A China sobrevive em meio a tombo dos emergentes
Até ontem, o índice de referência Shangai Composite havia saltado 5,2% neste mês, fazendo da bolsa de Xangai o melhor mercado de ações da Ásia. Investidores estão convergindo para os títulos de dívida chineses denominados em yuan num momento em que a cotação da moeda chega perto de picos históricos.
A razão é que a economia altamente estatizada da China está se mostrando resistente aos sinais de que o Federal Reserve, o banco central americano, pode estar prestes a reverter as políticas de estímulo econômico que inundaram o mundo emergente de dinheiro nos últimos anos – sinais esses que estão derrubando mercados da Índia ao Brasil.
Além disso, o rígido sistema financeiro do país, que dificultou a entrada de capital na China em tempos melhores, está hoje impedindo uma potencial debandada. E as autoridades do governo aumentaram a confiança do mercado ao deixar claro que vão amparar o crescimento agora que a economia dá sinais de estar ganhando fôlego após um período de desaceleração no primeiro semestre.
“As indicações recentes são de que as coisas estão pelo menos se estabilizando em torno desse nível menor de crescimento”, disse Colin Moore, diretor de investimentos da Columbia Management Investment Advisers, que administra US$ 335 bilhões em ativos. “Depois que os investidores se acostumarem, isso vai empurrar o mercado. Zera as expectativas e torna mais fácil surpreender as pessoas.” Moore diz que aumentou recentemente sua exposição a ações negociadas na bolsa da China.
Mesmo em Hong Kong, onde os mercados de capital são abertos e vulneráveis a mudanças no sentimento internacional, as ações estão em alta. O índice Hang Seng China Enterprises, que inclui muitas das grandes empresas chinesas, subiu 2% desde o fim de julho. O HSBC afirma que os fundos mútuos aumentaram consideravelmente sua alocação de ações para Hong Kong e conservaram as ações da China. Por outro lado, a Índia está sofrendo os piores efeitos da queda dos mercados. A rúpia continua registrando desvalorizações recordes e a bolsa recuou 4,9% neste mês.
Os países menores do sul da Ásia, que estão entre os de melhor desempenho este ano na região, também foram golpeados em agosto. A bolsa das Filipinas havia caído 10,5% até ontem e o índice de referência da Indonésia teve baixa de 11%, colocando ambos os países a caminho do seu pior desempenho desde outubro de 2008, quando o banco Lehman Brothers apenas tinha quebrado.
“As pessoas têm estado preocupadas com a China ao longo de todo o ano”, disse Leong Wai Hoong, diretor de renda-fixa da Nikko Asset Management, que administra cerca de US$ 162 milhões em ativos. A China “é menos vulnerável a [um] choque externo”.
Parte do otimismo em relação à China também vem do sucesso das empresas em resistir à desaceleração da China no primeiro semestre deste ano. Mais de 50% das empresas que divulgaram os resultados do segundo trimestre tiveram desempenho melhor do que o esperado pelos analistas, de acordo com um relatório recente da corretora CLSA, de Hong Kong. O desempenho foi melhor do que em qualquer outro mercado da Ásia, excluindo o Japão, segundo o relatório.
“Parece que a China é o último sobrevivente dos mercados emergentes”, disse Adrian Zuercher, estrategista sênior de investimentos da Credit Suisse Private Banking & Wealth Management, divisão do Credit Suisse em Hong Kong. O banco suíço gerenciava ativos no valor de US$ 1,4 trilhão, no primeiro trimestre deste ano. O banco mantém mais ações chinesas do que recomendam as referências que ele segue.
A alta dos mercados chineses é uma virada em relação a dois meses atrás, quando o sistema financeiro da China foi atingido por uma crise de liquidez que gerou temores sobre as perspectivas da segunda maior economia mundial. Desde então, o banco central tem inundado os bancos com dinheiro e há sinais cada vez maiores de que o crescimento econômico está acelerando, alimentado em parte pela melhora nos mercados exportadores dos EUA e da Europa.
Ainda assim, algumas preocupações sobre a China persistem, e as ações estão se recuperando somente depois de anos de fraco desempenho. O índice da bolsa de Xangai permanece em cerca de um terço do seu pico de 2007. Os níveis de endividamento estão subindo, forçando as empresas a gastar uma parcela maior da sua receita com o pagamento de juros em vez de investimentos produtivos. A capacidade ociosa em indústrias que vão de siderúrgicas a varejistas continua sendo um problema.
Os formuladores da política chinesa estão aderindo a planos que tornam o altamente controlado yuan mais forte como parte da prometida reforma econômica. A moeda subiu 1,7% em relação ao dólar no ano até agora, a única moeda asiática a se valorizar no período. Isso está beneficiando o mercado de Hong Kong dos títulos denominados em yuan (avaliado em US$ 38,4 bilhões), os chamados “dim sum bonds”, fazendo com que eles subam de valor quando a moeda sobe.
Gordon Tsui, vice-diretor de investimentos da Hang Seng Investment, que gerencia US$ 163 milhões desses títulos, disse que está comprando mais. O fato de que a maioria da dívida vence no curto prazo, o que significa que os títulos são menos afetados pela queda no preço dos ativos do Tesouro dos EUA, torna os “dim sum” especialmente atrativos, diz ele.
Um índice do HSBC que monitora os títulos “dim sum” registra um retorno de 1% no ano até agora. Já o índice JPMorgan Asia Credit, que é mais amplo e monitora os títulos denominados em dólar na região, apresentou um retorno negativo de 4,9%.
“Os temores de um pouso forçado da economia chinesa diminuíram graças a dados encorajadores recentes”, disse Chia Liang Lian, gerente de portfólio da Western Asset Management, que tem US$ 459,7 bilhões em ativos. Ele também tem comprado títulos “dim sum” nos últimos meses.
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População brasileira só crescerá até 2042
Correio Braziliense
Em menos de 50 anos, um em cada quatro brasileiros será idoso. E a quantidade de habitantes do país não crescerá indefinidamente. Ao contrário, depois de atingir o pico populacional em 2042, quando deveremos atingir a marca de 228,4 milhões de pessoas, a quantidade de brasileiros começará a cair. Em 2060, seremos 218 milhões — a mesma população projetada para 2025. Essa queda será reforçada pelo aumento do número de mulheres que decidem engravidar cada vez mais tarde e ter poucos filhos. Contará ainda com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, que chegará a 81,2 anos em 2060.
As estimativas mostram que o Brasil se aproxima da curva populacional dos países desenvolvidos. Também significa que dependemos cada vez mais dos jovens, que já não serão tantos em um futuro relativamente próximo. Especialistas alertam que o país vive hoje um momento único, em que a população economicamente ativa (PEA) é elevada, pode produzir riqueza e, por isso, deve se preocupar em fazer poupança.
O perfil de um Brasil de idosos foi traçado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no estudo Projeções populacionais (2000-2060), estimativas de população 2013, divulgado ontem. Os dados, segundo o professor de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani, indicam que, no futuro, teremos que importar mão de obra. “Não há reposição populacional. A quantidade de pessoas mais velhas aumenta cada vez mais. A medicina avançou e, enquanto as famílias têm diminuído, os idosos estão vivendo mais e melhor”.
Mas, para o especialista em previdência social Renato Follador, vivemos uma janela de oportunidade. “Hoje, temos mais população em idade economicamente ativa do que vamos ter (em alguns anos). Esta é a hora de reestruturar a Previdência Social e a educação. A Previdência Social vai pagar cada vez menos e a sociedade precisa se conscientizar da importância da previdência privada. Estamos numa armadilha, não tem mais como o Estado promover a proteção integral”, alerta Follador.
Um dos motivos desse processo é o aumento da longevidade. A expectativa de vida nos anos 2000 era de 69,8 anos. Hoje, é estimada em 74,8 anos. Em 2030, o brasileiro viverá, em média, 78,6 anos, número que aumentará para 81,2 anos em 2060. As estimativas indicam que, em 2060, 26,7% da população será idosa, um percentual três vezes maior que o atual (7,4%).
Famílias pequenas, como a do engenheiro civil Paulo Brito, de 53 anos, serão maioria. Os pais do engenheiro tiveram quatro filhos. Ele, porém, tem só um, Matheus, de 10 anos. “As condições (para ter filhos) não são mais as mesmas. É preciso garantir a escola, o lazer, dar mais atenção (às crianças)”, justifica.
Os argumentos de Brito ajudam a explicar a redução na taxa de fecundidade das brasileiras. Em 2000, a média era de 2,39 filhos por mulher. Este ano, a estimativa é de 1,77 filho, média que cairá para 1,5 em 2030. Mas, dez anos antes, em 2020, o Distrito Federal, ao lado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, já terá atingido esse índice.
A pesquisadora do IBGE Leila Ervatti explica que essa queda é um fenômeno verificado desde os anos 1970, com a popularização dos métodos anticoncepcionais, dos avanços da medicina e do acesso a informações. “O acesso aos meios de comunicação, como a televisão, acabaram mudando os padrões culturais. As prioridades mudaram”, argumenta Leila.
A pesquisadora destaca que, além de decidir ter menos filhos, as mulheres estão — cada vez mais — postergando a maternidade. “Isso tem a ver com a maior escolarização feminina, a maior inserção no mercado de trabalho, o aumento da urbanização e a modernização da sociedade. As prioridades foram mudando. Agora, as mulheres se casam mais tarde, por causa da carreira, da formação educacional”, esclarece. Essa tendência deve continuar. Hoje a média de idade para dar à luz é de 26,9 anos. Em 2020 será de 28 anos. Dez anos depois, chegará a 29,3 anos.
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EUA rejeitam proposta para acesso a dados
Valor Econômico
O Brasil propôs um acordo aos EUA para definir que qualquer coleta de dados telefônicos ou eletrônicos no país só poderia ser feita por meio da solicitação a um tribunal brasileiro, e apenas em casos em que houvesse indícios de atividades ilícitas, mas a proposta não foi aceita pelo governo americano, informou ontem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
O ministro se reuniu na quarta-feira com o vice-presidente Joe Biden, o chefe do Departamento de Justiça, Eric Holder, e assessora para Assuntos de Contraterrorismo, Lisa Monaco, para tratar das denúncias de que os EUA espionaram telefonemas e e-mails de brasileiros. Segundo Cardozo, as autoridades americanas disseram que não concordariam com um acordo nesses termos com nenhum país do mundo, mas que estão dispostos a discutir pontos não especificados da proposta brasileira. De acordo com uma fonte da Casa Branca, “os participantes do governo americano nas reuniões ressaltaram que o foco de nossas atividades era a proteção da segurança dos cidadãos americanas e dos cidadãos de países parceiros”.
O ministro disse que o Brasil segue insatisfeito em relação ao episódio, mas que não se furtará a dialogar. “É importante, porém, que o diálogo não seja meramente retórico e tenha objetivos concretos.” Questionado sobre como o desconforto sobre o tema afetará a visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos EUA, em outubro, Cardozo respondeu apenas que ela será definida pelo “Itamaraty e pelo governo americano, e vários assuntos serão tratados, com uma pauta importante a ser discutida”. Os EUA, segundo ele, são um parceiro importante em várias questões, mas o assunto da interceptação de dados precisa ser abordada.
Cardozo afirmou que a ideia do Brasil era que os dois países caminhassem para um acordo com reciprocidade. “Caso órgãos de Estado dos EUA pretendessem obter dados gerados no Brasil deveria haver uma solicitação a tribunal brasileiro, dentro de procedimentos que a legislação brasileira admitisse. E, sempre o que o Brasil desejasse obter dados nos EUA, nós nos dirigiríamos aos tribunais competentes.”
Pela proposta brasileira, seria possível uma coleta individualizada de dados, em casos em que houvesse indícios de práticas ilícitas, como envolvimento com o narcotráfico, organizações criminosas e terrorismo. As empresas americanas que atuam no Brasil nos setores de informação e comunicação terão que se adequar à legislação brasileira, enfatizou ele.
Cardozo disse ter manifestado às autoridades americanas o “inconformismo” não apenas do governo, mas de toda a sociedade brasileira, quanto à intercepção de dados telefônicos e eletrônicos no Brasil. A importância do respeito à soberania levou o Brasil a apresentar a proposta, segundo ele. “Um país que abre mão de sua soberania é um país subserviente, e o Brasil não é subserviente”. O governo brasileiro, ressaltou, vai levar a discussão para fóruns internacionais competentes.
De acordo com a fonte da Casa Branca, os EUA “entendem que esse é um assunto de grande importância” para o Brasil, e que o governo americano tem o compromisso de continuar o diálogo sobre esse assunto. Segundo a fonte, a relação bilateral com o Brasil é vital para os EUA. “Nós continuamos a desenvolver uma agenda forte para a visita de Estado da presidente.”
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CNI quer avanço em facilitação de comércio
Valor Econômico
As negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) devem ser destravadas com a posse de Roberto Azevêdo como diretor-geral do órgão multilateral, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Assim, a expectativa é que a reunião ministerial da OMC em Bali, na Indonésia, em dezembro, tenha algum avanço num dos principais temas: a facilitação de comércio internacional.
A proposta consiste em um acordo para agilizar a liberação de mercadorias nas alfândegas. “Isso é uma vantagem global e tem impacto nos dois lados [do comércio]. Pode aumentar o acesso das exportações brasileiras e a indústria nacional também precisa importar seus insumos com rapidez”, disse o diretor de desenvolvimento industrial da CNI, Carlos Abijaodi, ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor. Para ele, o setor manufatureiro obtém vantagens com a fluidez do comércio internacional e não é preciso que o Brasil crie regras para obstruir importações.
Estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que o acordo seja capaz de reduzir em 10% os custos de transações para países desenvolvidos e entre 13% e 15% para países em desenvolvimento, destacou a CNI.
Entre os assuntos que devem ser discutidos em Bali, “a facilitação comercial é a principal e a mais importante para a indústria brasileira. São regras para acelerar despachos aduaneiros, liberar mercadorias com mais rapidez, reduzindo custos de transações”, frisou Fabrízio Panzini, especialista em negociações internacionais da CNI.
Apesar de críticas de especialistas, a CNI considera que o órgão mantém a relevância no comércio internacional. Atualmente, 159 países são membros da OMC, sendo que grandes nações como China e Rússia, mais novos integrantes, tiveram que reduzir barreiras para entrar no organismo multilateral, ressaltou Panzini.
Num cenário de baixo dinamismo das transações internacionais e em que economias em desenvolvimento estão ganhando peso nas exportações mundiais, o Brasil se beneficia com a posse de Azevêdo não pela nacionalidade, mas pela experiência, na avaliação da CNI.
“Ele está lá para defender o comércio internacional. Ter o sistema multilateral funcionando é importante para o Brasil, que tem questões-chave na pauta”, como a redução de subsídios que alguns países dão a produtos agrícolas, disse Panzini, que acredita num acordo limitado ou na ausência de alguma decisão.
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Superávit fiscal em 2014 será o menor do PT
Valor Econômico
Ao divulgar ontem a proposta orçamentária do próximo ano, encaminhada ao Congresso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou que o superávit primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) em 2014 será bem menor do que o previsto para 2013.
Segundo Mantega, a proposta foi elaborada com desconto de R$ 58 bilhões no superávit inicialmente estipulado em R$ 116,1 bilhões ou 2,2% do PIB. Com o desconto, o superávit do governo central em 2014 cairá para R$ 58,1 bilhões, ou 1,1% do PIB, o menor da era PT. É inferior até ao de 2009, o auge da crise financeira internacional. Para este ano, a previsão é que fique em 1,5% do PIB.
Mantega disse que o governo trabalha com um superávit primário de 2,1% do PIB para todo o setor público em 2014, contra meta de 2,3% do PIB neste ano. O ministro informou que Estados e municípios terão que fazer um superávit primário de 1% do PIB. Ele não quis se comprometer, no entanto, com a meta de 2,1% do PIB para o setor público, pois não garante que o governo federal irá compensar eventual frustração do resultado de Estados e municípios.
“Nos comprometemos a cumprir a nossa meta (do governo central), com o desconto que será feito”, disse. A eventual compensação da meta de Estados e municípios “tem que ser discutida mais à frente”. Mantega Lembrou que o Orçamento é quase inteiramente refeito em fevereiro, quando é divulgado o decreto de contingenciamento das dotações orçamentárias.
O ministro admitiu que poderá fazer um primário mais alto, caso as condições econômicas melhorem. Nesse caso, considera reduzir o abatimento de R$ 58 bilhões e buscar um resultado intermediário entre 2,1% do PIB e 3,2% do PIB. “Esse é um primário indicativo”, afirmou, referindo-se ao resultado previsto no Orçamento.
De acordo com os cenários traçados na proposta orçamentária, se o governo federal alcançar a meta de 1,1% do PIB (com abatimento de R$ 58 bilhões), e os Estados e municípios repetirem o superávit de 0,5% do PIB obtido nos últimos anos, o consolidado do setor público ficará em 1,6% do PIB.
A política fiscal vem se mantendo expansionista nos últimos cinco anos, exceção feita a 2011 quando, segundo estudos do BC, houve contração fiscal. Num momento em que o BC eleva juros, a política fiscal vai despejar mais dinheiro na economia. A coordenação entre política fiscal e monetária pode, portanto, ser reduzida em 2014.
A proposta de 2013 foi elaborada com desconto de “apenas” R$ 26 bilhões, menos da metade do abatimento feito na proposta de 2014. Por ocasião do contingenciamento de maio deste ano, o desconto foi elevado para R$ 45 bilhões. Depois, na tentativa de recuperar a credibilidade da política fiscal, o governo anunciou, em julho, ajuste adicional de R$ 10 bilhões, o que reduziu o desconto para R$ 35 bilhões Com isso, o superávit primário do governo central ficou em 1,5% do PIB. Foi assumido o compromisso com a meta de superávit primário de todo o setor público de 2,3% do PIB.
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse ontem não saber se o ajuste de R$ 10 bilhões será suficiente para atingir a meta de 2,3% do PIB, porque a frustração do resultado de Estados e municípios será maior do que o inicialmente imaginado.
Mantega disse que o Orçamento de 2014 “é conservador”, mesmo com o governo tendo utilizado previsões de crescimento de 4% no próximo ano e inflação de 5%. Admitiu que uma expansão de 4% no próximo ano pode parecer, à primeira vista, uma meta ambiciosa. “De fato é”, reconheceu o ministro, “mas consideramos que há sinais de que a economia internacional estará melhor no próximo ano, o que vai melhorar o comércio e permitir que os países exportem mais e que as economias acelerem um pouco mais.”
Mantega explicou que a previsão de receita da União não foi elaborada com base na perspectiva de crescimento da economia de 4%, mas não disse qual foi o critério utilizado. Afirmou que o governo incluiu no Orçamento todas as despesas que afetarão os cofres do Tesouro no próximo ano, incluindo gastos com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que cobre custos no setor elétrico, no montante de R$ 9 bilhões. Com a desoneração da folha de pagamento, a proposta orçamentária prevê que o Tesouro arcará com despesa de R$ 17 bilhões, contra R$ 10.8 bilhões neste ano.
A proposta de Orçamento fixa o salário mínimo em R$ 722,90. O reajuste segue a fórmula definida no início do governo Dilma e espelha a variação do crescimento econômico de dois anos anteriores ao corrente. De acordo com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, a correção do mínimo custará R$ 29,2 bilhões. O impacto se dará principalmente nas aposentadorias da Previdência e benefícios como seguro-desemprego e Lei Orgânica da Assistência Social.
Mantega observou que as principais despesas federais – pessoal, Previdência e juros – estão sob controle, ou em queda, e demonstram a “qualidade” da gestão dos gastos federais. Projetou em 0,6% do PIB o déficit da Previdência em 2014. O pagamento de pessoal ficará estável em 4,2% do PIB e os juros implicarão gastos de 4,5% do PIB.
O governo espera ainda redução de 0,9 ponto na dívida líquida do setor público no ano que vem, de 34,8% do PIB este ano para 33,9% em 2014.
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BNDES terá spread menor em leilão de infraestrutura
Valor Econômico
O governo vai reduzir o spread cobrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos repasses de recursos aos bancos para financiamento de concessões de infraestrutura. A intenção é aumentar a atratividade das operações para bancos privados e estatais que atuarem como agentes repassadores nessas operações. Hoje, o spread do BNDES nos repasses é de 0,75 ponto percentual. O plano é reduzir esse valor drasticamente.
Pela ideia em negociação entre Ministério da Fazenda e bancos para colocar de pé uma estrutura que viabilize o crédito para os leilões de concessão, o BNDES proverá funding para os bancos privados e públicos financiarem os investimentos dos grupos interessados. Os bancos assumirão o risco de crédito, assim como já ocorre nos repasses convencionais de recursos do BNDES.
Um dos pontos cruciais para que a proposta vingue é justamente a remuneração dos bancos que assumirão o risco. O governo já concordou em aumentar a taxa final a ser cobrada dos vencedores dos leilões de 1,5% para 2% ao ano, acrescida da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).
Um dos pontos cruciais para que a proposta vingue é justamente a remuneração dos bancos que assumirão o risco
A taxa de 2% foi considerada viável pelas instituições financeiras. Mas, para ampliar o ganho dos bancos e garantir seu interesse no financiamento dos consórcios que vencerem os leilões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, a decisão é baixar a remuneração do BNDES. “O BNDES cobra 0,75 apenas para “carimbar” os recursos que repassa aos bancos”, informou uma fonte a par das discussões. “Isso não faz sentido, até porque o risco dos empréstimos é inteiramente dos bancos.”
Um dos argumentos usados em favor da redução do spread é que, na estrutura a ser montada, o dinheiro do Tesouro Nacional apenas passará pelo BNDES para chegar aos bancos, o que não justificaria cobrar um spread tão alto. Mas a proposta encontra resistências. É sabido, também, que o banco de desenvolvimento não dispõe de funding suficiente para bancar todos os pedidos de financiamento e, por isso, precisará de novos aportes do Tesouro.
O governo considera que, nos últimos anos, o BNDES cresceu muito e, por causa disso, tornou-se moroso na concessão de crédito. O prazo médio de liberação dos recursos é de 18 meses, enquanto os bancos pretendem reduzi-lo para 120 dias. Como o governo considera crucial para a retomada da confiança dos empresários na economia o sucesso dos leilões de concessão, decidiu criar opções ao crédito tradicional do BNDES.
Todos os bancos que participarem do programa de financiamento de concessões oferecerão condições padronizadas aos tomadores. Além de custarem TJLP mais 2% ao ano, os empréstimos terão prazo total de 25 anos, com cinco de carência. A ideia é que os vencedores dos leilões entrem com 30% de capital próprio e financiem os 70% restantes.
O governo trabalha para assegurar condições vantajosas de financiamento das concessões para atrair tanto os bancos quanto grupos empresariais. As condições vêm sendo debatidas, por exemplo, com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicom).
O plano do governo é que o formato de financiamento esteja operante já para o primeiro leilão de rodovias, marcado para 18 de setembro. Serão leiloadas as rodovias BR-262, que liga Minas Gerais ao Espírito Santo, e BR-050, entre Minas Gerais e Goiás.
O Ministério da Fazenda já vinha negociando a montagem dessa estrutura de financiamento com os bancos estatais há cerca de quatro meses. Agora, a partir de reunião com o ministro Guido Mantega na última terça-feira, em São Paulo, os representantes dos maiores bancos privados foram envolvidos na discussão. Uma reunião ocorrida ontem teve como objetivo avançar no desenho do modelo.
Os bancos poderão atuar por meio de consórcios para dividir entre eles o valor a ser financiado a cada projeto, o que ajudaria a mitigar os riscos. Segundo fonte a par das conversas, as instituições também poderão atuar individualmente, com as mesmas condições de repasse.
As projeções são de necessidade de investimento médio anual de R$ 100 bilhões – em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos – nos próximos cinco anos. Grosso modo, serão financiados R$ 70 bilhões por ano, uma vez que o restante terá que ser aportado com recursos próprios pelos consórcios.
Os bancos sabem que o funding do Tesouro, via BNDES, não será suficiente para cobrir toda a necessidade de financiamento. A ideia, futuramente, é buscar fontes alternativas de recursos por meio do mercado de capitais local e também via mercado externo.
O aspecto das garantias a esses financiamentos é um dos pontos cruciais para os bancos, com impacto direto na avaliação de risco e do spread das transações. Um dos problemas é que, em muitos casos, as empresas que formam os consórcios ganhadores dos leilões não querem oferecer garantias próprias. Estariam interessadas apenas nas obras de construção.
A decisão de usar os repasses do BNDES como principal fonte de recursos para financiar os projetos sepulta proposta polêmica que vinha sendo estudada dentro do governo e estava causando grande desconforto no BNDES. Por essa proposta, o Tesouro repassaria recursos diretamente a um fundo e este os emprestaria aos bancos.