Afif será ministro de Dilma, mas continua vice de Alckmin

 

O efeito almejado pelo Planalto ao se aproximar de Kassab -que oficialmente sustenta um discurso de independência desde a criação da legenda – é também consolidar alianças estaduais com o PSD. A ida de Afif para o ministério causa um enorme constrangimento ao governador tucano Geraldo Alckmin. Afif será vice-governador de um tucano e ministro de uma petista ao mesmo tempo. Ele toma posse na quinta-feira.

Em nota, o vice-governador disse ontem estar honrado com o convite de Dilma e agradeceu a Alckmin. “Faremos um grande trabalho de cooperação entre governo de São Paulo e governo federal”, disse.

Egressos do DEM, Afif e Kassab apoiaram o PSDB até as eleições municipais de 2012, e agora migram para a base petista. Afif foi do antigo PFL e aliado de Paulo Maluf e Celso Pitta.

Horas antes de ter a nomeação como ministro oficializada pelo Planalto, Afif foi elogiado por Dilma no evento de posse da diretoria da Associação Comercial de São Paulo onde a petista dividiu o palco com Alckmin. A escolha de Afif como ministro também aproxima Dilma de empresários paulistas até então refratários ao PT.

Após o evento, antes de embarcar para Brasília, Dilma encontrou-se com Afif, o vice-presidente Michel Temer e Kassab para definir a nomeação, Na conversa, Afif avisou a presidente que permaneceria no governo de Geraldo Alckmin.

No cálculo político de Dilma está ainda o peso e o tamanho da bancada do PSD no Congresso: são 48 deputados em exercício e dois senadores, essenciais para aprovação de matérias de interesse do governo federal.

A escolha de Afif, segundo interlocutores da presidente, foi cuidadosamente articulada para seduzir e potencializar a ligação do Planalto com o setor produtivo mais ligado à classe média. Com Afif, o governo espera desenhar e lançar programas para essa faixa de eleitorado com grande poder multiplicador.

A entrada de Afif no governo é mais um passo do roteiro traçado para reeleger Dilma. Este mesmo processo fez com que a presidente deixasse de lado “faxina” anunciada no início de seu governo, com a saída dos ministros Carlos Lupi, do Trabalho, e Alfredo Nascimento, do Transportes, reabilitando os grupos afastados naquela época por denúncias de irregularidades. Pela campanha de 2014, a presidente também fortaleceu o PMDB em seu governo, atendendo diferentes alas do partido com as alterações nos ministérios da Agricultura e Aviação Civil. Dilma estava determinada a atrair o PSD para seu governo. Kassab tem afirmado que se trata de uma escolha pessoal da presidente.

A Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que terá status de ministério, deverá auxiliar na elaboração de políticas de estímulo ao microempreendedorismo. As competências do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior referentes à microempresa, à empresa de pequeno porte e ao artesanato serão transferidas para a recém-criada secretaria.

Revisionismo

“Aproveito essa cerimônia para homenagear cada um de vocês. Um brasileiro que colocou na pauta do País o apoio às micro e pequenas empresas, fazendo com que reconhecêssemos que a questão dos micronegócios é estratégica e imprescindível para o futuro e o presente do País”, disse Dilma, num rasgado elogio a Afif ontem de manhã na cerimônia na Associação Comercial que será presidida pelo empresário Rogério Amato, filho de Mário Amato. Na campanha presidencial de 1989, quando presidia a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mário Amato disse que 800 mil empresários deixariam o País caso Lula fosse eleito. O petista perdeu a eleição para Fernando Collor de Mello.

Constrangimento

Ao lado de Dilma, dividindo o palco com o vice-presidente Temer e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin discursou à plateia de empresários, mas não fez nenhuma menção a Afif. O tucano assistiu à presidente Dilma tecendo elogios ao incômodo inquilino do Palácio dos Bandeirantes. A presidente disse que o vice-governador, “como liderança e protagonista”, teve “participação decisiva” para levar o micronegócio à pauta nacional. Ela citou a atuação de Afif na aprovação do estatuto da microempresa, do Simples Nacional e da Lei do Microempreendedor Individual. Afif estava na plateia junto com Kassab e não discursou.

Criticada pela criação de mais um ministério, Dilma afirmou que a nova secretaria “é essencial para o País”. “É necessário que passemos por esse período em que haverá um ministro olhando só para a questão dos pequenos negócios.”

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Brasil importará 6 mil médicos de Cuba para trabalhar no interior

O Estado de S. Paulo

O governo brasileiro se prepara para “importar” 6 mil médicos de Cuba para trabalhar no interior do País. A intenção é que os cubanos venham com contratos temporários com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para ocupar vagas em cidades brasileiras que até hoje não têm atendimento de saúde.

A informação foi dada ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, depois de um encontro de trabalho com o chanceler cubano, Bruno Rodríguez. “Estamos nos organizando para receber um número maior de médicos aqui, em vista do déficit de profissionais de Medicina. Trata-se de uma cooperação que tem grande potencial e a qual atribuímos um grande valor estratégico”, informou o ministro.

Os médicos cubanos viriam por meio de contratos com a Opas como prestadores de serviço ao governo brasileiro. A intenção é que esse período seja de dois ou três anos – o prazo máximo não está definido. Seria uma forma de o governo ultrapassar as dificuldades criadas pela contratação de estrangeiros, especialmente na área de Medicina, onde há enorme pressão pela validação dos diplomas.

A intenção do governo, no entanto, é abrir espaço para os que quiserem ficar. Depois determinado o contrato via organização pan-americana, o médico estrangeiro poderá fazer o Reva-lida, exame de validação preparado pelo Ministério da Educação para poder atuar sem impedimentos no Brasil

O formato de toda essa operação ainda está sendo estudado pelo governo. Depende de uma autorização legal, que poderá ser medida provisória oú projeto de lei, “Ainda estamos formalizando os entendimentos para que eles possam desempenhar sua atividade profissional no Brasil e atender regiões particularmente carentes do País”, disse Patriota.

A vinda dos médicos começou a ser negociada durante a : visita dapresidente Dilma Rousseff a Cuba, em janeiro de 2012. E, apesar da resistência de enti-; dades de classe, tem a chancela : dela. A intenção não é trazer ; apenas cubanos, mas também espanhóis e portugueses. Cuba, no entanto, foi o primeiro país a oferecer um número significativo de profissionais de saúde.

Déficit

O Brasil tem, de acordo com levantamento da Organização Mundial de Saúde, pelo menos 455 municípios onde não há nenhum médico. Na Região Norte, a média é 0,8 por mil habitantes e, no Nordeste, 1 por mil, enquanto a OMS preconiza 1,5 por mil.

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País teve a 5ª maior alta nas importações

Valor Econômico

O Brasil foi o quinto país a mais aumentar as importações entre 2007-2012, portanto desde o começo da crise econômica global, com as compras no exterior crescendo quase 15% por ano no período, segundo levantamento do Barclays Bank.

O estudo coincide com o momento decisivo da escolha de novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), na qual alguns países procuraram vincular o candidato brasileiro, Roberto Azevêdo, à política comercial restritiva do governo.

Conforme o banco britânico, a composição do crescimento das importações desde a crise global se alterou bem mais em direção das economias emergentes, em termos absolutos, particularmente no caso da China, Índia, Brasil, Tailândia, Rússia e Indonésia, além de forte alta na Austrália, Coreia do Sul e Cingapura.

No entanto, focando na mudança percentual nas importações, emergentes como Brasil, Índia, Indonésia e Peru estiveram bem à frente da China em termos de potencial de crescimento da demanda doméstica. O Iraque lidera o pelotão do maior crescimento das importações, com sua reestruturação.

O Brasil não apenas continuou sofrendo déficit na balança comercial com os Estados Unidos, como pela primeira vez nos últimos tempos acumula déficit com a União Europeia, que alcançou US$ 2 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O resultado é que, no lado das exportações, o desempenho do Brasil foi de queda no crescimento das vendas entre 2009-2012 comparado com o período 2000-2008.

O Barclays constata que um fator importante nessas alterações foi a taxa de câmbio real e seu impacto na competitividade. O comércio mundial cresceu 13% nos últimos cinco anos, em plena crise econômica. As exportações globais de bens e serviços aumentaram US$ 5 trilhões em valor. Em volume, a alta foi de US$ 1,9 trilhão, levando em conta os preços de 2005. Embora a expansão tanto em valor como em volume tenha sido menos da metade dos cinco anos precedentes (2002-2007), ainda é uma cifra importante.

Os mercados emergentes representam mais da metade do comércio e continuam crescendo mais do que os desenvolvidos.

Nos últimos cinco anos, a Ásia foi o mercado de maior ganho absoluto para exportadores da União Europeia, América do Sul, Oriente Médio e África. O apetite da Ásia por matérias-primas fez a América do Sul ganhar quase US$ 400 bilhões no comércio de commodities entre 2007-2012.

Os produtores de energia, como os membros do cartel de petróleo da Opep e a Rússia, são agora os que mais acumulam saldo na balança comercial.

A crise da dívida na zona do euro tem tido profundo impacto nos fluxos comerciais desde 2007. As importações do sul da Europa continua declinando.

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Logística põe Brasil longe da excelência

Valor Econômico

O Brasil precisaria aumentar em três vezes os índices de desempenho da infraestrutura de transportes nacional para chegar aos melhores níveis praticados pelos competidores internacionais do país, conclui estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que será apresentado hoje. “Os investimentos feitos nos últimos 12 anos na área de transporte estão muito aquém das necessidades”, comentou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. “O que falta é uma gestão eficiente, muitos dos investimentos são feitos e acabam custando muito mais do que deveriam”, disse. “Falta planejamento, estratégia, seriedade e coragem para tirar as coisas do papel e fazer acontecer.”

O estudo da Fiesp constatou que a maior malha viária no país, a de rodovias, com uma média de 2,5 km por 10 mil habitantes, é, ainda, 43% menor que o padrão de excelência internacional, de quase 4,8 km por 10 mil habitantes.

Desde o ano 2000 o indicador brasileiro oscila em torno dos 50%. E esse é o item onde o Brasil tem menor diferença em relação ao padrão desejável, o chamado “benchmark”, no jargão técnico. O frete rodoviário, de US$ 51,75 para cada mil toneladas por km (em 2010, último ano com dados internacionais para comparação, pelo estudo da Fiesp) é 270% maior que a média de excelência mundial, de US$ 14.

“Temos rodovias, hidrovias, ferrovias, portos e aeroportos com defasagem, custos altos, tudo isso atrapalha muito a competitividade e o desenvolvimento do Brasil”, reclama Skaf. Os dados sobre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos foram reunidos em um único indicador, o Índice de desempenho Comparado da Infraestrutura de Transportes (IDT), que, em 2010 (o último ano da serie calculada pela Fiesp), chegou a 33%. Esse índice indica uma infraestrutura com um terço do desempenho existente nos países que mais competem com o Brasil no mercado internacional.

O IDT, calculado com base em dados das 50 principais regiões metropolitanas brasileiras, e 18 indicadores diferentes, é a primeira tentativa de quantificar a insuficiência e ineficiência da estrutura de transportes no país. “Nossa intenção, com o IDT, é fazer uma radiografia, não estamos apontando as politicas públicas a serem adotadas”, diz o diretor do departamento de infra-estrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti.

Ele comenta, porém, que, ao adotar marcos regulatórios que deixam ao setor público o planejamento e controle e ao setor privado a execução e gestão de obras e serviços, o governo caminha para enfrentar os problemas apontados pelo indicador da Fiesp. “O Brasil adotou, nos últimos anos políticas públicas muito consistentes, muito corretas no sentido defendido pela Fiesp”, disse Cavalcanti.

caminho a percorrer é longo, no entanto, como apontam os indicadores de oferta, intensidade de uso, qualidade e custo da infraestrutura de transportes reunida pela Fiesp. O Brasil está bem servido de aeroportos, mas com baixa capacidade: em 2010, enquanto os melhores aeroportos mundiais abrigavam 88 pousos e decolagens por hora, os aeroportos da Infraero registravam 38. Esse número representa 43% do benchmark internacional, uma evolução dos 32% referentes ao IDT calculado para o ano 2000.

Os piores desempenhos do Brasil em relação ao padrão de excelência mundial são os relativos a ferrovias (20%) e hidrovias (21%). No caso do transporte ferroviário, embora a capacidade de transporte (tonelagem por quilômetro de linha férrea) seja equivalente ao benchmark internacional, a extensão da malha ferroviária está 93% abaixo do ideal, e o frete por ferrovia é quase 16 vezes maior que o melhor padrão praticado no mundo – no quesito frete ferroviário o benchmark internacional é de apenas 6% do custo brasileiro.

Cavalcanti comenta os altos custos de logística, que fazem, por exemplo, com que as mercadorias que levam 324 minutos para ser liberadas nos aeroportos de padrão mundial levassem quase 3,2 mil minutos nos aeroportos da Infraero, em 2010. O custo de se levar um contêiner de 20 pés da região metropolitana ao local da exportação era de, em média, US$ 621 mil no exterior e de quase US$ 1,8 mil no Brasil – indicador que, no começo de 2012, deve ter sofrido deterioração, com os engarrafamentos da safra nos gargalos logísticos do país. “Uma das medidas urgentes é fazer o desembaraço de carga 24 horas por dia, cargas de bilhões esperam nos portos e os funcionários públicos param de trabalhar às 17 horas”, critica o diretor da Fiesp.

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Inflação torna-se a principal preocupação de empresários

Valor Econômico

A inflação voltou ao topo da preocupação dos executivos brasileiros. Em uma lista de seis preocupações imediatas – inflação, câmbio, mão de obra, inadimplência, custo do crédito e demanda fraca -, o efeito perverso dos aumentos de preços dos insumos, dos serviços e dos bens finais, que reduzem a renda real da população, recebeu nota de oito a dez entre a maioria dos 23 premiados na 13ª edição do prêmio “Executivo de Valor”, em evento ontem à noite em São Paulo.

Na sequência das preocupações, a qualificação da mão de obra – temor número um em 2012 – veio em segundo lugar, acompanhada de perto pelo câmbio, enquanto o custo do crédito, o aumento da inadimplência e a falta de demanda não passaram despercebidos, mas foram itens cuja preocupação variou muito de acordo com o setor de atuação de cada executivo.

Se a inflação é uma preocupação de curto prazo e seu controle uma condição indispensável para o Brasil voltar a crescer, a receita dos executivos para um Produto Interno Bruto (PIB) mais robusto e sustentável nos próximos anos passa por uma palavra-chave: competitividade. E isso depende, dizem eles, de políticas públicas mais claras que devolvam a confiança para que as empresas invistam, seja na produção, seja em infraestrutura.

O presidente da Microsoft, Michel Levy, diz que a inflação está indiretamente afetando os negócios de sua empresa, pois ela reduz o poder aquisitivo das pessoas. “Se a tendência de alta perdurar, ela poderá, sim, afetar nossos negócios de forma mais direta”, diz Levy. O impacto da inflação sobre a renda real das famílias também está no topo das preocupações de Márcio Utsch, diretor-presidente da Alpargatas, junto com o câmbio. “A inflação reduz a capacidade das pessoas de comprar e quem mais sofre são os que têm os menores salários”, diz Utsch. A inflação de serviços, ressalva, tem um impacto ainda maior, tornando o aumento do nível de preços uma preocupação generalizada.

Operando em um setor cuja demanda está diretamente ligada à renda da população, o presidente da BRF Foods, José Antonio do Prado Fay, acredita que, no curto prazo, o país precisa controlar a inflação e retomar uma expectativa positiva para o futuro, destravando a agenda de investimentos. A inflação, diz ele, é um entrave que afeta a todos os consumidores. “E como tudo que afeta o consumo se reflete na cadeia produtiva, por consequência, há impactos para as empresas”, diz Fay.

O grupo sucroalcooleiro São Martinho avalia que a inflação mais alta já vem afetando os negócios da companhia, sobretudo com impacto decorrente do maior preço dos insumos e na folha de pagamento. “Tudo o que a indústria tenta ganhar de produtividade para ser mais competitiva perde na inflação. Essa escalada inflacionária é uma grande ameaça”, diz Fábio Venturelli. presidente do grupo. “A inflação rouba renda do consumidor”, afirma o presidente da Ambev, João Castro Neves. “O problema do aumento do custo da mão de obra, sempre se pode administrar, mas com a inflação isso não é possível”, diz ele.

Embora afirme que a inflação ainda não afeta os negócios, o presidente da farmacêutica Sanofi para América Latina, Heraldo Marchezini, apontou a alta generalizada de preços como o principal entrave econômico do momento. Na Whirlpool, a alta da inflação, principalmente das commodities, tem deixado mais cara a produção dos equipamentos da linha branca, disse o presidente da empresa na América Latina, João Carlos Brega. Segundo Brega, a Whirpool, dona da marca Brastemp, tem lançado novos produtos e investido em inovação e tecnologia para driblar o impacto da alta de custos.

O presidente da EcoRodovias, Marcelino Rafart de Seras, listou inflação e falta de mão de obra qualificada como os principais problemas da economia brasileira. Para o presidente da EcoRodovias, o país precisa fazer investimentos “pesados” em infraestrutura, além das reformas fiscal, trabalhista e política, para voltar a crescer de maneira mais expressiva. “É importante também recuperar a confiança do investidor estrangeiro e reduzir gastos correntes, aumentando o superávit primário”, diz.

A demanda fraca e o câmbio estão entre as maiores preocupações de Harry Schmelzer Jr., presidente da fabricante de motores elétricos WEG. “A indústria passa por um momento difícil no Brasil, o que pode ser percebido pela perda gradual de dinamismo e participação do setor no crescimento da economia”, afirma Schmelzer, que mesmo assim se diz otimista com relação à economia brasileira.

Medidas adotadas pelo governo federal – como a redução do custo do crédito, o câmbio mais competitivo e a desoneração da folha de pagamento – ajudaram a mitigar os problemas da indústria, segundo Schmelzer. Uma retomada rápida do crescimento brasileiro, entretanto, envolve, na opinião dele, mais investimentos em infraestrutura e na melhora das condições logísticas para o escoamento da produção.

Operando em um setor com déficit comercial crescente, o presidente da petroquímica Braskem, Carlos Fadigas, também colocou o câmbio no topo de suas preocupações, seguido da inflação. Outro empresário com o mesmo temor é o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg. Para voltar a crescer, diz ele, o Brasil precisa equilibrar os gastos públicos, e para efeitos de médio e longo prazo na expansão da economia, Rotenberg defende mais investimentos em educação, e tornar a educação pública de qualidade.

A preocupação com a inflação também está presente no setor de serviços. A manutenção do poder de compra da população, crescente nos últimos anos, é essencial para o avanço do setor de telecomunicações, diz Antonio Carlos Valente, presidente da Vivo, por isso, diz ele, “todos os esforços para manter níveis administráveis de inflação são muito positivos”.

Na opinião de Valente, o governo tem acertado ao promover desoneração tributária para a indústria, atingida pela concorrência de produtos importados. A medida para ele, pode contribuir para o crescimento econômico do país. O consumo, para ele, não deve ficar para trás. “O país deve continuar a incentivar o consumo interno e, especialmente, o investimento privado”, diz.

O presidente do BTG, André Esteves, afirma que, embora a alta recente da inflação seja uma questão que precisa ser monitorada, não se trata de um problema da magnitude de duas décadas atrás. Para ele, a pressão sobre os índices de preço deve ser combatida da maneira tradicional, ou seja, com política monetária, e sem muita “celeuma”. Em uma escala de zero a dez sobre os maiores problemas da economia brasileira hoje – quanto mais alta, maior a preocupação -, o presidente do BTG Pactual classificou a inflação com nota 5. O executivo coloca a questão da mão de obra, incluindo encargos e educação, como um dos principais entraves para o país, com nota 10.

O presidente da rede O Boticário, Artur Grynbaum, diz que a rede sentiu uma leve desaceleração no primeiro trimestre e em abril houve uma recuperação dos resultados, mas não acredita que isso tenha a ver com a inflação. “Ninguém hoje repassa todo o aumento de custo para a ponta, ao consumidor, por isso os preços no nosso setor não sentem todo esse efeito de custos maiores”, disse. “O que percebemos como maior pressão inflacionária é no custo da mão de obra. Ninguém quer a volta da inflação, é uma preocupação.”

Apesar das medidas de desoneração adotadas pelo governo, alguns executivos continuaram apontando a carga tributária como um grande entrave ao crescimento do país. Para o executivo José Galló, presidente da Renner, a “burocracia paralisante, a alta carga tributária e os altos custos da mão de obra no país”, estão entre os fatores que mais o preocupam.

Numa lista de seis itens que mais preocupam o presidente da Ambev, João Castro Neves, ele cita, em primeiro lugar, a carga tributária – aspecto que não estava mencionado na lista apresentada pelo Valor aos executivos premiados. A demanda fraca também entra como alta preocupação, seguida da inflação, câmbio e mão de obra.

Formação de mão de obra e custo do crédito bancário são dois problemas econômicos do país que mais preocupam o empresário Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht. “É fundamental o crédito para a pequena e média empresa, para o consumidor final e financiamentos para projetos”, afirmou o executivo. Sobre a qualificação de mão de obra, ele afirmou que é um problema atrelado ao tema da educação. “Sempre falo: no longo prazo, tem de se preocupar com a formação da futura geração; no curto prazo, a qualificação profissional.”