1º de Maio, oremos!

“Chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor.

Eu fui à Penha, fui pedir à padroeira para me ajudar! (Assis Valente)

Dia 1º de Abril, digo, 1º de Maio, no campo do Ordem e Progresso (nome verdadeiro) onde se sitiava, digo, situava na Vila Cruzeiro, o espaço Criança Esperança, algumas centrais sindicais adeptas da parceria “conflitiva”, de colaboração de classes, de resultado e de mercado, se uniram para o festivo ato em comemoração ao dia do trabalhador.

Na composição do cartaz (ao lado) não passou despercebido um templo religioso e a expressão valorização do trabalhador. Tanto a imagem do templo, como a expressão, nada tem a ver com o conteúdo classista que a data deveria enfatizar no atual estágio de desenvolvimento do capitalismo.

Entendo o refluxo do movimento sindical e as dificuldades enfrentadas pela classe trabalhadora em função dos ataques aos seus direitos e conquistas, promovidos pelo capitalismo e suas classes auxiliares neste período em que o capital busca sobrevida. A reestruturação produtiva, as novas formas de gerenciamento e precarização na contratação da força de trabalho levaram o movimento sindical a uma postura denuncista e defensiva. No entanto, nada justifica um cartaz tão descaracterizado.

Será que doravante, ao invés de luta classista, as centrais que convocaram o ato vão começar a depositar no sobrenatural, suas esperanças de novas conquistas para a classe? Ou será que as organizações partidárias que dão sustentação ao governo neofascista de Cabral, orientaram seus sindicalistas para realização do ato no Complexo do Alemão, com o propósito de marcar a “pacificação do caveirão”, a paz dos cemitérios?

Os que não crêem em mitologia e na valorização do trabalhador sob regime capitalista, costumam usar os espaços dos templos de maneira mais apropriada. A Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, é conhecida por ser um lugar onde muitos fiéis católicos pagam suas promessas subindo de joelhos as suas escadarias. É uma demonstração de fé. Nada contra. Mas ter a sua imagem vinculada a um ato da Classe é despolitização demais.

Também, não deixei de reparar o conteúdo principal: valorizar o trabalhador vinculado, entre outros eixos, à valorização do salário mínimo. Dizer assim, escamoteando que a verdadeira valorização do salário só existirá quando tiver início a suplantação do mínimo indicado pelo DIEESE (R$ 2.255,84 para o mês de abril), é no mínimo, querer manter embotada a subjetividade do trabalhador num aspecto fundamental para fazer avançar o patamar de consciência de classe: a extração da mais-valia. Diria mais: é ficar de joelhos diante dos patrões e, prostrado diante do Deus mercado, orar festivamente:

— Ó, Senhor patrão, capitalismo sim, mas nos valorize, por favor!

Coisa de Pelego.

Estrategicamente não somos pelas petições de direitos que buscam

a inclusão social rebaixada dentro da ordem capitalista. Não defendemos a ‘cidadania e a democracia’ tomada emprestadas ao ideário de 1789. Muito menos lutamos para vender a força de trabalho mais cara aos cassinos da burguesia. Também estamos convencidos de que não podemos desperdiçar energias depositando esperanças no sobrenatural. Somos pela humanização plena, que só será possível com a emancipação do trabalho e o fim da sociedade de classes”

(UNIDADE CLASSISTA-PCB)

Sidney Moura é Secretário Sindical do PCB, Diretor do SEPE/RJ e da Coordenação Nacional da Unidade Classista-INTERSINDICAL