Aborto até 3º mês reacende debate no país
Pela primeira vez, o Conselho Federal de Medicina (CFM) se posicionou sobre o aborto no Brasil. A autarquia defendeu ontem a liberação da prática até o 3º mês de gestação. Atualmente, a interrupção da gravidez só é permitida em caso de estupro, anencefalia e risco de morte para a mãe. Em todas demais circunstâncias, o aborto é considerado crime, com pena de 1 a 3 anos de prisão. O CFM enviará à comissão especial do Senado que avalia a reforma do Código Penal um documento com a manifestação formal da entidade. Entre as propostas da comissão está, justamente, a descriminalização do aborto. O projeto de lei em discussão autoriza o procedimento desde que a mulher tenha um laudo assinado por médico ou psicólogo constatando a falta de condições psicológicas de arcar com a maternidade. Mas o pré-requisito, para o CFM, é desnecessário.
A decisão da autarquia foi tomada no início do mês, em um encontro dos 27 conselhos regionais de medicina do país. O posicionamento pró-aborto contou com a aprovação de 80% dos representantes da categoria. Para o presidente do CFM, Roberto Luis d´Ávila, a medida se baseia na preservação da autonomia das mulheres e no ponto de vista da saúde pública. “Há uma hipocrisia social. Quem tem condições financeiras, faz o procedimento de maneira segura. Quem é pobre faz em condições erradas e enriquece as estatísticas de mortalidade inaceitáveis”, avaliou o presidente.
Segundo a Pesquisa Nacional de Aborto, financiada pelo Ministério da Saúde, uma em cada cinco brasileiras, aos 40 anos, já fez ao menos um aborto na vida. E metade dessas mulheres teve que ser internada por complicações decorrentes da prática clandestina. Só no ano passado, 180 mil curetagens foram feitas na rede pública de saúde, ao custo de R$ 40 milhões. Apesar do posicionamento do CFM, D’Ávila não acredita que a descriminalização do aborto vá ocorrer em breve no país. “O Brasil é um dos países que menos avançaram nesse debate. Portugal, extremamente católico, já se decidiu por descriminalizar o procedimento”, exemplificou o presidente da entidade.
Ele também rechaça a ideia de que, caso se torne legal, a prática do aborto será mais recorrente. “Não acho que o número aumentaria. É uma decisão sofrida e quem decide tomá-la faz o aborto independentemente de ser ilegal ou não.” Para ele, a mudança na lei permitiria às mulheres que optassem por não levar a gravidez adiante ser atendidas em ambientes seguros, limpos e com mais acesso a antibióticos, por exemplo.
Critério técnico
O período de três meses para a mulher decidir abortar, sem qualquer punição legal, obedece critérios médicos, segundo o presidente do CFM. Ele explica que o intervalo de 12 semanas é considerado um tempo de gestação seguro para o procedimento de limpeza da cavidade uterina. Depois disso, o aborto passa a representar alto risco para a mulher. Outro ponto esclarecido por d´Ávila é que geneticistas creem que, a partir do terceiro mês, já existe formação do sistema nervoso central do embrião. “Nesse momento, o feto já teria sensibildade suficiente para, caso fosse agredido, sentir tudo.”
Um dos conselhos regionais de medicina que não concordaram com o CFM foi o de Minas Gerais. “A posição do conselho é contra o aborto da forma como a reforma do Código Penal propõe, porque pensamos que há formação da vida já na fecundação. E, a partir daí, a posição do médico é de defendê-la”, esclareceu o presidente do conselho mineiro, João Batista Gomes Soares. Ele entende que o pai também precisa ter o direito de opinar sobre a decisão da mulher.
Apagão logístico faz China cancelar compra de soja
O Globo
Gargalos enfrentados para escoar a produção podem frustrar previsões de que o complexo da soja – grão, óleo e farelo – se tornaria, este ano, o primeiro item da pauta de exportações brasileira, desbancando o minério de ferro. Nas projeções da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), com safra recorde e preços elevados, o trio atingiria US$ 32,5 bilhões em vendas externas em 2013, contra US$ 30 bilhões do minério de ferro. Se os cancelamentos de embarques de soja continuarem por causa dos crescentes atrasos no fornecimento, no entanto, a tendência é que a média de preços do grão caia, comprometendo seu desempenho nas exportações. A chinesa Sunrise, maior trading do país, já cancelou a compra de pelo menos dois milhões de toneladas de soja, alegando atrasos na entrega por causa das longas filas nos portos. É a primeira que uma empresa daquele país suspende contratos por problemas logísticos. A empresa diz que deveria ter recebido seis navios em fevereiro e outros seis em março. E avalia a possibilidade de comprar da Argentina. A China é o principal comprador da soja brasileira.
As previsões da AEB consideram o preço anual médio da tonelada de soja a US$ 580 e embarques de 38 milhões de toneladas em 2013. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram, porém, que a média de preço entre janeiro e a terceira semana de março está bem abaixo dessa projeção (US$ 530). Paralelamente, o minério de ferro está em situação inversa. Nas estimativas da AEB, a média de preço da commodity ficaria em US$ 95 este ano e o volume exportado, em torno de 320 milhões de toneladas. Mas 2013 ano começou aquecido para o minério, cujo preço médio da tonelada exportada está em US$ 110.
– Ainda mantenho minhas previsões, mas é possível que os problemas que os produtores de soja estão enfrentando atrapalhem o desempenho do setor. Esse apagão da soja só mostra que o Brasil não está preparado para crescer – afirma o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Para Castro, a alegação da Sunrise é um pretexto para comprar o grão por um preço menor mais adiante. Independentemente das reais razões, o fato é que o produtor que não honrar contratos devido a atrasos no suprimento vai ter prejuízos, pois a tendência é que o preço da soja caia no segundo semestre, quando a produção americana é comercializada com força. Brasil e EUA são os principais exportadores mundiais de soja.
O problema é que o engarrafamento de caminhões nos portos de Santos e Paranaguá, os dois principais canais de escoamento da soja, tende a piorar nos próximos meses com a estimativa de safra recorde do grão de cerca de 83 milhões de toneladas. O pico da comercialização da soja é em abril e maio, quando a safra de açúcar começa a ser escoada. Em seguida, milho e algodão também passam a disputar os mesmos caminhoneiros, inevitavelmente provocando mais congestionamentos.
Ontem, a fila de caminhões na rodovia Cônego Domênico Rangoni, que leva ao porto de Santos, o maior da América Latina, chegava a 25 quilômetros, quase o dobro da extensão da Ponte Rio-Niterói ou a metade de todo o trajeto da avenida Brasil, principal artéria da capital fluminense. Já esteve pior: na terça-feira, de acordo com a concessionária que administra a pista, eram 34 quilômetros de espera.
Tempo parado nas estradas é prejuízo não só para os caminhoneiros, mas também aos produtores e exportadores. Em uma estimativa otimista, o Sindicato das Agências de Navegação Marítima de São Paulo (Sindamar) disse que o prejuízo com a manutenção de navios que aguardam para serem carregados de grãos é de US$ 150 milhões por dia – os exportadores arcam com o valor.
O presidente da entidade, José Roque, explica que essa conta considera duas situações ainda sem solução. A primeira diz respeito, efetivamente, à demora para a chegada dos caminhões até o porto. A outra razão é a chuva. Chove na região desde o domingo e, como não existem coberturas para abrigar o serviço de desembarque/embarque de grãos, os navios não podem ser operados.
– Não adiante ter supersafra, se as empresas estão perdendo na ponta, sem conseguir escoar a produção. Há muita retórica no governo e pouca ação. Estamos no fundo do poço da infraestrutura.
“Caminhão parado é sinal de ineficiência”
Como resultado da demora, um navio de granel sólido de 600 mil toneladas, que antes levava em média dois dias para ser abastecido, agora precisa de até quatro dias para concluir o trabalho e navegar. A Codesp, que administra o porto, diz que o problema se deve à falta de infraestrutura das estradas e que as condições climáticas atrapalharam muito nos últimos dias. De acordo com dados oficiais, existiam ontem 33 navios atracados no porto e outros 79 na barra, à espera de uma vaga na ancoradouro. Mas os números do Sindamar são de até 150 parados para serem carregados.
Para o governo, as filas de caminhões são uma prova da falta de capacidade da infraestrutura em atender a demanda. Segundo o ministro da Secretaria de Portos, Leônidas Cristino, para amenizar o problema no porto de Santos é preciso aumentar a quantidade de terminais, adotar equipamentos mais modernos, além de cobrir os terminais. Os problemas, diz, reforçam a necessidade de aprovação da MP 595, que reformula o setor:
– A fila revela a falta de capacidade dos portos. Muita chuva e safra recorde agravam o problema.
O presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, diz que a fila de caminhões em Santos ocorre porque faltam armazéns e silos, um dos grandes problemas nos portos.
– Os portos brasileiros são muito fatiados (pequenos terminais) e não operam em escala, outro fator de filas. Somente no Brasil, a carga sai do caminhão e entra no navio. Caminhão foi feito para rodar, parado é sinal de ineficiência.
Depois de 30 horas na fila, Pedro Martins, caminhoneiro há 20 anos, puxou o freio de mão e foi caminhar junto ao acostamento da pista. Queria “esticar as pernas” e matar o tempo até que a longa fila de caminhões começasse a se mover.
– Faço esse percurso normalmente em três horas, mas estou parado desde as 8h de ontem (quarta-feira). E não tenho ideia de quanto tempo mais vou levar. Nunca vi isso antes – disse Martins, que transportava soja.
Em outro trecho da rodovia, Djalma Mendes armou uma mesinha no meio da pista, com fogareiro a gás e panelas. Almoçou arroz, feijão, ovo e linguiça. Segundo ele, o atraso na entrega de sua carga vai gerar um prejuízo de cerca de 15% em seu faturamento bruto mensal, que é de R$ 15 mil.
– Não vou cumprir a programação que eu tinha para este mês.
Balanços mostram lenta recuperação das empresas
Valor Econômico
As empresas de capital aberto mantiveram, no quarto trimestre, a tendência de recuperação vista nos meses anteriores, com crescimento das vendas, dos resultados operacionais e dos lucros. Embora o cenário macroeconômico ainda seja uma barreira para um crescimento mais forte, o pessimismo dos analistas de investimentos parece ceder lugar à expectativa de um ano um pouco melhor em 2013.
Números compilados pelo Valor Data, com base nos dados da consultoria Economática de demonstrações contábeis de 133 empresas, mostram que a receita é a maior em dois anos, mas cresceu em proporção semelhante aos custos – ou seja, eles também são os maiores da amostra. A chamada margem bruta – o que sobra das receitas depois de descontados os custos – foi de 28,3% no quarto trimestre, abaixo dos 28,9% do mesmo período do ano anterior.
Na análise dos dados, o Valor optou pela amostra que exclui Petrobras e Vale (os números com e sem os dois balanços estão na tabela desta página), já que o tamanho desproporcional das duas empresas distorce o resultado geral.
Nos três meses encerrados em dezembro, sem Petrobras e Vale, a receita de vendas e serviços avançou 8,6% na comparação com julho a setembro e 18,6% sobre igual período do exercício anterior, para R$ 207 bilhões.
Os custos com produtos e serviços (que, grosso modo, inclui matérias-primas, insumos e mão de obra no chão de fábrica) avançaram 8,7% e 19,6%, respectivamente, para R$ 148,41 bilhões. O lucro líquido subiu 25,7% sobre três meses antes e 31,4% anualmente e somou R$ 16,22 bilhões.
Quando Petrobras e Vale entram na conta, o lucro líquido cai 29% em bases anuais, para R$ 18,34 bilhões, e a receita sobe 16,5%, para R$ 309,15 bilhões. Os custos avançam 22,2%.
“A percepção é que os negócios permaneceram rentáveis”, dizem os analistas Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, da Coinvalores, mas a recuperação ainda é “incipiente”.
A eficiência, medida pela relação entre receita de vendas e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) aumentou para 20% no quarto trimestre, após manter-se em 18,7% nos quatro trimestre anteriores, o que mostra uma contenção das despesas operacionais com vendas, gerais e administrativas – gastos com publicidade e salários de executivos, por exemplo, entram nessa conta.
Mas a grande preocupação é com os custos. Algumas empresas conseguiram repassar os aumentos aos clientes apenas neste início de ano, como as produtoras de papel Klabin e Suzano, as siderúrgicas Usiminas e CSN, e a Petrobras, que reajustou o preço do diesel por duas vezes desde janeiro.
Entre os grupos que se empenharam em diminuir custos, mas ainda preocupam, estão as produtoras de papel e celulose, a Vale e a siderúrgica Usiminas. Na contramão, as empresas de saúde tiveram um crescimento relativamente baixo, “com um aumento da receita em linha com a inflação, enquanto os custos a superaram”, nota o analista Guilherme Assis, da Brasil Plural Corretora.
Na Petrobras, os custos continuam em alta. A esperança é que os repasses de preço diminuam uma parte da defasagem sobre os preços internacionais, pelos quais a companhia compra combustíveis no exterior. No quarto trimestre, os custos com vendas da estatal subiram 18,5%, para R$ 56,8 bilhões, o que, para se ter ideia da grandeza, representou um terço do faturamento de todas as empresas da amostra. A receita não subiu na mesma proporção, o que reduziu em quatro pontos percentuais a margem bruta para 23%.
Os estoques, no entanto, deram um sinal positivo aos investidores. Após nove meses de crescimento, as empresas conseguiram reduzir a linha do balanço para R$ 77,65 bilhões entre outubro e dezembro. Segundo os analistas da Coinvalores, a queda refletiu os ajustes de produção e a estabilização da demanda.
A situação mais saudável deu fôlego para o repasse de preços. Foi o caso da Usiminas, que reduziu os estoques para R$ 3,78 bilhões no trimestre, em 95 mil toneladas de aço, e em 482 mil toneladas em 2012. “Foi uma desestocagem intensa de aço fabricado em 2011, com custos mais elevados, que sacrificou margens da empresa, porém reforçou seu caixa”, disse a companhia em nota que acompanha o balanço.
A Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Industria (CNI) apontava em novembro a baixa dos estoques para um nível próximo ao planejado, de 50,5 pontos. O indicador não se situava neste patamar desde abril de 2011.
Os setores com mais facilidade para o repasse de preços, como as empresas de alimentos e bebidas, cujos produtos são de consumo essencial, e concessões e shoppings centers, com receita indexada à inflação, mostraram bons resultados, diz Leonardo Milane, estrategista do banco Santander.
No acumulado de 2012, a receita líquida atingiu R$ 1,115 trilhão, alta de 32,6% em bases anuais, e o lucro alcançou R$ 81,38 bilhões, 30,7% inferior a 2011. Sem Petrobras e Vale, a receita subiria 36%, para R$ 740,17 bilhões, e a última linha do balanço recuaria 4,3%, para R$ 51,87 bilhões.
Os números de 2012 não foram tão fortes quanto o desejado, mas os balanços sinalizam o bom desempenho em 2013. O início do ano pode continuar morno, na opinião de analistas, mas o crescimento é certo no segundo semestre até para os setores com mais dificuldades.
“O mercado tem olhado para 2013 com perspectivas positivas, sem se preocupar com aspectos pontuais do quarto trimestre”, afirmam Piagentini e Barbosa, da Coinvalores.
No segmento de siderurgia, existe uma recuperação nos preços do aço que pode trazer melhoras operacionais. A Vale é muito dependente do preço do minério de ferro, mas o enfoque em eficiência é o que mais vai importar, diz a analista Juliana Chu, da Votorantim Corretora.
Em consumo, o ritmo de abertura de lojas tende a continuar forte neste ano, indicando a manutenção da perspectiva de crescimento, diz Luiz Cesta, do banco Votorantim.
Em logística, que teve bom desempenho em 2012, na opinião do analista Gabriel de Gaetano, da Fator Corretora, as novas licitações de concessões que acontecem neste ano podem trazer otimismo.
Tombini destaca atuação ‘serena’ do BC para mitigar vulnerabilidades
Valor Econômico
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou ontem que há um potencial “enorme” de oportunidades para os bancos de pequeno e médio portes no país. Em evento para celebrar os 30 anos da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), entidade que representa os bancos pequenos e médios, Tombini preferiu não falar sobre juros e inflação, concentrando seu discurso no papel das instituições financeiras de menor porte dentro do sistema financeiro.
“Nos últimos dois anos, o BC atuou de forma serena, mas firme, para mitigar vulnerabilidades. Posso assegurar que temos hoje um sistema financeiro ainda mais sólido”, disse.
Tombini afirmou que a expansão na base de clientes pelos bancos contribuiu para a redução das desigualdades nos últimos anos. Segundo o presidente do BC, os bancos pequenos e médios possuem papel de destaque na atuação em nichos não atendidos pelas instituições maiores ou na flexibilidade e no desenvolvimento de novos produtos.
O executivo também destacou que os bancos médios hoje representam 18% dos ativos totais do sistema financeiro e que estão capitalizados. Ainda segundo Tombini, a autoridade monetária trabalha continuamente para fortalecer os bancos pequenos e médios.
“Observamos nos últimos anos avanços estruturais significativos no país”, disse.
O presidente do BC afirmou ainda que cabe ao setor bancário e ao mercado de capitais atender à demanda por soluções financeiras para a realização de investimentos na economia. “O BC estará sempre presente para oferecer condições regulatórias para o desenvolvimento do sistema financeiro nacional”, ressaltou em discurso durante a cerimônia.
O presidente da ABBC, Renato Oliva, procurou minimizar o recente rebaixamento do rating de seis bancos médios brasileiros. Para ele, as agências de classificação de risco têm percepção muito voltada a aspectos conjunturais. “Elas fazem projeções em cima do crescimento das carteiras, mas olham o contexto econômico daquele momento”, afirmou.
Para ele, os bancos de menor porte estão entre os setores produtivos brasileiros que mais investem em tecnologia e enfrentam naturalmente questões regulatórias.
Também presente ao evento da ABBC, o vice-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Márcio Percival, disse que os planos de captação de recursos do banco no mercado externo estão mantidos, apesar do rebaixamento do rating do banco pela agência Moody”s.
Percival disse que o plano é captar entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões em maio para o financiamento de projetos de infraestrutura. Ele disse que a Caixa vai esperar a divulgação do balanço do primeiro trimestre para mostrar os resultados e, somente então, acessar o mercado externo.
O vice-presidente do banco se disse surpreso com a decisão da agência de classificação de risco, mas que acredita que o corte na nota não afetará o custo de captação do banco. “Estamos hoje com a mesma solidez de tempos atrás. Crescemos com solidez e segurança”, disse.
Segundo Percival, os papéis do banco no mercado secundário sofreram pouco impacto no exterior com a notícia. Ele comentou, porém, que recebeu várias ligações de investidores hoje. “Os papéis vão se recuperar.”
Diplomata vê ‘momento de ouro” na relação Brasil-EUA
Valor Econômico
A relação entre Brasil e Estados Unidos vive um momento favorável, com avanços expressivos em áreas como educação, ciência e tecnologia, inovação e energia, disse ontem Todd Chapman, ministro-conselheiro da embaixada americana em Brasília. Ele vê um “momento de ouro” no relacionamento entre os dois países, discordando da avaliação de que a relação é morna.
Em entrevista a jornalistas brasileiros em Washington, Chapman afirmou que a aprovação, pelo Senado brasileiro, do Acordo de Troca de Informações Tributárias entre Brasil e Estados Unidos, no começo do mês, é “encorajadora”, e pode abrir espaço para a negociação de um tratado de bitributação.
Chapman destacou a intensificação dos negócios entre os dois países. Citou a compra da Amil pela American Health, definida em outubro do ano passado, e a da Drogaria Onofre pela CVS, em fevereiro. São investimentos em novas áreas, ressaltou ele,que vão além dos realizados por empresas americanas que há muito tempo têm presença no Brasil. Chapman disse ainda que empresas brasileiras também investem mais nos EUA.
Outro ponto importante, segundo o diplomata americano, é a presença da Embraer nos EUA, que venceu licitação para fornecer aviões para a Força Aérea americana. A parceria entre Embraer e EUA está muito bem estabelecida”, disse Chapman, segundo quem não é possível entrar num aeroporto no país em que não haja um avião fabricado pela empresa brasileira.
Sobre as medidas protecionistas adotadas pelo governo brasileiro no ano passado, com a elevação de tarifas de importação de cerca de cem produtos industriais, o que desagradou ao governo americano, Chapman disse que “isso pertence mais ao USTR (a secretaria de Comércio dos EUA). Acho que o mais importante é continuar ampliando o comércio entre EUA e Brasil, e trabalhar nos temas que vão facilitar essa expansão”, afirmou o conselheiro.
“Há medidas tarifárias sobre as quais talvez não estejamos 100% de acordo, mas há maneiras de conversar sobre isso. O importante é ter os mecanismos para discuti-los. Eles existem e estão sendo utilizados”, disse Chapman. “Nós acabamos de ter o diálogo comercial em Washington, no fim de fevereiro, que foi muito construtivo. Vamos continuar conversando sobre esses temas.”
Avança projeto de lei que beneficia mineradoras
O Estado de S. Paulo
Ambientalistas de Minas Gerais estão se mobilizando para tentar impedir a aprovação, pela Assembleia Legislativa do Estado, de um projeto que autoriza mineradoras a dragarem o fundo de rios de preservação permanente. O projeto de lei 3.614/12, já aprovado em primeiro turno, autoriza o “revolvimento de sedimentos para a lavra de recursos minerais” em rios como o São Francisco, o Jequitinhonha, o Cipó e outros que integram a Bacia Hidrográfica do São Francisco. O texto está pronto para ser votado em segundo turno e, se for aprovado, dependerá apenas de sanção do governador Antonio Anastasia (PSDB) para entrar em vigor.
O projeto, apresentado pelo deputado Lafayette de Andrada (PSDB) em dezembro, passou pelas comissões de Constituição e Justiça e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e, entre os dias 5 e 11, acabou aprovado em plenário. No dia seguinte, o deputado Célio Moreira (PSDB), relator do projeto na Comissão de Meio Ambiente – que preside já deu parecer favorável à sua aprovação, mas a Casa entrou em recesso pouco depois.
A aprovação desse projeto no apagar das luzes, mesmo com parecer contrário da Secretaria de Meio Ambiente, pegou todo mundo de surpresa. Alguns desses trechos são importantes áreas de piracema”, observou Maria Dalce Ricas, superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda). Ela contou que apelou até ao governador – que tem maioria no Legislativo. Mas o texto continua na pauta.
O autor do projeto, porém, afirmou que estaria disposto até a retirar a proposta. Lafayette de Andrada disse que o objetivo era permitir apenas a extração artesanal, com autorização de órgãos ambientais, de areia e cascalho, que eram exercidas em municípios à beira do Rio Grande antes de aprovação de lei, em 2004, vetar a atividade. Segundo o deputado, foram “inseridas” emendas que desvirtuaram o projeto.
“Meu projeto tinha uma linha e agora tem duas páginas. Virou um carrapato carregando um boi. Não sou a favor do monte de loucuras que está lá”, garantiu Andrada. O deputado Célio Moreira não foi encontrado para falar sobre o caso.
Mercados estão intranquilos
Valor Econômico
A saída dos investidores estrangeiros do mercado ganhou força nos últimos dias. Ontem, esse fluxo sustentou a forte valorização do dólar ante o real e colaborou para mais um dia de baixa na Bovespa, que atingiu o menor nível do ano. A moeda americana superou o patamar dos R$ 2 e registrou a maior cotação desde 25 de janeiro, o que coloca em xeque a tese do mercado de que esse preço seria o teto da banda cambial informal do Banco Central. O descontentamento dos investidores com as frequentes intervenções do governo no mercado, a deterioração das contas internas e a maior atratividade de outras economias, especialmente a do México, estão por trás dessa saída de estrangeiros do país, segundo profissionais do mercado.
Na Bovespa já há sinais de que o estrangeiro está em retirada. Depois de aportar mais de R$ 8 bilhões em ações brasileiras neste ano, esse investidor sacou cerca de R$ 700 milhões entre sexta (15) e terça-feira. Sua posição vendida em Ibovespa Futuro (uma aposta de baixa do mercado) alcançou na quarta-feira a marca histórica de 142 mil contratos. Na avaliação de um gestor, essa posição elevadíssima denota, no mínimo, uma proteção do estrangeiro contra possíveis novas baixas da bolsa. O dólar subiu 1,06% ontem, fechando a R$ 2,011, enquanto o Ibovespa recuou 0,81%, para 55.576 pontos.
“Há uma debandada mesmo entre os estrangeiros, que estão demandando dólar para sair do país”, disse Italo Abucater, especialista em câmbio da Icap Brasil. Segundo ele, o movimento ganhou força com as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no início da tarde de ontem. “A declaração do Mantega, de que o câmbio é flutuante, deu segurança para o mercado romper o R$ 2, acreditando que esse não é mais o teto”, comentou Abucater.
Segundo informou o diretor de uma outra corretora de câmbio, logo após o dólar superar a casa dos R$ 2, foram fechados mais de US$ 300 milhões em exportações.
Os volumes negociados na Bovespa e no dólar à vista, segundo operadores, também são um indício da saída de investidores estrangeiros. Na bolsa, o volume foi de R$ 6,504 bilhões, abaixo da média de R$ 7 bilhões registrada nos pregões de fevereiro e março, enquanto no câmbio à vista o volume saltou, atingindo US$ 3,557 bilhões, conforme dados da clearing da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que registra cerca de 90% do giro no interbancário.
Analistas e operadores aqui e no exterior têm a mesma percepção sobre quem está roubando o espaço do Brasil: o México. A insegurança provocada pelas medidas adotadas pelo governo brasileiro, como as mudanças nas regras do setor elétrico, se contrapõe ao ambiente de negócios estável e a proximidade do México com a economia americana, que está acelerando o seu crescimento. Isso torna o México uma alternativa melhor para investidores que buscam economias emergentes nas Américas.
Para o estrategista do BNP Paribas, Diego Donadio, a decisão da Moody”s de rebaixar a nota de crédito de longo prazo da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e da empresa de participações desse banco, o BNDESPar, exemplifica a piora da percepção de risco da política econômica do governo em geral. Isso explica, também, a piora adicional dos Credit Default Swaps (CDS) – contratos que medem o custo de proteção contra o risco de calote de um emissor – do Brasil. Segundo Donadio, o contrato de cinco anos avançou para 135 pontos-base, ampliando assim o spread (diferença) em relação ao CDS do México, negociado a 92 pontos-base.
Um gestor de um banco estrangeiro contou que seus clientes costumam comparar países da América Latina com a mesma nota de classificação de risco, como Brasil, México, Colômbia e Peru. Ele também destacou que a diferença entre os CDS de México e Brasil aumentou consideravelmente.
Outro especialista de uma instituição brasileira ressaltou que o desempenho da bolsa de um país também é um importante referencial para os investidores decidirem se vão ou não aplicar no país. “Você entraria num país onde a bolsa está caindo 20% no ano? Eu pensaria duas vezes”, diz. Enquanto o Ibovespa acumula queda de 16,9% em 12 meses, a bolsa do México sobe 10,6% no mesmo período.
A elevada posição vendida dos estrangeiros em contratos de Ibovespa futuro indica, no mínimo, que os estrangeiros estão com o pé atrás. As fortes oscilações do mercado se tornaram frequentes, especialmente após medidas de intervenção do governo em setores como elétrico e bancário, e também na Petrobras, dizem operadores. O último capítulo dessa novela foi a mudança na base de remuneração das tarifas da Cemig pela Aneel.
O comportamento do mercado de juros também evidencia o sentimento negativo em relação ao Brasil que cresce entre os investidores estrangeiros. Pela segunda sessão seguida, as taxas de juros na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam em alta, puxadas pela aversão a risco na Europa e nos Estados Unidos e pelo rebaixamento da classificação de risco de bancos estatais brasileiros pela Moody”s.
A desconfiança com o Brasil contaminou inclusive o mercado de dívida local. Em leilão de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F), ambos papéis prefixados, investidores exigiram taxas mais elevadas que as da colocação anterior.