China desacelera no trimestre, apesar do crédito farto

A economia chinesa reverteu o processo de recuperação registrado no fim de 2012 e desacelerou de maneira surpreendente no primeiro trimestre, crescendo abaixo das previsões do mercado. O resultado indica a dificuldade na manutenção de um alto ritmo de expansão, apesar do forte aumento dó crédito registrado nos últimos meses.

O Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do mundo teve alta de 7,7% no primeiro trimestre, na comparação com igual período do ano anterior. O resultado mostra perda de fôlego em relação aos 7,9% do quarto trimestre de 2012 e decepcionou analistas, que esperavam crescimento de 8,0%.

“A surpresa negativa do PIB do primeiro trimestre confirma que a recuperação econômica é frágil”, observou em nota o economista-chefe do HSBC para a China, Qu Hongbin.

Na comparação com o trimestre anterior, o crescimento sem impacto de efeitos sazonais foi de 1,6%, o que representa uma expansão anualizada de 6,6%, segundo Dong Tao, economista- chefe do Credit Suisse para a China.

A perda de fôlego ocorreu apesar da consistente expansão do crédito desde meados de 2012, vista com preocupação por muitos economistas.

Crédito

Superando as expectativas do mercado, o total de financiamentos dentro e fora do sistema bancário aumentou em 2,5 trilhões de yuans (R$ 798 bilhões) no mês de março, valor recorde e 700 bilhões de yuans (R$ 223,8 bilhões) acima do registrado em igual período de 2012.

No trimestre, o volume de crédito atingiu 6,2 trilhões de yuans (R$ 1,98 trilhão), uma alta de 26,5% em relação aos 4,9 trilhões concedidos no primeiro trimestre do ano passado.

O fato de que há desaceleração apesar da explosão no crédito é um indicador de que a China precisa volumes crescentes de financiamento para obter o mesmo ritmo de expansão do PIB, o que é visto como insustentável.

Os empréstimos são a principal fonte de recursos para os investimentos em ativos fixos, que incluem obras de infraestrutura e construção de fábricas, por exemplo. Sua rápida expansão levanta dúvidas sobre a viabilidade econômica de muitos dos projetos, que podem não gerar o retorno necessário para o pagamento dos financiamentos.

Wang Tao, economista-chefe do UBS para a China, ressaltou em nota que a expansão do crédito está se tornando menos eficaz para gerar crescimento sustentado no país. Em sua opinião, o menor ritmo de expansão deve ter como resposta não uma nova ampliação de financiamentos, mas reformas que levem à reestruturação da economia.

Segundo ela, isso exigiria que o governo tolerasse um menor ritmo de expansão no curto prazo e adotasse medidas para redução da capacidade ociosa, diminuição de controle de preços em serviços públicos e maior abertura do setor de serviços ao capital privado.

Impacto negativo

A desaceleração do primeiro trimestre, na avaliação de Wang Tao, foi provocada principalmente pela indústria leve dependente do consumo e pelo setor imobiliário. A campanha do novo presidente chinês, Xi Jinping, em favor de um governo “frugal” teve impacto negativo na venda de alimentos, bebidas e serviços de cate- ring, observou a economista.

Os dados mostram que a contribuição do consumo para o crescimento do PIB no primeiro trimestre foi 2 pontos porcentuais inferior à registrada em igual período de 2012.

O aumento do peso do consumo na composição do PIB é uma das principais metas do governo em sua tentativa de balancear a economia chinesa, com redução da dependência em relação a investimentos e exportações.

Para Li Ruoyu, pesquisadora do Centro e Informações Estatal, a China não deve responder aos dados decepcionantes do PIB com mais relaxamento monetário, mas sim aceitar que a economia do país já não pode mais crescer no ritmo de antes. Segundo ela, usar estímulos de curto prazo para impulsionar o crescimento seria como “beber veneno para saciar a sede”.

O dados da China, aliados à explosão na maratona de Boston, derrubaram as bolsas nos EUA e no Brasil. Na Europa, a queda foi menor porque os mercados fecharam antes da tragédia.


‘Nenhum banco financia projetos’, diz Odebrecht

Valor Econômico

Os recursos necessários para investimentos em infraestrutura passam pelo desenvolvimento de um mercado de financiamentos de projetos no país, mais conhecido pelo termo em inglês “project finance”. A afirmação é do presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht. “Nenhum banco brasileiro pratica hoje o project finance”, disse o empresário.

Em linhas gerais, o project finance é uma modalidade de empréstimo usada para viabilizar obras de infraestrutura. É constituído de forma que os recursos para o pagamento da dívida venham do fluxo de caixa futuro do projeto que será construído. “Sem project finance não teremos infraestrutura”, afirmou o executivo.

Odebrecht creditou a falta de interesse de bancos e investidores no financiamento à infraestrutura ao cenário de altas taxas de juros no país nos últimos anos. Ele mencionou como o exemplo as obras de parcerias público-privadas (PPP), cujo risco, que é justamente a contrapartida dos governos, não é aceito sequer por bancos públicos.

Para o empresário, é “inimaginável” pensar que o volume de recursos necessários para infraestrutura, da ordem de R$ 1 trilhão, virá apenas do balanço das empresas e do BNDES. Ele disse que o governo se mostra sensível ao assunto. Ao comentar os editais de concessões, porém, afirmou que a taxa interna de retorno dos projetos nos cálculos oficiais ainda leva em conta que a maior parte dos recursos para as obras virá das linhas do banco de desenvolvimento, que possuem juros mais baixos.

O presidente da Odebrecht participou ontem de evento promovido pela Abvcap, associação que representa as gestoras de fundos de private equity, que investem na compra de participações em empresas. Para a plateia, formada quase que totalmente por executivos do setor e investidores, ele afirmou que não espera um papel relevante das gestoras no investimento em infraestrutura. “Até entendo quando os fundos investem em empresas de infraestrutura, mas não em um único projeto, que possui retorno no longo prazo e riscos de execução”, afirmou.

Questionado sobre as perspectivas para os investimentos no Brasil, Odebrecht qualificou o momento atual como “desafiador”. Por outro lado, ele considera mais fácil encontrar boas oportunidades no país do que do que no auge da euforia dos mercados, em 2007.

Apesar da maior desconfiança do investidor com relação ao país, o volume de recursos destinados à indústria de private equity segue em forte crescimento. No fim do ano passado, havia um total de R$ 83 bilhões em recursos comprometidos nos fundos que compram participações em empresas, um aumento de 31% em relação a 2011, de acordo com dados da Abvcap.

Em 2012, os investimentos realizados pelas gestoras de private equity no Brasil foram de R$ 14,9 bilhões, um crescimento de 26,5%. A perspectiva para este ano é que a indústria mantenha o ritmo de expansão de pelo menos 20%, de acordo com o presidente da Abvcap, Clovis Meurer.

As vendas das participações pelos fundos em 2012 somaram R$ 6 bilhões, quase o dobro dos R$ 3,6 bilhões do ano anterior, segundo a associação. Com a perspectiva de retomada das ofertas de ações neste ano, a tendência é que o ritmo de saída dos investimentos se mantenha forte, segundo Luiz Eugenio Figueiredo, vice-presidente da Abvcap e responsável pelos dados que foram divulgados pela primeira vez pela associação.

A Abvcap negocia com a Superintendência de Seguros Privados (Susep) o aumento no limite dos investimentos das seguradoras em private equity. O limite que atualmente é de 3% pode aumentar para até 15% e em alguns casos ainda mais, segundo Meurer.


Rodada de licitação de petróleo habilita 64 empresas

Valor Econômico

Sessenta e quatro empresas foram habilitadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para participar da 11ª rodada de licitação. A presença de empresas chinesas, que primeiro entraram no Brasil comprando ativos já em fase de desenvolvimento ou produção, é um destaque. Além da sino-espanhola Repsol Sinopec, foram habilitadas as estatais Sinochem e a CNOOC. Outras que fazem sua estreia são a estatal Petronas, da Malásia, a inglesa Chariot Oil & Gas e a gigante francesa de energia GDF Suez, que no Brasil só atua no setor elétrico por meio da Tractebel.

Entre as brasileiras habilitadas estão a Petrobras, Queiroz Galvão, OGX, HRT, Orteng, Petra Energia, a Ouro Preto e Petroreconcavo, só para citar algumas. Quatro empresas, a americana Vanco Brasil Exploração e Produção, a norueguesa Panoro Energy, e as brasileiras Petrosynergy e Resultado Óleo e Gás não obtiveram o aval da autarquia, em alguns casos por não apresentarem toda a documentação, e poderão recorrer. Outras duas, a Cisco Oil and Gas e a Alupar Investimentos desistiram do processo. Já a brasileira HRT pode ter sua categoria de habilitação modificada.

A HRT foi recentemente qualificada pela ANP como operadora “A”, que pode operar blocos em qualquer região, inclusive em águas profundas, mas a diretora-geral da autarquia, Magda Chambriard, questiona sua experiência. Isso porque o primeiro poço dela nessa profundidade começou a ser perfurado na Namíbia em março e só será concluído em três meses.

Ontem, Magda disse que a autarquia vai fornecer informações sobre o sistema de transmissão brasileiro para os participantes da 12ª rodada de licitações, que terá blocos com potencial para exploração de gás natural, inclusive não convencional. Essa rodada será realizada no fim de outubro.

O objetivo da ANP é estimular o uso do energético para a produção de energia a partir de novas termelétricas. Magda disse que a ideia, que é da presidente Dilma Rousseff, é baseada na experiência do empresário Eike Batista, que está construindo um complexo termelétrico em parceria da OGX e MPX com a Petra Energia, para utilizar o gás natural descoberto e produzido na bacia do Parnaíba (MA).

Os campos da OGX estão produzindo 3,5 milhões de metros cúbicos diários, consumidos por um complexo termelétrico. “Em vez de construir um gasoduto, eles decidiram entrar no leilão de energia e estão produzindo energia do lado do campo. Tudo precisa de uma âncora. E qual gasoduto iria ancorar um volume de 3,5 milhões de metros cúbicos/dia? Nesse caso, com as térmicas eles ancoram, viabilizam a produção e agora vão viabilizar a expansão da bacia”, comparou.

Em evento no Rio, Magda fez um detalhamento sobre as três rodadas da ANP, a 11ª, a exclusiva do pré-sal, e a 12 ª, que vão ser feitas neste ano. Defendeu o conteúdo local, mostrando um estudo do BNDES que projeta investimentos de R$ 354 bilhões pela indústria de óleo e gás no Brasil entre 2012 e 2015. Magda disse que não é possível imaginar que a indústria brasileira fique fora desse ritmo, mostrando outra projeção de que a demanda dessa indústria por bens e serviços será de US$ 400 bilhões entre 2013 e 2017.


Balança comercial tem superávit de US$ 627 milhões na 2ª semana do mês

Valor Econômico

A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 627 milhões na segunda semana de abril, informou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O resultado se deve a US$ 4,744 bilhões em exportações e US$ 4,117 bilhões em importações.

Com isso, o desempenho do comércio internacional brasileiro alcança um superávit de US$ 938 milhões em abril. No acumulado do ano, o déficit nas compras e vendas de bens é de US$ 4,218 bilhões.

A média diária, método que considera o número de dias úteis de cada período, de US$ 950,9 milhões nas exportações até a segunda semana de abril é 2,8% inferior à média diária de US$ 978,3 milhões dos embarques realizados em todo o mês de abril do ano passado. Essa queda é explicada pelo menor embarque de produtos básicos e manufaturados.

As exportações de produtos básicos caíram 1,8%, de US$ 503,7 milhões da média diária de abril de 2012 para US$ 494,5 milhões nas duas primeiras semanas deste mês, por causa, principalmente, de petróleo em bruto, algodão em bruto, trigo em grãos, carne suína, fumo em folhas e farelo de soja.

No caso de produtos manufaturados, os embarques apresentaram baixa de 5,3% na comparação da média diária no acumulado deste mês (US$ 324,5 milhões) com abril do ano passado (US$ 342,6 milhões). As maiores retrações foram registradas nas vendas de aviões, óleos combustíveis, máquinas para terraplenagem, polímeros plásticos, partes de motores para veículos e pneumáticos.

Os semimanufaturados apresentaram uma alta de 2,3% na média diária de exportações, passando de US$ 110 milhões em abril de 2012 para US$ 112,5 milhões no acumulado deste mês. O resultado se deve ao maior embarque de catodos de cobre, açúcar em bruto, ouro em formas semimanufaturadas, couros e peles, e celulose.

As importações caíram 8,3% até a segunda semana de abril, com média diária de US$ 857,1 milhões, ante US$ 934,4 milhões em todo o mês de abril de 2012.

Nessa comparação, decresceram os gastos, principalmente com combustíveis e lubrificantes (-69,9%), cobre e suas obras (-32,6%) e aeronaves e partes (-8,6%).


Governo abre espaço para política fiscal mais branda

Valor Econômico

Apesar de ter anunciado ontem nova “flexibilização” da meta fiscal para 2013 e 2014, e de fazer previsões menores para o crescimento da economia, o governo trabalha com queda significativa da dívida pública líquida como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) – principal critério para avaliar a sustentabilidade das contas públicas. De acordo com dados divulgados pelos secretários do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e de Orçamento Federal, Célia Corrêa, a dívida líquida terminará este ano em 33,4% do PIB, em 30,9% do PIB ao fim de 2014 e em 28,4% em 2015. Em 2012, a dívida ficou em 35,2% do PIB.

Pela primeira vez, o governo reduziu, no início do ano, a previsão de crescimento da economia que serve de base para a definição de sua execução orçamentária e financeira. Normalmente, isso só é feito em meados do ano. O Orçamento de 2013 foi elaborado com a projeção de expansão econômica de 4,5%. Ontem, ao divulgar o projeto de lei de diretrizes (LDO), o governo informou que trabalha com crescimento real do PIB de 3,5% em 2013. Essa estimativa ainda está acima daquela com a qual o Banco Central e o mercado trabalham, em torno de 3%. Para 2014, antes o governo projetava alta de 6% no PIB (na LDO de 2013), estimativa ontem reduzida para 4,5%.

O principal efeito da redução da estimativa de crescimento da economia é uma diminuição na projeção da receita da União para 2013, que constará do decreto de programação orçamentária e financeira, a ser editado, provavelmente até sexta-feira, pela presidente Dilma Rousseff. Quanto menor for o crescimento, menos receita terá o Tesouro.

Essa variável de baixo crescimento pode explicar a “flexibilização” da meta fiscal anunciada por Augustin e por Célia. A partir de agora, o governo federal não compensará mais a frustração da meta fiscal de Estados e municípios. Assim, o esforço fiscal do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) será menor.

Para 2014, o projeto de LDO amplia para R$ 67 bilhões o desconto que poderá ser feito na meta fiscal do governo central (Tesouro, Previdência e BC), por conta de investimentos prioritários e das desonerações tributárias. Com isso, o superávit do governo central projetado na LDO em R$ 116,1 bilhões, o equivalente a 2,15% do PIB, poderá cair para apenas R$ 49,1 bilhões, o equivalente a 0,9% do PIB.

Não é mais possível projetar o resultado fiscal de Estados e municípios, que até agora estava estimado em 0,95% do PIB. Embora ele ainda conste do projeto de LDO, Augustin explicou que se o governo avaliar, diante dos dados macroeconômicos disponíveis, que é importante para o país estimular os governos estaduais a realizar mais investimentos, isso será feito. Dessa forma, o resultado fiscal de Estados e municípios dependerá da intensidade desses estímulos, que são representados por autorizações, dadas pelo Ministério da Fazenda, de contratação de novas dívidas.

No ano passado, os Estados e municípios fizeram 0,49% do PIB de superávit primário, o pior resultado desde 1999, segundo o Banco Central. As projeções mais otimistas do mercado apontam para um superávit de 0,6% neste ano. Se isso vier a ocorrer, o resultado primário de todo o setor poderá ficar em até 1,5% do PIB (0,9% do governo central mais 0,6% dos Estados e municípios).

O secretário do Tesouro defendeu a decisão de desobrigar o governo federal de compensar a frustração do resultado fiscal de Estados e municípios com o argumento, exposto durante entrevista convocada para divulgar o projeto de LDO de 2014, de que a medida mantém coerência com a política fiscal anticíclica executada pelo governo. Na avaliação dele, não faz sentido o governo autorizar a contratação de empréstimos por parte dos Estados para realizar investimentos e, ao mesmo tempo, compensar a frustração fiscal desses entes da federação.

Mesmo defendendo a medida, Augustin foi contra a mudança da meta de superávit primário do setor público, ainda mantida em 3,1% do PIB na LDO. Os jornalistas perguntaram a ele se, em vez de ampliar os descontos do superávit primário, não seria mais transparente o governo assumir a diminuição da meta fiscal, explicando os motivos para a sociedade. “Não acho que seria bom reduzir a meta”, disse o secretário. “Achamos que a meta (de 3,1% do PIB) deve ser mantida e, por uma questão de transparência, deixaremos claras as razões pelas quais ela poderá ser reduzida”, afirmou. “Não achamos que ela deva ser reduzida para acomodar elevações de gastos de custeio”, afirmou.

O projeto de LDO encaminhado ontem ao Congresso prevê um valor para o salário mínimo de R$ 719,48 a partir de 1º de janeiro de 2014, projetado de acordo com a regra de correção pelo INPC deste ano mais o aumento real do PIB de dois anos anteriores. Mas esse valor ainda será revisto, pois tudo dependerá da inflação de 2013. A área econômica também projeta um crescimento de 12,34% da massa salarial nominal em 2014, ante uma expansão de 11,64% neste ano.

Para este ano, a grade de parâmetros da LDO, elaborada pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, prevê que o IPCA ficará em 5,2% neste ano, bem abaixo da estimativa de mercado de 5,68%, segundo o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central. O projeto de LDO também foi elaborado com a estimativa de que a taxa Selic ficará em 7,25% neste e no próximo ano.


CNI reduz projeção de crescimento da indústria para 4%

O Estado de S. Paulo

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse ontem que os investimentos da indústria devem crescer 4% este ano na comparação com 2012. Sem citar os valores absolutos dos investimentos, Andrade disse que, antes, a expectativa da CNI era de que os investimentos do setor pudessem crescer 7%. Ele fez a previsão após proferir a palestra “Economia, Crescimento e Infraestrutura do Brasil na Visão da Indústria”, em evento realizado pela Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil.

Para o produto interno bruto (PIB), o presidente da CNI prevê uma expansão de cerca de 3% em 2013. “O governo fala em números maiores que esses, mas não vemos consistência para um crescimento maior”, disse.

Andrade também discordou da afirmação feita pelo assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), David Kupfer, de que o Brasil precisa pensar em fazer “nascer urna indústria nova, e não despertar a que está hibernando, além de abrir espaço para o processo de mudança estrutural, que está travado”. Kupfer fez tal afirmação na sexta-feira, durante palestra realizada no seminário “Rumos da Economia – Nosso Modelo de Crescimento”, organizado pela Brasileiros Editora.

“Isso não é verdade”, disse Andrade, citando as inovações nas indústrias automotiva, petroquímica e eletroeletrônica, “As indústrias automotiva, petroquímica e eletroeletrônica evoluíram muito nos últimos anos” Ele lembrou que, há três anos, as exportações brasileiras eram superavitárias. “Não temos tido competitividade porque, com o nosso câmbio, não temos como concorrer com a China. A nossa indústria da moda compete de igual para igual com o mundo inteiro”, disse.

Para ele, dar competitividade para a indústria não é tarefa fácil, porque tem de investir em áreas como as de infraestrutura e qualificação de mão de obra, por exemplo. “O mercado interno brasileiro tem crescido bem, mas é um mercado que tem sido suprido pelas importações, especialmente da Ásia”, queixou-se o presidente da CNI. Para Andrade, não adianta ter condições boas de crédito pelo BNDES, com uma depreciação acelerada. “Tudo isso é bom, mas ninguém investe só porque tem boas condições de crédito. O mercado brasileiro tem muito o que crescer, como nos setores de telecomunicações e energia, mas é um mercado do qual a indústria brasileira não está participando”.


Desembolso no 1º trimestre do BNDES é recorde

O Estado de S. Paulo

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 37,173 bilhões em empréstimos no primeiro trimestre de 2013,52% acima do valor nominal dos três primeiros meses de 2012 e o maior desempenho já registrado num início de ano pela instituição.

Na avaliação do banco, o resultado aponta para uma”recuperação expressiva” dos investimentos. Outros economistas, no entanto, dosam o otimismo, dizendo que a economia está ainda longe de ver um “boom” nos investimentos. “O primeiro trimestre para a economia brasileira foi bastante bom, aponta para uma recuperação no setor industrial, aponta fortemente para recuperação do investimento”, avaliou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista coletiva na sede do banco, no Rio.

Nem uma eventual elevação da taxa básica de juros – a Selic, hoje em 7,25% – para conter a inflação, em decisão a ser divulgada amanhã pelo Banco Central (BC), assusta Coutinho, que afirmou ter confiança no BC.

Segundo Coutinho, a recuperação da indústria redundará em alta do investimento industrial. A liberação de empréstimos para a indústria acelerou ainda mais no primeiro trimestre: os R$ 13,492 bilhões são 109% maiores, em termos nominais (sem contar a inflação), do que o liberado no início de 2012.

O presidente do BNDES destacou que estudos do banco apontam para um potencial de cresci- mento anual de 5% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, que indica a medida dos investimentos na economia) nos próximos anos e que o governo trabalha para acelerar esse ritmo.

Caminhões e ônibus

Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, concorda com a análise do impulso dado pelo investimento industrial,, mas destaca que o primeiro trimestre foi marcado por um fator “muito pontual”: a recuperação da produção de caminhões e ônibus, após um tombo no início de 2012,    provocado pela exigência do governo por motores menos poluentes (e mais caros).

“O crescimento no início do ano não deixa de ser motivo para comemorar. Mas não dá para achar que vamos ter um “boom” de investimentos”, disse Alessandra. A economista projeta alta de 1,1% na FBCF no primeiro trimestre ante o quarto de 2012, mas, para o ano, o avanço deverá ser de 3,8% – abaixo, portanto, dos 5% previstos pelo BNDES.

Além da recuperação do investimento industrial, a Tendências aposta em mais recursos para a infraestrutura, por causa da Copa do Mundo. No primeiro trimestre, o BNDES apontou queda nominal de 7% nos desembolsos para a infraestrutura, com R$ 9,264 bilhões, mas o banco não vê o movimento como uma tendência. Para Coutinho, a tendência dos primeiros meses se mantém no resto do ano: “A sustentação de aprovações num patamar elevado sugere que a reativação dos investimentos vai prosseguir”. Os projetos aprovados no primeiro trimestre somaram R$ 40,705 bilhões, alta nominal de 51% frente a igual período de 2012. Nesse quadro, o BNDES liberaria neste ano mais do que os R$ 156 bilhões de 2012.

Mais otimista que Alessandra Ribeiro, da Tendências, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, projeta alta de 4% a 5% dos investimentos em 2013. “Não tem motivo nenhum para a FBCF não vir boa no primeiro trimestre.” Para ; Leal, este ano será um divisor de águas. “Vamos ver ao longo do ano o que é cíclico e o que é estrutural no problema de crescimento do País”, completou.