Lei dos Portos vai abrir caminho para licitação de 161 áreas
“Vamos buscar ganho de eficiência e escala e, por consequência, redução da tarifa”, disse ao Estado o ministro-chefe da Secretaria de Portos, Leônidas Cristino. “Haverá também um salto de qualidade na gestão dos portos.”
Todo o trabalho técnico para a licitação de áreas em portos públicos parte do pressuposto que contratos vencidos não serão prorrogados. É um quadro diferente do previsto no texto da Medida Provisória (MP) dos Portos que saiu do Congresso. Lá está dito que os contratos de concessão poderão ser renovados, graças a uma emenda que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) batizou de “Tio Patinhas”, por defender interesses de grandes empresas. O veto é dado como certo nos bastidores desde quando a MP foi aprovada. Cristino não se manifestou a respeito.
Programação
Mas, sem o veto, toda a programação de leilões fica comprometida. Em Santos, por exemplo, o governo pretende relicitar uma área cujo contrato só vai expirar em 2,017. Isso será necessário porque a intenção é redesenhar o porto, unindo espaços hoje ocupados por pequenos terminais e armazéns. Assim, algumas áreas contíguas a outras cujos arrendamentos estão vencidos terão de ser desocupadas antes cio fim do contrato. A forma como esse encerramento antecipado será feito ainda está em estudos pela área técnica.
No total, irão a leilão o que hoje são 26 áreas no porto de Santos. Dessas, há 8 contratos vencidos, 16 por vencer e duas áreas novas.
No Pará, serão outros 26 espaços, dos quais três contratos estão vencidos, 12 por vencer e 11 são áreas novas. Para os locais onde hoje não há instalação alguma, a Secretaria de Portos (SEP) já está solicitando licenças ambientais.
“Também já estamos em diálogo permanente com o Tribunal de Contas da União”, informou Fábio Lavor Teixeira, da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Portuário da SEP. A intenção é evitar atrasos nos leilões, pois o prazo é curto.
Estudos
Os estudos econômicos, a cargo da Empresa Brasileira de Projetos (EBP), começam a ser entregues ao longo de junho. Serão no total quatro lotes mensais. A SEP vai analisar esses estudos e com base nas conclusões serão fixadas as regras dos leilões, que serão realizados pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Tudo precisa passar pelo crivo do TCU.
Esses estudos vão apontar, por exemplo, qual será a necessidade de investimentos nas novas áreas. A estimativa inicial de R$ 54 bilhões será revista. Vão, também, indicar o perfil mais adequado para cada porto. “O planejamento saiu dos Estados para o nível nacional, e com isso pretendemos fomentar a sinergia”, disse o ministro. “Vamos analisar onde é o caso de estimular a competição e onde haverá complementaridade.”
Terminais privados
Ainda não há previsão de quando começa a operar uma novidade trazida pela MP dos Portos: os terminais privados para movimentar carga própria e de terceiros. Eles farão concorrência direta com os portos públicos, o que motivou muita pressão de trabalhadores e empresas já instaladas.
A Antaq contabiliza 123 pedidos de autorização para novos terminais. O texto aprovado no Congresso diz que, nesses casos, a agência precisa fazer um chamamento público para sondar se há outras empresas interessadas em operar naquelas áreas. É provável que o chamamento precise ser regulado por um decreto presidencial, dependendo de como seja o texto sancionado. Assim, é possível que os terminais precisem aguardar mais algum tempo.
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Receita sobe mais que os custos nos setores com desoneração dos salários
Valor Econômico
A receita líquida das companhias abertas dos setores que tiveram desoneração da folha de pagamento cresceu mais que o aumento de custos durante o primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse indicador revela que o benefício fiscal concedido pelo governo resultou em um ganho de eficiência para as companhias.
A maior redução na relação entre custo dos produtos e receita líquida foi no segmento hoteleiro, com recuo de 4,9 pontos percentuais, e no mecânico, onde estão classificadas as indústrias de bens de capital, com queda de 1,2 ponto percentual (ver tabela ao lado). O cenário chama a atenção porque, na média, as empresas de capital aberto tiveram comportamento inverso, com alta de 2,3 pontos percentuais na relação custo/receita. Ou seja, na média, o custo do produto vendido subiu mais do que a receita líquida. O levantamento do Valor Data com base em dados da consultoria Economática considera um total de 241 empresas não financeiras. Considerando a mesma amostra, sem Petrobras, Vale e Eletrobras, a alta da relação custo/receita foi de um ponto percentual.
O levantamento levou em consideração segmentos que estão com a desoneração de folha pelo menos desde julho do ano passado e que possuem um número mais representativo de companhias abertas. Entre os segmentos desonerados pesquisados, a exceção fica por conta do setor de tecnologia da informação, que registrou uma elevação de 4,2 pontos percentuais na relação custo dos produtos vendidos/receita.
A Grendene está num dos primeiros setores a serem beneficiados com a desoneração de folha. Segundo o relatório do primeiro trimestre da companhia, o incentivo contribuiu para uma pressão menor sobre os custos de produção, ao lado de melhorias na produtividade. A elevação do custo do produto vendido da Grendene no primeiro trimestre foi de 17% em relação ao mesmo período do ano anterior, muito inferior ao crescimento da receita líquida de 22,8%, o que resultou numa margem bruta de 45,3%.
A Pettenati, indústria têxtil gaúcha, informa que economizou R$ 3,9 milhões no primeiro trimestre com a desoneração, o que contribuiu para reduzir custos e despesas. O custo do produto vendido da empresa subiu 6,8% no primeiro trimestre, contra iguais meses do ano passado. No mesmo período, a receita líquida aumentou em 9,7%. No levantamento das companhias abertas, o segmento de têxtil, couro e vestuário teve queda média de 0,2 ponto percentual na relação custo do produto vendido/receita líquida. Na média, o custo subiu 12% no primeiro trimestre, na comparação com iguais meses de 2012. A receita líquida cresceu 12,5%.
José Ricardo Roriz Coelho, diretor de competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz que o levantamento mostra que a desoneração de folha contribuiu para a redução de custos de produção. Ele lembra, porém, que para algumas empresas e segmentos outros fatores podem ter contribuído também, como a redução da tarifa da energia elétrica ou a aquisição de insumos importados mais baratos. “Para uma empresa muito automatizada, por exemplo, é provável que a redução da energia tenha sido mais representativa.”
Pela desoneração, as empresas dos setores beneficiados deixaram de pagar contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de salários e passaram a recolher um percentual de até 2% do faturamento. Roriz diz que, mais do que reduzir custo de produção, a medida contribui para o baixo nível de desemprego. “As indústrias que contratam trabalhadores não precisam demitir tanto no período sazonalmente baixo. Com isso, eliminam ou amenizam o custo da demissão e a necessidade de treinar novos empregados.” Roriz lembra ainda que o conjunto de benefícios foi importante, mas para muitos setores houve apenas uma pequena recuperação em relação à perda de competitividade dos últimos anos.
Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), também lembra que os efeitos da desoneração de folha foram muito heterogêneos. Entre os fabricantes de calçados, diz, há uma parcela importante que possui produção altamente terceirizada. Para essas indústrias, diz, o efeito da medida foi pequeno, já que o custo da folha de pagamentos nesse grupo é relativamente baixo.
Outra variável importante para o alcance do benefício fiscal, diz Klein, é a representatividade das exportações. Ele lembra que um dos objetivos da desoneração foi incentivar as vendas ao exterior, já que as receitas de exportação não entram na base para o cálculo da contribuição previdenciária sobre faturamento.
No caso das empresas que tiveram vantagem tributária com a desoneração, diz Klein, o principal efeito foi a redução de preços. Esse resultado, porém, concentrou-se mais no preços dos produtos exportados e menos na venda no mercado doméstico. O segmento calçadista está entre os primeiros beneficiados com a desoneração de folha, aplicada desde dezembro de 2011. Atualmente 42 setores aproveitam o benefício.
No levantamento com as companhias abertas, o dado agregado das empresas de tecnologia da informação mostra que o setor seguiu tendência inversa, com elevação de custo maior que o da receita líquida. Na média, a ampliação do custo foi de 18% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2012. No mesmo critério, a receita líquida subiu 10,8%.
A Totvs, uma das empresas do setor, declara no seu relatório do primeiro trimestre o efeito benéfico da desoneração de folha. Segundo a empresa, o impacto principal do benefício acontece no grupo de custos de taxas de licenciamento e de serviços e despesas com P&D. Esse é um dos três grandes grupos de gastos da companhia. A empresa informa que nos últimos 12 meses, esse grupo de custo teve sua participação sobre receita líquida reduzida em 1,3 ponto percentual. O ganho é creditado à desoneração e a aumento de eficiência.
Apesar dessa vantagem, no primeiro trimestre esse grupo de custos cresceu acima da receita líquida. A participação desses custou aumentou de 45,2% da receita líquida no primeiro trimestre de 2012 para 46,8% nos mesmos meses deste ano. Houve também elevação em relação ao quarto trimestre do ano passado, quando essa fatia era de 46,1%.
O crescimento desse custo no último trimestre, informa a empresa, foi ocasionado principalmente pela combinação do reajuste salarial de 7% resultante de acordo coletivo e do aumento de vendas de soluções complementares desenvolvidas por terceiros, o que resultou em maior desembolso com taxas de licenciamento.
Luís Rogério Farinelli, consultor do Machado Associados, explica que, do ponto de vista contábil, a desoneração de folha deu origem a um debate sobre a melhor forma de registro da despesa com a “nova contribuição previdenciária”.
Pela contabilização tradicional, em que a contribuição é calculada sobre a folha de salários, o desembolso é contabilizado como custo do produto vendido, sem efeito nenhum sobre a receita líquida das empresas. Algumas empresas de setores desonerados, porém, diz Farinelli, passaram a contabilizar esse desembolso como dedução para o cálculo da receita líquida, da mesmo forma que outros tributos calculados sobre a receita, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por exemplo.
O consultor diz que muitos discordam dessa contabilização. “O argumento é que para o cálculo da receita líquida devem ser descontados apenas os tributos repassados a terceiros, o que não é o caso da contribuição previdenciária sobre a receita bruta.”
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Ganhos reais caem nos novos acordos salariais
Valor Econômico
A inflação mais alta e atividade econômica ainda fraca têm dificultado as negociações salariais de diversas categorias neste começo de ano. As consequências aparecem no menor ganho real, mas também no atraso das negociações entre sindicatos e empresas, que, em muitos casos, estão levando de um a dois meses. No período março a maio, um terço dos acordos salariais coletivos registrados no Ministério do Trabalho não pagou aumento real, uma mudança em relação aos anos anteriores, quando mais de 90% das negociações era concluída com reajustes acima da inflação.
Em parte das categorias que já concluíram as negociações para os salários de 2013, os reajustes deste ano foram maiores que os do ano passado, mas a diferença serviu basicamente para cobrir a inflação – em abril do ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), índice de preços do IBGE usado como base na maioria dos contratos, acumulava variação de 4,88% em 12 meses; em abril deste ano, já estava em 7,16%.
Como consequência, no trimestre março-maio, um terço de 60 convenções coletivas de trabalho protocoladas no Ministério do Trabalho não garantiu aos trabalhadores aumento real ou ele foi inferior a 0,1%. O levantamento considerou categorias cuja data-base fica entre março e maio e descontou a inflação pelo INPC, mais usado nas negociações salariais. Neste período, a maior parte das categorias com acordos registrados pertence ao setor de serviços (incluindo transporte e construção), mas um terço é de trabalhadores na indústria, ainda que a maioria seja de pequenos sindicatos.
Entre os 60 acordos, a maioria dos dois terços que conseguiram aumento real acertaram um percentual acima da inflação inferior a 1% (reajustes com 0,2% acima da inflação já foram considerados como ganho real) e uma parcela menor (15) garantiu reajuste real acima de 1%. Outra novidade dos acordos desse período foi a volta dos reajustes escalonados. Entre os 60 acordos, oito pagaram reajustes maiores para os menores salários e menores para os mais altos.
Entre as categorias sem aumento real este ano estão calçadistas de Sobral e vestuário em Juazeiro, ambas no Ceará, metalúrgicos de pequenas e médias empresas de Campo Grande, no Mato Grosso, calçadistas do interior de Pernambuco, asseio e conservação no Amazonas, químicos do interior de Minas Gerais, entre outras. Os reajustes menores já refletem no rendimento médio. De acordo com o IBGE, em abril deste ano ele era 1,6% maior que em igual período do ano passado, quando foi 6,2% superior ao de um ano antes.
“Percebemos que as negociações estão demorando mais para sair neste ano, reflexo da inflação alta, que puxa os ajustes para cima, e também de uma atividade mais baixa”, disse Ana Maria Castelo, coordenadora de pesquisas na área de construção da Fundação Getulio Vargas (FGV), e que acompanha as negociações dos sindicatos do setor em sete capitais. No Rio de Janeiro, por exemplo, o aumento para os trabalhadores da construção, que foi de 9% no ano passado, passou para 9,5% neste ano, e, em São Paulo, foi de 7,47% para 8,99%. Em Salvador, houve atraso de três meses, e o aumento de 9% só saiu em março e praticamente repetiu os 8,93% do ano passado. Em todas estas cidades, no entanto, o ganho real foi menor que em 2012.
“Este ano foi muito mais difícil. Os patrões disseram que a economia cresceu pouco, e que as vendas do setor desaceleraram”, disse Antonio Ramalho de Souza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil em São Paulo (Sintracon-SP), A primeira proposta do sindicato patronal foi de um reajuste de 5%, abaixo da inflação. “Fizemos uma advertência de greve no fim daquele mês e marcamos uma paralisação geral para 13 de maio. No dia 10 fechamos o reajuste”, relata.
O mesmo aconteceu com os trabalhadores da indústria de artefatos de borracha de Americana, em São Paulo: o aumento, com data-base em junho, foi de 6,17% no ano passado, e neste ano será de 9,1%. Nos dois casos, o aumento sem a inflação foi de 2%. “As negociações foram mais difíceis neste ano”, contou Edinelson Azevedo de Souza, vice-presidente do Sindicato da Borracha de Americana e Região (Sindborr), que representa os 2.500 funcionários da Goodyear.
Em São Paulo, a ausência de um acordo com o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) pode levar os trabalhadores das duas empresas à greve. Além de uma recomposição de 7,3% da inflação até abril, o sindicato que representa os 9 mil funcionários do Metrô paulista pede um ganho real de 14,15%, com base no aumento de produtividade dos últimos três anos. Na outra negociação, a CPTM oferece – e já negociou com dois sindicatos – um reajuste de 6,97%, o que, segundo a empresa, garante aumento real de 1% pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
No caso do setor de energia, a perda de receita das companhias com a redução das tarifas de energia elétrica, em janeiro, tem tornado o pleito sindical mais difícil. “A inflação não é a nossa preocupação. Discutir recomposição da inflação é coisa do passado, isso tem que ser automático. A nossa preocupação é o ganho real”, diz Carlos Reis, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo (Stieesp), que representa 8 mil trabalhadores no Estado, entre eles os da Eletropaulo, Cteep, Furnas e Elektro. “O faturamento dessas empresas caiu na faixa dos 30%. Elas estão mais resistentes, dizem que estão apertadas”, explica Reis.
O Stieesp pede um ganho real de 4%, além da recomposição dos 6,68% da inflação em 12 meses até abril, segundo o ICV, do Dieese. As negociações são feitas por empresa, e ainda estão em andamento.
A previsão do Sindicato dos Eletricitários de Campinas é que o reajuste aos trabalhadores de todo o setor elétrico paulista neste ano fique abaixo dos 7,7% registrados no ano passado, apesar da inflação mais alta este ano. Segundo Gentil Teixeira de Freitas, presidente do sindicato, o cenário para a negociação salarial “está mais duro”. “Resolvemos unir todas as categorias do setor. Além de a economia ter crescido pouco ano passado, as geradoras vão querer usar a diminuição na tarifa da energia elétrica para baixar o reajuste. As distribuidoras devem ir pelo mesmo caminho, mas dizendo que o resultado foi afetado pelo acionamento das térmicas, mais caras”, afirma.
Quem destoou da maioria foram os motoristas de ônibus da cidade de São Paulo. O acordo foi considerado “mais fácil de ser obtido do que ano passado” por Nailton Francisco de Souza, diretor do sindicato da categoria. O acordo permitiu aumento real de 3,53%, acima do 1,5% obtido em 2012.
Para Souza, a entrada da Prefeitura nas negociações ajudou no acordo. “Como também haverá o reajuste nos preços das passagens, a prefeitura mostrou, em um estudo técnico, a viabilidade do aumento pedido pela categoria. Apesar de a negociação ser direta e não envolver o poder público, neste ano houve interferência para evitar uma paralisação”, afirma.
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Fundos imobiliários perdem apelo
Valor Econômico
O movimento de elevação da taxa de juros liderado pelo Banco Central (BC) este ano fez baixar a febre que marcou o mercado de fundos imobiliários em 2012. A redução da temperatura pode ser acompanhada por dois termômetros: o IFIX, índice que reúne os portfólios listados na bolsa, e o apetite dos investidores pelas novas ofertas públicas.
Depois de encerrar 2012 com alta de 35,02%, o IFIX perde força. No acumulado do ano até maio, recuava 1,50%. E o ambiente também não é mais tão favorável às ofertas iniciais. Segundo dados da BM&FBovespa, neste ano, pelo menos quatro operações foram fechadas com um volume de recursos abaixo do que pretendiam – um movimento oposto ao observado no ano passado, marcado pela megaoferta do fundo BB Progressivo II, do Banco do Brasil, em que a demanda pelas cotas foi pelo menos 13 vezes superior à oferta.
Captaram menos do que estimaram fundos de casas como Gávea Investimentos, Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG) e Banco Fator. Duas ofertas cuja captação ficou aquém da expectativa são de fundos de fundos imobiliários – ou seja, portfólios que captam dinheiro dos investidores não para comprar imóveis, mas com o objetivo de adquirir cotas de outras carteiras, na bolsa e em ofertas. O Gávea Fundo de Fundos buscava atrair R$ 200 milhões. Captou R$ 119,604 milhões. Já o Fator IFIX, que tinha como meta atrair R$ 100 milhões, amealhou somente R$ 36,597 milhões.
Também captaram menos do que o almejado carteiras com um perfil mais convencional e já com histórico relevante. É o caso da sexta emissão do CSHG Brasil Shopping, que explora participações em shopping centers. O fundo pretendia atrair R$ 220,42 milhões, mas captou R$ 192,724 milhões. Outro fundo do CSHG, o Real Estate – com foco em empreendimentos comerciais -, tinha como meta atrair, em sua sétima distribuição de cotas, R$ 528,28 milhões, mas levantou bem menos, R$ 243 milhões.
Especialistas atribuem tanto o desempenho fraco do IFIX quanto o menor apetite dos investidores pelas ofertas ao aumento da taxa básica de juros, que, este ano, já saltou de 7,25% para 8% ao ano – e, ao que tudo indica, deve subir ainda mais. Geralmente, os investidores aplicam em fundos imobiliários de olho no rendimento mensal – obtido, em geral, a partir do aluguel dos imóveis em carteira -, que é um percentual do valor de aquisição da cota. Com a elevação dos juros, as aplicações tradicionais de renda fixa, como CDBs e fundos DI, tendem a render mais e passam a concorrer com os fundos imobiliários pelo bolso do investidor.
“O movimento forte de queda dos juros no ano passado tornou os fundos imobiliários que ganham com renda de aluguel muito competitivos. Com o movimento de alta da Selic, que ninguém sabe ao certo até onde vai, é natural que o mercado se retraia um pouco, esperando uma definição do nível de juros para calibrar novamente o retorno que deseja nos fundos”, afirma André Freitas, gestor de fundos imobiliários da CSHG. “O ano passado foi de euforia. É natural e até saudável que haja uma retração do investidor este ano, com o mercado se acomodando a um novo ambiente”, diz Raphael Cordeiro, analista da butique de investimento Inva Capital.
Segundo Freitas, da CSHG, a oferta pública subsequente dos dois fundos da casa – o Shopping Brasil e o Real Estate – ficou aquém da esperada justamente por conta da virada do humor do mercado, após a alta dos juros. As operações foram formatadas entre outubro e novembro do ano passado, quando o mercado ainda vivia sua fase eufórica, mas distribuídas entre dezembro de 2012 e maio deste ano. “O produto foi desenhado em um ambiente, mas chegou ao mercado em outro. Nas duas últimas tranches da distribuição, em abril e maio, o cenário já era de alta dos juros. É difícil acertar o “timing”, porque toda a estrutura legal para realizar a oferta demora entre 60 e 90 dias”, diz o executivo.
A mudança no rumo dos juros também foi, em parte, responsável pela captação menor do que a esperada do Fator IFIX, fundo de fundos do Banco Fator, segundo Valdery Albuquerque, superintendente de negócios do banco. A oferta já estava praticamente montada em dezembro de 2012, mas atrasos, por problemas com fornecedores de serviços, acabaram adiando a distribuição para maio deste ano, conta o executivo.
Além da alta dos juros, pesou contra a oferta, diz, o fato de a distribuição de outro fundo de fundos, o Brasil Plural Absoluto (que captou os R$ 200 milhões que pretendia) ter sido realizada um pouco antes. “Havíamos mapeado uma demanda de R$ 100 milhões, mas pegamos uma mudança de cenário e outra oferta de um produto parecido bem no meio do caminho”, afirma Albuquerque, ressaltando que o outro fundo imobiliário do banco, o Fator Verità, que investe principalmente em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), captou R$ 67,5 milhões no fim do ano passado, acima da estimativa inicial, de R$ 50 milhões. “O momento era diferente e a estrutura da carteira era mais familiar para o investidor que a do fundo de fundos”, afirma.
Segundo Rossano Nonino, responsável pela área de fundos imobiliários da Gávea Investimentos, apesar de atrair menos do que poderia, a captação do fundo de fundos da gestora ficou dentro das expectativas. “Colocamos os R$ 200 milhões como valor máximo, mas o objetivo era ter no fundo algo entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões”, afirma o executivo.
Como o Gávea Fundo de Fundos é o primeiro portfólio imobiliário da casa listado na bolsa, a opção foi por um esforço de vendas mais restrito, diz Nonino. Em vez de formar um “pool” de corretoras para distribuir a carteira, a Gávea preferiu oferecer as cotas do fundo somente para os clientes da casa. Além disso, optou por estabelecer uma aplicação mínima de R$ 100 mil (o equivalente a 100 cotas no valor de R$ 1 mil cada uma), bem acima do visto tradicionalmente nas ofertas, entre R$ 5 mil e R$ 10 mil.
A intenção, segundo ele, era filtrar a demanda, para formar uma base de investidores mais estável, que já conhece o trabalho da Gávea e entende a dinâmica do segmento imobiliário. “Foi uma oferta cuidadosa, porque é um produto que vai ter continuidade. Pretendemos fazer novas emissões da carteira. A ideia é aumentar o patrimônio aos poucos, sem comprometer a qualidade do portfólio”, afirma Nonino.
A política de investimento da carteira é dividida em duas fases. Na primeira, haverá a aplicação paulatina do dinheiro captado em cotas de outros fundos, principalmente em ofertas primárias de fundos que buscam renda com aluguel de imóveis como de escritórios comerciais, shopping e logística. Em seguida, haverá a fase de reciclagem da carteira, com a aquisição de cotas em bolsa. A expectativa é uma alteração entre 10% e 20% da carteira a cada ano, com objetivo de embolsar ganhos com a negociação das cotas na bolsa.
O executivo da Gávea espera uma leva expressiva de ofertas de fundos ao longo do segundo semestre, após a acomodação do mercado a uma taxa de juros mais elevada. No fim do ano passado, afirma Nonino, houve represamento de ofertas, porque havia até a expectativa de que a Selic pudesse cair ainda mais, o que favoreceria a colocação de cotas. “Com a definição do nível da taxa de juros, haverá um cenário mais claro para os IPOs [ofertas iniciais, na sigla e inglês]. Até o fim do ano, devemos ter alocado os recursos captados na oferta do nosso fundo”, diz.
Especialistas ouvidos pelo Valor acreditam que o cenário de juros mais altos tende a tornar mais difícil a captação de carteiras mais sofisticadas, como portfólios que compram diversos imóveis, títulos imobiliários (CRIs, LCIs etc) e cotas de outros fundos. Estruturas mais simples e com marca mais forte, como fundos que alugam agências bancárias e escritórios comerciais, tendem a continuar atraindo os investidores, mas sem a corrida vista no ano passado. Um exemplo é a segunda emissão do fundo Santander Agências, que captou os R$ 354,75 milhões planejado. No caso dos fundos de fundos, o teste de fogo é a quinta emissão da carteira do BTG Pactual, que está na rua. O portfólio pretende atrair R$ 500 milhões, praticamente duas vezes o patrimônio atual, na casa dos R$ 230 milhões.
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Tombini vê pouco efeito do dólar na inflação brasileira
O Estado de S. Paulo
A alta do dólar não é um fenômeno exclusivo do Brasil e o repasse desse movimento à inflação brasileira será limitado. A avaliação é do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que não demonstra preocupação com o preço da moeda, que atingiu o maior patamar em quatro anos na sexta-feira passada.
Presidente do BC diz que desvalorização de moedas é problema de vários países em desenvolvimento e que preços no País estão menos suscetíveis ao câmbio
“A subida do dólar é um movimento global, não é um tema específico do Brasil. A alta vista no Brasil é semelhante e comparável ao movimento registrado em outros países” disse Tombini ontem, após participar de seminário organizado pelo BC da Turquia. O argumento é que a subida da moeda ao longo dos últimos meses é comparável à observada em outros mercados emergentes, como África do Sul e Colômbia. “Não é um tema específico para nós.”
Sobre o impacto da alta recente do dólar na inflação brasileira, Tombini mantém um discurso tranquilo. “O repasse da alta do dólar para a economia brasileira é limitado e caiu ao longo do tempo”, disse, sem citar números. O presidente do BC também foi questionado, mas não comentou a alta de preços que começa a ser vista em alguns setores da economia, como nos aparelhos eletrônicos – segmento com alta porcentagem de peças importadas. Como mostrou reportagem do Estado, aparelhos de televisão já estão chegando às lojas com preço até 8% maior.
Apesar de não demonstrar preocupação com o tema, Tombini reafirmou que a estratégia da casa para o câmbio continua a mesma e, portanto, novas intervenções podem acontecer. “Se há excesso de volatilidade e o mercado está disfuncional, o BC atua”, disse. Na sexta passada, a instituição atuou com operação que equivale à venda de dólares no mercado futuro, mas a estratégia não impediu a subida da moeda para R$ 2,147. O dólar futuro para julho fechou a sexta-feira em R$ 2,155.
PIB. Tombini – responsável pelo aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, para 8%, em uma economia que resiste em ganhar ritmo – fez ainda uma análise relativamente otimista do crescimento da economia. Para ele, os números do Produto Interno Bruto (PIB) conhecidos na semana passada “mostram que o Brasil está em ritmo gradual de recuperação”.
Ele não comentou, porém, se o crescimento da atividade em ritmo aquém do esperado – de 0,6% no primeiro trimestre -pode reduzir as previsões do BC para a expansão do PIB. Disse apenas que, no mais recente Relatório de Inflação, a autoridade monetária previa crescimento “em torno de 3%” para o ano de 2013.
“A parte boa do PIB é a evolução do investimento na economia, que cresceu pelo segundo trimestre seguido”, disse, ao comentar que a alta do investimento de 4,6% no trimestre é “bastante considerável”. A previsão oficial do BC para o crescimento da economia sefá atualizada no fim do mês, na nova edição do Relatório de Inflação.
Soluções brasileiras. Durante a apresentação no seminário do BC turco, Tombini falou sobre a experiência brasileira na gestão dos fluxos de capitais estrangeiros. País que iniciou as reclamações contra a chamada “guerra cambial”, o Brasil conseguiu, segundo Tombini, “estabilizar o fluxo de capital de maior risco com a adoção de medidas”.
Entre os exemplos, foram citados o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o requerimento de capital para bancos operarem no mercado futuro. Em nenhum momento, porém, ele citou que essas medidas poderiam ser revertidas em caso de saída de capitais e consequente alta da moeda.