Grécia Promacos
Por trás do colapso do sistema financeiro dos grandes países capitalistas e a salvação dos bancos com grandes quantidades de dinheiro público, os que ficaram arrasados foram os próprios estados que, asfixiados por esse saque de recursos, se viram obrigados a pedir dinheiro emprestado aos próprios bancos! E isso porque as leis europeias, feitas sob medida para a oligarquia financeira, proíbem que o Banco Central Europeu (BCE) empreste dinheiro diretamente aos estados. Desta forma, os bancos pedem dinheiro ao BCE a 1% de juros e o emprestam aos estados com 3%, 7% e até 12%. Tudo isso são benefícios para corporações que, por outro lado, seguem recebendo ajudas públicas.
Ao igual que a Atenea Promacos, de Fidias (“a que combate na primeira linha da batalha”), a Grécia foi o primeiro país da União Europeia a quebrar. Isso significava que credores, principalmente os bancos alemães, britânicos e franceses, iriam quebrar, sem poder cobrar. É então quando se monta a primeira operação de “resgate”. Há um ano, 110.000 milhões de euros foram emprestados com toda pressa ao Estado grego para que os bancos pudessem cobrar. Isso sim: a operação não se apresenta como o resgate dos bancos, mas sim da própria Grécia.
Mas o empréstimo, além de obrigar a pagar os juros e devolver o principal, obriga a condições draconianas, que incluem um duro ajuste fiscal (menos impostos para os ricos e recarga de impostos sobre os pobres), a diminuição de salários e pensões (além do alargamento da idade para aposentadoria), diminuição de investimentos sociais (incluindo saúde e educação) e o drástico corte nos investimentos públicos. Por exemplo, a redução em 14% dos salários dos funcionários públicos e em 11% das pensões.
É evidente que todas estas medidas só servem para diminuir o consumo, depreciar a demanda e aprofundar a crise econômica do país. O remédio vem sendo pior que a enfermidade. O “resgate” salva os bancos credores, permitindo-os seguir dividindo fabulosos benefícios, afundando a Grécia, situando sua dívida em 150% do PIB, enquanto há um ano estava em 115%. Para quitar essa dívida, o plano de “resgate” estipulava que, em 2012, a Grécia deveria captar no mercado a metade dos recursos de que necessita e 100% para 2013, porém já a própria UE reconhece que isso é impossível.
Quando os bancos gregos começaram a ter problemas, em vez de deixá-los quebrar, o que se fez foi proteger as corporações financeiras credoras estrangeiras. O resultado foi que se passou de uma crise de liquidez a uma dívida de 130.000 milhões de euros, porque o país heleno foi obrigado a obter 60.000 milhões para resgatar títulos. Como resultado, voltamos a estar como no princípio, porém em situação pior. O dilema agora é: procede-se uma reestruturação ou default (suspensão dos pagamentos) por parte do Estado grego (com as perdas pelo “pagamento” recairiam nos grandes bancos privados europeus) ou a um novo “resgate” de outros 60.000 milhões de euros, sacados dos cofres públicos dos países da UE.
No entanto, a prática demonstra que suspensão dos pagamentos é a melhor opção, contrária aos interesses da oligarquia financeira. Isso pode ser observado na suspensão declarada pela Argentina, 2001, ou pela Islândia, em 2008. Neste último, por exemplo, a situação é muito melhor que na Irlanda (outro dos “resgatados”), em Portugal (a ponto de ser “resgatado”, ainda que não lhe tenha chegado nenhum euro) e na Espanha. Ainda que o desemprego na Islândia tenha aumentado, à raiz da crise de 2008, vem descendo a 7% em comparação com os 21% da Espanha e continua sua tendência a baixa.
Então, por que a plutocracia europeia insiste que uma reestruturação da dívida grega não é uma opção? Porque sua “saída” para a crise não é outra coisa senão espremer cada vez mais a renda dos trabalhadores para garantir seu nível de benefícios. O que não é uma opção para eles é assumir perdas. Porém, ao aumentar a exploração aos trabalhadores e demitir milhões, diminui o consumo, aprofunda a crise e, finalmente, caem seus próprios benefícios, numa contradição impossível de resolver no capitalismo.
Por isso, o objetivo dos “resgates” não é outro que ganhar tempo, prolongando a agonia e o sofrimento da classe trabalhadora. O novo “resgate” da Grécia já se anuncia acompanhado de mais medidas de ajuste e agravamento das condições de vida das trabalhadoras e trabalhadores gregos, que lutam uma dura batalha, greve geral após greve geral, porém também afetará a todos os assalariados da zona europeia.
Os companheiros gregos são hoje “os que combatem na primeira linha da batalha”. Porém, faríamos bem se lutarmos, porque essa é também nossa batalha.
*Teodoro Santana é membro do Comitê Central do Partido Revolucionário dos Comunistas de Canárias (PRCC)
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza