Brasileiro deve 43,4% da renda

O endividamento do brasileiro cresceu no ano passado, chegando a dezembro a 43,4% da renda total das famílias, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado ontem pelo Banco Central. O indicador era de 42,07% em janeiro de 2012 e havia alcançado 43,2% em junho. Boa parte desse aumento se deveu à expansão do crédito imobiliário.

Apesar de os financiamentos para compra da casa própria terem se ampliado, o crédito total do sistema financeiro perdeu força ao longo do ano passado. Em dezembro, o volume de empréstimos e financiamentos registrava uma expansão de 16,4% no acumulado de 12 meses, contra altas de 18,8% em 2011, e de 20,6% em 2010. O estoque total de crédito atingiu R$ 2,37 trilhões, o equivalente a 56,3% do Produto Interno Bruto (PIB).

A tendência, segundo o BC, é que a trajetória de desaceleração continue. A redução do crédito e dos juros diminuiu os lucros dos bancos. No entanto, para o BC, que fez simulações sobre a capacidade das instituições de resistir a turbulências, elas estão mais resistentes a crises. “O Sistema Financeiro Nacional continua solvente e mostrando resiliência grande”, resumiu o diretor de Fiscalização, Anthero Meirelles, ao divulgar o relatório.


Cesta básica cai pouco e alimentos sobem em SP

Valor Econômico

Apesar de diversos alimentos da cesta básica terem sido desonerados no início do mês, os preços do grupo alimentação encerraram março ainda mais caros do que em fevereiro e foram o principal fator de alta no Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (IPC-Fipe), que considera a inflação na cidade de São Paulo. Os alimentos saíram de alta de 0,34% em fevereiro para 0,77% em março. Ainda assim, garantido pela queda de 10,95% nas tarifas de energia elétrica no período, o IPC-Fipe encerrou o mês com deflação de 0,17%, ante alta de 0,22% no mês anterior.

“Esperávamos uma queda mais acentuada, de 0,20%, mas os alimentos, principalmente os in natura, subiram mais do que imaginávamos”, disse Rafael Costa Lima, coordenador do IPC-Fipe. Os produtos in natura, subgrupo que considera frutas, legumes e verduras, se consolidou como o principal foco de alta entre os alimentos no mês: prejudicados pelas chuvas, ficaram 4,36% mais caros, ante alta de 1,5% em fevereiro.

Já livres de impostos, os in natura não fizeram parte do pacote de desonerações que o governou concedeu à cesta básica a partir de 8 de março. Café, óleo, manteiga, açúcar e carnes, além de papel higiênico, pasta de dente e sabonete foram os produtos que pagavam até 12,5% de PIS-Cofins e tiveram o imposto zerado com a medida. Açúcar e sabonete ainda ficaram livres da cobrança de 5% de IPI.

A redução dos impostos, no entanto, chegou em muito menor proporção ao consumidor: o conjunto destes produtos, segundo a Fipe, ficou apenas 1,44% mais barato desde que as desonerações passaram a valer, e muito pouco impacto tiveram no IPC de março. A cesta chegou, inclusive, a encarecer ao longo do mês: logo depois do anúncio, ela chegou a custar R$ 86,29, mas desde então já subiu para os atuais R$ 87,49. É apenas R$ 1,28 a menos do que no início do mês, quando, ainda antes de ser desonerada, custava R$ 88,77.

“Esperávamos uma queda maior, mas isso deve agora se acentuar em abril”, disse Lima. Já contando com este impacto, somado a produtos in natura mais ajustados, a Fipe prevê um IPC a 0,33% no próximo mês. A alta em relação a março será puxada pelo fim dos efeitos da redução em energia elétrica no índice. Alimentos devem desacelerar para 0,38%.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse, ontem, em Brasília, que o primeiro impacto da desoneração de PIS-Cofins sobre a cesta básica já foi sentido e que agora um impacto secundário deve se propagar no restante do ano. “Com a própria redução da carga, a competição entre os supermercados, as empresas vão incorporando isso nos seus preços. Eu acho que grande parte do impacto já foi sentida, mas ainda há um impacto menor que vai se propagar o ano todo”, afirmou Barbosa após participar de audiência pública no Congresso sobre a unificação da alíquota interestadual do ICMS.

Em março, puxado por energia, o grupo habitação foi o que teve maior queda no mês, com deflação de 1,05%, ante queda de 0,21% em fevereiro. Foi seguido por despesas pessoais, que com ajuda das deflações em turismo, caiu 1,02% (ante -0,10% em fevereiro). Além de alimentação, o único grupo que também teve aceleração da inflação de fevereiro para março foi vestuário, de 0,36% para 0,44%; todos os demais desaceleraram: transportes foi de 0,84% para 0,28%, saúde de 0,58% para 0,25% e educação de 0,27% para 0,13%.

Nelson Barbosa reafirmou ontem que após a conclusão da discussão sobre o ICMS, o governo pretende enviar, ainda neste ano, um projeto para o Legislativo para reformar a cobrança de Pis/Cofins. “A nossa intenção, se tivermos sucesso nessa questão do ICMS, é mandar uma reforma de Pis/Cofins para ser discutida pelo Congresso ao longo do segundo semestre e entrar em vigor em janeiro”, declarou.


Demanda externa fraca acentua queda da indústria

Valor Econômico

A dificuldade da indústria em elevar o volume de exportação e a falta de confiança na demanda doméstica contribuíram para o resultado frustrante da produção física no primeiro bimestre, com alta de 1,1% em relação a igual período de 2012. Ao mesmo tempo, as medidas para elevar a competitividade não tem livrado os fabricantes de alguns setores a enfrentar a concorrência dos importados.

Um cruzamento dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com os de volume de exportação e importação mostra que, dos nove setores que tiveram queda de produção física no primeiro bimestre, em relação ao mesmo período de 2012, cinco registraram, no mesmo período, redução do volume de exportação que variou de 2,2% a 20,6%. Esses cinco setores – fumo, edição/impressão, metalurgia básica, máquinas/equipamentos e produtos de informática, eletrônicos e ópticos – representam um quinto da produção industrial do país. Foram considerados setores com queda de produção física os que apresentaram redução maior que 1%. No setor têxtil, que amargou queda de produção de 7% no primeiro bimestre, houve estabilidade no nível de exportação. Os dados de volume de embarques e desembarques são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Fernando Ribeiro, técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (Ipea), diz que a queda de embarques em vários segmentos industriais de manufaturados, como máquinas e equipamentos, revela problemas estruturais do setor. O volume de exportações de manufaturados caiu 7% no primeiro bimestre ante iguais meses do ano passado. No setor de máquinas e equipamentos a queda foi maior, de 20,7%. No mesmo período a produção industrial do segmento caiu 2,3% e o volume importado, 0,3%. “Os dados do setor de máquinas e equipamentos revelam também baixo nível de investimento das empresas no país”, diz Ribeiro.

Além do Reintegra, programa que devolve em créditos tributários parte do valor exportado, o setor de máquinas foi beneficiado com a desoneração da folha no decorrer de 2012. Para Ribeiro, porém, a recuperação da exportação brasileira de manufaturados depende não só das condições internas de produção. “Não bastam apenas medidas de competitividade e nem câmbio. É preciso uma melhora no cenário de baixo crescimento mundial.”

O economista do Ipea diz que, segundo dados da Organização Mundial do Comércio, em 2010 até 2011, o volume total importado no mercado internacional cresceu entre 1,5% e 2,5% a cada trimestre. A partir do quarto trimestre de 2011 até o terceiro trimestre do ano passado, porém, essa taxa de crescimento caiu para entre zero e 0,5%. Esse cenário, diz Ribeiro, não deve melhorar muito a curto prazo. Ao mesmo tempo, não há expectativa de explosão no consumo doméstico.

Julio Sergio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica, avalia que alguns segmentos já sentem na produção não só a menor demanda internacional como a do mercado interno. Entre eles os fabricantes de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos tiveram queda de produção industrial e também registraram redução não só do volume de exportação como de importação (ver quadro).

Outro segmento, o de minerais não metálicos, diz Almeida, reflete a desaceleração da construção civil no mercado doméstico. O setor ficou com produção física praticamente estável, com leve queda de 0,7% no primeiro bimestre, com volume de importação também estável, em 0,4%.

“A dificuldade da indústria de voltar a um patamar de crescimento de produção sustentável reflete uma falta de confiança no crescimento da demanda interna”, diz Silvia Matos, pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). As medidas de estímulo a consumo, como as reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), diz ela, provocaram antecipação de compras durante o ano passado e a incerteza de comportamento do mercado. “Sem a certeza da demanda, as empresas tendem a recompor a margem de lucro e aumentam seus preços”, diz Silvia. Com isso, ficam ainda menos competitivas em relação aos importados que ainda entram no mercado brasileiro nos segmentos nos quais há maior demanda, seja por produtos finais ou por bens intermediários.

No primeiro bimestre, principalmente em razão do bom desempenho em janeiro, o setor automobilístico teve elevação de 21,6% de produção física. Impulsionada por esse segmento, diz Julio Gomes de Almeida, a indústria de produtos de borracha e plástico também teve desempenho relativamente bom, com alta de produção de 4,6%. O volume importado no mesmo segmento, porém, cresceu em ritmo maior no mesmo período, com alta de 14,1%. O desempenho na exportação, com queda de volume de 10,6%, também coloca a competitividade do setor à prova.

Nem todos os setores, porém, estão com dados negativos. Almeida lembra que depois de períodos difíceis, os segmentos de vestuário e de calçados parecem mostrar recuperação nos embarques, o que contribuiu para melhorar a produção industrial. No primeiro bimestre o volume embarcado de vestuário aumentou 10,1% e o de calçados, 11,4%. No mesmo período o setor de couros e calçados teve elevação de produção industrial de 4,8%. O vestuário ainda teve queda de produção de 3,3%. “Apesar disso, há uma recuperação, já que o setor fechou 2012 com redução de cerca de 10% da produção industrial.” Almeida diz que as medidas do governo contribuíram para a recuperação dos dois setores. “Mas houve outros fatores importantes, como o câmbio e a mudança no mix de exportação desses segmentos.”


Licitação de petróleo tem 71 interessados

Valor Econômico

A diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, informou ontem que 71 empresas manifestaram interesse na 11ª rodada de licitação de petróleo e gás. Essas companhias estão espalhadas em 21 países, incluindo o Brasil. Magda afirmou que certamente haverá ágio nessa rodada e “será grande”.

Prevista para 14 e 15 de maio, a rodada vai licitar áreas de petróleo e gás em 11 Estados, principalmente das regiões Norte e Nordeste. “A rodada não vai atrasar de jeito nenhum”, garantiu a diretora da agência. “O interesse é muito grande porque tem áreas muito boas nessa rodada”, disse, ao se referir a regiões de águas profundas.

Magda espera que todas as empresas interessadas sejam qualificadas para o leilão. Isso porque a ANP adotou diversas ações para “explicar as regras para que ninguém fique de fora”. Sobre o ágio, explicou que o preço mínimo tem que ser superado. Por ser mínimo, “menos que isso não dá”.


Setor de serviços tem a menor expansão em sete meses

Valor Econômico

A atividade do setor de serviços continuou a se expandir em março, mas ao menor ritmo em sete meses, segundo o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC. O indicador cedeu de 52,1 para 50,3 pontos entre fevereiro e o mês passado. Em janeiro, o PMI estava em 54,5 pontos. A leitura média para o primeiro trimestre deste ano (52,3) ficou em linha com a observada no quarto trimestre de 2012 (52,1). Nesse indicador, níveis acima de 50 mostram expansão da atividade.

O recuo do PMI na passagem mensal surpreendeu a instituição. “Apesar de projetarmos recuperação apenas modesta da economia brasileira, e de termos revisado para baixo nossa projeção para o crescimento do PIB em 2013, de 3% para 2,6%, fomos surpreendidos pela queda do índice para um patamar levemente acima de 50. Isso indica que a atividade econômica do setor de serviços teve crescimento praticamente nulo em março”, disse André Loes, economista-chefe do HSBC no Brasil, em nota.

Combinados, os indicadores de atividade dos serviços e da indústria (divulgado segunda-feira) mostram que o setor privado brasileiro registrou a expansão mais lenta em cinco meses. O PMI composto cedeu de 52,9 para 51 pontos entre fevereiro e março. “A leitura mais recente indicou uma melhoria na atividade do setor privado, mas o crescimento perdeu impulso com o índice caindo pelo segundo mês consecutivo “, diz o HSBC.