Endividamento global aumenta em US$ 30 trilhões desde 2007

O endividamento de governos, empresas não financeiras e famílias aumentou em US$ 30 trilhões globalmente desde 2007, quando começou a crise econômica. O incremento representa cerca de 40% do PIB mundial.

A estimativa é do Banco Internacional de Compensações (BIS), banco central dos bancos centrais, que utiliza a cifra para alertar para os riscos do descompasso entre o otimismo atual nos mercados financeiros e a persistente debilidade da economia real.

O banco nota que a fragilidade econômica tem proporcionado uma forte flexibilização monetária e certa moderação no rigor fiscal nos países, alimentando a percepção de que o pior já passou e encorajando investidores para ativos de maior risco.

Ao diminuir os fluxos para mercados considerados portos seguros, essa situação aumentou os investimentos em renda variável e instrumentos de dívida de maior rentabilidade, incluindo os ativos de emergentes e da periferia da zona do euro.

Para Stephen Cecchetti, economista-chefe do BIS, seguramente é bom que as ações adotadas tenham reduzido riscos e “naturalmente isso vai estimular valores de ativos, melhorando condições financeiras e, no último caso, empurrando o crescimento”.

Porém, o que preocupa o BIS é que a dinâmica dos mercados tenha se tornado mais e mais dependente de estímulos de bancos centrais e de governos. Para o BIS, as políticas monetária e fiscal estão chegando ao seu limite. “Política expansionista, especialmente a acomodação de bancos centrais, não pode resolver problemas estruturais”, alerta Cecchetti.

Para o BIS, uma razão para ser cético sobre a eficácia de maior estímulo fiscal ou afrouxamento monetário, que continuam no radar de vários países, é o nível da “dívida muito alta e que continua a aumentar” desde 2007.

“A composição (da dívida) varia de país para país. Em alguns lugares a alta é concentrada no governo, em outros em empresas não financeiras, mas, no geral, a dívida aumentou em cada país de que temos dados”, afirmou Cecchetti, ao apresentar o relatório trimestral com uma fotografia das finanças internacionais.

“O que isso significa para a capacidade das autoridades em fazer crescimento? Indiferente do que você pensa sobre isso, expansão geralmente exige mesmo mais empréstimos, pela autoridade fiscal ou pelo setor privado. Mas as famílias ou firmas já sobrecarregadas (de dívidas) podem não querer, nem deveriam, pegar mais empréstimos, e o mesmo vale para o governo”, acrescentou o economista-chefe do BIS.

Cecchetti chama a atenção para o fato de que, enquanto os preços de ativos sobem e as firmas emitem mais títulos de dívida, os investimentos nas grandes economias não foram retomados. Para o BIS, está mais do que na hora de iniciar uma longa lista de reformas estruturais. “O retorno dessas reformas só vem com o tempo. Aumentar dívida pública e privada até que não consigamos mais financiar isso não é substituto para as reformas”, defende o economista.

Segundo o BIS, os bancos brasileiros reduziram em US$ 7,9 bilhões sua exposição no exterior no terceiro trimestre de 2012, com queda de 59,3% na Argentina. A exposição declinou de US$ 105,9 bilhões no segundo semestre para US$ 98 bilhões no terceiro. Os bancos tiraram US$ 3 bilhões da Europa e aumentaram o mesmo montante nos Estados Unidos.

As estatísticas sugerem, porem, que a alta exposição dos bancos brasileiros na Argentina entre abril-junho tinha sido algo excepcional. Em setembro de 2011, os bancos brasileiros tinham apenas US$ 3,7 bilhões no país vizinho.


Consumo e crédito em alta

Correio Braziliense

Mais investidores estão apostando nos setores de consumo e crédito este ano. Dados da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) mostram que as aplicações em fundos lastreados de empresas dos dois segmentos da atividade econômica foram as que mais cresceram nos dois primeiros meses de 2013. No período, o total movimentado no fundo CSMO11, que representa uma cesta de ações de companhias da área do consumo e é negociado no pregão, já corresponde a um terço de todo o montante de R$ 29,4 milhões registrado em 2012 — em 2011, foram R$ 27 milhões.

Não sem motivo. Entre os 15 fundos de índices negociados na Bovespa, o de consumo — com papéis da Ambev, do Pão de Açúcar, das Lojas Americanas e da Renner, entre outros — foi o que mais se valorizou no ano passado. Ele teve ganho de 40,4% (ou de 39,65%, descontada a taxa de administração), batendo todas as aplicações financeiras. Superou até o próprio Ibovespa, índice mais conhecido — correspondente a mais de 80% dos papéis mais negociados no pregão brasileiro —, que fechou 2012 com alta de apenas 7,4% (veja gráficos). Isso depois de passar três trimestres no campo negativo e estar, este ano, no vermelho.

O total negociado no FIND11 — que reúne instituições financeiras listadas em bolsa, como o Bradesco, o Banco do Brasil e o Itaú Unibanco —, por sua vez, é mais expressivo ainda, de R$ 12,7 milhões, praticamente a metade de todo o montante registrado em 2012, que foi de R$ 22,5 milhões. Ele rendeu 12,7% no ano passado, menos que o ligado ao consumo, porém quase o dobro do Ibovespa.

Conforme reportagem do Correio publicada na última segunda-feira, embora o Ibovespa seja o indicador mais divulgado para representar o desempenho da bolsa, que não anda muito bem nos últimos anos, há outros índices e papéis que estão com valorizações mais altas por estarem acompanhando a mudança do cenário econômico.

Como o peso de ações das empresas exportadoras como Petrobras, Vale e siderúrgicas é maior em sua composição, o Ibovespa acaba tendo um resultado pior do que apresentado pela maioria dos papéis negociados. É que essas companhias de commodities têm sofrido fortes desvalorizações em virtude da crise internacional, da diminuição da demanda externa e das interferências do governo, caso da estatal do petróleo.

Já os índices que têm em sua composição ações voltadas ao mercado interno têm tido valorização bem maior. Rogério Oliveira, analista da Icap do Brasil, e André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, acreditam que, para este ano, as oportunidades de ganhos estão com essas empresas novamente, destacando as de consumo e as de bancos.

“O bom mix é ter uma carteira focada na economia interna”, afirma Oliveira. Pedro Azzam, economista da RJ Investimentos, escritório afiliado à XP Investimentos, avalia que o setor de consumo tende a continuar se valorizando, mas não tanto como no ano passado. O investimento em ações é de alto risco, por isso, o pequeno investidor deve destinar, no máximo, 25% das suas economias para esse mercado.

Como aplicar

Qualquer poupador pode investir em um desses fundos lastreados em índices baseados em uma cesta de ações de companhias de determinado setor da atividade econômica ou que têm características comuns, como companhias que pagam melhores dividendos ou as que têm menos negociação na bolsa (caso das chamadas smallcaps).

Na prática, o investidor não aplica diretamente nos índices e, sim, em fundos fechados, que replicam a sua composição — o tipo de ação e a quantidade dos quais o indicador é formado. Conhecidos como ETFs (Exchange Trade Funds), eles são negociados diretamente no pregão da bolsa. Para cada um, existe apenas um fundo, ambos regulados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Alguns fundos imobiliários são do tipo ETF e estão listados na Bovespa.

Assim, o pequeno investidor pode comprar ou vender uma cota ou um lote de um ETF tal como uma outra ação qualquer, até mesmo por meio da plataforma homebroker disponível nos portais das corretoras, em vez de adquirir papéis separadamente por conta própria. Os ETFs vêm ganhando o gosto dos investidores desde que começaram a invadir a bolsa, em 2008. De lá para cá, o volume negociado já cresceu 160%. No ano passado, enquanto o montante movimentado por todos os ativos aumentou apenas 10%, o dos ETFS teve salto de 134%, pulando de R$ 1,7 bilhão para R$ 28,5 bilhões no período. O Ibovespa também tem o seu ETF, é o de código BOV11.

Alternativa

O pequeno investidor ainda tem à sua disposição os tradicionais fundos de ações oferecidos pelos bancos, que podem seguir a composição do Ibovespa ou de algum setor específico. Nesse caso, é a própria instituição que a estabelece e administra o momento de comprar e vender os papéis, promovendo alterações periódicas para tentar melhorar o desempenho caso alguma ação da carteira esteja indo mal. A taxa de administração cobrada — em geral, de 1,6% a 3% ao ano — é maior que a dos ETFs (entre 0,38% e 0,69% ao ano), o que come uma parte maior do ganho bruto.

Já a carteira dos ETFs não pode ser alterada. Uma vez definida a composição com a quantidade especificada de cada papel, não muda mais. Sua rentabilidade vai refletir aquela composição de ações fixa e pode ser conferida diariamente no portal da Bovespa ou em sites de investimentos.

“A vantagem de aplicação em fundos de ações de instituições financeiras dependerá da eficiência do gestor, pois ele poderá mexer na carteira, comprando e vendendo, para adequá-la aos papéis que estejam melhores em determinado momento”, afirma Pedro Azzam, da RJ Investimentos.

No ano passado, entre os principais fundos de ações do segmento de consumo das instituições financeiras, apenas o da XP Investimentos superou o ganho do CSMO11 listado na bolsa. Tantos os fundos de ações oferecidos nas agências bancárias como os ETFs pagam Imposto de Renda de 15% sobre o ganho obtido.

Novo indicador

De olho no crescimento expressivo dos fundos de índices negociados na Bolsa de Valores de São Paulo, a Gradual Investimentos lança na próxima quinta-feira um novo indicador, o IGB-30, que listará 30 ações de empresas ligadas à atividade interna, excluindo as de siderurgia, mineração, agronegócio e demais exportadoras, que têm sentido mais a crise externa. A corretora fez uma simulação e concluiu que, se o índice existisse desde 2010, teria acumulado ganho de 70% até fevereiro, enquanto o Ibovespa teve perdas de 16% no mesmo período. Farão parte do IGB-30 papéis de empresas de varejo, construção papel e celulose, e bancos. “O investidor ficará comprado (em ações) no Brasil”, resume o economista-chefe da Gradual, André Perfeito, sobre a dependência externa das empresas de commodities que dominam o Ibovespa. Por enquanto, só será criado o índice. O fundo para que investidores possam aplicar nele será instituído mais para frente, ainda sem data definida.


BID recomenda reformas para o crescimento da América Latina

O Estado de S. Paulo

Para atingir um nível de crescimento maior, levando em conta as estimativas de um crescimento mundial menor nos próximos cinco anos, a região da América Latina e Caribe deverá implementar reformas estruturais, principalmente relacionadas ao mercado de trabalho e aos investimentos. A recomendação faz parte do Informe Macroeconômico daAmérica Latina e Caribe de 2013, divulgado pelo Banco In-teramericano de Desenvolvimento (BID).

A projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o crescimento médio da região de 2013a2017 seja0,9 ponto por-centual menor que de 2003 a 2007, quando foi de 4,8%. Um dos fatores que explicam essa possível desaceleração é a redução de preço das commodities.

O informe também aponta certa preocupação com o ritmo de investimentos e prevê uma desaceleração de 10% para 5% ao ano.

Essa queda, segundo o documento, vai impedir que a região consiga reduzir sua lacuna de infraes-trutura. Há ainda temor com a persistência dos ventos contrários que atingem os principais blocos econômicos globais.

Os cálculos do BID apontam que, se as reformas reduzissem o atual nível médio de má alocação de recursos dos países da América Latina e Caribe para o mesmo nível dos EUA, poderia haver, em dez anos, um crescimento adicional de 1% ao ano, no mínimo.

As reformas do mercado de trabalho, segundo o informe, têm potencial para fomentar o crescimento na região graças ao impacto na produtividade e na alocação de recursos. Já o fator mais importante no caso dos investimentos em infraestrutura é a seleção dos projetos.

A conclusão do BID é que, se todos os países da região realizarem um esforço de reformas similar, o crescimento regional passariade uma alta de 1% ao ano para cerca de 2,3%. “Isso elevaria o crescimento da região de menos de 4% ao ano para até mais de 6% nos próximos anos.”


‘A guerra cambial já foi declarada’

O Estado de S. Paulo

A guerra cambial global já está em andamento e os países que se recusarem a entrar na disputa serão derrotados, diz o economista americano Michael Pettis, que vê o Brasil pouco equipado para o enfrentamento, em razão do impacto que a eventual desvalorização acentuada da moeda teria sobre a inflação e o endividamento externo.

“Esse é o problema das guerras cambiais. Não há escolha. Uma vez que elas começam, você tem de participar”, disse em entrevista ao Estado na quarta- feira, em seu escritório na capital chinesa.

Professor da Universidade de Pequim, Pettis acaba de lançar o livro The Great Rebalancing: Trade, Conflict, and the Perílons Road Ahead for the World Economy (O Grande Rebalanceamento: Comércio, Conflito e o Perigoso Caminho Diante da Economia Mundial), no qual sustenta que o mundo ainda tem de corrigir os problemas que estiveram na origem da crise global.

Para ele, os elevados índices de poupança e consumo que representam os extremos desses desequilíbrios não são reflexo de traços culturais, mas de políticas econômicas cujo impacto ultrapassa as fronteiras de cada país. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• Na origem da crise financeira estava o desequilíbrio entre o alto consumo dos Estados Unidos e a elevada poupança da China. O mundo retornou a um cenário de equilíbrio?

Ainda não. Nos EUA, o nível de endividamento diminuiu e o de poupança, aumentou, que é a condição para que haja reequilíbrio. Mas está sendo dolorido e lento. Na Europa, não houve re- balanceamento. Eles se reequilibraram ao custo de desemprego extremamente alto, o que não é sustentável, e o problema da dívida se agravou.

• Na China, houve um pouco de rebalanceamento no ano passado, mas ele foi revertido. O mundo não se reequilibrou. O que falta ser feito?

A Europa tem de resolver seus problemas econômicos e há três maneiras possíveis de isso ocorrer. Uma é que os alemães aumentem sua demanda doméstica de maneira significativa e tenham déficit em conta corrente, o que permitiria que os países europeus periféricos tivessem os superávits correspondentes necessários para pagar suas dívidas. Se os alemães não fizerem isso, os países periféricos da Europa continuarão a ter elevadas taxas de desemprego por muitos anos. A terceira possibilidade é a de os países periféricos deixarem o euro. No caso da China, é preciso reduzir o índice de poupança e elevar o de consumo. A única maneira de aumentar o consumo é expandir a fatia da renda das famílias no PIB, mas isso significa reduzir a fatia do governo, o que enfrenta resistência política.

• No seu livro, o sr. defende a ideia de que o governo americano deveria restringir a possibilidade de estrangeiros terem ativos em dólar. Por quê?

Muitos dizem que o fato de que todo o mundo compra dólares permite que os americanos consumam mais do que eles produzem. Eu digo que o fato de que todo o mundo compra dólares força os americanos a consumirem mais do que eles produzem. Se um país acumula reservas em dólares e exporta capital para os EUA, esse país tem de ter superávit (em conta corrente) e os EUA, déficit. Não há outra possibilidade. Essa é a razão pela qual os países acumulam dólares. Quando a China começa a acumular iene, os japoneses ficam extremamente insatisfeitos. O mesmo ocorre com a Coreia ou a Europa. Ninguém quer o suposto benefício de ter uma moeda que é usada como reserva de valor.

• É a teoria do saving glut (excesso de poupança)?

Sim. China, Japão e Alemanha adotaram políticas que elevaram o índice de poupança. As pessoas não poupam porque gostam de poupar, mas porque há políticas que forçam o aumento da poupança. E o excesso de poupança em um país requer excesso de consumo em outro. Tem de ser assim, porque a poupança e os investimentos devem ter equilíbrio em âmbito global. Na década de 90, a Alemanha tinha déficit em conta corrente. No fim daquela década, o governo adotou políticas para limitar o crescimento dos salários. De 2000 a 2008, a renda das famílias cresceu mais lentamente do que o PIB. Com isso, o nível de poupança da Alemanha automaticamente subiu. Não foi porque os alemães ficaram mais frugais. Eles não tinham escolha. Se o nível de poupança dos alemães automaticamente subiu, o nível de poupança de alguns outros países automaticamente caiu. Itália, Espanha, Irlanda, Grécia, Portugal tinham grandes superávits nos anos 90. Todos tiveram grandes déficits na década que antecedeu a crise.

• Se os desequilíbrios ainda não foram corrigidos, a perspectiva para a economia mundial continua negativa?

Sim. Os desequilíbrios são insustentáveis e sempre são corrigidos. Normalmente, isso ocorre em condições bastante difíceis. Se todo o mundo chegasse a um acordo sobre o reequilíbrio menos dolorido, isso seria ótimo. Mas a probabilidade de que isso ocorra é muito baixa.

• Qual é o risco de uma guerra cambial global, que voltou a ficar em evidência com a política monetária expansionista do Japão?

Guerras cambiais e comerciais são inevitáveis. É uma consequência necessária desses grandes desequilíbrios. É muito tolo esperar que isso não ocorra. Não há demanda suficiente no mundo e há excesso de capacidade instalada. Todo mundo quer ter uma fatia maior da demanda global e essa é a razão das guerras cambiais e comerciais.

• Como um país como o Brasil pode se defender?

É muito difícil. Uma das limitações da habilidade de um país de jogar a guerra cambial é a existência de elevado endividamento externo, porque quanto : mais a moeda se desvaloriza,

: maior a dívida se torna. A outra limitação é o risco de aumento na inflação. Infelizmente, as : duas condições se aplicam ao Brasil. Um país como o Brasil ; tem capacidade muito mais limitada de iniciar uma guerra cambial do que muitos outros, o que significa que o Brasil pode terminar entre os perdedores.

• A guerra cambial já foi declarada?

Sim. Todos os países estão tentando aumentar sua fatia da demanda global. Douglas Irwin publicou um livro no ano passado no qual ele reexamina a guerra cambial dos anos 30. O que ele disse é que na década de 30 a guerra cambial não foi feita para tirar vantagens comerciais. Isso está ocorrendo de novo. Os japoneses não estão expandindo a oferta de dinheiro para desvalorizar o iene, mas para gerar crescimento doméstico, e isso tem como consequência a desvalorização do iene. Os EUA não estão engajados em expansão monetária quantitativa porque estão tentando desvalorizar o dólar, mas porque acreditam que isso é necessário para evitar uma crise financeira. Mas, não importa a intenção, isso vai ter impacto no comércio. Uma vez que isso começa, os países que não jogam o jogo terminam sendo os perdedores.

• A questão não é se o Brasil quer ou não jogar o jogo, mas se tem armas para isso?

Sim, e isso é o que aconteceu nos anos 30. A França desvalorizou sua moeda em 1926 e muitos dizem que eles começaram o problema. Por causa da desvalorização, eles começaram a acumular ouro e se recusaram a desvalorizar de novo, até 1936. Eles tentaram ser responsáveis. Havia o bloco do ouro e esses países disseram que não jogariam o jogo da desvalorização. Mas suas economias foram ficando cada vez piores até que todos foram forçados (a desvalorizar). Esse é o problema das guerras cambiais. Não há escolha. Uma vez que elas começam, você tem de participar.

• E há o risco de todos perderem?

O que é mais provável é que os países diversificados com déficit em conta corrente ganhem e os países com superávit em conta corrente percam. Todos estão lutando por uma fatia maior da demanda global. Os países com déficit têm produção inferior à sua demanda. Portanto, quando intervêm no comércio, eles podem aumentar sua participação na demanda global com a recuperação de sua fatia (que era suprida por produtos importados). São os países com superávit que são vulneráveis, porque sua produção total atende à toda sua demanda e mais parte da demanda externa. Se os países entram em guerra comercial, eles vão perder essa demanda externa. Os Estados Unidos provavelmente se beneficiariam de uma guerra comercial. Alemanha e China seriam prejudicados.

• O sr. diz que o crescimento chinês foi subsidiado com juros baixos, contenção de salários e moeda desvalorizada. Qual o impacto disso para o restante do mundo?

Isso significa que as exportações chinesas são muito competitivas e todos no Brasil sabem disso. A China tem sido muito boa para os produtores de commodities, mas ruim para a indústria manufatureira. Mas isso vai mudar. Rebalancear significa, por definição, que esses subsídios terão de ser eliminados. A moeda tem de se valorizar, os juros têm de ser elevados e salários têm de subir. Se eles fizeram isso, a competitividade do setor de produtos comercializáveis vai diminuir, o que seria muito bom para a indústria brasileira. Mas, para o setor de commodities minerais, o impacto seria negativo. Se há diminuição do nível de investimentos, a demanda por commodities minerais também vai diminuir.


Dilma deve vetar parte dos novos setores desonerados

Valor Econômico

O governo pode vetar boa parte dos 33 setores incluídos pelo Congresso Nacional na lista dos beneficiados pela desoneração da folha de pagamento. Encaminhada em setembro de 2012 com 15 segmentos econômicos, a Medida Provisória nº 582, aprovada em fevereiro pelos deputados e senadores, ampliou o benefício para mais 33 setores. A presidente tem até 2 de abril para sancionar a matéria.

Se a área econômica atendesse todos os pedidos do Congresso, a substituição da contribuição previdência de 20% sobre a folha de pagamento por um percentual sobre o faturamento passaria a contemplar 75 setores – já considerando o setor varejista e de construção civil que a partir de abril serão contemplados com a medida.

Em um período de incerteza com relação ao crescimento da economia e, consequentemente sobre o comportamento da arrecadação de tributos, os técnicos do Ministério da Fazenda querem, com o veto de boa parte da lista do Congresso Nacional, ganhar mais tempo para avaliar caso a caso os setores incluídos e o impacto efetivo para o ganho de competitividade. Além disso, a concessão do benefício para mais segmentos implica em renúncia fiscal. Com a inclusão do comércio varejista e da construção civil, 42 setores estão sendo beneficiados com a desoneração da folha de salários neste ano. Somente com esse incentivo, o governo vai deixar de recolher R$ 16 bilhões em 2013.

Entre os novos segmentos inseridos na MP nº 582 estão empresas de transporte ferroviário e metroviário de passageiros, serviços de infraestrutura aeroportuária, empresas que recolhem e recuperam resíduos sólidos, transporte aéreo de passageiros e de carga não regular (taxi-aéreo), empresas jornalísticas, entre outros. Se algum desses for atendido, provavelmente, deverá ser o de transporte de passageiros.

O veto não significa, contudo, que novos setores da economia deixarão de ser atendidos neste ano. A Medida Provisória nº 601, que trata dentre outros pontos da desoneração da folha para o setor de comércio varejista e construção civil, já recebeu 124 emendas, sendo que boa parte delas insistem na ampliação da medida para, pelo menos, 10 segmentos da economia já citados na MP nº 582.

O próprio governo vem ressaltando que pretende desonerar todos os setores interessados, porém, tudo depende de margem fiscal. Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, reforçou, que, se possível, o governo vai desonerar toda a indústria manufatureira até o final do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Neste ano, o Executivo poderá deduzir até R$ 20 bilhões em desonerações da meta de superávit primário. A desoneração da folha tem sido um instrumento da área econômica para reduzir custos trabalhistas e ajudar no aumento do número de postos de trabalho e no controle da inflação. Para uma fonte da área econômica, “a desoneração da folha de pagamentos deve implicar em um ganho de caixa para as empresas investirem mais, formalizarem mais a mão-de-obra e, claro, pressiona menos eventuais reajustes regulares do setor”.

A possibilidade da adesão à desoneração da folha ser facultativa para as empresas, incluída no texto encaminhado à presidente, também deverá ser vetada. A justificativa da área econômica é de que dificultaria a fiscalização.

A atualização da receita bruta das empresas para que possam optar pelo lucro presumido (regime simplificado de tributação) também foi inserida na MP nº 582. O teto de faturamento, congelado há 10 anos, foi atualizado de R$ 48 milhões para R$ 72 milhões pelos parlamentares. A Receita Federal está calculando o impacto da medida para a arrecadação de tributos. A partir daí, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, decidirá sobre a atualização dos valores.


Só o Brasil perde na Argentina entre maiores exportadores

Valor Econômico

Ceder à Argentina o título de país natal do novo papa é uma ação da Providência divina e até motivo de alívio no governo brasileiro, que temia um Sumo Pontífice próximo à oposição no Brasil, capaz de influenciar assuntos terrenos em período eleitoral. Problema, com o vizinho, é o Brasil perder espaço naquele mercado para outros sócios comerciais: a queda nas importações argentinas e no superávit comercial com o país foi maior para o Brasil que para todos os outros principais sócios em 2012, segundo estudo concluído pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com dados da consultoria argentina Abeceb.com. As exportações brasileiras ao vizinho caíram 18% em relação ao ano anterior, e o saldo encolheu 65%.

Só as importações provenientes do Canadá caíram na mesma proporção da retração brasileira (embora a queda seja bem menor, em termos absolutos). E, entre os cinco maiores sócios comerciais da Argentina, todos os outros tiveram melhoria em seu saldo de comércio – de 52% para a Alemanha, 29% para os EUA e 14% para a China. A Argentina, enquanto reduzia compras do Brasil, aumentou em 160% as da Holanda, 9% as dos EUA, 7% as do Japão e 2% da Alemanha.

O aumento de compras de energia elétrica pelo Brasil, a importância do país, que representa cerca de 20% do total de importações no mercado argentino, e as características do comércio, com forte influência dos automóveis e bens de capital, explicam boa parte do mau desempenho brasileiro. Mas os números levantam desconfianças de excessos contra o Brasil.

Brasil perde espaço no comércio com a Argentina

O resultado é que a Argentina leva governos e empresários vizinhos a cair na tentação de rever as bases do acordo que criou o Mercosul como união aduaneira – onde, na teoria, bens e serviços circulariam sem limitações. Na semana passada, o presidente do Uruguai, José Mujica, repetiu um velho cantochão uruguaio e declarou aos jornais que os sócios do Mercosul estariam melhor sem o voto de obediência ao bloco. Empresários brasileiros também se queixam de que é mais fácil fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha que atravessar as alfândegas platinas com certas mercadorias.

Em 2004, menos de 4% das vendas brasileiras à Argentina sofriam algum tipo de restrição na alfândega. Em 2008, esse percentual já havia subido a 13,5% e, em 2011, a 20%, conforme levantamento da CNI. Em 2012, chegou-se ao inferno dos 100%, com a imposição de um verdadeiro purgatório burocrático.

Nos preparativos para o encontro marcado entre as presidentes Cristina Kirchner, da Argentina, e Dilma Rousseff, do Brasil (adiado sem data certa após a morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez), as autoridades brasileiras chegaram a pedir que os argentinos eliminassem, pelo menos para sócios do Mercosul, a famigerada Declaração Juramentada Antecipada de Informações (Djai), penitência alfandegária exigida de todos os produtos que atravessam a fronteira. Os negociadores argentinos lavaram as mãos.

Criada no ano passado, como parte do esforço argentino para garantir folga nas contas externas, a Djai é o principal mecanismo heterodoxo de controle sobre importações. Atrasando ou simplesmente brecando a emissão das Djai, o governo argentino administra sua balança comercial, que, em 2012, teve um saldo comercial de quase US$ 12,7 bilhões, graças, principalmente, ao calvário imposto aos importadores no país. As exportações argentinas, aliás, caíram 7% em 2012.

A rejeição do pedido brasileiro confirma a suspeita de que o controle informal das importações incorporou-se definitivamente ao credo argentino em matéria de comércio. O Observatório de Defesa Comercial da CNI definiu o ano de 2012, como um “ponto de inflexão” nas heresias comerciais do vizinho, pelo volume de medidas: além da Djai, a Argentina, em 2012, criou uma “Djas”, para os serviços; passou a atrasar a emissão de licenças de importação (medida suavizada nos últimos meses, após queixas dos principais parceiros comerciais); criou “valores-critério”, preços mínimos para produtos importados; e os planos “uno por uno”, em que, para liberar os papéis de importação, o governo passou a exigir que se exportassem mercadorias no mesmo valor.

Consideradas blasfêmia grave no sistema multilateral, essas iniciativas argentinas foram contestadas na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde União Europeia, Japão e Estados Unidos abriram painéis contra as medidas do governo Cristina Kirchner. O México ameaçou, mas abandonou a disputa em troca de cotas de exportação de carros na Argentina – que, como o Brasil, havia decidido rever o comércio administrado com os mexicanos.

Para o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.com, a balança comercial será o principal impulso para a economia argentina, com a benção da melhoria no cenário externo, de maiores preços de commodities e melhores condições econômicas nos maiores mercados. No campo da relação bilateral, o comércio Brasil-Argentina tem pouco espaço para melhorar, mas é nos investimentos de um país no outro que estão as principais oportunidades de preparar os sócios do Mercosul para um relacionamento maduro com a região da Ásia e do Pacífico, que promete ser o polo mais dinâmico da economia mundial nos próximos anos, avalia Sica.

Há consenso entre os dois governos de que é preciso seguir esse caminho e incentivar a integração produtiva entre os sócios do Mercosul. Cabe aí, porém, um velho chavão: o diabo está nos detalhes. O futuro dessas difíceis conversas sobre integração dependerá da sinalização emitida pelos países aos potenciais investidores – como, por exemplo, a forma como o governo argentino administrar a recente decisão da Vale de suspender seus investimentos no bilionário projeto Rio Colorado, de extração de potássio no país. Por enquanto, o governo Kirchner proibiu demissões, ameaçou confiscar a mina onde a Vale enterrou US$ 2,2 bilhões e trata a questão como uma afronta nacional.


Indústria deve investir menos

O Estado de S. Paulo

Apesar de todos os esforços do governo, a indústria brasileira de transformação não ganhou confiança para desengavetar novos projetos de investimento em 2013. Ao contrário, o setor pretende investir este ano 9,5% menos que em 2012. O valor deverá cair de R$ 218 bilhões para R$ 197,3 bilhões, de acordo com uma pesquisa de intenção de investimento que acaba de ser tabulada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Para chegar a esses números, a entidade ouviu mais de 1,2 mil empresas com fábricas em todo o País, entre os dias 22 de janeiro e 23 de fevereiro deste ano.

O resultado surpreendeu o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, responsável pela pesquisa. Tanto que mandou auditar os dados. Ele esperava alguma retomada do investimento depois de o governo Dilma Rousseff ter lançado 15 pacotes de medidas para incentivar o setor produtivo. O último, anunciado quinta feira, liberou R$ 33 milhões para financiar projetos de empresas privadas na área de inovação, pesquisa e desenvolvimento.

“O governo fez muitas coisas corajosas no ano passado, como o corte na taxa básica de juros, a desoneração da folha de pagamentos, a redução do custo da energia elétrica e mesmo com o câmbio”, cita Roriz Coelho. “Mesmo assim, a pesquisa está indicando que ainda existem muitas dúvidas do empresário em investir, em aumentar a capacidade de sua fábrica e depois não ter condições competitivas para vender a produção.”

O diretor da Fiesp não foi o único a ser surpreendido pela resposta das indústrias. “É uma ducha de água fria nas expectativas de dez entre dez economistas”, diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e” professor da Unicamp. “Não é a primeira vez que os economistas acreditam em uma coisa e os empresários, em outra”, acrescentou, bem humorado.

A questão é que a indústria está definhando j á faz algum tempo. Em 2012, por exemplo, a produção física caiu 2,8%, depois de ter ficado estagnada em 2011. Além disso, a balança comercial (diferença entre a exportação e a importação) do setor apresentou em 2012 o maior déficit da sua história, de US$ 50,6 bilhões.

O resultado é que o setor passou a representar só 13,3% do Produto Interno Bruto (PIB), sua menor participação na formação de riqueza do País dos últimos 50 anos. Em 1985, o número foi bem maior, de 27%.

“Essa retração na intenção de investimento faz todo sentido com o clima que percebemos nesse começo de ano nas empresas”, diz Sergio Valle, economista-chefe da MB Associados. “Há uma percepção de que haverá dificuldade de recuperação este ano.” Parte disso, segundo ele, se dá pela baixa competitividade da indústria, que não incentiva as empresas a exportar. Outra parte se dá “pelas incertezas regulatórias que o governo coloca e que sustam os investimentos”.

Confusão

O economista observa, no entanto, que os dados de investimento que são divulgados periodicamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (ENDES) podem causar contusão, já que o banco acena com expansão para 2013. Os números, no entanto, referem-se ao investimento global/ incluindo infraestrutura, óleo e gás e agricultura, por exemplo, que vão bem, e não apenas industrial. “Além disso, caminhões entram em bens de capital e há apenas um efeito estatístico por causa da retração que tivemos no ano passado pela mudança do motor para euro 5, mais cara que o anterior.”

As empresas entrevistadas pela Fiesp mostraram que a elevada carga tributária continua como principal limitante ao investimento! Contudo, o peso dos tributos perdeu importância (em resposta múltipla, foi citado por 56% dos entrevistados, ante 75% em 2012) porque outros fatores ganharam relevância. É o caso da baixa taxa de crescimento da economia, apontada por 36% dos entrevistados. Na pesquisa anterior, foram só 26%.

Arrependimento. O empresário Corrado Vallo, sócio da Omel Bombas e Compressores Ltda, que fornece equipamentos para a indústria petroquímica, sentiu isso na pele. Há dois anos, a empresa investiu R$ 6 milhões na compra de máquinas e ainda tinha planos de investir outros R$ 6 milhões na construção de uma nova unidade.

“Desistimos desse projeto porque simplesmente não tem demanda”, conta o empresário. “Até nos arrependemos um pouco de ter comprado aquelas máquinas, avançadíssimas, de comando numérico para usinar peças de três eixos, que não existiam no Brasil, porque elas deveriam trabalhar em três turnos e só estamos conseguindo rodar um turno por falta de serviço.”

De acordo com a pesquisa da Fiesp, o investimento industrial em máquinas e equipamentos é o que deverá apresentar maior queda este ano, de 16,4%. Enquanto em 2012 foram investidos R$ 160 bilhões, agora se espera que sejam investidos só R$ 133,8 bilhões.

“É caro investir no Brasil”, queixa-se Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “É muito mais fácil trazer o produto pronto de fora, porque o retorno sobre o investimento é demorado demais, em razão das altas taxas de juros e do peso dos impostos que temos aqui.”

Um único setor deverá receber mais dinheiro este ano. Os investimentos em gestão deverão crescer de R$ 17,2 bilhões, em 2012, para R$ 27,3 bilhões, um salto de 58,4%.

“Esse aumento significativo deve-se à estratégia de eficiência produtiva adotada pelas empresas, que visa a reduzir custos e a substituir máquinas obsoletas por versões modernas”, explica Roriz Coelho.

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