilidade político-econômica na Argentina, e insistiu na sua relação com a crise econômica mundial.

– Se eu fosse investidor estaria muito preocupado porque a empresa violou a segurança jurídica, as leis da Argentina e de Mendoza. Se não explorarem este ativo, vão perdê-lo. Há um descumprimento flagrante do contrato pela concessionária – disse De Vido em evento na Casa Rosada. – A segurança jurídica em questão de investimentos é uma via de mão dupla. O Estado deve cumprir (as leis), e as empresas também.

Recentemente, a Argentina estatizou a petrolífera YPF e a aérea Aerolíneas Argentinas, entre outras prestadoras de serviços públicos.

O ministro do Planejamento frisou ainda que a Vale fez demandas ao governo para permanecer no país, que incluíam restituição antecipada no Impostos sobre Valor Agregado (IVA) e flexibilidade cambial, entre outros, totalizando US$ 3 bilhões em ajuda estatal.

– Não podemos dar a eles US$ 3 bilhões sem qualquer contrapartida. Isso é roubar e não vamos nos prestar jamais a espoliar dessa maneira os argentinos – afirmou. – (A suspensão do projeto) foi uma tendência global, nada tem a ver com nossa conjuntura.

Vale levaria caso à Justiça

A Vale não recebeu qualquer notificação oficial do governo de Cristina Kirchner quanto à possível expropriação de Rio Colorado. Caso isso aconteça, a tendência é que a empresa questione o ato judicialmente, segundo fontes que acompanham o caso. Paralelamente, a Vale cogita buscar compradores para o projeto, mas essas fontes admitem que, nas condições impostas pelo governo argentino, as chances d e sucesso são remotas.

Os ativos em Mendoza foram comprados pela Vale em 2009 da concorrente Rio Tinto. O projeto estava avaliado em US$ 5,9 bilhões, mas a variação cambial, a inflação na Argentina e as demandas dos governos das cinco províncias diretamente afetadas pelo empreendimento – havia exigências de contratação de mão de obra e fornecedores locais acima do considerado aceitável pela empresa – o inviabilizaram e elevaram seu custo para cerca de US$ 11 bilhões.

A falta de coordenação nacional das exigências dificultava as negociações. O projeto compreendia uma mina, uma ferrovia e um porto e previa produção anual de 4,3 milhões de toneladas de potássio, insumo para os fertilizantes.

Com sua suspensão, cerca de seis mil trabalhadores ficarão sem emprego. Ontem, o Ministério do Trabalho da Argentina teria um encontro com representantes da Vale, numa tentativa de reduzir o número de demissões. A empresa, porém, já começou a comunicar seus funcionários das dispensas.


11ª rodada de leilões já tem 36 empresas interessadas

O Estado de S. Paulo

O diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Helder Queiroz informou que 36 empresas, de 15 países, já manifestaram interesse de participar da 11ª rodada de licitações de áreas exploratórias, marcada para maio. O prazo para as empresas manifestarem interesse de participar vai até o dia 26 e novas empresas devem se habilitar.

Entre as inscritas estão gigantes como BG, Shell e BP e empresas pouco conhecidas no mercado brasileiro, como Gran Tierra e Novapetroleo.

Queiroz informou que há empresas de Japão, Canadá, Estados Unidos e de países da União Europeia. Já as chinesas, que têm grande interesse de garantir acesso futuro a reservas, ainda não se habilitaram.

Os lances que as empresa devem fazer para ter direito de explorar o petróleo da União podem arrecadar de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões na rodada de maio, numa estimativa que considerou relativamente conservadora. “Podemos ter uma grata surpresa de ser algo até acima”, disse Queiroz, no VIII Fórum Ibef de Óleo e Gás, no Rio.

Caso todas as 289 áreas ofertadas sejam arrematadas pelo preço mínimo, seriam arrecadados cerca de R$ 620 milhões, informou. Há outras duas rodadas previstas para este ano, uma para gás, em outbro, e outra para o pré-sal, em novembro.

Esta será a primeira participação em leilão da ANP para várias empresas que chegaram ao Brasil nos últimos cinco anos, período no qual não houve a realização de leilões, já que a descoberta do pré-sal motivou mudanças regulatórias no País.

A canadense Gran Tierra, que entrou no Brasil há três anos e meio adquirindo licenças de concorrentes, é uma delas. Hoje produzindo mil barris de petróleo, a companhia espera aumentar a atuação no País.

A Novapetro é outra. O presidente do conselho, Murilo Marroquim, diz que o foco da companhia será em petróleo, em blocos terrestres de baixo risco. A empresa, criada há cerca de seis meses, reúne investidores que migraram do setor elétrico. “Está fresquinha, acabamos de criar”, disse Marroquim.


Previsões para varejo vão de zero a 1,8% de alta

Valor Econômico

Os fundamentos do comércio permaneceram sólidos no começo do ano, com renda em alta e desemprego nas mínimas históricas, mas um desempenho morno do setor de supermercados impediu recuperação mais expressiva do volume de vendas do varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção), segundo economistas.

Depois de recuo de 0,5% entre novembro e dezembro, feito o ajuste sazonal, a média de 12 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data aponta para aumento de 0,5% da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) em janeiro sobre o último mês de 2012, no conceito restrito. As estimativas variam entre zero e 1,8%. O dado será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o comércio ampliado, oito analistas esperam, em média, avanço de 1,6% do volume de vendas na passagem mensal. Essa variação, dizem, foi sustentada pelas promoções de concessionárias, que colocaram no mercado seus últimos estoques de veículos com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) totalmente reduzido. A partir de janeiro, a alíquota entrou em processo de recomposição gradual.

Perto do piso das estimativas, Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, projeta alta de 0,3% do comércio restrito entre dezembro e janeiro. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as vendas reais do setor encolheram 22% no período, número que, dessazonalizado pela MCM, resultou em avanço de 0,4%. Para Padulla, esse dado indica estabilidade para o volume de vendas de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo – segmento que representa cerca de 50% da PMC restrita – na comparação mensal.

Segundo o analista, a inflação mais pressionada de alimentos prejudicou a atividade desse ramo do comércio, que, por ter peso elevado, evitou que o resultado geral mostrasse crescimento mais significativo em janeiro, mesmo com comportamento mais positivo de outros setores. A despeito da evolução mais modesta dos supermercados no início do ano, Padulla destaca que a remuneração dos ocupados segue em trajetória de ascensão, o que deve manter o consumo em nível aquecido ao longo de 2013.

Com base em números do IBGE referentes ao rendimento médio real efetivo dos trabalhadores na média do trimestre encerrado em dezembro, Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, estima salto de 14,5% dessa variável nas seis maiores regiões metropolitanas em janeiro sobre igual mês de 2012. O conceito de rendimento efetivo é diferente do habitual, e reflete movimentos como 13º salário e rendas extras. A alta de dois dígitos, diz ela, foi suficiente para que as vendas mostrassem reação também acentuada em janeiro, ainda que sem a ajuda dos supermercados. No teto das projeções, a economista prevê alta de 1,8% no varejo restrito no primeiro mês do ano.

Por trabalhar com impulso mais forte do que o mercado, Mariana vê possibilidade de que as vendas cresçam abaixo de sua estimativa em janeiro, mas, em sua opinião, está descartada nova retração mensal no consumo restrito. O Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, nota a analista do ABC, avançou 1,5% ante dezembro, feito o ajuste sazonal, puxado por veículos, mas com contribuição positiva de outros ramos do varejo, como móveis, eletrônicos e informática e tecidos, vestuário, calçados e acessórios.

Mais cauteloso, o superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners (BI&P), Daniel Moreli Rocha, afirma que o movimento maior dos consumidores nas lojas captado pela Serasa em janeiro apenas “compensou” outros sinais menos consistentes do varejo em igual período, como a relativa estabilidade das vendas de supermercados e das consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Assim, diz Rocha, sua projeção de que o comércio restrito irá subir 0,7% frente a dezembro, descontados os fatores sazonais, “talvez esteja um pouco otimista.”

Rocha ainda menciona a confiança do consumidor, que está em trajetória de queda há cinco meses, como outro sinal de que a demanda não começou 2013 em ritmo tão acelerado. Segundo a última divulgação da Fundação Getulio Vargas (FGV), após retração de 0,7% no primeiro mês do ano, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) diminuiu 1,4% entre janeiro e fevereiro, para 116,2 pontos.

Padulla, da MCM, avalia que o menor grau de otimismo deve se refletir mais sobre as compras de bens duráveis, que também perderão fôlego no primeiro trimestre com a volta gradual do IPI. Após a alta esperada de 1,2% para o varejo ampliado em janeiro, o analista afirma que essa parte do comércio pode ceder em fevereiro, quando o emplacamento de automóveis, comerciais leves e motocicletas caiu 9,5% frente o mês anterior, segundo dados da Fenabrave (entidade que reúne as concessionárias) dessazonalizados pela consultoria.


BNDESPAR concentra ainda mais seus investimentos

Valor Econômico

Nos últimos dez anos, a BNDESPar, braço de participações do BNDES, aumentou a concentração dos seus investimentos. Levantamento feito pelo Valor mostra que o peso dos setores de óleo e gás, mineração e energia saltou de 54% para 75% do total da carteira da BNDESPar entre 2002 e 2012. O levantamento foi feito com base em informações dos balanços dos últimos 11 anos e levou em conta participações diretas e indiretas em empresas com ações em bolsa.

Ao se incluir mais dois setores na conta – alimentos e papel e celulose – a concentração sobe para 89% da carteira total de ações. Em termos financeiros, isso significa que dos R$ 74,5 bilhões investidos pela empresa de participações ao fim do ano passado (considerando valores de mercado inclusive para companhias classificadas como coligadas), R$ 66,3 bilhões estavam alocados em apenas cinco setores e R$ 8,2 bilhões estavam distribuídos entre todos os demais. E os setores que ficam com a maior parte dos recursos não são os mesmos que foram alvo das políticas industriais dos últimos governos.

A concentração aumentou não apenas pela forte valorização das ações de Petrobras e Vale em meados da década passada, mas também por novos aportes feitos pela empresa de participações do BNDES nessas duas companhias e em outras que integram esses setores, como Eletrobras, CPFL e MPX e OGX mais recentemente.

A carteira da BNDESPar foi multiplicada por mais de quatro vezes entre 2002 e 2012, saindo de R$ 16,2 bilhões para R$ 74,5 bilhões, considerando valores de mercado. Apesar do crescimento, há uma queda relevante desde o pico de R$ 102 bilhões, alcançado ao fim de 2010.

A redução do portfólio ante a máxima histórica se explica, em parte, pela desvalorização das ações, com destaque para R$ 10,8 bilhões apenas da queda das ações da Petrobras desde a capitalização em 2010 até o fim do ano passado. Mas tem a ver também com a venda de papéis em bolsa – o que a empresa faz de forma regular – e com o repasse de R$ 6 bilhões em ações para o Tesouro, antes da virada do ano, que foram parar na carteira da Caixa.

A análise setorial da carteira da BNDESPar também permite notar que o setor de telecomunicações, que em 2002 representava 11% do total, hoje tem peso abaixo de 1% nos investimentos.

No lugar das empresas de telecom, entraram as companhias do setor alimentos, com destaque para o segmento de proteína animal. Representado hoje por JBS, Marfrig, BRF e Vigor, o setor de alimentos sequer aparecia na carteira em 2002, mas no fim do ano passado tinha peso de 6% no investimento total. A LBR, do segmento de lácteos, não entra nessa conta, porque, além de não ter ações em bolsa, foi baixada do balanço.

Um segmento que, apesar de altos e baixos ao longo dos dez anos, sempre manteve peso importante na carteira da BNDESPar foi o de papel e celulose, que fechou o ano passado com uma fatia equivalente a 8%. Em 2002, a participação era de 10%.

Nenhum desses cinco setores mais representativos da carteira está entre os segmentos eleitos como prioritários na política industrial anunciada pelo governo Lula em 2004, que listou bens de capital, software e fármacos, além de projetos ligados à inovação, como os preferidos do país.

Olhando a carteira total por empresa, os dez maiores investimentos equivalem a 84% do total. Petrobras e Vale garantem 60 pontos percentuais desse subtotal, enquanto Fibria, JBS, Brasiliana (Eletropaulo e AE Tietê), Copel, CPFL, Suzano, CEG e Eletrobras completam a lista com os outros 24 pontos percentuais. Como se nota, todas as empresas são dos segmentos de óleo e gás, mineração, energia, alimentos e papel e celulose.

Em entrevista ao Valor, o diretor da BNDESPar, Julio Ramundo, disse que a composição da carteira e suas variações exprimem a intensidade de capital de alguns setores, como óleo e gás, mineração e papel e celulose. Afirmou ainda que o aumento da concentração decorre também da valorização de algumas das ações desses setores e de aportes de capital feitos pelo governo, entre os quais estariam os R$ 22,4 bilhões repassados para investimento na capitalização da Petrobras em 2010. “A despeito dessa concentração, que pode levar à falsa conclusão de que o BNDES está reproduzindo determinado padrão de divisão setorial da economia brasileira, é importante verificar os movimentos [da BNDESPar], menores em valores, mas representativos em termos da carteira”, disse.

Ele citou como exemplo desses movimentos o caso do setor de tecnologia da informação (TI). Disse que, das quatro empresas brasileiras do setor listadas na bolsa, três – Totvs, Linx e Bematech – têm a “digital” do BNDES. Mas reconheceu: “Infelizmente esse setor [de TI] ainda não tem a expressão, em termos de mercado de capitais, da existente em economias desenvolvidas”. A crítica à concentração da carteira seria mais válida, segundo Ramundo, se o Brasil tivesse uma situação intrínseca e até cultural no mercado de capitais, em que houvesse inúmeras empresas da área de tecnologia e elas não tivessem o apoio do BNDES.

A tendência, segundo ele, é de que o banco aumente a exposição da carteira a setores de maior risco, como empresas de base tecnológica. Ele disse que, só em 2012, a BNDESPar fez dez novas operações diretas em empresas com ênfase em inovação e tecnologias limpas, no valor total de R$ 1,87 bilhão. Entre elas estão GraalBio (etanol de segunda geração, com R$ 600 milhões), Renova (energia eólica, com R$ 315 milhões) e Six (semicondutores, com R$ 272 milhões)

Como contraposição, disse que os principais investimentos novos em empresas grandes abertas somaram R$ 882 milhões, considerando exercício de direitos de subscrição de ações de Fibria, Suzano e Marfrig, além de uma emissão de debêntures da Contax.

Referindo-se especificamente ao setor de proteína animal, ele disse que, apesar não estar na lista da política industrial de 2004, integrava a Politica de Desenvolvimento Produtivo (PDP), de 2008. “O BNDES é executor de politica. Não saiu como ente iluminado executando isso”, disse.

E de onde vem o dinheiro para da BNDESPar? Os dados de balanço indicam que foram feitos aportes de capital de R$ 50 bilhões entre 2007 e 2012. Mas Ramundo nega que a empresa de participações tenha se abastecido pelos repasses bilionários que o Tesouro tem feito ao banco. “A BNDESPar é independente dos recursos do BNDES. Se pegar de 2003 para cá, ela gerou R$ 25 bilhões em caixa.”

O aumento de capital, segundo ele, se justifica tanto pelos R$ 22,4 bilhões da operação da Petrobras em 2010, como pela transformação de um mútuo antigo que a empresa tinha como o banco em capital, sem entrada de dinheiro novo.

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